No Way Back escrita por Mille Evans


Capítulo 3
Capítulo 3




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No Way Back

Memory, bury me,

Know I've seen my share,

Things I can't repair,

I'm breakin' to you,

I'm breakin' to you

(Memória, me enterre

Eu sei que eu vi meu erro

Coisas que eu não posso consertar

Me quebrando por você

Me quebrando por você)

xxx

O sol já estava no topo do céu quando um par de olhos dourados se abriu. Inicialmente o principal motivo para acordar era a claridade; era difícil continuar a dormir quando toda aquela luz parecia irradiar de todos os lados tendo como alvo sua cara.

Contudo, não foi preciso mais do que segundos para que Edward Elric abrisse os olhos e constatasse alguns fatos: primeiro, aquele não era o teto da sua casa. Sabia disso porque ele não tinha lustres na sua sala, e aquele lustre pendurado bem no meio do teto, apesar de pequeno e discreto, era um lustre, algo que não fazia parte da sua sóbria decoração. Segundo: ele definitivamente estava um pouco confuso quanto à razão de ter chegado ali.

Subitamente o loiro sentou-se no sofá-cama onde estivera até então adormecido, e deu uma olhada ao redor.

Paredes cor de lavanda, móveis claros, tapete felpudo, uma prateleira entupida de livros, CD’S e DVD’s, um sofá de couro marrom… Ok, aquela não era sua casa. Aquela era a casa de Winry Rockbell.

Edward arregalou os olhos quando um fluxo rápido de informações povoou sua mente: ele indo buscar Winry em casa, deslumbrado diante de quão linda a loira estava, eles decidindo aonde iriam jantar, o belo sorriso de Winry ao descobrir o local que ele havia sugerido… Ali o loiro arregalou brevemente os olhos.

O jantar. O jantar que começou muito bem até ele comer algo que lhe provocou uma maldita reação alérgica que resultou na sua boca inchada e enorme, o que os levou à farmácia e ao estúpido remédio que tinha o feito cantar. Ele havia cantado para Winry.

— Puta que pariu – Edward murmurou, sentindo uma vergonha que o fez segurar a ponte do nariz e fechar os olhos, derrotado. Alphonse jamais poderia saber daquilo. Ninguém poderia saber daquilo.

— Imagino que você esteja se lembrando que, além de químico, é também cantor. – Uma voz feminina e risonha o tirou dos seus devaneios.

Edward levantou a cabeça e se deparou com Winry encostada no balcão da cozinha o fitando. Ela estava usando shorts jeans e uma camisa soltinha do Aerosmith. O cabelo dourado estava solto, caindo ao redor do rosto suavemente.

Edward engoliu em seco. Tinha sido para aquela garota que de repente lhe parecia tão linda que ele havia cantado Lets Get It On na sua pior versão? Edward gemeu, fechando os olhos.

— Eu gostaria de apagar esse episódio do jantar de ontem – Ele limitou-se a responder, passando a mão pelo cabelo. Desejou ter um espelho antes de se deparar com Winry e ficou chocado ao constatar o quanto se importava com a opinião da loira a respeito da sua aparência.  

— Eu não. Foi engraçado. – Winry riu brevemente e estendeu uma xícara de café a ele. – Aqui. Café forte e preto, do jeito que você gosta. Pode tomar sossegado, sua dignidade está intacta. Depois do espetáculo de música, você deitou aí e apagou imediatamente – Ela caçoou, risonha.

Edward bufou, mas aceitou o café. O sabor marcante fez seu cérebro acordar e ele sentiu-se um pouco melhor.

— Obrigada Winry. Desculpe por ontem. – Ele suspirou, voltando a encarar a garota. – Estraguei nosso encontro. – Murmurou, ligeiramente constrangido por dizer aquilo em voz alta.

Winry, para sua surpresa, apenas deu ombros.

— Para mim foi o encontro perfeito. – Ela disse, com tanta naturalidade que o deixou sem palavras.

O silêncio que recaiu entre eles foi levemente desconfortável. Edward tinha a nítida certeza de que sua aparência era equivalente a de um trasgo de Harry Potter e não conseguia deixar de achar Winry linda não importa o que ela estivesse fazendo – como naquele momento, em que a loira bebericava café. Como diabos alguém podia ser tão bonito de manhã, tomando café e usando uma camisa do Aerosmith? Isso, de alguma forma, estava o travando.

O loiro passou a mão pelos cabelos, perguntando-se o que diabos é que estava acontecendo consigo mesmo. Bizarro lhe parecia pouco para descrever.

— Hã, você teria uma escova de dentes sobrando, Winry? – Edward questionou, colocando-se de pé. Precisava molhar o rosto e colocar as ideias no lugar.

— Claro. Na Sempre tenho uma pra urgências na segunda gaveta do balcão.

Edward agradeceu e se encaminhou para o banheiro. Assim que se encarou no espelho, ficou satisfeito em ver que as coisas não estavam tão ruins. Ele estava apenas um pouco desgrenhado, situação tranquilamente resolvida quando soltou as madeixas loiras, as ajeitando com os dedos. Quando voltou a amarrar os fios, eles estavam mais ou menos decentes.

O rapaz escovou os dentes e lavou o rosto. Aproveitou para checar se seu desodorante não estava vencido e sentiu-se melhor quando sua aparência se mostrou mais aceitável e seu cheiro, até aquele momento, perfeitamente sob controle.

Foi exatamente ali que ele arregalou brevemente os olhos, chocado com tantas preocupações. Pela segunda vez no dia o químico ficou em silêncio, refletindo que aparentemente havia muita coisa mudando numa velocidade maior do que ele tinha notado.

Saiu do banheiro pensativo. O encontro com Winry tinha sido muito bom até a parte que ele tinha mudado de químico para cantor. Mal conseguia se lembrar do fato sem sentir um pouquinho de vontade de morrer. E estava para perguntar a Winry como ela havia o carregado até o sofá quando a cena que se desenrolava na sala o fez emudecer.

Edward sabia muitas coisas a respeito de Winry. A loira era professora de inglês, gostava de limonada suíça, cupcakes de morango, sorvete de prestígio e dobrava de tamanho quando estava brava. Ela tinha uma paciência infinita com crianças, adorava piercings e havia sofrido muito ao perder seu cãozinho de estimação (o que havia lhe custado uma semana inteira dormindo no sofá dela, tamanha era a tristeza da loira ao chegar em casa e se ver sozinha).

Um traço marcante, porém, se destacava à respeito da loira: ela era uma excelente dançarina. Ele conseguia se lembrar perfeitamente de ter ensaiado com ela alguns passos de dança básicos antes de ocasiões que exigiam que ele soubesse o mínimo para conduzir alguém – formaturas, casamentos, festas formais. Na realidade, ele conseguia ouvir claramente em sua mente a voz risonha de Winry dizendo que ele não tinha coordenação motora.

E estava se lembrando de tudo isso porque ela estava no meio da sala, de costas para ele, mexendo os quadris suavemente ao som dos primeiros acordes de Mustang Sally. O som de boa qualidade advindo do home theater fazia parecer que a banda estava logo ali do lado tocando.

Edward não pensou muito. Mal conseguiu controlar os próprios movimentos quando se dirigiu calmamente até o batente da porta da sala e se encostou ali, observando a loira cantarolar baixinho a música enquanto dava um giro completo ao redor de si mesma.

Não conseguia desgrudar os olhos da figura animada. O jeito como os quadris dela se moviam, ou como os braços descreviam movimentos graciosos e harmônicos era hipnotizante. O cabelo se agitava como uma cascata dourada ao redor do rosto delicado, e os lábios de Winry, rosados e levemente carnudos, estavam flexionados num sorriso sereno.

Edward sentiu uma onda de desejo percorrer seu corpo. Engoliu em seco, tentando não descer os olhos por todo o corpo da loira, mas era difícil se conter.

Talvez por uma intervenção divina ela tenha aberto os olhos exatamente ao ficar diante dele. Interrompendo o momento de introspecção, Winry assustou-se, desconcertada pelo flagra.

— Ed! – Ela exclamou, assustada.

Edward riu, divertindo-se.

— Você me viu cantar, nada mais justo.

— Bom, você estava sob efeito de medicação. Eu estou sóbria – Ela resmungou, enfiando uma mecha dourada para trás da orelha. Edward sentiu vontade de segurar os dedos finos e beijá-los delicadamente.

O loiro suspirou.

— Estamos quites, não se preocupe. – Fez um gesto de discrepância com a mão e sorriu. – Além do mais, você dança muito melhor do que eu canto.

— Na verdade, não estamos quites. Tive que carregá-lo e aguentá-lo falando groselhas, sabe. – Winry estava o encarando com uma expressão sapeca. Edward arqueou uma sobrancelha.

— Seja lá o que estiver pensando, a resposta é não.

— A resposta será sim. – Winry anunciou, risonha, e pegou o controle do aparelho de som. Segundos depois, os primeiros acordes de Tiny Dancer começaram a soar, enquanto ela se aproximava dele com as mãos estendidas. – Vamos relembrar os velhos tempos.

— O quê, dançar? Winry, eu já paguei muitos micos em poucas horas, acho que…

— Vamos, Ed. Por favor, seja menos ranzinza só dessa vez. – E então ela estava tão perto que Edward podia sentir o delicado perfume que emanava da pele macia. Os olhos azuis se fixaram nos seus. – Uma dança.

Edward emitiu um som indefinido de desagrado e se aproximou. Um dos braços envolveu a cintura fina suavemente, enquanto a mão livre se entrelaçava à de Winry.

E então ele estava frente a frente com a garota. O rosto dela, pequeno, delicado e sorridente, estava tão perto que ele conseguia enxergar com destreza o azul da íris, tão puro e intenso quanto a própria Winry. Os cílios eram dourados e ela tinha o nariz arrebitado, salpicado por pequenas e delicadas sardas.

Blue jean baby, LA lady

Seamstress for the band

Pretty eyed

Pirate smile

You'll marry a music man

Ballerina, you must've seen her

Dancing in the sand

And now she's in me, always with me

Tiny dancer in my hand

Edward emudeceu, e por um instante o mundo não passou de um borrão ao seu redor.  Ele não sabia quem tinha começado primeiro a dançar, mas no instante seguinte ele se dedicou aconchegar o corpo dela, sinuoso e quente, contra o seu. Automaticamente encostou a lateral do próprio rosto na têmpora da loira, aproximando mais ainda os corpos.

Em resposta, os braços de Winry envolveram timidamente o pescoço do químico, enquanto o rosto dela, corado, mantinha-se na altura do ombro dele.

But oh how it feels so real

Lying here with no one near

Only you and you can hear me

When I say softly, slowly

Por alguns instantes eles apenas se moveram, sem dizer nada. Os braços de Edward tinham circulado a cintura de Winry e ele podia dizer, com toda certeza, que o perfume da amiga era deliciosamente inebriante e que o corpo dela, delicado e cheio de curvas, parecia se encaixar perfeitamente com o seu.

Não estava mais conseguindo conter aquela abrasadora sensação que queimava suas veias.

— Winry? – Sussurrou, contra a orelha dela.

Winry visivelmente estremeceu.

— Sim?

Edward afastou o rosto brevemente, obrigando-a a fazer o mesmo.

Por um instante a professora perdeu o ar, esmagada pela intensidade abrasadora dos olhos dourados. Edward a olhava com tanta intensidade que era difícil não sentir que o mundo era um borrão e que seu coração iria explodir a qualquer momento.

E então ele aproximou o rosto, centímetro a centímetro, e não havia mais nada ao redor deles no instante seguinte.

Os lábios se encontraram com imediata intensidade, como um champanhe que tinha sido agitado por muito tempo. Os lábios se entreabriam, as línguas se exploraram e nada e nem ninguém parecia existir entre eles.

Hold me closer, tiny dancer

Count the headlights on the highway

Lay me down in sheets of linen

You had a busy day today

Edward não conseguia pensar com clareza. Uma de suas mãos tinha se embrenhado nos fios dourados de Winry, os enroscando entre os dedos para mantê-la perto, ao passo que braço livre era uma prisão firme ao redor da cintura da loira, mantendo-a colada nele.

A boca de Winry tinha um gosto viciante. O corpo dela era um encaixe perfeito e ele conseguia sentir que ela também se incendiava como ele. Numa dança lenta e sensual, eles se beijavam como se o mundo estivesse parando de girar e tudo se resumisse àquele momento: o gosto, o beijo, o cheiro.

Foi entre um intervalo de beijo e outro que Winry mordiscou o lábio do químico, esforçando-se para ficar na ponta dos pés e manter os braços presos ao redor do pescoço dele. O perfume amadeirado de Edward, ainda presente num traço suave da noite anterior, embaçava sua mente. Uma das mãos dele tinha escorregado por dentro de sua blusa, insinuando-se por suas costas num rastro de fogo, e ela sentia dificuldade em pensar com clareza.

Por alguns instantes eles se entregaram aos beijos, e foi somente quando Winry tropeçou no sofá, caindo junto com Edward sobre as almofadas, que sua mente deu um estalo. Subitamente estava debaixo do loiro, ofegante, enquanto ele também a encarava, a respiração tão sôfrega quanto a sua.

— Winry… - Edward começou, num murmúrio rouco. O desejo se refletia nos olhos dourados.

Winry esboçou um sorriso de lábios vermelhos.

— Acho que nos empolgamos.

Edward sorriu e estava prestes a dar uma resposta espirituosa quando a campainha tocou.

O casal se entreolhou brevemente antes de Edward se colocar de pé, tentando se recompor o máximo que podia. Winry levantou-se do sofá tentando a todo custo ajeitar os longos fios dourados. Rezou em pensamentos para que não estivesse muito óbvio que estivera dando um amasso intenso no cara por quem era apaixonada, mas era difícil controlar o sorriso bobo no rosto naquele momento.

Quando ela abriu a porta, entretanto, não precisou se esforçar muito para que o sorriso vacilasse da sua boca.

Porque parados na porta estavam Roy Mustang, Riza Hawkeye, Alphonse Elric e May Chang.

— Promessa é dívida Winry. Vamos te levar num Goukon.


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Notas finais do capítulo

N.A: Ok, eu nem sei como começar essa nota, então estou aqui escondida atrás de uma barricada levantando minha bandeirinha branca para dizer que TÔ DE VOLTA, GENTE.
No fim do ano passado eu prometi que ia terminar minhas histórias, e cá estou eu, tentando terminar minhas histórias. Me perdoem, por favor, por toda demora em atualizar No Way Back e tantas outras histórias. Eu realmente quero finalizar tudo e me dedicarei a isso.
E aí, o que acharam? O que será que vem depois desse amasso aí? Hihih me contem nos reviews! Aliás, eu peço: por favor, comentem! Eu juro que tô tentando me comprometer em finalizar minhas histórias, e com o apoio de vocês fica tudo muito mais fácil.
Por último, para quem não sabe, Goukon é uma espécie de encontro grupal no Japão, geralmente para arranjar alguém para o amigo(a) encalhado do grupo, ou para todos do grupo que estão buscando namorado(a). Não sei se existe no dia a dia dos japoneses, mas sei que vive aparecendo em mangás e eu quis inserir na história para dar aquela apimentadinha. Hihihi
Espero que vocês tenham gostado, de verdade.

Por último: eu iniciei uma fanfic nova chamada "Together". Quem quiser dar uma olhadinha, é só espiar meu perfil. :)
Um beijo e ATÉ BREVE!
Mille Evans



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