You are the Bullet escrita por Hawtrey, KCWatson


Capítulo 2
Quando eu quiser


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora pessoal, deu um bug aqui na criatividade.

P.S. Achei um absurdo não poder favoritar o comentário de todo mundo, quero tanto fazer isso!



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Isso tudo é culpa sua!

Eu nunca, nunca, vou perdoá-lo...

E agora eu quero que você vá para o inferno, Hector Holloway.

Sentou-se com um sobressalto. Era apenas mais um dos seus pesadelos sobre aquela maldita noite, dessa vez era sobre o momento que torcera uma faca contra o peito de Holloway. Sensações e fragmentos que insistiam em não abandoná-la. Suspirou e esfregou o rosto, sentindo-se cansada. Quando conseguiria voltar a ter uma noite silenciosa? Olhou de relance para o seu relógio no criado-mudo e resmungou ao ver que ainda não era nem seis da manhã.

Que droga!

Sabendo que não conseguiria voltar a dormir e completamente irritada por isso, levantou-se e se preparou para mais um dia. Precisou de alguns segundos no banho para lembrar que não estava mais sozinha naquela casa e de mais alguns segundos na frente do espelho, massageando sua barriga evidente, para saber que precisava estar pronta para novas situações que começariam naquele dia. Apesar de tudo o que acontecera e de tudo o que sua mente teimava em pensar, não tinha certeza de como Sherlock agiria ao seu lado e o que suportaria vivendo ao lado dele grávida.

Só mantenha a calma, sempre mantenha a calma, repetiu para si mesma quando saiu do quarto. O Sobrado estava silencioso, mas sabia que isso não significava muita coisa, principalmente porque estava sentindo um aroma saboroso demais do andar de baixo.

Não pôde conter sua surpresa ao encontrar Sherlock se movimentando do fogão para a mesa, estava cozinhando.

― Por que está cozinhando?

Sherlock parou no fogão e ergueu a cabeça, franzindo o cenho pela sua presença.

― Bom dia Watson, acordada tão cedo? ― questionou voltando sua atenção para o que estava fazendo ― Finalmente li os e-mails que o Capitão Gregson me mandou e me atualizei quanto a sua dieta. Estou fazendo seu café-da-manhã, mas não a esperava tão cedo, isso ainda vai demorar um pouco.

Era inacreditável e por breves segundos Joan achou que ele jamais tinha ido embora.

― Eu não costumo dormir muito ― respondeu desconfiada, sentando-se a mesa.

― Certo, isso me parece uma novidade.

― Sabe, você não precisa cozinhar pra mim.

― Não vejo problemas ― Sherlock respondeu rapidamente ― Não há nenhum caso, não posso correr atrás de Berns com um exercito porque ainda não sei sua localização e também não costumo dormir muito.

― Okay ― Joan concordou, não seria ela a iniciar uma discussão desnecessária ― E o que está cozinhando?

― Vi que sua dieta está um pouco restrita ao termo estritamente saudável, então além do básico, estou fazendo um bolo de cenoura.

― Um bolo?

― O bolo mais saudável que comerá na vida, Watson, garanto.

― Hum... e o que tem no fogão?

Sherlock sorriu brevemente e olhou para ela, respondendo:

― Calda de chocolate.

― A calda de chocolate mais saudável que comerei na vida? ― Joan riu.

― Exatamente ― ele concordou voltando a mesa.

Joan se deixou sorrir, minimamente. Poderia ser pior, poderia ser mais complicado, desagradável, e concluiu que eram conclusões precipitadas quando Sherlock desligou o fogo da calda e puxou a cadeira para sentar ao lado dela.

― Podemos conversar agora?

― Achei que hoje seria um dia calmo ― Joan suspirou enquanto se preparava para se levantar.

― E será ― Sherlock a impediu, segurando sua mão ― Se depender de mim, será um dia completamente calmo. Só preciso que me escute.

― Pense bem no que vai falar, não quero me arrepender.

Sherlock hesitou, tamborilando os dedos da mão livre sobre seu joelho e então a olhou novamente.

― Eu quero, peço, que me perdoe por ter ido embora.

― Você disse que precisava ― Joan complementou depois de engolir em seco, havia muitas outras suposições ocupando sua mente ― E o que fez durante todo esse tempo? Aposto que não ficou focado apenas em Andreia.

― Resumidamente sim, para ser sincero. Fiquei um tempo em Baker Street, no 221 B, reunindo tudo e qualquer coisa que poderia ter contra ela e Holloway.

― O 221 B não é do seu irmão?

― Sim e ele se importa tanto com o lugar que sequer notou minha presença nele ― Sherlock revirou os olhos ― Mycroft só quer o 221 B em sua lista de propriedades para me insultar, nada mais. Mas os dias lá não foram tão úteis quanto eu esperava ou importantes.

― E o que foi importante? Voltar a se envolver com Irene?

Sherlock se calou e Joan se preocupou em brincar com a barra do seu vestido, ignorando o bolo que se formava em sua garganta e o aperto em seu peito.

― Por que acha isso?

Ela relembrou o momento em que o viu na sala do Capitão Gregson, a proximidade entre ele e Moriarty, o modo como a olhou quando se afastaram. Culpado e incerto. Sugestivo. Separou suas mãos.

― Isso importa?

― Não foi nada importante, se é o que quer saber. Compreendo como você deve estar se sentindo-

― Não, Sherlock, você não compreende absolutamente nada ― Joan o interrompeu, levantando-se subitamente ― E quer saber? Não quero escutar mais nada, muito menos suas desculpas, pedidos de perdão ou qualquer... besteira sobre isso.

― Joan...

― Não, Sherlock, não. Você foi embora dizendo que era o necessário para encontrar Andreia, teve a audácia de me prometer paz, ficou cinco meses longe e quando finalmente volta eu descubro que nada mudou! Andreia ainda está solta, em Nova York e você, que a seguiu para não sei onde, dividiu seu tempo entre arquivos inúteis e Irene Adler.

Sherlock se levantou, aproximando-se de Joan hesitantemente.

― Por favor, Joan.

― Irene Adler! ― Joan exclamou quase indignada ― A mesma mulher que fingiu a própria morte porque achou conveniente, a mesma maldita mulher que voltou dos mortos, que continuou a fingir sobre o próprio nome e Deus, do que estou falando? É exatamente por isso que você a ama, porque foi a única que conseguiu enganá-lo e você gosta disso, gosta de ter uma mente tão esperta quanto a sua bem ao lado.

― Eu não a amo!

― Não acredito em você! ― Joan o fitou sério, seus olhos marejadas o desestabilizando completamente ― Estou grávida e você saiu correndo como se nosso filho fosse uma bomba, como se eu estivesse o obrigando a algo.

― Apenas não estou preparado para ser pai! Não compreende isso? ― ele se defendeu no tom mais controlado que conseguiu ― Não sei como...

― E isso importa? Também não estou preparada para ser mãe e parece que não tenho escolha, não é? Preparado ou não, nada muda o fato de que vou ter esse filho e que nunca obrigaria você a nada. Só achei que era direito seu saber, achei que ficaria ao meu lado pelo menos como meu amigo. Você sequer tentou entender isso, preferiu fugir com as loiras!

 Sherlock esfregou os olhos com força, mas Joan estava disposta a brigar, gritar se fosse necessário, pelo efeito dos hormônios ou não, e o detetive notou isso. Avançou alguns poucos passos e agarrou as mãos dela, obrigando-a a olhá-lo nos olhos.

― Joan, não quero discutir, okay?

― Discutir? ― ela franziu o cenho em descrença ― Estou pensando em continuar a falar e você ouvir em silêncio. Isso não é discussão.

― Certo, mas você não pode se exaltar, nem mesmo um pouco. Pense no nosso filho.

Joan prendeu a respiração, pesando aquelas palavras. Nosso filho? De repente estava entre abraça-lo e socá-lo. Havia o alivio da clara possibilidade de Sherlock aceitar seu filho com mais facilidade do que o esperado, ou pelo menos considera-lo parte de sua vida. No entanto, também havia raiva. Como ele ousava falar daquela maneira depois de cinco meses sem qualquer interesse?

Optou por respirar fundo, ele estava certo afinal.

― Vou esperar pelo bolo na sala ― avisou antes de se afastar e sentar no sofá.

Encarou a lareira apagada e quase voltou para a cozinha, ainda queria ceder à raiva. Odiava aqueles hormônios que lhe davam desejos incontroláveis. Comer, dormir, gritar, bater, comer... era extremamente irritante e seria muito menos se pudesse fazer tudo isso a vontade.

Algum tempo depois uma fatia de bolo, grande e completamente coberto pela calda de chocolate, surgiu em seu campo de visão servido em um prato verde. Imediatamente sentiu sua boca salivar.

Sherlock Holmes a ganharia com comida?

― Parece bom ― admitiu a contra gosto.

Sherlock esboçou um sorriso contido, porém orgulhoso, enquanto lhe mostrava um copo.

― Trouxe suco de manga, não sei se ainda gosta, mas-

― Ah, gosto sim ― Joan o interrompeu pegando o prato de suas mãos ― Pode colocar o copo na mesinha, por favor.

Conteve qualquer expressão de maior contentamento, não aumentaria o ego dele, mesmo que o bolo pedisse por algo assim.

― O mais saudável que comerei na vida ― comentou tentando afastar a tensão que ela mesma criara.

― Sei que não vai admitir que está bom ― Sherlock previu.

― Nunca.

Batidas insistentes interromperam o que provavelmente seria um longo silêncio e antes de qualquer movimento seu, Sherlock estava correndo para abrir a porta. Joan segurou um sorriso malicioso tendo uma leve certeza de quem se tratava. Preparou-se.

A porta foi aberta e um segundo depois escutou a mesma sendo fechada com brutalidade. O barulho de um tapa chegou em seus ouvidos.

― Você é um grande imbecil.

A voz de Kitty soou baixa e tão ameaçadora quanto o esperado. Logo em seguida Sherlock voltou para a sala com o rosto vermelho e uma Kitty tagarelando enfurecida em seus calcanhares.

― Como você pôde Sherlock? Como pôde ir embora assim? Nós ficamos desesperadas por uma noticia e você nada! Porra! Qual é o seu problema? Qual é a merda do seu problema?

― Nem foi tanto tempo assim Kitty... ― ele murmurou receoso ― Cinco meses não são-

― Cinco meses são uma eternidade quando se está no escuro, seu grande idiota! ― Kitty gritou o interrompendo ― Custava muito mandar uma noticia? Um rim ou um braço?

Joan se permitiu sorrir. Se não podia realizar seus desejos, teria Kitty para realiza-los por ela e uma parte de sua mente, pequena e rara, não queria perder a chance de fazer Sherlock repensar seus atos.

― Kitty ― chamou recebendo a atenção imediata de ambos ― Você sabia, que seu pai aí, ficou um tempo em Londres? Com a Irene?

Sherlock arregalou os olhos, mas Joan voltou ao resto de sua fatia de bolo como se nada tivesse saído de sua boca e viu, com uma estranha satisfação, Kitty arfar e erguer o punho, acertando-o com um soco.

― Exatamente o que eu queria fazer... ― Joan murmurou satisfeita.

― Você traiu a Joan? Como você pôde? ― Kitty acusou indignada ― Joan é sua parceira, a mulher que sempre esteve ao seu lado, a mãe do seu filho e você a deixa aqui para ir brincar de casinha com aquela vagabunda que enganou você o tempo todo? Onde está o Clyde? Eu vou acertá-lo na sua cabeça!

Kitty começou a olhar em volta e Joan arregalou os olhos ao notar que ela estava mesmo procurando o Clyde, mas Sherlock logo se apressou e a segurou pelos ombros, forçando-a a parar.

― O que você disse?

Joan franziu o cenho e Kitty o olhou assustada, mas ainda sem entender.

― Eu? O quê? O que eu disse?

― Você disse filho.

A garganta de Joan secou enquanto sentia seu corpo paralisar.

― Deus... Joan, me desculpa, eu não lembrei ― Kitty gaguejou.

― Tudo bem Kitty, nem eu lembrei ― Joan consolou se levantando com dificuldade.

― Por que não me disse? ― Sherlock questionou atônito.

― Se eu tivesse um endereço, eu teria contado ― Joan respondeu seca.

― Mas quando cheguei...

― O que esperava Sherlock? Que eu corresse até você e contasse tudo sobre uma criança que você nem me disse se quer?

― Joan-

― Não vamos falar sobre isso agora ― Joan o interrompeu lhe dando as costas.

― Então quando? ― Sherlock questionou aumentando a voz, parecendo irritado ― Até quando você vai fugir?

― Até quando eu não estiver em uma gravidez de risco, talvez ― Joan rosnou se voltando para ele subitamente ― Até quando eu não sentir mais vontade de quebrar cada osso do seu corpo. Até quando eu quiser Sherlock e você vai respeitar isso, ou eu garanto, a próxima a sumir sem deixar rastros será eu.

― Acho que já tentou isso uma vez ― Sherlock engoliu em seco.

Joan estava pronta para voltar para o quarto e passar o restante do dia ali, sozinha ou com Kitty, mas aquela frase a afetou de uma forma que não deveria. Trazendo-lhe lembranças e uma vaga certeza de que muita coisa do que acontecera era, de fato, culpa sua. Isso a enfureceu.

― Acredite em mim Sherlock, posso dificultar bastante pra você se eu quiser. Não me teste. Porque se eu perder essa criança pela minha incapacidade de me manter calma com você, a culpa sendo sua ou não, vai preferir ter ficado em Londres com Irene Adler.


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