Três amigas e o amor. escrita por calivillas


Capítulo 49
Ana - Quem precisa desse progresso?




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Durante o café da manhã, Pete chegou e sentou-se junto a eles, já com mais intimidade. Ele e Sílvia se comportavam como bons amigos, conversando e, sutilmente, flertando.

— E onde vocês vão hoje? – Pete quis saber, interessado.

— Na enseada – Sílvia respondeu, prontamente, e emendou – Quer vir conosco? Acho que não tem problema, não é, Ana?

— Acho que não – Ana confirmou, depois de interrogar Marcelo com o olhar, que deu de ombros. Ela, ainda, sem acreditar na mudança da amiga.

— Parece legal – Pete aceitou o convite. – Ainda não estive lá. Vou levar o meu equipamento e aproveitar para fazer umas fotos.

Antes do fim do café, Tonho apareceu, empolgado, pronto para guiar o seu pequeno grupo.

— Bom dia! A gente tem que passar na venda pra compra comida e água. Lá, não tem nada. O Zeca está esperando na praia, para levar a gente – recomendou.

Assim, eles pegaram seus pertences e rumaram até a pequena venda, na rua principal, onde compraram água, biscoitos e algumas frutas, que deveriam dar até a volta, andaram até a praia. Tonho foi na frente e se dirigiu até um homem de meia idade com a pele bastante castigada pelo sol, cabelo e barbas grisalhas, amareladas pelo cigarro, aquele era Zeca. Combinaram o preço justo do passeio de dia inteiro e ele apontou onde estava o seu barco, típico de pescador, pintado de azul e branco, chamado Zaíra, que estava ancorado no pequeno caís. Um outro pescador de nome José, um homem bem moreno, magro, mas forte, que trabalhava com Zeca, ajudou os a subir na embarcação e partiram rumo a enseada.

Enquanto, Sílvia e Pete aproveitavam o sol da manhã e a brisa fresca na proa, o pescador José e Tonho conversam sobre as pessoas conhecidas e fatos da região, assim, vendo uma boa oportunidade, Ana se aproximou de Zeca, que pilotava o barco, para conversar, sob o olhar atento de Marcelo.

— Vocês têm um lugar bonito aqui! - Ela começou, em tom casual.

— É - respondeu Zeca, sem demonstrar interesse na conversa.

— É verdade, que vão construir um resort aqui? - Ela tentou obter alguma informação, conhecer a opinião dele.

— É – Zeca continuou sem dar muita atenção a ela, manejando o timão, olhando para o horizonte, com um cigarro pendurado no canto da boca.

—Vai ser bom para região. Vai trazer muitos empregos – Ana falou, querendo passar empolgação, o instigar.

— Moça, a gente já tem emprego – Zeca respondeu, sem emoção na voz.

— Mas, será diferente, vai trazer progresso – ela continuou a instigá-lo.

— Moça, quem precisa desse progresso? Estes gringos chegaram aqui para construir este tal de resort, que vai mudar tudo, falando neste tal de progresso. Vão acabar com nossos peixes, mudar o nosso lugar, vão acabar expulsando a gente das nossas casas ou vamos virar tudo empregado deles -  Zeca retrucou, com rancor. Os olhares de Ana e Marcelo se cruzaram.

— Mas, vocês não podem fazer nada para impedir isso? – Ana questionou, preocupada, pois o povo do lugar tinha consciência do que iria acontecer com eles

— A associação da gente, os pescadores, bem que tentou, mas tem muito dinheiro envolvido, pagam bons advogados, mexem os pauzinhos com os políticos. Ninguém quer saber de um bando de pescadores pobres e se vamos morrer de fome ou não - Ele parecia resignado e Ana não sabia o que dizer, nem como ajudá-los.

Finalmente, chegaram a praia da enseada, os visitantes desceram do barco com Tonho, os outros dois homens ficaram a bordo. Era ainda mais bonito do que eles supuseram a distância, um lugar selvagem e lindo, quase intocado, onde os pés afundavam na areia branca e fina, o mar quente com pequenos peixinhos e um pequeno riacho desembocava nela, a mata que se fechava a sua volta.

— Estes peixes vêm tudo do manguezal, que fica do outro lado dessa mata – Tonho explicou – Amanhã a gente pode ir lá.

— Eu disse que esse lugar era lindo – Marcelo sussurrou para Ana.

Sem pressa, eles andaram pela praia, aproveitando cada minuto, reparando em cada detalhe, como pequenos siris, estrelas-do-mar e ouriços nas pedras, sentaram se debaixo de uma árvore para se refrescarem e comer o lanche, que trouxeram, tomando cuidado de recolher todo o lixo, para levar de volta com eles. Pete não parava de tirar fotos e beijar Sílvia.

— Quer tentar? - Pete perguntou, entregando a câmera de fotografia a Sílvia.

— Não, eu posso estragar sua câmera.

— Não seja boba! Pega! – mas ele insistiu, colocando-a na sua mão.

Sílvia pegou a câmera, mas se atrapalhou, tentando usá-la, e ele começou a ajudá-la, abraçando-a por trás e mostrando com lidar com as teclas, encostando seu corpo no dela, murmurando na sua orelha, as instruções, a provocando.

— Assim, eu não consigo me concentrar! – ela disse, brincando, maliciosa.

Pelas lentes da câmera dele, ela enxergou um mundo novo, imagens e detalhes, que sua câmera comum de turista, jamais captaria, devolveu à para ele

— Muito legal! Mas, agora, eu vou ter que usar a minha simplesinha, mesmo – falou, fazendo uma cara triste.

Pete ficou entusiasmado, começou a tirar fotos, sem parar, ele conseguia perceber detalhes sutis, que, normalmente, Sílvia não veria, como um pequeno caranguejo vermelho na areia, peixes e ouriços marinhos escondidos na pedra sob a água, um macaco arisco em uma árvore.

— Acho que esses dois estão se entendendo bem – Marcelo observou, com uma expressão marota.

— Dá para acreditar nisso?

— Não dá para saber o que se passa na cabeça e no coração dos outros, por mais que se conheça.

— Não dá mesmo – Ana retrucou de modo irônico, não estava disposta a entrar em nenhum joguinho.

Mas antes que Marcelo falasse algo mais, ouviram sons vindo da mata, olharam assustado para dois homens de uniforme, que se aproximaram deles.

— Este lugar é propriedade particular - disse um dos homens, com expressão zangada, pronto para revidar a qualquer objeção. - Vocês não podem ficar aqui. – Ele ordenou.

— Desculpa, moços! Nós somos turistas, só paramos para conhecer o lugar - Ana se adiantou para se retratar.

— Mas, vocês vão ter quer ir agora! - Um deles exigiu, sem dar importância as desculpas dela.

Para evitar confusão, voltaram para o barco, antes da maré cheia, e com sobrava tempo, Zeca deu um passeio pela orla antes de voltarem para a vila, a visão era tão bonita, ficaram deslumbrados, quando avistaram tartarugas e cardumes de peixes, gaivotas mergulhavam para pegá-los. Já era de tardinha, quando regressaram a vila, Ana agradeceu aos pescadores e pagou o preço combinado. Tonho, também se despediu, falando que amanhã passaria na pensão, na mesma hora, para o passeio ao manguezal.

Exaustos com o dia de mar e sol, foram direto para pensão, tomaram banho, jantaram, quase em silêncio, ainda sentindo o balanço de um barco imaginário. Apesar de ter gostado muito do passeio. Passaram o resto da noite conversando sobre o passeio, ouvindo Pete contar algumas das suas histórias.

— Eu vou me deitar. Boa noite – Marcelo foi o primeiro a debandar.

— Boa noite! Estou exausta! Vou dormir – Ana disse, espreguiçando-se, protelando o máximo de tempo a hora de dormir, até não aguentar mais de cansaço – Você não vem, Sílvia? – insistiu, não querendo ficar sozinha no quarto com Marcelo, outra vez.

— Pode ir, Ana, eu bato na porta, quando chegar - Sílvia a dispensou e continuou a conversar com Pete, falavam sobre viagens e fotografias.

Ana assentiu com a cabeça, um tanto incrédula, foi para o quarto que encontrou silencioso e na penumbra.


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