— Você ainda não quer contar à sua mãe o que aconteceu? – perguntei, entrando no quarto no mesmo momento em que Elena desligava o telefone.

Sentei-me em sua cama e notei algumas pequenas lágrimas em seu rosto. Infelizmente, era algo normal agora.

Já fazia um mês desde o acidente e até agora Elena não tinha progredido em nada. O médico ainda afirmava que era reversível, que ela ficaria bem. Mas podia perceber que ela estava perdendo as esperanças.

A única diferença era o modo de me tratar. Ela tinha estado mais... cordial. Menos fria, talvez fosse a palavra ideal. Talvez ela estivesse percebendo que eu realmente me preocupava, ou talvez quisesse aliviar minha culpa. De qualquer modo, era bom estar próximo a ela, mesmo que não fosse como antes. 

— Mamãe teve um sonho de novo – Elena contou com tristeza. – Sobre um acidente de carro me envolvendo. Não quero que minha família fique preocupada comigo. Eles estão tão longe.

— Acho que sua mãe merece saber, Elena – opinei com carinho, acariciando sua mão.

— Não. Ela não pode ficar preocupada comigo.

— Você não torceu o pé, Elena. Sua família precisa...         

— Sei muito bem o que aconteceu comigo. Obrigada por lembrar – ela interrompeu-me com aspereza, retirando sua mão da minha.       

Suspirei. Com delicadeza, acariciei sua coxa.        

— Você vai voltar a andar, Elena. Sei que vai.

— Então, você concorda que não há motivos para preocupar a minha família, não é?        

Suspirei novamente.

— Elena...        

— Vamos parar de falar sobre isso – ela determinou. – Então, tem alguma novidade? Você entrou parecendo que tinha uma grande revelação a fazer.

— Recebi hoje o convite do aniversário de Zach – contei. – Será na semana que vem.

— E nós realmente temos que ir? – Elena perguntou fazendo careta.

— Nós não vamos a lugar nenhum – garanti. – Eu vou a essa festa sozinho.

Tinha certeza de que Zach ia se aproveitar da condição de Elena para humilhá-la. Não podia deixar e nem queria que ela passasse por isso.

— Para Zach pensar que o acidente abalou o nosso casamento? – Elena contrapôs. – Ainda estamos fingindo, lembra?        

— Não me importo com que Zach pense! – exclamei. Como ela ainda podia se preocupar com o nosso casamente falso?! – Me importo com você! Não vou deixar que ele te humilhe!        

— E você acha que eu me importo? – Elena retrucou. – Já aprendi a não ligar para as palavras ofensivas de seu tio há muito tempo!        

— Elena, você vem estado muito delicada quando se trata da sua condição – comecei com calma, tentando fazê-la considerar. – Sei que Zach vai se aproveitar dela para...        

— Damon, nós tínhamos um acordo – ela me interrompeu. – Nos casaríamos por um ano para que você não perdesse a sua empresa. Por causa do que aconteceu comigo, estamos prolongando o prazo desse casamento. Não pense que vou deixar Zach levantar suspeitas sobre isso quando estamos indo tão bem na farsa. E é a única forma que eu posso pensar em te pagar pelo que está fazendo por mim.        

— Você não precisa me pagar, Elena. Eu não importo de ir à festa de Zach sozinho. Não me importo se ele vai pensar que não estamos bem. Eu quero que você fique bem – afirmei, olhando firmemente em seus olhos.

Ela desviou o olhar e, displicentemente, perguntou:       

— Já escolheu o meu vestido? Tem que ser um bem bonito, mesmo que eu esteja nessa estúpida cadeira de rodas.        

— Elena...        

— Eu vou, Damon. Está decidido.

*

— Uau! – Elena exclamou assim que chegamos à festa. – Essa é a casa dele?        

— Zach sempre foi bem espalhafatoso – comentei.        

Tinha certeza de que Elena estava admirando a enorme mansão que se estendia em nossa frente. Ela era, sem dúvidas, maior do que a minha. O jardim era simplesmente imenso e rodeava toda a casa. E agora estava perfeitamente decorado para a comemoração dos 50 anos de meu tio.       

Percebi alguns olhares para Elena assim que entramos na festa em si. Isso realmente me incomodou. Nem imaginava o que viria quando cumprimentássemos Zach.        

Apesar de estar aparvalhada com a casa, tinha certeza de que Elena notara os olhares, mas ela simplesmente não ligou. Ou não quis dizer nada.        

Zach estava a um canto, conversando com alguns magnatas que eu conhecia de reuniões na empresa. Assim que nos viu, ele abriu um enorme sorriso e fez sinal para que nos aproximássemos.        

Toquei o ombro de Elena, garantindo-lhe que estaria ao seu lado.

— Vamos lá – ela murmurou, enquanto íamos ao encontro do meu tio.

— Damon! Que bom que veio! – Zach cumprimentou com uma falsa alegria. – E trouxe Elena! Devo dizer que estou surpreso.

— O convite foi para nós dois, não? – Elena perguntou, fazendo uma falsa expressão de confusão.

— É claro que sim! – Zach confirmou, ainda sorrindo. – Eu apenas estava imaginando que Damon teria vergonha de andar em público com você nessa condição.

— Que bom que você notou que eu não tenho – afirmei, apertando o ombro de Elena com firmeza.

— Na saúde e na doença – Elena completou.

— É claro! Não tenho dúvidas de que Damon é um excelente marido – Zach falou com visível ironia.

— Sim. Ele é – Elena sorriu. – Não conseguiria passar por isso sem o apoio dele.

Sorri para Elena um sorriso verdadeiro. Eu realmente queria ser seu suporte, ser o marido que ela precisava. Alguém real.

— Igualzinho a Giuseppe! – Zach falou, batendo em meu ombro como se fôssemos amigos. – Só tome cuidado, Elena. Em um determinado momento do casamento, Giuseppe preferiu a empresa a Lily e Damon.

— Elena não tem o que se preocupar enquanto a isso – garanti, apertando com um pouco mais força o ombro de minha esposa. – Elena é e sempre será a prioridade em minha vida.

Zach olhou para mim, me avaliando. Tinha certeza de que ele tentava averiguar a sinceridade em minhas palavras. Felizmente, foi uma das coisas sinceras que já falei em minha vida.

— Então passe a empresa para mim – Zach deu o bote com um leve sorriso em seu rosto.

— QUÊ?! – Elena e eu gritamos em uníssono.

— Se ela é tão importante para você, prove – Zach continuou, aproximando-se de nós dois. – Abra mão da sua empresa. Afinal, você ainda vai ter Elena.

— Não! Damon não vai fazer isso de jeito nenhum! – Elena determinou, chocada. – Ele não precisa provar nada para mim. Eu sei que seus sentimentos são sinceros.

Elena encontrou minha mão e seu ombro e apertou-a, confirmando as suas palavras. Eu estava um tanto chocado demais para responder. É claro que eu trocaria a empresa por Elena em um piscar de olhos. Mas jamais passaria a Zach. Não enquanto eu ainda tivesse uma escolha.

— Você não vai dizer nada, Damon? – meu tio perguntou, avaliando-me.

— Não. Não vou passar a empresa para você, tio Zach – respondi com muita polidez. – É patrimônio deixado desde o meu bisavô. E como Elena disse, para ela eu não preciso provar nada. Acho que você ainda não teve a sorte de encontrar um amor assim, não é?

O sorriso de Zach não se abalou e percebi que ele estava se preparando para a próxima bomba. Ele virou-se para Elena com uma expressão que beirava a pena.

— Elena, querida, você sabe que existe uma grande possibilidade de você não voltar a andar, não é?

— Pequenas, na verdade – ela corrigiu, mostrando-lhe uma força que eu sabia que ela não tinha.

— Se você ficar assim para sempre – Zach continuou sem se importar com a correção dela –, você realmente acha que Damon irá simplesmente ficar ao seu lado para tudo que você precisar? Para serem as suas pernas? Você é tão ingênua a ponto de pensar que o sem coração do meu sobrinho se importa tanto assim com você?

Notei que Elena tremeu um pouco. As palavras de Zach tinham a afetado, porque ela não sabia ainda o quanto eu a amava. Não duvidei de que sua mente estaria voltando àquela fatídica noite do acidente.

O pior foi que Zach percebeu que estava afetando-a e seu sorriso ampliou. Eu intervi:

— Sim, Zach. Eu me importo com ela. E sim, ficaria à disposição dela para que tudo que precisasse. Você realmente não sabe o que é simplesmente estar na companhia de alguém muito querido.

— Então me diga, Damon. Diga que você a ama – Zach desafiou, olhando no fundo dos olhos. Ele sabia dos meus problemas em relação a essas três palavrinhas.

Discretamente, Elena virou sua cabeça para cima. Ela também queria ouvir isso. Mas eu não ia dizer que a amava pela primeira vez por causa de Zach. Era algo muito importante para mim. E deveria ser algo meu e de Elena. Só nosso.

Felizmente, bem nesse momento, fomos surpreendidos pela chegada de dois convidados, que vieram cumprimentar Zach com muita animação. Aproveitei essa distração e me afastei com Elena.

— Acho que está na hora de irmos embora – sussurrei. Queria ficar o mais longe possível desse covil.

Ela apenas assentiu.

O caminho para casa foi extremamente silencioso. E continuou assim até que eu pus Elena na cama. Ela disse que não queria ajuda para se trocar; Tracy havia colocado o pijama bem a seu lado.

Me preparei para sair do quarto, mas ela me parou.

— Damon. O que você disse a Zach...

— Foi tudo verdade, Elena – afirmei e saí.

Não queria ver qual seria sua reação a essas palavras.