Free Fallin escrita por Elizabeth Stark


Capítulo 1
Part I


Notas iniciais do capítulo

Bem - vindos(as) :)
Esta é uma SongFic da música Free Fallin do John Mayer. Serão 3 capítulos.
Devo avisar que não será um romance tradicional e sim algo diferente e alternativo, mais um estudo de personagem do Sirius ♥.



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Enquanto dirigia a velha picape vermelha, Sirius sentia a boca salivar ao imaginar uma cerveja gelada descendo garganta abaixo. Isso poderia estar se realizando nesse exato momento se não  tivesse sido jogado para fora dos últimos três bares locais perto de sua casa. Agora precisava dirigir quase uma hora para o centro da cidade até a loja de bebidas.

Olhou para suas mãos sujas de graxa, a camisa de flanela com grandes manchas de óleo e a calça jeans que se mantinha na cintura por um cadarço. Um dia teria tanto dinheiro para comprar a loja de Burt quanto para roupas novas.

Já tinha percorrido metade do trajeto quando sentiu a brisa quente do centro, seu campo de visão iluminado pela lua identificando uma massa de pessoas nas portas das lojas, andando nas calçadas. O restaurante de frutos do mar estava mais cheio do que o normal pela remessa de turistas da temporada de férias.

 Isso atrairia novas garotas em seus braços. Garotas desconhecidas, que não se lembrariam dele e logo voltariam para casa, longe dali, pensava enquanto virava a terceira esquina. Foi direcionando a picape para o estacionamento da loja, aberta vinte e quatro horas. Escolheu a vaga mais perto da porta, girou a chave e o motor se desligou.

Puxou do bolso um envelope branco farto e encardido. O dinheiro do aluguel. Tirou três notas de valor baixo, guardou de volta o resto no bolso e desceu, sentindo o ar receptivo diferente do de casa.

Se comprasse duas caixas de cerveja se manteria até semana que vem, mas atrasaria dois dias o aluguel - mesmo que o cliente do Toyota lhe pagasse o que estava devendo até amanhã. Não importava como ia se certificar de que isso fosse cumprido.

Quando ficou de frente para as portas de vidro da loja, Burt já espreitava no caixa com olhos atentos e irritados quando Sirius entrou. Ele não tinha mais cabelos que cobriam toda a cabeça, apenas alguns fios ralos brancos sobre a careca. A pança esmagada pelo balcão saia também pelas laterais da mesa.

Sirius era o único cliente. As luzes fluorescentes piscavam. No fundo da loja um rádio velho tocava uma música de uma banda terrível que seu pai adorava.

Sirius abaixou a cabeça para as botas sujas enquanto caminhava para o freezer. Torceu para que pegadas lamacentas fizessem um rastro, sabia que Burt era mão de vaca demais para empregar um faxineiro.

— Não aceitamos mais fiado. - Burt disse em uma voz que soou mais como um rugido. - Se não tiver como pagar, cai fora. – e não tirou os olhos esbugalhados de sapo do registrador.

Sirius sorriu mesmo sentindo seu corpo se preparando para uma briga.

— Que bom. – usou seu melhor tom de voz de desinteresse esperando irritar o dono.

Se não quisesse tanto a droga de uma cerveja daria um soco na pança bolorenta de Burt nem que fosse para a cadeia por isso. O que não seria difícil, todos na cidade conheciam o histórico de Sirius com Burt.

Abriu a porta do congelador, retirou duas caixas da marca mais cara apenas para esfrega-las no caixa e fechou-a com um baque. Andou em passos calmos até o balcão, apenas para fazer as correntes da calça tilintar. Burt virou o pescoço gordo em sua direção.

— São vinte e sete dólares. Como o pagamento será realizado? -olhava atentamente para Sirius aproveitando cada momento da humilhação.

— Com dinheiro. - respondeu jogando as notas em cima do teclado do computador. Uma voou para o chão.

O rosto de Burt começou a adquirir um tom avermelhado.

Sirius pegou as caixas e foi andando em direção a saída, na dúvida de levar sacolas, enquanto o dono ainda vasculhava em baixo do balcão a nota que caíra.

— Ei, Burt, como vai a sua prima? E sua sobrinha? - incapaz de se conter, perguntou em alto e bom som sobre os membros da família de Burt com quem já tinha dormido.

A face velha e gorda subiu, enfurecida.

— Seu porco nojento! Dê o fora daqui! E não volte mais procurando bebida, não importa qual puta você estiver tentando esquecer. - Burt já estava aos berros agora.

Não importa qual puta você estiver tentando esquecer.

A cabeça de Sirius borbulhava enquanto percorria o caminho de volta para casa. Então Burt ouvira os boatos. A cidade inteira parecia ter ouvido os gritos dela quando fora embora. As discussões que duraram meses a fio. A sua necessidade profunda de encher a cara toda semana para conseguir ir trabalhar.

Agora era certeza que todos sabiam, e pior, fofocavam sobre seus problemas e sua dor. Nunca fora o tipo de pessoa que se importava com a opinião dos outros, mas desde que conhecera Marlene as coisas mudaram drasticamente. Tê-la em seus braços o fazia ter uma visão mais ampla de sua vida, cheia de possibilidades e planejamento - precisava da permissão dos pais dela, por exemplo.

Sua mente começou a vagar enquanto já trilhava metade do caminho. Lembrou-se de como se conheceram, há dois anos.

Era um lugar podre do Alabama, em uma noite quente, mas fresca de verão. Vários de seus amigos estavam lá também. Todos rindo e com um copo de bebida na mão. O céu não tinha estrelas, mas as garotas usavam sempre vestidos brilhantes.

Em um canto afastado, uma garota loira estava postada perto de sua picape. Sempre gostou de loiras – sua primeira mulher tinha os cabelos grandes e dourados e desde então isso havia se tornado um parâmetro influenciador.

Ela não parava de olha-lo e a noite se estendeu assim. Marlene era esperançosa, tímida e tão jovem. Com mais frequência ela frequentava os mesmos lugares que ele e conversava com as mesmas pessoas.

Estava óbvio.

 Sirius um dia perdeu a paciência e foi conversar com a garota, apenas de brincadeira, para dispersa-la logo. Ela não parava de corar.

Uma parte sua não queria se comprometer com alguém tão frágil e provavelmente, inexperiente. Mas começou a reparar em como ela era realmente bonita e engraçada, com os cabelos cor de areia e os olhos verdes brilhantes. Inteligente a ponto de deixa-lo envergonhado. Se surpreendeu no quanto ela era simples e nunca o cobrava de nada.

Começaram com beijos aleatórios escondidos no celeiro da casa dela ou atrás da lanchonete preferida dos dois. Trocavam mensagens diariamente e no meio da noite, quando os pais dela já dormiam, passavam horas no telefone. A voz dela causava-lhe arrepios pela espinha. Gostava de ver as pulseiras que ela usava – uma com um sol e outra com flores rosa. Uma vez ao mês trocavam cartas, para melhorar a escrita de Sirius.

Quando assumiram a seriedade da relação um para o outro, Marlene lhe relevou, entre lágrimas, que os pais dela jamais o aprovariam. Sirius até roubou um terno bolorento do armário do pai para ir à igreja algumas vezes com ela e causar uma boa impressão. Quanto mais o pai de Marlene os proibia de se ver, mais a proximidade de ambos subia em um pico de intensidade.

Sirius olhava sua mão entrelaçada na dela, enquanto andavam no píer, sentindo o cheiro do mar. Sussurrava no ouvido dela: “Nunca fui tão feliz”.

Marlene era algo a mais em uma cidadezinha deprimente no meio do nada.

Com velas pagas com o dinheiro do aluguel por Sirius, em uma cabana abandonada perto do rio, tiveram a primeira noite juntos. Ela usava um vestido florido azul. A estampa florida era inesquecível porque lembrara o quanto seus dedos tremeram ao desamarrar o laço do tecido.

 No chão, Sirius colocara cobertores de lã e almofadas que pegara emprestado do sofá de casa. Apesar de parecer nervosa, Marlene estava decidida e feliz.

Na entrada da cabana havia cacos de vidro pendurados como enfeites. O vento os emburrava, fazendo baterem uns nos outros, ecoando uma melodia suave e doce.

 Ao saber que era o primeiro homem dela, uma nova cavidade ganhou espaço no coração de Sirius. Descobriu dentro de si uma parte inteiramente humana e vulnerável nunca florescida antes.

 

***

E eu estou livre, em queda livre
       Sim eu estou livre, em queda livre

 

Havia planos de fugirem, apesar de não haver um centavo no bolso dele. Marlene merecia muito mais, Sirius sabia e sentia isso quando olhava no rosto sereno dela dizendo que poderia trabalhar em qualquer coisa que aparecesse. Se fosse para ficarem juntos passando fome, se contentaria em vê-la infeliz na casa dos pais, conhecendo um rapaz religioso que fosse capaz de lhe dar uma casa.  

Quando estava prestes a tomar uma decisão, ela foi até sua casa aos gritos. Chorando descontrolada e tremendo de raiva. Jogou os brincos de concha que ele lhe dera de presente, e no chão se espatifaram, assim como Sirius.

Tentou segurar os braços dela, perguntar o que havia errado, mas ela entrou no carro do pai, já parado na porta esperando, e nunca mais voltou.

 

Sirius recorreu ajuda a seus melhores amigos (e mesmo devendo muito dinheiro a eles) foram juntos até a casa dela. Descobriu que haviam se mudado sem deixar endereço ou telefone. Tentou contatar a tia de Marlene aos arredores da vizinhança, que geralmente os encobria, mas  a velha ameaçou chamar a polícia.

Sirius tinha certeza que iria morrer de tristeza. Não tivera a chance de dizer que a amava. Talvez se ela tivesse morrido teria sido mais fácil de lidar. O desespero e a angústia o faziam ficar doente de tempos em tempos. Gripes, febres e tosses. Era a única coisa que restara de Marlene.

 

Sua consciência voltava a tomar forma enquanto ia direcionando a picape até a entrada de casa desejando que seus pais já estivessem dormindo. A súbita vontade de tomar cerveja havia passado.

 

***

Eu quero deslizar até Mulholland
      Eu quero escrever o nome dela no céu
Quero cair direto no nada
Oh, vou deixar esse mundo por enquanto

 

 


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Notas finais do capítulo

Os acontecimentos do mundo bruxo não serão adaptados para cá com a mesma lógica. Alguns personagens existem, outros não, e uns simplesmente deixam de morrer.
Me propus um desafio de escrever 5 SongFics com as músicas do John, a primeira, "Wherever I Go", Rony e Hermione, você pode conferir aqui https://fanfiction.com.br/historia/721157/Wherever_I_Go/

Até logo ♥.



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