Rock Story escrita por deboradb


Capítulo 8
Uma declaração, uma canção.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo quentinho e cheio de emoções pra vocês!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723713/chapter/8

O mês passou rápido e com ele os ensaios para o show, que estavam cada vez mais cansativos. Tinha dias que chegava em casa tão cansada que dormia no sofá mesmo. Eu estava dando duro, muito duro para poder me sair bem e conseguir uma vaga em Juilliard, mas assim como minha avó dizia “Não importa o quão grande seja o obstáculo, com trabalho duro e força de vontade o céu é o limite” e era isso que eu, assim como meus amigos estávamos fazendo. Estávamos trabalhando duro para alcançar nossos sonhos.

Eu havia mostrado minha música na primeira semana da volta das ferias para Angie e ela amou. Estava ficando tudo perfeito. Os figurinos, as músicas, as danças, a cada ensaio estávamos evoluindo mais. Mas minha parte preferida de todo o espetáculo era meu dueto com Peeta, iríamos cantar a música I Won’t Give Up e estávamos ensaiando essa parte agora. Mas havia algo de errado com Peeta, ele estava errando constantemente a letra da música e a coreografia. Seu semblante estava mais triste do que nunca e aquilo estava me preocupando bastante.

Dês de aquele dia em seu quarto, quando ele me revelou toda sua história havíamos nos tornado tão próximos ao ponto de só nos separávamos na hora de dormir. Prim estava mais do que feliz com aquilo, a forma como Peeta a tratava chegava a ser surreal. Ele a tratava com tanto carinho, tanta devoção, tanto amor. Os dois tinham uma conexão inexplicável. Quase todos os dias saiamos os três para nos divertir e em muitas vezes nossos amigos iam junto. Às vezes levávamos Prim para tomar sorvete, para ir ao parque ou até mesmo para a praia. E eu amava estar com os dois.

Não importava o dia, a hora ou os minutos, Peeta e eu sempre estávamos juntos e a cada dia que passava eu podia ver que aos poucos, ele estava se recuperando daquela dor que o consumia, seus sorrisos mostravam mais felicidade, assim como seus olhos estavam deixando de ser vazios para adquirirem um leve brilho de alegria, ao qual vinham sendo a razão para minha felicidade. Eu estava conseguindo, mesmo que aos poucos, mas estava conseguindo fazê-lo feliz. E a cada dia que passava ao seu lado eu o admirava mais, eu o amava mais. Viramos confidentes um do outro, ele confiava em mim assim como eu confiava nele. Mas naquele momento o Peeta que eu via ali parado ao meu lado cantando e dançando, não era o mesmo do último mês. Aquele Peeta era o mesmo que conheci à quase oito meses atrás, o mesmo Peeta triste que apesar de estar sorrindo por fora, por dentro estava sufocando em dor e angustia. Em todos esses meses eu aprendi a decifra-lo apenas com um olhar, e foi através deles que eu percebi que ele não estava nada bem. Eu queria poder perguntar o que estava acontecendo, mas naquele momento os ensaios não permitiam.

Para, para, para. o professor Pablo interrompe nossa dança Peeta você errou o passo mais uma vez. Você tem que ir para a direita, pra poder girar a Katniss e pegá-la nos braços. explica mais uma vez fazendo Peeta suspirar.

Desculpa professor. pede cabisbaixo.

Peeta o que está acontecendo? Hoje você está errando todas as notas, e principalmente a dança, sendo que até ontem você sabia de tudo. O que houve? pergunta Angie preocupada.

E que... Eu não estou muito bem hoje e peço mil desculpas a vocês, mas, não consigo, pelo menos não hoje. diz com pesar.

Tudo bem então. Você pode sair para pegar um pouco de ar. Deixamos a parte do dueto para amanhã. Angie sorri pra ele que retribui. Então ele se prepara para sair do auditório e quando passa ao meu lado seguro em sua mão fazendo-o parar.

Peeta... sussurro perguntando com os olhos o que está acontecendo. Ele se aproxima e deposita um beijo suave em minha testa.

Está tudo bem. sussurra de volta e se afasta saindo do auditório.

Fico ali parada por alguns minutos até Angie me chamar para continuar com os ensaios. Ensaio por meia hora, mas meus pensamentos se mantinham em Peeta, não estava conseguindo me concentrar.

Angie será que você poderia me liberar mais cedo hoje? pergunto a ela que me olha com o cenho franzido.

E será que eu posso saber o porquê desse pedido? Por que pelo o que te conheço Katniss, você seria capaz de ficar aqui ensaiando até depois de a aula acabar.

É que... ela ergue uma sobrancelha me fazendo suspirar Tudo bem. É que eu preciso falar com o Peeta, saber o que está acontecendo, estou muito preocupada com ele. Por favor, Angie. suplico e é a vez dela de suspirar.

Tudo bem. Mas amanhã ensaio dobrado para os dois. avisa me fazendo sorri.

Pode deixar. saio às presas da sala e sigo para o lugar onde Peeta sempre vai quando precisa pensar. Mas no caminho acabo trombando com alguém e se esse alguém não me segurasse pela cintura eu teria ido de encontro ao chão. Ergo meus olhos para ver quem é a pessoa e me deparo com Gale.

Desculpa. Eu não vi você. diz retirando as mãos de minha cintura.

Tudo bem. Eu também não vi você. digo e volto a seguir meu caminho.

Desde o ocorrido um mês atrás eu praticamente não via mais Gale, ele respeitou meu pedido de nunca mais olhar na minha cara e se afastou, não só de mim, mas como de todo mundo. Ele desistiu de seu papel para o show e nas poucas vezes que o vi, estava sempre sozinho. Acho que ele finalmente acordou pra vida, finalmente aprendeu que o mundo não gira em torno dele, que as pessoas têm sentimentos e que as palavras são a maior arma para se machucar uma pessoa. Mas isso vai fazer bem pra ele, isso fará com que ele amadureça e que talvez volte a ser o cara legal que conheci anos atrás.

Quando chego ao campus da escola encontro Peeta sentando em baixo de uma figueira enorme, aquele era um dos meus lugares favoritos em toda a escola. Aproximo-me devagar e me sento ao seu lado e ele me encara.

Então, será que dá pra me dizer o que está acontecendo? pergunto seria e quando ele abre a boca para falar o interrompo E nem adianta dizer que está bem, porque eu sei que você não está. aviso e ele solta uma leve risada.

Você me conhece tão bem assim Niss? pergunta me fazendo sorrir.

Mas é claro que eu conheço. Agora para de tentar mudar de assunto e me conta logo o que está acontecendo. insisto e ele solta um longo suspiro.

Minha tia recebeu uma ligação do advogado de Miami Beach, e... ele fecha os olhos com força Vamos ter que voltar para lá esse final de semana. completa abrindo os olhos para me encarar Eu não quero voltar para lá Katniss. Não quero voltar para o lugar onde perdi tudo. seus olhos estão tão tristes, me aproximo e pego em suas mãos.

Então não vá. digo acariciando sua bochecha.

Mas eu tenho que ir. Estou praticamente sendo obrigado a ir pelo advogado. Depois que tudo aconteceu minha tia colocou a padaria e a casa a venda, e agora apareceu um comprador, temos que voltar para assinar a papelada da venda.

E não tem um jeito de só a Effie ir? pergunto tentando achar uma solução para que ele não tenha que ir ao lugar que só lhe trará mais dor.

Não, pois como sou o principal proprietário, minha assinatura é necessária.

O advogado poderia mandar os papeis para você assinar aqui.

Até poderia, mas a compra seria mais demorada e como os compradores estão com pressa temos que ir. diz com pesar Eu não quero ir Katniss. Não vou suportar voltar para o lugar onde todo meu sofrimento começou. Eu não consigo. as lágrimas começam a fazer caminho por seu rosto e o abraço.

O abraço para tentar aliviar um pouco da sua dor. Deve ser assustador ter que voltar para um lugar onde algo tão trágico lhe aconteceu, ter que reviver cada lembrança, cada momento ao lado de entes tão queridos e que você sabe que nunca mais vai vê-los novamente. Nunca passai por nada parecido com o que Peeta passou, não sei o quão dolorosa é sua dor, mas posso imaginar e é imaginando que tenho uma ideia.

E se eu fosse com você? pergunto desfazendo nosso abraço para poder olha-lo nos olhos Eu sei que não vai fazer tanta diferença, mas, talvez eu consiga te distrair.

Você... Você faria isso por mim? pergunta com a voz falha.

Mais é claro que eu faria Peeta! Você se tornou uma pessoa muito importante pra mim. Não consigo te ver sofrendo, porque sofro também. Eu já te disse isso umas mil vezes, mas se for preciso direi mais mil. Eu estou aqui, por você, sempre. declaro a ele que abre um sorriso em meio às lágrimas, um sorriso tão lindo, tão doce que sinto meu coração dar cambalhotas no peito.

Obrigado Katniss. Muito obrigada mesmo. me abraça apertado E só pra você saber, desde o momento em que me disse oi pela primeira vez, você fez diferença. E continua fazendo, sempre fará. sussurra me fazendo abrir um largo sorriso.

No mesmo dia avisei aos meus pais que viajaria final de semana com Peeta e Effie, eles deixaram sem nenhum protesto. A semana passou voando e na sexta pela manhã já estávamos embarcando no avião em direção a Miami. Sempre tive vontade de conhecer Miami, só não imaginei que seria em circunstancias tão... Dolorosas. Estava sendo difícil não só para Peeta, mas como para Effie também, afinal de contas ela também havia perdido sua família.

Já estávamos dentro do avião há umas três horas e Peeta estava nitidamente nervoso. Já havíamos ouvido música, assistido series, mas ele permanecia nervoso.

Hey! chamo sua atenção para mim e vejo que seus olhos estão bastante agitados Fica calmo. Eu estou aqui com você. Vai dar tudo certo. sorrio para tranquiliza-lo e seguro firme sua mão.

É só que... Eu não estou pronto para voltar pra lá, talvez nunca fique. É sufocante pensar que aquele lugar onde fui tão feliz agora só me trás dor. Não sei se consigo Katniss. sussurra a última parte cabisbaixo. Levo minha mão até seu queixo fazendo com que ele olhe-me nos olhos.

Eu sei que está sendo doloroso pra você, mas você consegue. E se não conseguir, eu estarei aqui para te ajudar. digo sorrindo enquanto tiro algumas mexas loiras de seu cabelo que estavam caindo em sua testa.

Obrigada por estar aqui comigo me dando forças. Sou imensamente grato por isso. sorri levemente e beija minha testa.

Vem. Coloca o fone, vamos ouvir um pouco de música. lhe entrego o lado esquerdo do fone, enquanto eu fico com o direito e então, começamos a ouvir música.

Depois de um tempo ouvindo música, comecei a contar varias histórias engraçadas de quando era criança, Peeta rio o percurso inteiro e me senti feliz por ter conseguido fazê-lo se distrair. Poucas horas depois chegamos ao nosso destino.

Obrigado. Você me fez sentir tão leve quanto às nuvens. sussurra ele em meu ouvido me causando vários arrepios. Olho para o mesmo e sorrio.

Desembarcamos e após pegarmos nossas bagagens, seguimos em um taxi. Dentro de meia hora o taxi está estacionando em frente a uma casa branca de dois andares, com um pequeno jardim na frente. Era simples, porem muito bela. Pegamos nossas malas e entramos na casa. Effie vai em direção à cozinha para preparar nosso almoço, enquanto Peeta e eu seguimos para o segundo andar. Ele mostra-me meu quarto, que por sinal fica em frente ao seu e começo a arrumar minhas malas. Ficaríamos três dias em Miami Beach e apesar de ser pouco tempo, era o bastante para deixar Peeta incomodado.

Pouco tempo depois Effie nos chama para almoçarmos. Conversamos bastante enquanto comemos, mas vez ou outra percebia que Peeta estava distante. Provavelmente pensando em tudo que lhe aconteceu. Pelo que Effie me disse ontem á noite por telefone, a casa dos pais de Peeta ficava a um quarteirão de onde estávamos. A cabeça dele deveria estar a mil.

Depois de almoçarmos Effie saiu dizendo que ia se encontrar com o advogado para definir o horário em que seria assinada a papelada da venda dos imóveis. Peeta e eu resolvemos assistir um pouco de TV, mas ele estava nitidamente desconfortável.

Hey. Você está bem? pergunto desligando a TV, vendo que o mesmo nem prestava atenção no que assistíamos.

Não. diz jogando a cabeça para trás enquanto fecha os olhos Eu não consigo, nem por um segundo, parar de pensar em tudo o que aconteceu. Desde o momento em que coloquei meus pés aqui, minha mente tratou de me fazer reviver cada momento. suspira.

Eu falei que ia te distrair, não falei? pergunto retoricamente enquanto me levanto, fazendo Peeta abrir os olhos para me encarar confuso Vem. Vamos.

Pra onde? pergunta com as sobrancelhas erguidas.

Eu pensei em alugarmos alguns filmes. O que você acha? pergunto Não a nada melhor do que um bom filme para distrair a mente.

Ótima ideia. Conheço uma ótima locadora aqui perto. diz enquanto se levanta. Sorrimos um para o outro e seguimos porta a fora.

Vamos à locadora e alugamos alguns filmes e antes de voltarmos para casa decidimos passar em uma sorveteria. Ficamos um tempo na lá conversando, enquanto tomávamos nosso sorvete. Quando já estávamos saindo para seguir o caminho de casa tive uma ideia.

Que tal apostarmos uma corrida até em casa? proponho parando a sua frente.

Outra aposta? Sei não, dá última vez você me enganou só pra ganhar. resmunga.

Hey! Eu não te enganei coisa nenhuma. lhe dou um tapa no braço em protesto fazendo o mesmo rir Vamos lá Peeta. Vai ser divertido.

O que eu ganho com isso? pergunta.

Bem, se você ganhar eu faço aquela torta de chocolate que você tanto ama.

E se você ganhar?

Você faz aqueles pães de queijo que eu tanto amo. declaro Vamos Peeta. No final nós dois sairemos ganhando. insisto tentando convencê-lo. Ele pensa por alguns segundos e sorri.

Tudo bem, vamos lá. Um. se prepara.

Dois. me preparo também.

Três! diz e saímos correndo pela rua igual a dois loucos.

Peeta apreça o passo tentando passar por mim, enquanto rimos, lado a lado. Mas seu sorriso some quando passamos por um lugar. Seus pés diminuem a velocidade e ele para em frente a uma enorme casa. Paro ao seu lado e abro minha boca em choque. Imediatamente reconheço aquela casa como a de Peeta ao ver que uma enorme parte está queimada.

Ele se aproximou dá casa e pude notar seu olhar desfocado. Tenho quase certeza de que todo o acidente está passando neste exato momento por sua cabeça, cada momento sendo revivido lentamente. Ele entra na casa por um grande buraco que está aberto na cozinha, sigo seus passos silenciosamente observando cada canto, estava tudo praticamente queimado. E por um momento me ponho a imaginar como deve ter sido o acidente. Em um momento estão todos conversando animadamente enquanto preparam o jantar e no outro estão todos mortos, tudo ao redor pegando fogo sem chances de sobrevivência, tudo se resumindo a pó.

Volto meus olhos para Peeta e o vejo agachado pegando uma coisa no chão. Quando ele levanta, vejo que o objeto em suas mãos é uma pequena pulseira. Ele dá vários passos para trás, até estar apoiado em uma parede, me permitindo ver nitidamente as lágrimas descerem por suas bochechas. Ele atira a pequena pulseira no chão e se vira para a parede socando a mesma com as mãos, sem se importar se elas estavam ficando machucadas. E foi naquele momento que percebi que ele estava desabando, que aquela dor que ele estava sentindo era muito maior do que eu sequer imaginei.

Peguei a pequena pulseira ao qual ele havia jogado no chão e guardei-a no bolso da calça, me aproximei rapidamente dele o puxando pelos ombros, fazendo-o parar de socar a parede.

Para Peeta, por favor, você está se machucando. peço assustada ao ver que suas mãos estão sangrando.

Por que Katniss? P-porque isso tinha que acontecer com eles, c-comigo, por quê? pergunta entre os soluços e desaba de joelhos no chão.

Não sei Peeta... Shii. Vai ficar tudo bem. sussurro ajoelhada a sua frente enquanto seguro seu rosto entre minhas mãos.

Eu quero ir embora daqui. choraminga fazendo meu coração ficar dolorido no peito.

Então vamos voltar para casa da Effie.

Não. Eu quero ir embora de Miami Beach. declara me fazendo suspirara pesado.

Vem, vamos. seguro delicadamente em suas mãos para não machuca-las ainda mais enquanto ajudo-o a levantar.

Em poucos minutos chegamos à casa de Effie e subo com ele até seu quarto. Sento-o na cama e vou até o banheiro atrás do quite de primeiros socorros, o encontro no armário acima da pia e volto para o quarto. Ajoelho-me em sua frente e começo a limpar cuidadosamente os ferimentos de suas mãos. Sem conseguir segurar deixo uma lágrima cair de meus olhos, é tão doloroso vê-lo assim.

Quando eu avistei a casa... começa a falar me fazendo parar o trabalho em suas mãos e erguer meus olhos para encara-lo, seus olhos encaravam o nada ...Todo o acidente passou por meus olhos em apenas um segundo. Tudo o que eu vivi atravessou minha visão como um filme curto e rápido. Os policiais, bombeiros, médicos. Eu vi a mim mesmo sentado no gramado da casa da frente enquanto observava minha família sair em sacos pretos. Eu... Eu acho que não tenho mais coração Katniss. seus olhos me encaram, o azul nunca esteve tão vazio como naquele momento Meu coração está tão quebrado, minha alma está tão machucada que às vezes penso em desistir de tudo, em por um fim nessa dor. diz. E com essas palavras uma enxurrada de lágrimas consomem meus olhos.

Nunca mais diga isso, está bem?! repreendo-lhe. Seguro seu rosto entre minhas mãos e colo nossas testas Não importa o quão forte seja a dor, nunca, em momento algum, desista. Você já parou pra pensar em como seria para Effie não tê-lo aqui com ela? Você é à única família que restou a ela, então não desista Peeta. Não desista por ela, por mim, por nossos amigos... Não desista. sussurro em meio ao choro olhando dentro de seus olhos, então ele me puxa para seus braços. E ali abraçados choramos juntos.

Depois de um tempo nos acalmamos e termino os curativos em suas mãos. Logo em seguida ele adormece e fico ali ao seu lado na cama, observando-o enquanto acaricio seus cabelos. Naquele momento percebi que o amor que eu sentia por ele poderia nunca ser correspondido, porque assim como ele disse, seu coração estava tão quebrado que talvez nunca mais fosse capaz de amar novamente. Aquilo fez meu coração doer, apesar de ter descoberto há pouco tempo eu já o amava incondicionalmente e não importava se no fim eu não pudesse chama-lo de meu, eu tentaria com todas as minhas forças reconstruir seu coração, fazê-lo feliz novamente.

Quando Effie chegou contei tudo a ela, que chorou bastante. Desde o momento em que a conheci percebi que, mesmo sofrendo, ela nunca demonstrou isso. Talvez seja para - de alguma forma - dar forças a Peeta. Quando o relógio marcou oito horas, eu e Effie estávamos na sala assistindo TV, mas fomos interrompidas pelos gritos de Peeta no andar de cima. Corremos para lá e o encontramos se debatendo na cama.

Peeta! Peeta querido, por favo, acorda. Effie o chama e ele se senta na cama assustado, suado e tremendo.

Está tudo bem. Foi só um pesadelo. Está tudo bem. digo tentando acalma-lo.

E-eu estava lá com eles, mas não consegui salvá-los. diz ofegante É sempre o mesmo pesadelo. Eu os vejo morrendo milhares de vezes, mas em nenhuma delas chego a tempo de salvá-los. Eu nunca conseguirei salvá-los. começa a chorar e o abraço, enquanto Effie nos observa. Somente com um movimento de lábios digo a ela que cuidarei dele, ela assente e sai do quarto silenciosamente.

Shii. Vai ficar tudo bem. digo enquanto faço um movimento de vai e vem com ele em meus braços, como se estivesse ninando um bebê Vem, deita. Vou ficar aqui com você. digo, ele desfaz nosso abraço para me olhar nos olhos.

Você canta pra mim? pergunta/pede ainda choroso, olhando-o assim parece até um garotinho, sorrio.

Claro que eu canto. Vem, agora deita. ele se ajeita na cama me dando espaço para deitar-me ao seu lado. Apoio sua cabeça sobre meu peito e começo a acariciar seus cabelos enquanto canto a mesma música que da outra vez. Safe and Sound. Depois de um tempo percebo sua respiração leve e tranquila.

Katniss? chama-me baixinho.

Hum? continuo acariciando seus cabelos.

Você acredita em Deus? pergunta me fazendo franzi levemente o cenho.

Acredito, por quê?

Porque dizem que ele é justo e eu fico me questionando, se ele é tão justo, por que permitiu que uma injustiça tão grande como essa acontecesse com minha família? Por que ele permitiu que algo tão trágico assim acontecesse com minha irmãzinha? Com meu filho que nem teve a chance de vir ao mundo?

Eu não sei Peeta. Muitas coisas ruins acontecem com pessoas boas, mas Deus tem uma missão para cada um de nós. Mesmo tendo sido trágico o que aconteceu com sua família, tenho certeza de que Deus os levou para um lugar muito melhor do que esse. falo. Depois disso ficamos em silencio. Retiro uma de minhas mãos de seus cabelos e a levo até o bolso da minha calça, retirando a pulseira de lá. Ergo-a no ar e Peeta a pega cuidadosamente.

Obrigada, Niss. murmura antes de cair no sono, sorrio.

De nada, loirinho. sussurro antes de meus olhos se fecharem e eu também cair no sono. E aquela foi a primeira vez que dormimos juntos.

No dia seguinte, às dez horas, nós três saímos em direção ao cartório para assinar a papelada da venda dos imóveis. O casal de compradores foram bastante simpáticos e gentis, disseram que pretendiam manter a padaria, uma forma de homenagear a família de Peeta que era muito querida na cidade. Aquilo me tocou profundamente e assim como Peeta, também comecei a me questionar sobre o porquê de coisas ruins acontecerem a pessoas boas.

Quando voltamos para casa ao meio dia, Effie tratou logo de preparar o almoço, mas Peeta não comeu. Ele simplesmente subiu para seu quarto e se trancou por lá. Ele estava calado, distante desde o momento em que assinou os papeis, e aquilo já estava me deixando mais que preocupada. Então resolvi ver como ele estava. Quando cheguei a seu quarto a porta estava levemente aberta me permitindo vê-lo sentado na cama. Entrei silenciosamente e sentei-me ao seu lado. Ele estava olhando algumas fotos, tinha dele com os pais, com Hope, com Delly, mas a que mais me chamou atenção foi a que se encontrava em suas mãos. Era uma dele bebê nos braços dos pais, enquanto os mesmos sorriam lindamente para a câmera.

É uma linda foto. comento quebrando o silencio.

É sim. diz baixinho sem tirar os olhos da foto. Levo minha mão direita até sua nuca e começo a acaricia-la.

Por que você está assim? Tão distante? pergunto, ele suspira largando a foto em cima do criado mudo e se volta para mim.

É que... Desde que tudo aconteceu, sempre achei que se vendesse a padaria e a casa eu poderia finalmente cortar meus laços com esse lugar. Mas o que senti no exato momento em que assinei aqueles papeis foi totalmente diferente. Senti como se estivesse perdendo mais uma parte da minha família. E é isso que sinto todos os dias ao acordar, que estou os perdendo aos poucos até não sobrar mais nada, até tudo não passar de uma mera lembrança. Embora não sangre... ele aponta o indicador para o peito ...Essa parte aqui dói muito Katniss. lamenta. Aproximo-me dele e seguro em suas mãos com cuidado por conta dos machucados.

Talvez toda essa dor, angustia, medo e solidão que você está sentindo em relação a eles, seja pelo fato de você não ter tido a chance de se despedir, de dizer adeus. Talvez seja isso que você precise, dizer adeus.

E como eu faço isso?

Eu acho que você sabe. falo acariciando suas mãos. Ele fica um tempo em silencio me encarando.

Você tem razão. diz em um sussurro enquanto se levanta.

Aonde você vai? pergunto seguindo seus passos com o olhar, ele para na porta e se vira para mim com um pequeno sorriso nos lábios.

Dizer adeus. revela e é minha vez de sorrir Vem. chama e sigo seus passos até a saída da casa.

Pegamos um taxi e em menos de meia hora estamos entrando em um cemitério, sigo os passos de Peeta silenciosamente até pararmos em frente a três lápides. Evelyn Mellark, Richard Mellark e Hope Mellark. Peeta pega algumas das rosas brancas que comprou na entrada do cemitério e as deposita nos túmulos dos três. Agacho-me ao seu lado sem dizer uma palavra e o abraçado, vendo que o mesmo já estava chorando, quanto a mim, estava tentando inutilmente segurar minhas próprias lágrimas. Olhei atentamente para cada lápide e reparei que na de Hope continha uma frase.

“Menos um humano encantador na terra e mais um anjo encantador no céu.”

Sorrio ao terminar de ler. Tenho certeza de que o autor daquela frase é Peeta.

Ficamos os dois abraçados em silencio, cada um preso em seus próprios pensamentos, até que em um momento ele se vira para mim, com os olhos vermelhos por conta das lágrimas e pergunta:

Por que as melhores pessoas morrem?

Quando você vai a um jardim, que flores você colhe? respondo sua pergunta com outra pergunta. Ele franze o cenho por um momento confuso com minha pergunta, mas quando decifra a resposta desvia os olhos dos meus e passa a olhar novamente para as lápides.

As melhores. sussurra quase inaudível.

Exatamente, as melhores.

Ficamos mais um tempo ali e depois fomos para o tumulo de Delly e seus pais. Peeta depositou o restante das flores deixando que mais algumas lágrimas caíssem, depois fomos embora. Quando chegamos em casa, Effie perguntou onde estávamos, Peeta disse por alto e seguimos para seu quarto, entramos e sentamos em sua cama.

E então? Como você está se sentindo? pergunto um pouco receosa, pois ele veio o caminho inteiro em silencio. Ele solta um longo suspiro e senta-se em minha frente.

Bom. Confesso que no começo minha vontade era de sair correndo dali. ri sem humor Foi bastante aterrorizante saber que as pessoas ao qual estiveram ao meu lado durante todos esses anos se encontravam ali, enterrados debaixo daquelas lápides. Mas ao mesmo tempo sinto como se tivesse tirado um peso de minhas costas. Apesar de continuar doendo bastante aqui dentro me sinto um pouco mais aliviado por ter, de certa forma, dito adeus. conclui.

Essa dor que você está sentindo agora, com o tempo será apenas saudade, então você vai relembrar cada momento que passou ao lado deles e vai agradecer por um dia, ter convivido com pessoas tão maravilhosas. falo e ele abre um enorme sorriso em minha direção, um sorriso tão puro, tão verdadeiro que é impossível não retribuir. Ele se aproxima e pega minhas mãos.

Obrigado Katniss. De verdade muito obrigada. Acho que não conseguiria segurar toda essa barra sem você ao meu lado. meus olhos estão presos nos seus, o azul um pouco escuro pela pouca iluminação do quarto, mas ainda sim o azul que me faz sentir borboletas no estomago, o azul que faz meu coração bater como um louco dentro do peito Quando cheguei em Los Angeles eu estava em um modo automático, mas você, assim como sua voz me tiraram dele. Muito obrigada. completa colando sua testa na minha.

Seus olhos tão perto dos meus me fizeram perder o fôlego, desço meus olhos e começo a encarar seus lábios e flashes do nosso beijo naquela noite na praia vêm em minha mente, em como seus lábios são macios e tão bons de beijar. De repente uma enorme onda de calor começa a me aquecer de dentro para fora, volto meus olhos para os seus e não consigo me segurar.

Desculpa Peeta, mas eu tenho que fazer isso. sem esperar que ele me questione ataco seus lábios.

Assim como da outra vez, ele fica surpreso, mas em questão de segundos já está correspondendo ao beijo na mesma intensidade que eu. Levo minhas mãos até seus cabelos e começo a bagunça-los, enquanto ele aperta levemente minha cintura me deixando anestesiada. Quando minha língua entra em contato com a sua sinto o mundo parar, não a mais nada nem ninguém, somente eu e ele. Meu coração está batendo com tanta voracidade que me faz ficar sem ar e lentamente vamos parando o beijo, ficando com as testas coladas.

Katniss, por...

Porque eu te amo. declaro interrompendo-o. Descolo nossas testas para poder encara-lo melhor Eu não sei exatamente quando o carinho que sentia por você virou amor, mais virou e eu precisava te contar. Eu te amo Peeta. declaro sem medo olhando dentro de seus olhos. Sua expressão é de completa surpresa.

Katniss eu... sua voz falha, mas ele força ela a sair Uau. Estou completamente surpreso. ri nervoso, sua expressão passa de surpresa para seria Eu... Eu gosto muito, muito mesmo de você Katniss, mas... Meu coração está quebrado, minha alma está completamente machucada e acima de tudo, tenho medo de amar novamente e ter esse amor arrancado de mim, não suportaria outra dor como essa. respira fundo e acaricia minha bochecha Você é uma das pessoas mais maravilhosas que já conheci em toda minha vida Katniss, mas não sou o cara certo pra você. Você merece um cara que seja seu por inteiro, que não esteja com o coração quebrado, que não tenha que carregar tanta dor, tantas magoas. Você merece um cara que te ame como você realmente merece e esse cara infelizmente não sou eu. diz com um sorriso triste ainda acariciando minha bochecha. Levo minhas mãos até seu rosto segurando-o entre elas, mantendo seus olhos presos nos meus.

Não Peeta. Nenhum outro poderá me fazer feliz, só você, porque é você que eu amo. declaro mais uma vez sorrindo Eu sei que os que partiram nunca serão substituídos, que as cicatrizes da alma não sumirão, que os pesadelos não cessaram e o medo continuará a te assombrar. Mas eu quero poder te ajudar a enfrentar cada um desses obstáculos, não apenas como uma amiga, mas também como sua parceira. Eu não ligo para o fato de você não me amar, saber que você gosta de mim já é o suficiente, porque o amor que sinto é tão forte, tão puro que eu posso amar por nós dois. vejo um pequeno sorriso surgir em seus lábios Eu só quero que você me deixe colar cada pedacinho do seu coração quebrado, eu só preciso que você se permita amar e ser amado. colo nossas testas novamente Eu só preciso que você me permita te amar Peeta. sussurro e o vejo fechar os olhos.

Ele solta um longo suspiro e os abre novamente me encarando, seus olhos adquiriram um brilho especial, lágrimas, mas não lágrimas de tristeza como das outras vezes. Essas lágrimas vinham acompanhadas de um belo sorriso.

Eu permito Katniss. Eu permito. diz antes de colar sua boca na minha.

                                                                 +++

Sou acordada no dia seguinte com vários beijos em meu rosto, abro os olhos preguiçosamente e a primeira coisa que vejo é um lindo e brilhante azul. Aquela havia sido a segunda noite que dormimos juntos.

Bom dia, dorminhoca. diz beijando a ponta de meu nariz me fazendo retribuir seu sorriso.

Bom dia. Que horas são? pergunto espreguiçando-me.

Oito e meia.

Nossa, por que me acordou tão sedo? pergunto sentando-me na cama.

Porque hoje eu quero te apresentar a cidade. Você me disse uma vez que sempre teve vontade de conhecer Miami, então estou unindo o útil ao agradável. diz animado.

Você está diferente, parece mais...

Feliz? pergunta completando minha frase e assinto É que eu passei a noite te observando e cheguei a uma conclusão.

Que conclusão? pergunto curiosa a ele que se aproxima de mim.

Que eu tenho a namorada mais linda desse mundo. diz beijando minha bochecha.

Namorada? pergunto com um sorriso de orelha a orelha.

Sim. Namorada. diz puxando-me para seu colo e então me beija. Aquela manhã de domingo estava se tornando a melhor da minha vida.

Depois de namorarmos bastante fomos tomar café da manhã. Quando contamos que estávamos namorando para Effie ela quase explodiu de tanta felicidade. Depois de alimentados Peeta me levou até a garagem e paramos em frente a um lindo carro vermelho com duas listras brancas.

Uau! Esse carro é maravilhoso! exclamo encantada fazendo Peeta sorrir.

É sim. É um Ford Mustang Fastback 66. Era do meu pai, mas depois do acidente ele acabou se tornando meu. diz encarando o carro.

E você o deixou aqui por conta das lembranças, certo?

Sim. responde enquanto se vira para mim, desde o momento em que acordamos aquele sorriso não saia de seus lábios e eu estava amando aquilo. Ele abre a porta do carro e estende a mão para me ajudar a entrar.

Nossa. Que cavalheiro. provoco.

Você merece. lança-me uma piscadela me fazendo rir.

Ficamos o dia inteiro passeando por Miami. Peeta me mostrou vários lugares maravilhosos e sempre que podia eu roubava-lhe um beijo. Aquilo estava parecendo um sonho, um sonho ao qual não queria acordar. No final da tarde ele me levou para um lugar maravilhoso, ficava em um lado mais afastado de Miami. O lugar continha varias espécies de flores, árvores, um lindo gramado verde e uma bela vista para o mar. Sentamos lado a lado e ficamos encarando o horizonte, onde o sol já começava a se por. Em certo momento viro em sua direção e começo a encara-lo. Ele estava tão diferente de meses atrás, o sorriso não sai de seus lábios e seus olhos estavam mais brilhantes do que nunca. Aquilo me trouxe uma felicidade imensa, minha meta sempre foi fazê-lo feliz e eu estava conseguido.

Ele vira-se para mim ainda sorrindo e se levanta, estendendo sua mão em minha direção. O encaro confusa.

O que? pergunto.

Será que a Sta.Everdeen me daria a honra dessa dança? pergunta galante me fazendo rir. Aceito sua mão e ponho-me de pé em sua frente.

Mas, não tem música. falo passando meus braços por seus ombros enquanto ele me abraça pela cintura e começa a me conduzir com leves movimentos.

Não seja por isso. diz colando sua testa na minha Quando me miro al espejo, solo veo tu reflejo, tus ojos ventanas son, a um mundo mejor... canta olhando em meus olhos fazendo meu sorriso aumentar.

Como fuego em el invierno, tu le das calor a mi universo. Es amor, sin condicion, ló que siento yo estando contigo... canto hipnotizada pelo azul brilhante de seus olhos.

Dime si esto es real llegaste a cambiar, com um beso mi verdad. No se como expresar com palabras que cuando miro tus ojos se. Que ya te amé mil vida atras. cantamos juntos enquanto dançamos em sincronia ao por do sol.

Eu queria tanto roubar seus olhos para mim. declaro baixinho ainda com a testa colada na sua.

Meus olhos? Por quê?

Porque eles são tão lindos. Esse azul que eles possuem é como observar um belo amanhecer ou até mesmo observar o céu à noite, cheio de estrelas. Eles carregam tanta coisa... solto um suspiro apaixonado Eles são bem melhores do que este cinza sem graça dos meus.

Hey. Não diga isso. me repreende enquanto leva as mãos até minhas bochechas fazendo carinho Eu acho seus olhos lindos.

Não precisa mentir só para me agradar Peeta.

É serio! Eu não estou mentindo. O cinza pode não ser a cor mais linda do mundo, mas em seus olhos, é como se ele não fosse um cinza sem graça. No mundo você vai encontrar varias pessoas com olhos azuis, verdes, castanhos e até mesmo pretos, mas o cinza de seus olhos é o mais belo que poderia existir. É uma cor tão única que não deveria ser chamado de cinza, ele merecia um nome único somente dele. declara sorrindo e não consigo conter uma pequena lágrima que escorre por minha bochecha, lágrima essa que ele prontamente seca.

Ninguém nunca elogiou meus olhos dessa maneira. sussurro.

Bem. Eu elogiei. sorri gentilmente me fazendo trazê-lo mais para perto.

Eu te amo. murmuro raspando meus lábios nos seus.

E eu estou aprendendo a te amar. sussurra quebrando a distancia entre nós juntando nossos lábios em um beijo lento e apaixonante.

Como Peeta disse uma vez, a música sempre pode sair do tom, mas a nossa estava mais do que afinada. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Link da música que eles cantaram: https://www.youtube.com/watch?v=8PqdYxg2cxw

Espero que tenham gostado, bjos e até sexta que vem.