A Marca do Pecado escrita por Kyra_Spring


Capítulo 2
Tatiana Ahkmatova




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Londres, terça-feira, 15:30 da tarde.

–Com licença, vocês têm leite de magnésia?

Edward ergueu os olhos do balcão, levemente surpreso. A voz feminina o havia despertado do cochilo que tirava. Recompondo-se rapidamente, esfregou os olhos e disse, levemente grogue de sono:

–Hã? Ah, sim, claro, tá aqui – e pegou um frasco da estante atrás de você – Pode pagar no balcão ali na frente. Mais alguma coisa?

–Não, obrigado – só então, ao perceber que havia um leve sotaque na voz dela, ele levantou o rosto e a observou cuidadosamente.

A moça era muito diferente das que geralmente freqüentavam a farmácia onde ele trabalhava. Ela era alta e extremamente delicada, com cabelos louros muito claros, pele pálida, olhos azul-safira, rosto estreito e suave. Sem dúvida, era linda, mas tinha uma beleza estranha, quase assustadora. Ela percebeu que o rapaz a estudava e disse, com um sorriso:

–Sou nova por aqui, sabe? Vim para cá há pouco tempo, e conheço pouca gente. Qual é o seu nome?

–Edward Elric, senhorita – o rapaz corou levemente – Seja bem-vinda, então. O lugar é bom, garanto que você vai gostar. E você, como se chama?

–Meu nome é Tatiana Ahkmatova – ela estendeu a mão para cumprimentá-lo – Moro com o meu avô, ele é professor de piano, e eu também dou umas aulas nas horas vagas. Pobrezinho, tem problemas de estômago, sabe? Vive tomando leite de magnésia, por isso acho que você vai me ver muito por aqui.

–Então leve um pouco disso, por conta da casa – Ed pegou um outro frasco da prateleira e entregou à moça – Algumas gotas antes refeições ajudam na digestão. E diga para o seu avô procurar um médico, tá bem? Acredite em mim, se você soubesse de certos casos que temos aqui...

–Você é legal – ela agradeceu, sorridente – A que horas você sai?

–Lá pelas seis, por que?

–Você não quer me apresentar as redondezas? Eu não conheço ninguém por aqui, mas se você não puder, tudo bem, eu entendo...

–NÃO! – ele exclamou, alto – Pode deixar! Me espere aqui às seis e quinze, tudo bem?

–É claro! – ela sorriu, e se despediu – Até mais, então. Apareça, viu?

Ele enrubesceu novamente, com mais intensidade que a vez anterior. Fazia tanto tempo que uma garota não o convidava para passear... Tudo bem, ele não era de sair muito, e sabia que pelas suas costas o chamavam de monge recluso ou pior, mas nunca se importara... até agora. Ela era linda, falava bem, era animada... Conversara menos de três minutos com ela e já ficara totalmente encantado. Até onde se lembrava, nenhuma garota o deixou daquele jeito. Na verdade, apenas uma o deixou daquele jeito...

"Pare com isso, Ed! Ela só quer um guia, nada mais", a parte racional de seu cérebro dizia. E, além do mais, ele tinha prioridades. Não estava lá à-toa, não havia voltado para a Inglaterra por nada. Havia um motivo, e algo em seu coração lhe dizia que estava no rumo certo. Se realmente estivesse, pensou, teria nas mãos a chance de voltar à sua vida normal.

Já fazia quatro anos e alguns meses que ele vivia naquele lugar. O "lugar" não era Londres, não era aquele bairro, não era aquele país. Não, o lugar era aquele mundo todo, aquele mundo para o qual fora levado por acaso – ou por destino. Desde então, havia cruzado toda a Europa em busca de respostas: Alemanha, França, Grécia, fizera até uma escala na Romênia para averiguar uma história sobre seres muito parecidos com homúnculos (para só então descobrir que, na verdade, eles eram vampiros e que não passavam de uma lenda). Por fim, voltou ao ponto de partida, a Inglaterra, ao encontrar uma informação que parecia mais quente. Seu pai havia sumido no mundo: naquele momento, ele estava em algum lugar da Ásia, procurando manuscritos antigos.

Havia muitos segredos escondidos atrás daqueles olhos dourados. Para começar, sua origem: ele viera de um mundo paralelo àquele em que vivia, depois de cruzar a misteriosa Porta. Segundo, era um alquimista, que dedicava sua vida à arte da transmutação da matéria, e que assinava pelo nome de Alquimista de Aço. E, terceiro, metade do seu corpo era de metal: seu braço e sua perna nada mais eram que próteses mecânicas, as únicas coisas que conseguira trazer do outro lado da Porta. Com muito custo, conseguiu ir ajustando suas próteses conforme crescia, de forma que parecessem membros verdadeiros. O metal era coberto com luvas de seda cor-de-pele, e ele sempre usava casacos longos e luvas de lã escuras, o que tornava as próteses quase imperceptíveis.

Do outro lado da porta, ele tinha um irmão mais novo, Alphonse. Graças a ele, Edward, o mais novo havia passado anos terríveis, aprisionado a uma armadura. E foi exatamente para tirá-lo de lá que Ed cruzou a porta. Não entendia como ainda podia estar inteiro, como tudo aquilo havia acontecido, mas o que mais o afligia era o estado em que o irmão estava. Ed não tinha a menor idéia do que havia acontecido com o outro, e isso o deprimia. Por essa razão, procurava desesperadamente uma forma de voltar para seu mundo, para o lugar das pessoas de quem gostava.

À noitinha, largou o avental sobre o balcão e foi para a porta da farmácia, onde Tatiana o esperava. A princípio, eles se cumprimentaram cordialmente, e até mantiveram uma certa distância, mas quinze minutos depois ambos já riam alto e conversavam.

–É sério, eu não consigo falar o seu sobrenome! – dizia Ed – Atma... Akna... Como é que é?

–É Ahkmatova, com o K mudo – riu Tatiana – Minha família é de origem russa, e eu mesma morei lá, até os seis anos. Então, a minha família foi embora, meio que pressentindo que, cinco ou seis anos depois, aconteceria a Revolução e a família real toda entraria pelo cano. E a sua família, de onde é?

–É de longe daqui – desconversou ele – Meu pai tem ascendência alemã. Quanto à minha mãe eu não sei. E eu tenho um irmão mais novo, Alphonse.

–Jura? E onde ele está?

–Ele está... estudando, é isso. Sabe como é, ele resolveu viajar com o meu pai pelo mundo para estudar algumas plantas – mentiu o rapaz, pela segunda vez – Plantas não são o meu forte, eu prefiro química, tanto é que trabalho numa farmácia e já estou ajudando a manipular alguns remédios.

–Eu, hein? Credo! – ela fez uma careta – Gosto mesmo é de escrever. Tenho alguns poemas escritos, mas eles são péssimos, preciso melhorar.

–Pode me deixar ler um qualquer dia desses? – ele ergueu uma sobrancelha, sorrindo marotamente – Deixe que eu avalio se eles são realmente péssimos ou não.

–Ah, não, pode esquecer! Eles são horríveis mesmo, acredite em mim – cortou ela - Quem sabe daqui a uns cento e cinqüenta anos eu deixo você ler meus poemas...

Eles conversaram sobre muitos assuntos. Tatiana era inteligente e era capaz de manter uma boa conversa sobre qualquer tema sem fazer feio. Ed, por sua vez, tentava sempre se manter informado sobre tudo o que acontecia naquele mundo e, apesar de ainda não entender muitas coisas, também tinha um bom conhecimento sobre as coisas. O tempo passou muito depressa, os dois combinavam tão bem entre si que quando a moça pediu para que ele visse as horas, se assustou:

–Meu Deus, já é tão tarde? Preciso voltar para casa, meu avô já deve estar arrancando os cabelos!

–Quer que eu a acompanhe? – ofereceu-se o rapaz, solícito.

–Faria isso por mim? – ela sorriu, agradecida – Meu avô vai pirar se eu chegar em casa muito tarde.

Eles foram até a casa dela, uma habitação modesta na parte mais meridional do bairro, que ficava a algumas quadras da farmácia. Quando chegaram, um senhor atarracado e careca a esperava na porta, com um ar zangado:

–Isso é hora de chegar em casa, menina? – o sotaque dele era pelo menos dez vezes mais forte que o dela, e era agravado pelo nervosismo na voz – O que eu disse sobre sair sozinha?

–O senhor me autorizou a sair para passear, lembra? – explicou ela – Além do mais, eu não estava sozinha coisa nenhuma – e puxou Ed, que estava tentando sair de fininho, pelo braço – Esse aqui é o meu novo amigo, e ele se chama Edward Elric.

–Novo amigo, hein? – o velhinho o analisou de cima a baixo – Quais são as suas intenções com a minha neta, rapaz?

–E-e-eu sou só um am-amigo dela, senhor – gaguejou Ed – Trabalho na farm-farmácia do bairro e conheci a sua n-neta quando ela foi até lá comprar leite de magnésia. É o senhor que tem problemas de estômago, não é?

–Nada de gracinhas para cima da Tatiana, ouviu bem? – resmungou o velho – Mas como você parece um bom sujeito, vou permitir que converse com ela.

–Ob-obrigado, sr. Ahkmatova – agradeceu ele, confuso – Bem, Tatiana, também preciso voltar para casa, tenho um monte de coisas para fazer. Me diverti muito essa noite, obrigado por tudo!

Ele se despediu cordialmente, e quando já estava tomando o caminho até a sua casa ouviu a voz roufenha do avô da moça dizendo, num tom suave e agradecido:

–E obrigado pelo remédio que você me receitou, ele me fez muito bem.

Ed se virou, e viu que o senhor sorria. Sorriu também, em resposta, e acenou para eles. O caminho foi feito em passadas largas e rápidas, e parou em frente a uma casinha pequena espremida entre dois prédios altos. Era uma moradia modesta, composta de um quarto-sala, cozinha, banheiro e área de serviço. Como ele morava sozinho, não precisava de muito espaço, e era organizado o bastante para mantê-la sempre limpa. Também ficava pouco tempo em casa.

Quando entrou, viu que havia alguns papéis espalhados pelo chão da sala. "Maldito carteiro, será que ele nunca vê a caixa de correio do lado do portão?", praguejou ele. Recolheu as cartas e olhou-as uma por uma. Nada de muito interessante, como sempre, apenas algumas propagandas, cartas de cobrança, um cartão postal do seu pai... Apenas a última carta lhe chamou a atenção. O remetente assinava como doutor Strathmore, e vinha da Irlanda, mais precisamente da capital Dublin. Avidamente, rasgou o envelope e começou a ler a carta, escrita a lápis numa letra levemente garranchada:

Caro sr. Elric:

Fico feliz que o senhor tenha apreciado tanto a minha pesquisa e demonstrado interesse por um tema que é tão desacreditado pela comunidade científica. Infelizmente, muito da minha pesquisa não está nos livros que publiquei (como eu disse, não sou exatamente o queridinho dos cientistas), e é muita coisa para mandar pelo correio.

De qualquer forma, tentei juntar o máximo de dados que consegui num livro (que estou enviando junto com essa carta) que poderá ser muito esclarecedor. Se você precisar de mais alguma coisa, basta entrar em contato comigo, e talvez possamos até nos encontrar pessoalmente.

Atenciosamente,

Prof. Daniel Strathmore.

–De que diabo de livro ele está falando? – Ed olhou pelo chão, e encontrou, junto à porta, um enorme embrulho de papel pardo – Ah, deve ser isso. E ele ainda disse que não conseguiu mandar tudo?

Ele rapidamente rasgou o papel e viu não um livro, mas uma pilha de cadernos manuscritos. A letra, sem dúvida, era a mesma da carta, e as anotações eram misturadas com desenhos também manuscritos. Sem tempo para ler, apenas folheou cada um dos volumes rapidamente. Os desenhos eram familiares... muito familiares... familiares até demais para ser normal ou mera coincidência...

Ed, então, correu até a estante de livros na parede oposta à da porta e tirou de lá dois grossos volumes, depois pegou um lápis e abriu todos os cadernos e os livros. Então, começou a ler o primeiro caderno, comparando com os livros, grifando e fazendo anotações. Gastou a noite toda nessa tarefa, e mesmo assim, dos doze cadernos iniciais, havia terminado de ler apenas três.

Amanhecia. O pouco que havia lido era bastante esclarecedor, mas não tinha muita aplicação prática. Era uma escrita contida, como se o autor estivesse evitando dizer tudo o que sabia. Não fazia muito sentido, afinal o doutor Strathmore já estava desmoralizado o bastante para se preocupar com o que as pessoas diriam a seu respeito.

Ele havia conhecido as obras de Daniel Strathmore por acaso, um ano depois de cruzar a porta. Nessa época, ele morava na Alemanha, e fazia um passeio pela cidade até parar num sebo. Sem nada melhor para fazer, entrou. O lugar recendia a mofo e papel velho, e era abafado e quente, mas algo o atraía irresistivelmente. Andando despreocupadamente entre os livros, de repente topou com um, de capa vermelha, e com um título enorme em letras douradas já meio desbotadas:

TRATADO SOBRE A TRANSMUTAÇÃO DA MATÉRIA

Por Daniel J. Strathmore

"Será que...", ele pensou imediatamente, mas não terminou o pensamento. Logo no instante seguinte, começou a folhear o grosso volume embolorado, cheio de esperança. O que viu lá fez com que uma chama brilhasse em seu peito como há muito não acontecia. O livro falava sobre alquimia – a pura e simples alquimia ensinada do outro lado do portão. Apesar de ele nunca usar essa palavra, e chamá-la de "transmutação" ou "reação de transmutação" o tempo todo, ele falava sobre tudo o que Ed havia passado a vida inteira ouvindo e aprendendo: a lei da troca equivalente, círculos de transmutação (chamados de catalisadores circulares), falava até de elementos capazes de aumentar tanto o poder de uma reação que até mesmo os elementos iniciais poderiam ser desprezados. Mesmo assim, ele não entrava em detalhes sobre esses elementos e nem dizia de onde vinha a energia para tais transmutações.

"Eu não quero nem saber, quero esse livro e vou levá-lo agora mesmo". Sem pensar duas vezes, pegou o volume e levou até o balcão. O preço cobrado por ele foi irrisório, e o balconista quase riu da cara de Ed quando ele disse que queria comprar o livro do doutor Strathmore. Depois, quando ele foi procurar outros livros escritos pelo doutor, descobriu que toda a comunidade científica o execrava e ridicularizava, e que suas pesquisas nunca foram levadas a sério. Os outros químicos ditos respeitáveis argumentavam que não havia fundamento dizer que havia elementos que poderiam criar coisas do nada, e que era impossível que um simples círculo servir como um catalisador tão poderoso assim. O golpe de misericórdia que eles davam na teoria do dr. Daniel era o de que era impossível falar de uma reação sem mencionar de onde vinha a energia para dar início a ela.

Isso não importava a Ed de maneira nenhuma. Ele, melhor do que qualquer um, sabia que tudo o que o doutor dizia em seus livros era verdadeiro. Desde então, começou a procurar por cada coisa, por menor e mais insignificante que fosse, que levasse a assinatura dele. Descobriu que Daniel Leonard Strathmore havia sido, um dia, o mais jovem, respeitável e brilhante químico que um dia já havia colocado os pés na Sociedade Inglesa de Química, sendo responsável por diversas descobertas revolucionárias. O que tinha de inteligente, porém, tinha de rebelde e imprevisível, e um dia, sem mais nem menos, entrou numa viagem pelo mundo em busca de algo que, de acordo com ele, mudaria todo o conhecimento sobre a formação do mundo que eles tinham.

Mais de dez anos se passaram sem que ele desse uma única notícia de seu paradeiro. Então, um belo dia, ele voltou com todas aquelas idéias absurdas. Quando publicou seu primeiro livro, Tratado sobre a transmutação da matéria, sua reputação acabou. Expulso da Sociedade, desacreditado por seus colegas de profissão, publicou mais alguns livros, mas nunca mais voltou a ser o mesmo. Até onde Ed sabia, após o lançamento de seu último livro ele havia se mudado para a América e nunca mais se ouviu nada a respeito dele.

Quando Ed descobriu que a pista que o levara até a Alemanha era um beco sem saída, e que não havia praticamente nada sobre o doutor, resolveu ir atrás de sua mais nova pista pessoalmente. Enquanto buscava por outras informações, não deixava de coletar o máximo de informações que pudesse sobre a pesquisa que o doutor fazia. E só então, seis meses antes de receber todas aquelas anotações, descobriu o endereço do doutor e escreveu para ele. Também encontrou os outros livros dele, Círculos catalisadores: Tipos e aplicações, Um estudo da alquimia sob o olhar da ciência (o primeiro livro em que ele fala abertamente sobre alquimia, e o último que escreveu como membro da Sociedade Inglesa de Química) e o mais intrigante, A fonte da existência, em que dava uma explicação sobre a energia usada nas transmutações e de como fontes alternativas poderiam ser utilizadas.

Era exatamente de uma fonte de energia alternativa poderosa o suficiente para sustentar uma transmutação de grandes proporções que ele precisava. Para abrir a porta, ele precisaria de uma quantidade absurda de energia, e o livro, apesar de dizer que uma operação como essa era possível, não explicava com detalhes suficientes o que poderia ser feito. Foi depois de ler A fonte da existência que Ed resolveu escrever para o doutor em busca de mais informações, e a resposta demorou a chegar.

Voltar a trabalhar no dia seguinte foi a coisa mais difícil que Ed fez em sua vida. Até mesmo seu chefe, um homem enorme, bigodudo e quase tão largo quanto era alto, percebeu as olheiras no rosto dele.

–Noite difícil, Elric? – ele deu um sorrisinho – Tome uma xícara de café, vai fazer você despertar.

–Obrigado, senhor, mas já tomei quase um bule inteiro antes de vir trabalhar – respondeu Ed, esfregando os olhos – O senhor vai abrir a farmácia esse final de semana?

–Se você puder ficar aqui, sim. Essa época do ano é terrível, todo mundo ficando doente ao mesmo tempo... É sempre assim: basta o inverno começar e já surgem as gripes e resfriados.

Ed tentava trabalhar o máximo possível. Não que seu salário fosse ruim, ele era razoável, considerando a sua idade, mas ele estava economizando para mais uma viagem. Sempre fazia isso: trabalhava como um louco, economizava uma quantia razoável e voltava a colocar o pé na estrada. Seu pai até lhe ofereceu ajuda, mas o rapaz era orgulhoso o bastante para dizer não.

Os dias seguintes foram dedicados à análise do material que recebera. A cada palavra, o professor o deixava convencido de que havia uma maneira de abrir a porta pelo outro lado, mesmo que não a divulgasse abertamente. Por que não dizia? Os doze cadernos eram mais úteis e davam mais informações que todos os livros que já lera naquele lugar. Somente alguém que já tinha visto tudo aquilo poderia descrever com tanta riqueza de detalhes, e se ele já tinha visto, já tinha estado do outro lado. Ou seja, se ele já tinha estado do outro lado...

"...eu posso cruzar a porta outra vez". A cada palavra, a esperança de Ed crescia mais e mais. Ele poderia voltar para casa, enfim. Mas algo lhe dizia que muita coisa aconteceria antes que ele pudesse ver os campos de Rizenbul e as ruas movimentadas e caóticas da Cidade Central novamente.

Então, quando enfim chegou à última página do último caderno, algo ali escrito o fez tomar uma decisão imediata. Nela, em letra cursiva escrita a caneta, as frases "Posso lhe mostrar tudo o que disse aqui, mas preciso que, antes, você venha até mim". O doutor Strathmore o ensinaria a voltar para casa. Naquele mesmo dia, avisou a seu chefe que viajaria, uma viagem muito importante e inadiável.

"Eu vou voltar para casa, senhor. Com um pouco de sorte, é muito provável que jamais volte a vê-lo outra vez", pensou, sorrindo, antes de dar as costas para a fachada da farmácia e ir para casa arrumar as malas.


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: Pois é, babies, e esse é o segundo capítulo. Por enquanto, a história vai ser assim, com trechos alternados entre cada lado da grande Porta, mas depois... Depois você vai ter que ler para descobrir. O esquema dos reviews continua o mesmo: dê sua opinião e, no próximo capítulo, prometo que respondo com toda a atenção. Beijos sabor tangerina!



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