A Marca do Pecado escrita por Kyra_Spring


Capítulo 1
Marion Hughes




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Capítulo 1: Marion Hughes

Cidade Central, terça-feira, 11:30 da manhã.

–Não, cara, você não tá entendendo, eu vim para trabalhar aqui!

–Ah, tá, e onde está a sua credencial?

–Eu tô tentando tirar uma há quase um mês! Que droga, será que a minha transferência não é o bastante?

–Sinto muito, moça, mas para entrar você precisa mesmo de uma credencial.

–Olha aqui, dá pra chamar seu superior? Ele me conhece, sabe quem eu sou!

–Até parece... Você é a quinta só essa semana que usa essa desculpa.

–Quer fazer o teste? Chame o seu superior e veja se ele não me conhece!

Aquele era um dia comum no Quartel-General Central. Na recepção, havia uma mulher discutindo com o recepcionista para entrar. Ela era alta e pálida, e seu rosto era oval, com o queixo levemente anguloso. Os cabelos eram pretos e cortados na altura da base da cabeça, e os olhos, de um tom castanho-esverdeado, estavam escondidos atrás de óculos escuros. A roupa era escura e austera: saia reta até os joelhos, sapatos de salto baixo, terninho escuro, usando apenas uma grossa pulseira como adorno. Ela nunca havia sido vista no quartel, o que justificava a desconfiança do recepcionista. Porém, no meio da discussão, alguém aparece e diz:

–Ora, ora, ora, veja só quem finalmente apareceu! Fez uma boa viagem?

–Co-co-coronel Mustang, o senhor por aqui?! – o recepcionista se virou e bateu uma continência desajeitada para o homem alto e moreno usando um tapa-olho e que acabara de chegar – Eu estou tentando disser a ela que não se pode entrar aqui sem uma credencial e...

–Pode ficar tranqüilo, Gibbs, eu a conheço – e sorriu – Ela é a segunda-tenente Hughes, não é?

–Hughes? – Gibbs abriu a boca, espantado, mas nada disse – Está bem, srta. Hughes, vou providenciar para que sua credencial fique pronta ainda hoje e isso não volte a acontecer.

–Obrigado – ela acenou com a cabeça – Espero que o senhor tenha boas notícias para mim, coronel Mustang. Podemos conversar?

–Claro, venha até a minha sala – respondeu ele, e a conduziu até a sua sala, que ficava no fim de um corredor longo.

Assim que ela entrou, a porta se fechou às suas costas. Então, começou a observar as fotos que havia na mesa e os recortes de jornais nas paredes. Boa parte delas mostrava o próprio coronel, algumas vezes sozinho, em outras acompanhado por seus subordinados. Mas havia algumas que pareciam não ter absolutamente nada a ver com o ambiente onde se encontrava. Eram fotos que mostravam momentos de descontração, brincadeiras e trotes entre os militares.

–Sente-se, por favor. Quer alguma coisa para beber? – ela não quis, e ele se sentou – O seu currículo é excelente, srta. Hughes. Bons resultados em investigações difíceis, criminosos procurados há anos pela polícia capturados por você... Realmente, sinto-me honrado de ter uma investigadora tão eficiente e valorosa aqui na Cidade Central. E a senhorita é muito jovem, qual a sua idade?

–Vinte e cinco anos, senhor – respondeu ela – Mas tive excelentes exemplos, aqui e na Cidade do Leste, inclusive o de um cara chamado Roy Mustang, o senhor conhece? Ele pode ser meio idiota, mas ainda assim é um cara legal.

–É, eu já ouvi falar dele, mas me disseram que, na verdade, ele é um homem corajoso, inteligente e muito bonito – eles se encararam por uns minutos, depois abriram um sorriso. E a moça se jogou sobre o coronel num abraço apertado, dizendo:

–Ah, Roy, quanto tempo, cara! Eu senti tanto a sua falta!

–Também senti a sua, Marion! – Roy retribuiu o abraço – E então, como anda a sua vida? Ouvi coisas maravilhosas a seu respeito, garota, e quero saber a sua versão da história.

–Nada de mais. O de sempre, sabe? – ela se desvencilhou dele – Mas eu não vejo você há tanto tempo... Na verdade, é desde... desde... – mas parou de falar.

–Já faz muito tempo, Marion. Cinco anos, para ser mais exato – o semblante do homem também se fechou repentinamente – Ainda estamos investigando, mas já faz muito tempo que não saímos do lugar.

–Não importa mais – ela se forçou a sorrir, mas tinha uma nuvem negra no rosto – Meu irmão está morto, e espero que você não tenha me chamado aqui por causa dele.

–Na verdade, o motivo é outro, algo que vai te interessar bastante – ele se levantou e abriu um jornal sobre a mesa. A manchete da primeira página dizia "MAIS UM ASSASSINATO ATRIBUÍDO À BLACK ROSE" – Acho que você está lendo os jornais ultimamente, não está? E, se está, provavelmente já ouviu falar numa série de assassinatos que está assombrando a cidade.

–Sim, mas sei muito pouco – ela passou os olhos na reportagem – Eles atribuem os crimes a uma organização, mas isso não faz sentido. Aparentemente, não há nada que ligue uma vítima à outra.

–É por isso que chamamos a melhor investigadora da Cidade do Leste para nos ajudar – respondeu ele, com um sorriso maroto – Você entrará na pesquisa de campo no começo da semana que vem. Até lá, todo o material que coletamos sobre o caso estará a sua disposição.

–Certo, obrigado pelo voto de confiança – ela deixou o jornal num canto – Mas diga-me, como anda a vida? Você já conseguiu ficar com a tenente Hawkeye?

–Não se atreva a falar isso de novo! – exclamou o homem, corando subitamente – Ela é apenas uma amiga muito leal, e nada além disso.

–Repita isso para si mesmo até se convencer – ela deu uma sonora gargalhada – E aquele moleque que estava por aqui, o Edward? O que aconteceu com ele?

–Ele foi para Xing, aprender sobre a alquimia de lá. Um bom rapaz, sem dúvida, pena que é um pouco desmiolado – respondeu Mustang, tentando soar o mais convincente possível – Mas o irmão dele ficou por aqui, está se tornando um alquimista cada vez melhor.

–Voltando ao caso, vou ter uma equipe à minha disposição, certo? Penso de um legista, investigadores, peritos... E isso vai ter que sair do seu bolso, cara.

–Não se preocupe, contratei a melhor equipe do país. Estarão todos subordinados a você, o que quer dizer que você terá total liberdade de ação.

–Que ótimo, eu adoro mandar nas pessoas.

–Até o começo do trabalho, você pode fazer um pouco de turismo pela cidade, conhecer as pessoas daqui e a equipe com quem você vai trabalhar. E também visitar a sua sobrinha, o que acha?

–Ah, claro, a Elysia... Como ela está?

–Uma gracinha. Ela já tem quase nove anos, e tem a língua mais ferina que já vi numa criança. Bem, talvez a segunda, ela ainda não conseguiu superar o Ed, mas nesse ritmo logo ela será dez vezes pior que ele. E como é inteligente! Ela sabe convencer qualquer um a fazer o que ela quiser.

–Vou visitá-la qualquer dia desses.

–Gracia perguntou sobre você há alguns meses. Como você se atreve a não dar notícias do seu paradeiro por três anos? Sua cunhada estava quase te excomungando.

–Digamos que eu não sou a pessoa mais caseira do mundo.

–Pois devia ter, pelo menos, um pouco mais de consideração pelas pessoas que gostam de você. E a Gracia te adora, a Elysia te imita, enfim, você significa muito para elas.

–Corta essa, Roy. Será que eu vou ter que te lembrar que você não é meu pai?

–Seu pai, talvez, não, mas ainda me lembro do dia em que o seu irmão me disse pra tomar conta de você como se fosse minha própria irmã.

–É, mas eu não sou, e você não manda em mim.

–Como seu superior direto, tenho que discordar dessa última afirmação.

–Eu tenho que ir embora. Acabei de chegar de viagem, e ainda nem arrumei um lugar para ficar. Tem algum lugar livre nessa espelunca que você chama de quartel?

–Já providenciei um lugar para você se estabelecer, também. É só pegar a chave com o Gibbs.

–Tá falando daquele recepcionista burro que me atendeu agora há pouco?

–Que é isso, não seja cruel com ele! Meio lento, talvez, mas não burro. Passe aqui de novo amanhã nessa mesma hora e eu te mostrarei os resultados das investigações até agora.

Ela saiu da sala e, depois de discutir mais um pouco com Gibbs, pegou a chave do seu quarto. Não era grande nem luxuoso, tinha apenas uma cama, um armário, criado-mudo, escrivaninha e cadeira. Suas malas já haviam sido levadas para lá, muito provavelmente por ordem de Roy, e estavam cuidadosamente empilhadas aos pés da cama. Ela deu uma olhada em volta e, no segundo seguinte, já abriu a maior das malas e tirou de lá uma enorme bandeira amestriana, que pendurou na parede atrás da cama. Sobre a mesa, colocou bibelôs e porta-trecos, e sobre o criado-mudo, um despertador. Assim que a redecoração do quarto terminou, ela ouviu batidas na porta, e quando a abriu, viu que se tratava de uma oficial miúda, morena de óculos maiores que o próprio rosto.

–Olá! Meu nome é Sciezka Kilev – assim que abriu a porta, ela já foi se apresentando – Cuido da biblioteca do quartel. O coronel Mustang me pediu para ajudá-la no que você precisar.

–Eu acho que eu conheço você de algum lugar, não conheço? – Marion estudou a moça cuidadosamente, até bater na testa e dizer – Ah, sim, é claro! Você é aquela moça que o Maes ajudou a entrar no Exército! E então, como você está?

–Muito trabalho, sabe? O coronel Mustang me designou para ajudá-la pessoalmente – e, depois de ver a expressão de incredulidade dela, emendou – Eu sei tudo sobre o caso até agora, e posso fazer você poupar muito tempo filtrando o que é inútil.

–Como posso saber se você está filtrando somente o que é inútil? – Marion ergueu uma sobrancelha – Me desculpe se estou te ofendendo, mas devido à gravidade do caso preciso me assegurar de que só estou trabalhando com pessoas de total confiança e não quero ninguém me escondendo nada.

–Não se preocupe quanto a isso! Mesmo comigo, as informações por escrito continuarão chegando até você – ela deu um sorriso, mas quando viu a outra trocando os óculos escuros por outros com lentes transparentes, empalideceu e ficou séria de repente.

–O que houve, Sciezka? Está se sentindo bem?

–Claro, estou ótima. É que... – encarou-a profundamente – É estranho, sabe? Ver você aqui, desse jeito... E você é tão... tão parecida com ele...

–Está falando do meu irmão, não é? – ela sorriu, sem-graça, mas não perdeu o ar triste – Vocês dois tinham uma ligação de amizade muito forte, não tinham?

–Se não fosse pelo general Hughes, eu nunca estaria aqui – concordou a outra – Devo muito a ele, e espero pagar pelo menos um pouco dessa dívida ajudando a senhora.

–Você vai me ajudar muito se me disser um lugar bom para almoçar – decidida a não deixar que aquela lembrança triste a abalasse, ela disse – E você almoça comigo e me conta um pouco sobre o pessoal daqui, o que acha?

–Jura? Posso ir com a senhora? – o rosto de Sciezka se iluminou na hora – Que ótimo! Garanto que você vai se adaptar muito bem. A maioria das pessoas por aqui é legal, embora alguns não sejam nada inteligentes, sabe? De qualquer forma, a Cidade Central é ótima.

A conversa continuou durante o almoço, que aconteceu num aconchegante restaurante a algumas quadras dali. A bibliotecária disse muitas coisas sobre o quartel, e falou sobre cada pessoa. Alguns Marion já conhecia, outros não, e havia alguns que haviam chegado há pouco mais tempo que ela. Quando questionada sobre Riza Hawkeye, Sciezka se animou e disse:

–Ela foi promovida, sabia? Agora está assinando como Major Riza Hawkeye, e está muito feliz com isso. Mas, por alguma razão, parece que o coronel está ainda mais feliz do que ela.

–E onde ela está? Não a vi até agora.

–Ela está terminando uma missão no norte, sabe? Aquela maldita fronteira com Drachma, outra vez, parece que descobriram uma mina de carvão lá e o governo está fazendo de tudo para proteger. Besteira, na minha opinião, ou um pretexto para conseguir outra guerra.

–Estamos há tanto tempo sem guerras, não é? Quer dizer, pelo menos para os padrões de Amestris – Marion deu uma risadinha – Quatro, cinco anos? Até antes de o Parlamento assumir, era difícil passar um ano inteiro sem pelo menos uma escaramuça com algum país vizinho.

–Ou com alguém daqui mesmo – concordou a outra moça – Mas agora está tudo tão em paz... Estamos fazendo comércio com o leste outra vez! Ishbal prosperando, Liori se reerguendo, tudo está tão bom que eu mesma já começo a ter pouca coisa para fazer. Até você chegar, é claro – ela fez questão de frisar – Mas, voltando a falar da major Hawkeye, ela volta no fim da semana. Parece que ela fez questão de se envolver pessoalmente com a investigação dos assassinatos daqui.

–O que a polícia está dizendo?

–Eles lavaram as mãos, é claro – nessa hora, Sciezka fechou a cara, aborrecida – Esses caras sempre atrapalham mais que ajudam. E, pra piorar, eles vão colocar um deles para trabalhar conosco.

–Pode esquecer, eu não trabalho com policiais. Tudo o que a polícia oferece, o exército tem três vezes mais, e não quero ninguém vigiando. – Marion se aborreceu também, e sem querer levantou o tom de voz, atraindo para si a atenção de metade do restaurante.

–Mas o coronel Mustang concordou, mesmo que sob protesto. Sabe como é, ordens superiores... Manda quem pode, obedece quem tem juízo, e a gente tem juízo – riu, debochada – De qualquer forma ainda temos tempo. A senhora quer fazer alguma coisa hoje?

–Não, vou voltar para o quartel e começar a estudar o caso – ela foi dizendo, mas então outra idéia lhe passou pela cabeça – Espere... Não, tenho planos para hoje, sim! Pode me dizer onde tem uma loja de brinquedos por aqui?

–Brinquedos?

–É, quero comprar uma coisinha para alguém. Pode me levar?

–É, posso sim – a outra entendeu o motivo, e concordou – É para o que eu estou pensando que é?

–É, sim – Marion sorriu – E você vai me ajudar a escolher, o que acha?

–Claro! E até sei do que você precisa. Vamos?

–É claro, vamos! Tem uma lojinha linda por aqui, garanto que você vai adorar...


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Notas finais do capítulo

Bem... essa fic também é meio antiga. A versão que vai ser publicada aqui será completamente revisada. Mas eu não vou me prender demais ao enredo original, ou seja, ainda podem ficar pontos que entrem em contradição com a história original, mas prometo que tentarei ao máximo evitar isso. Já publicarei o segundo capítulo logo na sequência. Espero que estejam gostando, beijos a todos e até mais!



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