You are the Bullet escrita por Hawtrey, KCWatson


Capítulo 1
Não voltei por você


Notas iniciais do capítulo

E ai gente? Aqui está a segunda temporada que eu prometi, uma continuação não muito grande - ou assim eu espero - de I am the Target.

Meus principais focos serão: a resolução do caso de Andreia e a convivência de Watson e Holmes como uma família. Ou quase isso.

Espero que gostem e boa leitura.
♥ ♥ ♥



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Com cuidado colocou as flores sobre a grama e ergueu-se com dificuldade do túmulo de sua irmã, Lin Wen. Havia alterado o dia de sua visita ao cemitério por causa dela. Anteriormente só ia até ali para visitar o paciente que morrera em sua mesa de cirurgia, de meses em meses sem qualquer obrigação além da dolorosa responsabilidade pelo ato. Agora a responsabilidade se tornara uma densa e insistente culpa. Sua irmã estava morta por sua causa, assassinada por alguém que Joan acreditava ser sua amiga depois de se envolver em seus problemas com Holloway.

Hector Holloway.

Faria qualquer coisa para esquecer esse nome, o nome de alguém que mudara sua vida completamente. Como consequência também poderia esquecer Andreia Berns. Poderia odiá-los, sempre poderia odiá-los e o faria com prazer se não estivesse ocupada demais tentando seguir sua vida normalmente. Não estava conseguindo, é claro. Ainda acordava todas as noites e ainda comprava comida para dois todas as noites.

Ainda morava no Sobrado, para a completa irritação da sua mãe, e aos poucos alterara a estrutura interna do lugar para algo mais seguro para o bebê que chegaria em breve. O terceiro quarto de hospedes se tornara um quarto infantil, as escadas logo ganhariam uma porta de segurança assim como os armários baixos ganhariam uma tranca. Horas foram perdidas em lojas enquanto procurava roupas e moveis que ainda demorariam um pouco mais para serem montados. Joan estava tentando criar o melhor lugar para seu bebê e ainda assim Mary Watson insistia.

— Venha morar comigo Joan, por favor, eu lhe peço.

Joan encarou a mãe, cansada. Sentia que estava argumentando com uma parede. Suspirou e deixou sua xicara de chá sobre a mesa.

— Mãe... quantas vezes preciso dizer? Não sairei do Sobrado.

— Não seja teimosa — a mais velha retorquiu irritada — Está sozinha aqui e olhe este lugar! E se algo acontecer?

Joan olhou em volta confiante, o Sobrado nunca estivera tão organizado.

— Já estou adaptando o lugar para o bebê, a Sra. Hudson me ajuda com a limpeza e as vezes com a comida e Kitty passa o dia inteiro me fazendo companhia.

— Kitty é adorável, mas ainda é uma criança. Como cuidará de você?

— Eu sou médica, não preciso que cuidem de mim, só preciso de alguém capaz de usar o telefone no caso de alguma emergência ocorrer.

Mary comprimiu os lábios e abandonou a própria xicara.

— Ainda não acredito que Sherlock deixou você sozinha nesse lugar, com o dinheiro que tem em nome poderia ao menos ter comprado uma casa nova, apropriada para uma criança.

— Mamãe... — Joan revirou os olhos, aquela conversa também não era inédita — Não vamos nos mudar e a família Holmes vem me ajudando muito com as despesas, meu dinheiro está praticamente intacto.

Mary Watson suspirou e Joan soube que ela já tivera o suficiente para aquele dia, então pegou a mão dela e forçou um sorriso.

— Está tudo bem mãe e tudo continuará bem.

Não era completamente mentira, mas com certeza era um exagero. Visitava seu médico regularmente, não por preocupação ou indicação, mas porque Andreia estava certa quando disse que a gravidez era de risco. Dessa vez não era só a idade um pouco mais avançada que o habitual, mas também as consequências do nervosismo e estresse que sofrera por causa de Holloway. Depois de ouvir tudo o que aconteceu o Dr. Wood disse que ela estava proibida de perder o controle sobre seus nervos mesmo que fosse para escolher uma roupa.

Mesmo a contragosto contou para Kitty e deixou que esta contasse ao Capitão Gregson e ao Detetive Bell. Então Joan estava imersa na mais completa e tediosa calma nos últimos cinco meses.

Mais de cinco meses sem casos, sem Lin, sem noticias de Andreia e sem Sherlock.

Cerca de cinco meses atrás Sherlock Holmes prometera lhe dar paz. Encontraria Andreia e acabaria com aquela perseguição, acabaria com o medo de Joan de reviver tudo aquilo. Naquele dia ela não entendeu o real significado de acabar — se era uma prisão ou a morte, mas alguns dias depois descobriu que não se importava. Só queria essa paz que fora prometida. Sherlock não entrava em contato e ela tampouco sabia como fazê-lo, muitas vezes pensou em simplesmente ligar para o celular dele, mas sempre que digitava o número imaginava que poderia ser a pior hora. Ele poderia estar de tocaia, escondido, querendo silencio ou simplesmente ter jogado o celular pela estrada.

Não tinha ideia de onde ele estava e compreendia a importância do que estava fazendo, mas por Deus, só queria uma chance de abraça-lo, olhá-lo nos olhos e lhe dizer que era um menino.

― Meus parabéns Joan, é um menino! ― Dr. Wood revelou sorridente ― Finalmente conseguimos ver, hum? Espero que não seja tímido assim quando nascer.

Kitty sorriu na sua direção, mas Joan tentava segurar as lágrimas de felicidade. Um suspiro escapando de seus lábios.

― E está tudo bem com ele? ― não pôde deixar de perguntar.

― Está tudo ótimo, mas não relaxe nos cuidados.

Não que ela fosse arriscar, depois de tudo o que passara ter aquele bebê saudável em seus braços seria bem mais que um alivio, seria seu maior presente. Daria algum significado a sua persistência em não se entregar ao cansaço e a loucura, mostraria que tudo valera a pena no final.

A primeira vez que o sentiu se mexer foi uma luz iluminando sua mente, que estava inundada pela escuridão raivosa e cansada causada por fome e vômitos. Estava deitada depois de mais uma sessão de enjoos quando algo a fez pular de susto. Imediatamente colocou as mãos na barriga acentuada e sorriu com os olhos marejados. Por breves e incontroláveis segundos desejou que Sherlock estivesse ali, compartilhando aquele momento com ela, então sua mente traiçoeira a lembrou que se quer sabia se Sherlock queria aquela criança. Sim, ele insistiu que permanecesse no Sobrado, insistiu que se cuidasse, insistiu que usasse seu dinheiro para qualquer situação que envolvesse ela e o bebê, mas tudo isso sem tocá-la e sem olhá-la nos olhos.

Era devastador.

Eventualmente Gregson e Bell a visitavam, sempre trazendo alguma comida e um presente, no inicio Joan recusou, não precisavam mimá-la, mas depois de um tempo sem ser ouvida acabou desistindo e no final ficava feliz por ter companhia.

Era ruim quando ficava sozinha, quando se via forçada a pensar. Sentia tanta falta de Sherlock e ao mesmo tempo tanta raiva. O que custava mandar uma simples e única mensagem indicando que estava vivo?

― Desgraçado.

Precisou de alguns segundos a mais para sair do carro, a barriga de um pouco mais de sete meses começava a atrapalhar seus movimentos. Pegou o casaco que Bell esquecera no Sobrado no dia anterior e trancou o carro.

O Departamento de Polícia estava calmo e os poucos que estavam ali, por algum motivo, olhavam-na com certo temor. Compreendeu ainda menos quando enxergou Gregson rubro de raiva pelo vidro de sua sala e o olhar assassino dele ser transformado em apavorado quando a notou ali. Sem esperar por mais Joan apressou o passo até a porta.

― Não é um bom momento Joan ― ele a impediu interceptando a porta.

Em outras situações concordaria e daria meia volta, afinal, poderia ser um caso pessoal do Capitão. Mas não podia ignorar o fato de que ele estava convenientemente atrapalhando sua visão das pessoas da sala.

― Algum problema Capitão?

― Nenhum ― ele respondeu rápido demais ― Só... não é um bom momento.

Joan lhe lançou um olhar sério e em seguida o empurrou da forma mais educada que conseguiu.

Então compreendeu a relutância em deixa-la passar.

Sherlock estava ali, de pé, quase apático e não estava sozinho. Jamie Moriarty estava bem ao lado dele, perto demais. Joan tentou respirar com calma, lembrando-se de todas as vezes em que o Dr. Wood relatava sobre como tudo poderia piorar se ela não tivesse calma. Sherlock tinha os olhos levemente arregalados que iam do rosto dela para sua barriga, mas Joan conseguia sentir a indiferença emanando dele.

Desgraçado...Eu só precisava de uma mensagem.

Voltou seus olhos para a proximidade de Sherlock e Moriarty, fazendo-os se separar sutilmente como culpados. Joan nem se quer queria imaginar se aquilo realmente tinha significado ou se seus hormônios estavam criando motivos para fazê-la explodir de raiva. Também não queria decifrar o olhar estranho de Moriarty sobre si.

Tentando forçar sua respiração a se normalizar, pigarreou e estendeu casaco na direção do Detetive Bell que observava tudo atentamente do canto da sala.

― Você... esqueceu ontem, no Sobrado.

Bell se aproximou com cautela, como se temesse que ela fosse mesmo explodir a qualquer momento. Todos na sala pareciam pensar o mesmo. Entrementes Joan respirou fundo, duas vezes, suas mãos tremiam e seu coração batia sem controle. Já esperava por isso. Por mais que tentasse se acalmar, seu corpo ainda tinha reações automáticas difíceis de serem impedidas. Era apenas sua raiva misturada ao descontrole natural de uma grávida.

Então sentiu uma pontada um pouco acima do ventre. Colocou as mãos sobre a barriga e curvou-se um pouco, respirou com força.

― Pelo amor de Deus, sente-se Joan ― pediu Bell assustado enquanto puxava uma cadeira.

― Não, está tudo bem Marcus ― ela garantiu arrumando sua bolsa sobre os ombros ― É melhor eu ir.

― Não pode ir sozinha ― Sherlock a impediu.

― E por que não? ― Joan questionou finalmente o olhando nos olhos.

― Porque eu voltei por causa de Andreia. Ela está aqui.

Joan sentiu seu coração apertar. Cenas de seu ultimo encontro com Andreia Berns voltando a rodar sua mente com força, Holloway a segurando enquanto a forçava a assistir ela surpreendendo Lin com um único tiro. Morstan tendo Sherlock sob a mira de uma arma.

Sua visão escureceu levemente enquanto cambaleava. Sentiu alguém a segurando pela cintura, sustentando seu peso e fazendo-a se sentar.

― Enlouqueceu Holmes? ― Capitão Gregson vociferou ― Joan não pode ficar nervosa e nem passar por estresse, não leu nenhum dos e-mails que enviei? Ela já está afetada com sua volta repentina, não jogue uma noticia dessas assim! Quer perder os dois?

Sherlock recuou surpreso pelo tom ameaçador de Capitão e lançou um olhar preocupado para Joan que tentava se recuperar.

― Está tudo bem ― ela repetiu em tom cansado ― Sherlock não tem culpa. Eu só... não consegui esquecer algumas coisas ainda.

Todos a olharam com hesitação, mas Joan fez questão de ignorar. Já tivera que admitir sua condição delicada, não aguentaria aqueles olhares também. Então respirou fundo mais uma vez e, sentindo-se melhor, insistiu.

― Preciso ir embora, vejo vocês hoje à noite?

Gregson e Bell trocaram um olhar preocupado.

― Claro Joan, mas escute ― Gregson concordou antes de lançar um olhar quase letal a Sherlock ― Holmes é um idiota, mas tem razão. Não pode ir sozinha. Deixe-me ligar para Joshua.

― Ele está viajando ― Joan rebateu ― Se achar melhor eu posso pegar um táxi.

― Não, eu levo você ― Bell decidiu com firmeza.

Joan abriu a boca para negar, mas ele a calou com um olhar enquanto oferecia sua mão.

― Pelo menos uma vez não seja teimosa. Vamos?

Ela revirou os olhos e aceitou a ajuda dele para se levantar, ajeitou novamente sua bolsa e suas roupas, então lançou um ultimo olhar a Sherlock.

― A casa é sua Holmes e seu quarto está exatamente do mesmo jeito que deixou, fique à vontade para voltar.

― Importa-se se eu pegar uma carona?

***

Se tivesse chegado em casa sozinha, como acontecera nos últimos meses, teria fechado a porta com força, jogado sua bolsa no sofá e se trancado no quarto, dormindo pelo resto do dia. Mas naquele dia tudo seria diferente e o mesmo valia para os próximos. Sherlock foi quem fechou a porta, trazendo consigo uma mala e um olhar perdido que nunca cruzava o seu. Ele insistia em olhar ao redor, absorvendo cada detalhe, procurando diferenças naquilo que conhecia e agindo como se não pertencesse mais àquele lugar.

― Você mudou algumas coisas... ― ele notou espiando a cozinha.

Joan não havia feito nenhuma alteração nela ainda, mas Sherlock conhecia a própria casa.

― Pouca coisa ― respondeu pensando nas compras que fizera e nas trancas extras que havia agora em todas as janelas ― Mycroft me ajudou.

― Mycroft esteve aqui? Quando?

― Há uns dois meses, ficou somente uma semana.

Então o silêncio, o mesmo que dominou todo o caminho de carro até ali e o mesmo que serviria de barreira entre os dois por um bom tempo. Seriam longos dias.

― Certo ― ela se forçou a dizer, virando-se para ele ― Algumas coisas mudaram na sua ausência. Obviamente eu não trabalho mais, por causa do bebê. Em certos casos o Capitão ou Marcus me chamam ou, na maioria das vezes, trazem o caso até mim. Agora que você voltou, suponho que ocupará esse lugar.

― Não quero ocupar seu lugar Joan, garanto isso ― Sherlock contestou enquanto se sentava em sua poltrona.

Joan não pôde deixar de parar para observar. Sempre se sentava ali durante as tardes vazias e madrugadas de insônia, não só por sentir falta de Sherlock, mas porque, de alguma forma fantasiosa e esperançosa, sentia-se protegida. Tinha que se lembrar de não repetir o ato.

― Não me importo que o faça ― disse com firmeza ― A prioridade é a resolução do caso, não o meu orgulho ou qualquer coisa assim.

― Como quiser.

― Tem mais. Kitty gosta de passar as tardes comigo e deve chegar em algumas horas. Provavelmente não vai ficar muito feliz em ver você, então não fale nenhuma besteira.

Sherlock franziu o cenho, mas a deixou continuar.

― Algumas noites, como hoje, Capitão Gregson e Marcus me fazem companhia no jantar, fique a vontade para participar, aposto que vão querer escutar sobre sua investigação, estão odiando Andreia tanto quanto eu.

Observou-o mais uma vez e suspirou. Sherlock maneou a cabeça, concordando com tudo o que ouvia, mas parecia ainda mais incapacitado de conversar do que quando se conheceram. Estava hesitante e temeroso quanto a sua reação, provavelmente preocupado com o que poderia acontecer. Joan não o culpava, dependendo do que ele fosse falar, se ela não o matasse, Gregson e Bell o fariam.

― Joan...

― Não.

A voz dele era dolorosa e estranhamente frágil, mas ela não poderia lidar com nada daquilo no momento.

― É Watson... e conversamos sobre isso outro dia.


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Notas finais do capítulo

Reli, revisei, mas algo sempre passa, então me perdoem se houver algum erro ainda.

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