No Way Back escrita por Mille Evans


Capítulo 2
Capítulo2


Notas iniciais do capítulo

Duas coisas, gente:
1) Quem puder, escuta a música “Lets Get It On”, na versão do Evan Taylor Jones quando ela for mencionada no capítulo, em letras itálicas. Acho que será legal. ;P
2) Por favor, comentem. Vocês não sabem como dá MUITO mais ânimo escrever quando se tem comentários na história, então... Quem puder :)

Boa leitura!



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No Way Back

Pleased to meet you take my hand

There is no way back from here

Pleased to meet you say your prayers

There is no way back from here

But I don't care

No way back from here

(Feliz por te ver, segure minha mão

Não existe nenhum jeito de voltar daqui

Feliz por te ver, reze suas preces

Não existe nenhum jeito de voltar daqui

Mas eu não ligo

Sem jeito de voltar daqui)

(Foo Fighters - No Way Back)

xxx

 

O céu naquele fim de tarde era uma bonita mistura de rosa, vermelho e laranja. Na avenida central da cidade, os automóveis faziam filas e pessoas ansiosas aguardavam para ir para casa ou encontrar os amigos, na intenção de finalmente descansar e relaxar. Era sexta-feira, afinal de contas.

— Pare de rir da minha cara, Al! – O tom de voz irritadiço ressoou em meio a uma sala completamente vazia. Edward Elric andava de um lado a outro, o celular colado na orelha, tentando, ao que parecia, conversar com o irmão. – Estou tentando te contar uma coisa séria aqui!

Qual o problema em Winry ter te beijado? Você não deveria reagir assim. – A voz risonha de Alphonse no outro lado da linha sugeria o quanto ele estava se divertindo com a situação.

Edward sentiu o rosto inteiro esquentar, subitamente. A memória de ter os lábios macios de Winry contra os seus o fazia sentir um mix de emoções indefinidas. Ele simplesmente não sabia o que pensar. Era mais fácil recitar uma tabela periódica de trás para frente do que simplesmente lidar com aquilo.

O problema é esse: é a Winry! Ela me acertava com chaves inglesas a não muito tempo atrás, Al! – O tom indignado do Elric mais velho era tão desesperado que beirava o cômico.

— Explique-me qual a complicação disso. Vocês são amigos de infância. E dai?

Edward virou-se para a janela que dava para a rua do laboratório, depois de ouvir a resposta do irmão. Àquela hora apenas ele e mais uns dois ou três cientistas estavam no trabalho.

O loiro suspirou, fechando os orbes dourados. Os traços do jovem rosto masculino revelavam cansaço. O que devia fazer? A única coisa que sentia é que não podia ficar sem fazer nada. Não conseguiria ficar sem fazer nada porque aquele gesto de Winry tinha bagunçado sua cabeça. Sentia uma necessidade quase absurda de vê-la.

— Eu… Não sei o que pensar, Al. Acho que nunca vi Winry dessa forma. – O Elric mais velho confessou, por fim. Sabia que o irmão estava no outro lado da linha aguardando. – É… Esquisito pensar nessa situação com nós dois… Juntos.

Porque você nunca se permitiu, Ed. Você vive tão aprisionado dentro de si mesmo que não enxerga coisas simples.

Edward franziu o cenho, girando os olhos em seguida.

— Você me faz parecer um monstro. – O loiro resmungou, suspirando.

Pare de ter medo de sentir, Ed. Chame a Winry para sair! Você só pensa em trabalhar. Permita-se isso!

Edward emudeceu. Por um instante imaginou-se diante da amiga, convidando-a para sair, e o rosto do rapaz foi do tom usualmente corado, decorrente do clima quente da capital, para um vermelho intenso.

No que diabos ele estava se metendo?

O loiro passou a mão pelos cabelos, soltando um longo suspiro. Tinha que tentar para saber a resposta daquela pergunta.

— Parece que não tenho escolha. – Disse, por fim.

O restante daquele dia foi uma tortura para o Elric mais velho. Edward tentou de todos os jeitos se manter concentrado, mas mais de uma vez se flagrou xingando quando se atrapalhou com algumas fórmulas que trabalhava, derrubando frascos e errando cálculos importantes.

Uma hora depois o rapaz estava deixando o laboratório, sentindo-se a criatura mais perdida da face da terra. Ele não era um sujeito romântico. Diabos, mal sabia como agir! Todas as experiências que ele havia tido eram meramente físicas. Não que fosse o tipo que iludia garotas, mas preferia coisas casuais. Descomplicadas. Não era o tipo de pessoa com um emocional apto a encarar uma relação.

— E cá estou eu… Indo chamar minha amiga de infância para sair. – O loiro não evitou murmurar para si mesmo, num tom de voz que atestava seu maior pensamento: estava prestes a cometer uma insanidade.

No caminho para casa, reunindo toda coragem que lhe era possível naquele momento, Edward ligou para Winry e, num nervosismo que o fez gaguejar algumas vezes, perguntou se a garota estava livre aquela noite.

Winry, no outro lado da linha com o coração aos pulos, tentou não dar vazão às suas expectativas.

— Estou livre, Ed. – A loira respondeu, o telefone sem fio encaixado entre o ombro e o pescoço feminino enquanto ela brincava com a barra da saia que usava, tentando conter o nervosismo.

— Certo. Você… - Edward começou, e por um instante não conseguiu encontrar a própria voz. O rapaz reprimiu um suspiro, ouvindo a respiração suave da amiga do outro lado da linha. Descobriu que se sentia ridiculamente ansioso naquele momento. -… Você… Quer jantar comigo, Winry? – O Elric mais velho finalmente conseguiu falar, sentindo o rosto ser tomado por uma vermelhidão imensurável. Graças a alguma divindade celestial estava na sua casa, sozinho e fora do alcance dos olhos tranquilos, porém astutos, do seu irmão caçula.

Winry sentiu as costumeiras borboletas no estômago serem acompanhadas de um largo sorriso.

— Claro.

— Passo para te buscar às 20h30. Pode ser?

— Pode.

— Até mais tarde.

— Até.

E desligaram.

Sentado no sofá, Edward descobriu-se tomado por uma estranha sensação de ansiedade mesclada à animação. Quando o loiro se pôs de pé, piscando várias vezes sem parar, descobriu que estava feliz por Winry ter aceitado. E aquela emoção, aquela sim, foi quase tão estranha quanto Winry ter lhe beijado. Será que ele tinha passado tanto tempo assim trancado em si mesmo? O que diabos significava tudo aquilo? O loiro não sabia mais o que pensar. Não estava se reconhecendo.

Winry, girando no apartamento enquanto emendava uma sequência de saltinhos no meio da sala, sentia que toda a coragem que tivera que reunir naquela mesma semana para beijar Edward não tinha sido em vão. Não apenas porque os lábios do rapaz eram macios do jeito que ela sempre imaginou, mas porque finalmente ele parecia estar a enxergando de verdade.

A loira corou, apertando o telefone entre as mãos, e mergulhou num longo ritual de banho, ansiedade, trocentas mil roupas espalhadas pela cama e alguns pedidos de calma mental. Não conseguiria ligar para May naquele momento, porque ela ia surtar mais do que a própria Winry, então teve que se controlar e enfiar-se num bonito vestido azul de tecido leve e rodado, que lhe alcançava a metade das coxas torneadas, e dava um especial destaque aos delicados ombros femininos, devido ao decote canoa. E tudo isso entoando uma espécie de mantra mental repetido constantemente: fique calma. Apenas fique calma. Talvez por isso a loira tenha decidido deixar o longo cabelo loiro solto, fazendo uso de pouca maquiagem, lançando mão apenas de delineador e um batom num tom de rosa delicado. Estava se sentindo bonita daquela maneira. E suas mãos estavam tremendo demais para arriscar algo além daquilo.

Às 20h30 a loira estava colocando um brinco na orelha, e as 20h34 a campainha tocou.

Winry sentiu seu estômago girar e muitas borboletas voarem descontroladas em sua barriga. Em passos lentos, porém decididos, ela dirigiu-se à porta e por alguns segundos quase não conseguiu disfarçar o sorriso espontaneamente feliz ao ver Edward ali.

Eram raras as ocasiões em que via o rapaz sem os trajes formais de trabalho, e aquele era um desses momentos. O loiro tinha os cabelos usualmente presos, como de costume, mas naquela noite estava usando uma camisa social preta com as mangas dobradas até os cotovelos e calça jeans. O físico bem trabalhado do químico ficou em evidência e Winry o achou ainda mais bonito do que de costume.

Quando os pares de olhos se encontraram, entretanto, o silêncio pairou entre eles como uma bigorna de peso incalculável. As faces do casal foram tomadas por um vermelho intenso e por alguns segundos nenhum dos dois soube ao certo o que dizer.

Foi Winry que, tomando uma coragem que não soube de onde surgiu, pigarreou, coçando a nuca sem jeito.

— Vamos? – A loira murmurou, com um leve sorriso. As bochechas femininas queimavam de vergonha.

Edward parecia ter perdido a voz, limitando-se a concordar com a cabeça. Juntos, os dois se encaminharam para o elevador e aguardaram pacientemente que a caixa metálica alcançasse o andar de Winry.

Edward, com as mãos nos bolsos, tentava lutar contra a maldita timidez que estava lhe assolando os neurônios. Queria dizer que Winry estava linda e que ele estava um pouco confuso, porém disposto a tentar ir em frente com o que quer que fosse aquilo que estava surgindo entre eles. Queria, mas não conseguia. Naquele momento tudo o que o loiro sentia era um bloqueio ridículo que o impedia até mesmo de raciocinar com clareza naquele momento.

— Vamos, Ed? – Winry perguntou, posicionando um braço para bloquear as portas do elevador, impedindo-as de se fechar.

Edward a encarou. Viu os olhos azuis que sempre tinham aquela capacidade de fazê-lo se sentir em casa, como se a própria Winry fosse um lar. Encarou o rosto de traços delicados e subitamente recordou-se que aquela garota o conhecia a vida toda.

Como diabos ela podia gostar dele o conhecendo com tanta profundidade?

— Você está linda, Winry. – A frase chegou aos lábios masculinos com naturalidade.

Winry piscou, aturdida, e então os lábios pintados por um fraco batom rosa se flexionaram num sorriso.

— Obrigado, Ed.

Um breve momento de silêncio se seguiu enquanto eles alcançavam o térreo, lado a lado no elevador, sentindo, ambos, que a noite poderia ser memorável se eles pudessem se permitir sentir alguma coisa.

Quando saíram da caixa metálica, havia alguma coisa diferente no ar. Talvez tenha sido o jeito como os dedos das mãos se tocaram, quando, desajeitadamente, os dois tentaram sair ao mesmo tempo. Talvez tenha sido a forma como riram brevemente disso ou, ainda, talvez tenha sido apenas o fato de que sim, a noite podia ser boa caso se permitissem sentir sem medo. Não havia volta depois daquele momento.

O caminho até o restaurante onde iriam foi feito entre conversas casuais sobre o clima, a música que tocava no rádio e a fome que estavam sentindo.

Para Winry era difícil não observar Edward de perfil sem se recordar do que havia acontecido antes. Quer dizer, a memória dos lábios do rapaz sobre os seus era vívida em sua mente a ponto de fazê-la sentir as faces coradas. Ver que Edward sequer tocava no assunto a fazia se sentir insegura e apreensiva, embora, por conhecer muito bem o Elric mais velho, ela soubesse que ele provavelmente estava em pânico. Precisaria ter um pouco de paciência, afinal de contas. Estava lidando com Edward. Ele tinha um emocional equivalente ao de uma rocha.

E as suposições de Winry não estavam erradas. Edward mantinha os olhos atentos no caminho que os levaria ao restaurante que ele mesmo havia pesquisado aquela tarde, um dos melhores no tocante à culinária tailandesa. Havia gastado horas a fio pensando no que poderia agradar Winry, até que se recordou que a garota gostava de experimentar comidas diferentes. Em várias ocasiões ela havia mencionado este ou aquele restaurante italiano, grego, alemão, indiano. Estava na personalidade animada da loira se aventurar em coisas novas. Não achava que fosse desapontá-la. E para falar a verdade, era a única maneira que ele havia se apegado ao pensar naquela noite. Ainda não conseguia encarar Winry sem se demorar nos lábios rosados da amiga. Aquilo estava o perturbando profundamente.

— Onde estamos indo? – Winry questionou, quando o Jaguar-e-type entrou numa rua menos movimentada, embora muitas pessoas caminhassem pela calçada naquele momento.

— Lembrando do quanto você gosta de experimentar coisas diferentes… - Edward manteve a aceleração do carro e a diminuiu quando avistou a fachada de um restaurante novo, cujo letreiro enfeitado por piscas piscas de led chamava bastante atenção. Foi ali que o loiro estacionou, voltando os orbes dourados para um Winry que estudava o local, visivelmente empolgada. -… Decidi te trazer aqui. Espero que goste. – O loiro sorriu sem jeito.

Winry abriu um largo sorriso.

— Também espero.

Os dois se olharam por segundos que pareceram eternidades. Isto até o manobrista do local dar suaves batidinhas no vidro do automóvel, atraindo a atenção do casal.

Em poucos minutos Edward e Winry estava adentrando o que parecia ser de fato um excelente restaurante. Apesar de cheio, não havia fila de espera, então eles logo puderam se acomodar numa mesa perto de uma das paredes de vidro do local, que permitia vislumbrar quão bonito estava o céu aquela noite. Uma música suave de fundo fazia com o que o ambiente se tornasse extremamente agradável.

— E então. – Winry, segurando o cardápio, examinava os pratos que haviam a disposição. – O que pediremos?

— Qualquer coisa que não tenha leite. – Edward respondeu automaticamente.

Winry arqueou uma sobrancelha, fitando o rapaz. Ao observar a expressão da garota, Edward também a imitou, arqueando uma sobrancelha.

— Quê?

Winry soltou uma boa gargalhada com uma pergunta, enquanto Edward girava os olhos, embora mesmo ele tenha começado a rir brevemente depois.

— Algumas coisas nunca mudam. – Winry caçoou, após se recuperar do que se tornou uma longa crise de riso.

— Bom, eu cresci mesmo sem precisar tomar isso, então não vejo qualquer problema. Talvez eu possa ter algum distúrbio pelas constantes chaves inglesas que você jogava na minha cabeça, mas…

— Ed! – Winry ralhou, vendo o loiro rir – Era meu mecanismo de defesa, você era muito irritante e vivia quebrando as coisas que eu construía. – Ela se explicou.

— Eram acidentes, o que eu podia fazer?

— Ser cuidadoso?

— Não tinha como ser cuidadoso com aquelas coisas, era fascinante.

— Por isso mesmo você devia ser cuidadoso. – Winry retorquiu, o tom de voz falsamente bravo enquanto encarava Edward com ares de quem estava dando bronca em uma criança.

Edward a fitou, pronto para retrucar, mas então encarou Winry com mais cuidado, quase como se estivesse a enxergando daquele jeito pela primeira vez na vida. Ela estava logo ali, risonha, relaxada e feliz do outro lado da mesa, os olhos azuis apertados de rir, os lábios abertos num sorriso fácil, os cabelos tremulando levemente a cada vez que ela se mexia.

Finalmente entendeu que na realidade ela lhe era fascinante desde sempre.

O silêncio que se seguiu depois disso foi constrangedor, porém agradável. Winry, sentindo os orbes dourados de Edward sobre si, sentia o rosto pegando fogo, embora em momento algum aquela fosse uma sensação ruim.

— Já decidiram o que pedir? – Um dos atendentes surgiu, solícito e bem humorado.

O casal se entreolhou, sem saber o que dizer, já que não haviam pedido nada, e depois de explicar isso ao simpático rapaz que havia os atendido, decidiram pelo prato da noite.

Depois daquilo a noite transcorreu tranquila, regada a risadas, olhares carregados de significados e a certeza de que estavam se permitindo sentir aquilo sem medo, como deveria ter sido desde o princípio. Os pratos da casa eram realmente dignos dos elogios recebidos, embora, em algum ponto da noite, Edward tenha discordado um pouco sobre isso.

Começou com uma leve coceira na orelha que se repetiu por quatro vezes consecutivas, causando ardência e um leve incômodo a cada vez que o loiro colocava a mão ali. A coisa mudou de cenário, contudo, quando Winry o encarou, os olhos arregalados.

— Ed, o que diabos houve com sua orelha?

O loiro imediatamente levou a mão à orelha, como se alguém estivesse tentando arrancá-la.

— O que tem de errado com minha orelha!?

— E sua boca… - Winry não terminou de falar. No meio da frase a mulher girou o tronco para trás e fez um claro gesto para o garçom fechar a conta. – Ed, vamos a uma farmácia agora.

Naquele ponto da situação, Edward tinha uma das mãos sobre a orelha e uma mão sobre os lábios.

— Winry! – A voz masculina saiu abafada. – O que está acontecendo? Eu preciso de um espelho!

— Nada demais. – Winry sorria de modo tranquilizador, embora houvesse uma nota de pânico nos lábios bem feitos.

A conta foi paga numa velocidade anormal. Quando o manobrista veio trazer o carro, Edward sabia que havia alguma coisa muito errada consigo mesmo, já que o homem o encarou com claro espanto.

 - Senhor… espero que tenha uma boa noite. – O homem murmurou, ao entregar as chaves, olhando-o meio espantado e… penalizado?

 Precisava saber o que diabos tinha de errado com sua cara.

Foi quando o loiro se observou no reflexo do vidro do próprio veículo que ele entendeu o que havia acontecido.

Sua orelha estava parecendo um donut sem recheio e nem mesmo se ele levasse um soco na boca ficaria com os lábios daquele tamanho.

— WOW! – O loiro apontou para o próprio reflexo. – WOW! O QUE ACONTECEU COM MINHA CARA? WINRY! – Edward girou para o lado, os lábios inchados, a orelha claramente inchada também.

— Eu acho que foi reação alérgica a alguma comida, Ed. – Winry respondeu num tom de voz preocupado, digitando freneticamente no celular. – Estou pesquisando o que você pode tomar para desinchar.

— Minha nossa. – O loiro mal havia escutado o que a loira dizia. Rápido como um raio, ele entrou no carro, já girando a chave na ignição. – Entre neste carro, Winry!

Foram vinte minutos basicamente cômicos e desesperadores. Em cinco minutos estavam numa farmácia ali próxima. Em dez minutos, e estavam vasculhando as prateleiras de antialérgicos seguindo orientações do farmacêutico de plantão.

— Ed, calma! – Winry disse, quando viu o loiro derrubar duas caixas de remédio de uma prateleira, consecutivamente.

— Minha boca está maior que a do Ne-yo! – Foi tudo que a garota recebeu como resposta.

Winry tentou não rir depois disso, mas ficava difícil cada vez que via Edward ler desesperadamente os nomes dos remédios buscando o que lhe tinha sido receitado. Até ele encontrar o que precisava – e comprar três frascos –, ela teve que segurar a risada.

Meia hora depois eles estavam sentados no banco da pracinha que havia próximo à farmácia. Winry tinha os ombros levemente encolhidos de frio, enquanto Edward tinha um dos braços jogados sobre o encosto do banco, tão relaxado que nem parecia o mesmo loiro ranzinza que Winry conhecia a vida inteira.

— O que eu quero dizer, é: isso aqui tem um gosto ótimo, Winry. – Edward disse, o rosto inclinado para cima, enquanto ele aparentemente ria sem motivo algum. – E o céu está maravilhoso hoje. Aliás, que noite incrível.

— Parece que os efeitos colaterais do remédio em você foram fortes. – Winry limitou-se a dizer, observando como Edward ficava ainda mais bonito daquele jeito, rindo, relaxado, e o mais importante: sem inchaço. Sentiu vontade de rir daquela situação.

— Por que? – Edward subitamente endireitou a postura, segurando o frasco de remédio com uma das mãos. Havia um canudo inserido dentro do frasco, como se ele estivesse tomando algo muito saboroso.

— Ed, você está… - Winry buscou palavras para descrever o amigo, notando que ele a encarava com uma intensidade abrasadora. Sentiu as bochechas queimando levemente e subitamente já não queria fazer qualquer piada. -… Feliz. – A loira respondeu, num tom mais sério do que pretendia.

Edward arqueou uma sobrancelha, e então o braço que estava apoiado no encosto do banco escorregou para os ombros femininos. Simultaneamente, o loiro aproximou-se de Winry, encarando-a com ternura.

— Como não estaria feliz estando com você, Winry? – Edward disse, e então os olhos dourados estavam nos azuis.

Winry sentiu um milhão de borboletas em seu estômago. Uma sensação gelada, indescritivelmente doce e inquietante a fez sentir as pernas e mãos trêmulas, ao mesmo tempo.

— Ed…Você não está em seu estado normal. – Winry conseguiu formular a frase com alguma dificuldade. A proximidade a fazia ter uma visão privilegiada do rosto bem feito de Edward. Nunca tinha estado tão perto dele daquele jeito. Por Deus, conseguiria contar quantos fios havia nos cílios dele naquele momento. Conseguiria até mesmo descrever quão atraente era sentir o calor da pele dele em contato com a sua, ou como aquele rosto, com aquela expressão divertida, a fazia se sentir ansiosa e acuada como uma adolescente de quinze anos. – Eu acho…

— O quê? – Um sorriso de canto surgiu nos lábios finos do loiro. A malícia e a diversão brincavam no rosto jovial enquanto ele a encarava. – Não tem nada de errado comigo. Só estou sendo sincero.

— Remédios antialérgicos fazem isso com as pessoas. – Winry tentou brincar, sentindo um leve arrepio descer pelas costas quando os dedos de Edward começaram a deslizar pelo seu ombro suavemente, fazendo desenhos aleatórios. O perfume amadeirado do loiro era tão delicioso que ela mal conseguia raciocinar.

— Não. Você fez isso comigo quando me beijou, Winry. – Edward aproximou-se um pouco mais, e então a mão que estava sobre o ombro de Winry deslizou pela lateral do corpo da loira até parar na cintura fina, a apertando levemente entre os dedos.

— Ed… - Winry não sabia o que dizer. Sentia o rosto pegando fogo de uma maneira sobrenatural. Nem em seus sonhos mais ousados tinha imaginado escutar aquilo de Edward. O que diabos havia na composição daquele remédio?

Edward a encarou intensamente, e então entoou, desafinado:

I've been really tryin', baby. Tryin' to hold back this feelin' for so long… And if you feel like I feel, baby, then come on, oh come on…

Winry arqueou uma sobrancelha lentamente, incapaz de ter uma reação adequada ao que estava acontecendo. Edward estava… Cantando?

Let's get it oooon, oh baby, let's get it oooon…

Sim. Edward estava cantando. Edward Elric estava cantando.

— Ok Ed… - A loira trancou os lábios, para evitar rir da cena, e então retomou o controle da situação, ficando subitamente de pé. Edward, outrora abraçado a ela, também ficou, e a loira o ajudou a colocar o braço sobre os ombros delicados, numa tentativa efetiva de ajuda-lo a andar. – Hora de ir dormir.

Let's love, baby, Let's get it ooon-on-on-on… Não quero ir dormir, Winry, cante comigo…

— Não. – Winry respondeu com suavidade, vendo-o encará-la com um carinho palpável. – Ed, jogue isso no lixo.

Since we got to being, let's live…

Winry girou os olhos, pegando o frasco da mão do amigo. Ela mesma o jogou fora, e com um suspiro, não teve dificuldade em encontrar as chaves do carro dele no bolso da calça.

— Agora, preste atenção em mim, Ed. – Winry parou de andar, fazendo o rapaz a encarar. – Vamos para casa dormir, tudo bem?

Edward alargou o sorriso, uma nota de malícia surgindo automaticamente.

— Na mesma cama?

Winry girou os olhos, sentindo vontade de rir. Mal acreditava na situação que estava acontecendo.

— Nem em sonho. Eu vou dormir na minha cama, e você, Marvin Gaye, vai dormir no sofá.

(Continua…)

x x x

 

 


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Notas finais do capítulo

OLÁÁÁÁ LEITORES! Antes de tudo: não me matem por ter parado o capítulo aí. Estava ficando enooooorme, então preferi parar ali para continuar no próximo e não ficar cansativo.

E então, o que acharam do Ed meio loucão com remédio? Eu sei que ficou meio OOC o Edward cantando, mas o objetivo era justamente esse. Só tenho um comentário a fazer: que encontro, meus amigos, que encontro! Haha

Veremos no que isso vai dar no próximo capítulo, e espero que vocês tenham gostado deste!

Beijos!



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