Perfect Soulmates escrita por Naylliw Freecs


Capítulo 6
Insegurança


Notas iniciais do capítulo

Olha eleee!! ~Desvia das pedras~
Explicações nas notas finais.
Roda o cap.



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Marinette

Fui arrastada. Meus pés desgrudaram do solo no momento em que algo explodiu muito perto do lugar em que nos encontrávamos. Ainda consegui escutar o grito de Adrien, antes de cair bruscamente a alguns metros e ser levada pela multidão desesperada. Minha cabeça girava e as pessoas gritavam. Maldição! Precisava encontrar um local seguro para me transformar e... Céus! Precisava encontrar Adrien!

Comecei a empurrar as pessoas e correr no sentido contrário a elas, mas era o mesmo que tentar nadar contra um tsunami, o medo tomava conta das pessoas, que faziam de tudo para sair daquele local. Então algo me puxou pelos ombros e meus pés perderam o contato com o chão. Aí eu gritei, muito alto e vergonhosamente.

— Tsc... Tenha calma princesa, sou eu, seu herói favorito! – Ergui a cabeça vendo o sorriso arteiro desse gato desmiolado. Meu rosto queimou. Parabéns Marinette! Não consegue ficar uma hora sem passar uma vergonha daquelas. Poderia até escrever uma carta para mim mesma “Querida eu, qual o valor do ingresso para o seu show de vergonha alheia?”. Mas do jeito que sou trouxa, o show com certeza seria de graça.

— Meu herói preferido com certeza não é um gato abusado. – Resmunguei baixo, mas se ele escutou preferiu me ignorar enquanto me largava na sacada de um prédio a alguns metros do foco de explosões. Meu parceiro se virou e encarou os focos de chamas que se erguiam como um passe de mágica há alguns metros de nós, incendiando as árvores do parque e destruindo automóveis em seu caminho. O fluxo intenso de pessoas em fuga podia ser visto nas ruas abaixo de nós.

— Eu a adoraria mostrar o quanto esse gato pode ser abusado, princesa. – Ele disse quando se virou, de repente, e deu um passo em minha direção, encarando-me nos olhos e por um momento eu perdi a resposta pronta. – Mas não estamos no seu quarto, com você saindo do banheiro apenas de roupas íntimas e se jogando nos meus braços. Ah, não que seja menos importante, tem um akumatizado atacando nossa cidade, então não saia daqui e... passar bem!

Meu rosto queimava ao mesmo tempo em que procurava um local para enfiar a cabeça. Chat Noir piscou e sorriu com o canto dos lábios antes de se afastar rumo à batalha. Mas... Mas que absurdo! Argh! Gato tarado, pervertido e idiota! Aproveitador de garotas indefesas...

— Marinette! – O pequeno grito de Tikki me retirou do meu mundo particular de movimentos a favor de torturas e prisões de gatos cafajestes, trazendo-me de volta a realidade. Ela flutuava na minha frente, com os braços cruzados e as bochechas infladas, tentando esconder o mínimo sorriso que se formava em seus lábios. – O akumatizado!

— D-Desculpe! – Calma Marinette. Respire. Salvar Paris primeiro, chutar a bunda do Chat Noir depois. Sim, isso parece um bom plano! – Tikki, transformar!

A pequena kwami foi sugada para dentro de meus brincos e a transformação ocorreu. E mesmo depois de tanto tempo assumindo a identidade de Ladybug, ainda era incrível a maneira a qual o poder fluía pelo meu corpo quando heroína. Parecia não haver cansaço, nem mesmo medo ou insegurança, numa overdose de adrenalina. Encarei o pequeno parque a alguns metros, as pessoas já haviam se dispersado e não havia nenhum sinal de meu futuro esposo, digo, nenhum sinal de Adrien! Foco Marinette! Lembre-se, salvar a cidade primeiro, casar depois. Suspirei frustrada. Mesmo querendo dar meia volta e procurar pelo Agreste, meu dever falou mais alto no momento em que mais uma explosão pareceu sacolejar Paris.

Avancei rapidamente pelos prédios até que chegasse no que parecia ser o foco das explosões. O corte no meu pé ainda era um incômodo, mas nada que me impedisse de cumprir com minha tarefa. Segui reto pela rua deserta, havia marcas negras espalhadas pelo asfalto, como se antes houvesse algo no local, mas que acabara sendo carbonizado pelo calor intenso. Tentei afastar da mente a possibilidade de aquelas marcas fossem de corpos humanos. Alguns carros haviam capotado e diversos cacos de vidro se espalhavam por todo o local. Continuei andando, o parque estava mergulhado no mais profundo silêncio, silêncio até demais. Dei mais alguns passos, apreensiva, a copa das árvores balançava na presença de um vento quase que inexistente. Mas aí veio mais uma explosão, um pilar de fogo se ergueu a alguns metros de mim, próximo ao que deveria ser o coração do parque. Uma gota de suor escorreu pela minha testa, a onda de choque se tornava cada vez mais intensa, um poder destrutivo e devastador. Até que ponto Hawk Moth estaria disposto a ir para atingir seus objetivos?

Busquei meu ioiô, pronta para atacar, mas um vulto negro voou por cima de algumas árvores, atingindo o solo bruscamente e gritando tão alto que um arrepio percorreu toda a minha coluna. Meio segundo depois Chat já estava de pé, dando uma cambalhota um tanto mal executada para o lado, no momento em que um pilar de fogo se erguia onde estava segundos antes, aquela coluna explodiu numa força tão grande que mesmo estando a alguns metros pude sentir a onda de impacto. Logo em seguida uma nuvem densa de fumaça se ergueu, bloqueando a minha visão e me incapacitando de localizar meu parceiro.

— Chat Noir! Você está... – Antes mesmo que pudesse terminar de falar senti o impacto de algo contra meu corpo, braços fortes se enlaçaram em minha cintura no mesmo momento em que tombava para trás, meu corpo girou pelo asfalto juntamente com o peso extra. Um segundo depois mais um pilar de fogo se ergueu, tão alto quanto o anterior e em seguida explodiu, tão intensamente quanto. Ergui a cabeça atordoada, minhas costas ardiam devido ao impacto e sentado sobre minha barriga estava Chat Noir, mas sem seu habitual sorriso, o rosto coberto por fuligem e uma de suas mãos apertava fortemente minha boca. Tentei falar, mas ele intensificou o aperto, pondo o indicador sobre seus lábios num pedido mudo de silêncio.

Quando a fumaça se dispersou pude vê-lo pela primeira vez. Parecia ser um adolescente, com idade não muito maior que a minha. Vestia uma espécie de roupa social completamente vermelha, num tom muito escuro que se assemelhava a sangue fresco. O seu cabelo era uma verdadeira confusão de loiro com ruivo alaranjado, como se tivesse decidido pintar, mas acabasse ficando indeciso no último momento e acabasse por decidir misturar ambas as cores. Mas sua pele... sua pele era negra como piche e no lugar onde deveria ser seu rosto não havia olhos ou nariz, apenas a boca que parecia ser desprovida de dentes. Em uma das mãos carregava uma espécie de bastão metálico. Seus pés descalços nunca tocavam o chão, mas não parecia ser capaz de levitar muito além de alguns metros.

Senti o aperto em meus lábios se afrouxar no momento em que Chat começou a se erguer, o indicador ainda sobre seus lábios quando agarrou um enorme caco de vidro dentre os estilhaços da janela de um carro capotado perto de nós. O akumatizado se aproximava cada vez mais, levitando a alguns centímetros do solo, mas por algum motivo ele não atacava, mesmo que estivéssemos bem a sua frente. Quando ele parou a poucos centímetros de nós, Chat ergueu o caco de vidro e lançou contra o tronco de uma árvore um tanto distante de onde estávamos, nosso inimigo simplesmente ergueu seu bastão e apontou na direção exata, um filete de fogo partiu do ferro até que se expandisse ao redor de toda árvore, só para explodir logo em seguida. Foi aí que nós corremos. E que eu pude entender o porque das atitudes de meu parceiro.

Seja quem fosse, era completamente cego.

O barulho da árvore explodindo foi o suficiente para cobrir a nossa fuga, mas logo foi seguido pelo grito de insatisfação do akumatizado.

— Maldição! Como ousam sobreviver? Apareçam rápido e sejam consumidos pelas chamas do Persuasion Explosive! – Sua voz era melodiosa, na verdade, incrivelmente linda. Sedutora. Quase me senti tentada a responder, mas quando estava prestes a abrir a boca alguém fez isso por mim.

— Desculpe, mas assar animais é contra lei. Principalmente se o animal for tão gato quanto eu! – Chat Noir ergueu as sobrancelhas, como se não acreditasse que havia falado. Porém o estrago já havia sido feito, nosso inimigo sorriu satisfeito quando ergueu seu bastão e o apontou para nós. Parecia ser guiado unicamente pelo som.

— Queimem. – Nesse momento, eu não consegui me mover. Meu corpo travou e pareceu iniciar uma rebelião contra as ordens ditadas por meu cérebro. A onda de calor demorou exatos três segundos para atingir o local que estávamos. A explosão veio um segundo depois. Sendo bem sincera, talvez eu tenha fechado os olhos e esperado a morte chegar. E o grito um tanto fino que seguiu no mesmo momento com certeza não foi meu. Mas, sim. Sobrevivemos. Como? Eu não faço ideia. A fumaça que seguiu a explosão bloqueou boa parte de minha visão.

— Parece que estão passando por maus bocados, meus jovens. – Essa voz... Essa voz não me é estranha. Semicerrei os olhos para o pequeno homem que surgira da fumaça, bem a nossa frente. Ele tinha a postura um tanto curvada e as rugas se sobrepunham na parte exposta de seu rosto. Os olhos estavam recobertos por uma máscara verde e na sua cabeça repousava um chapéu que se assemelhava com uma antiga peça chinesa. Seu traje esverdeado parecia ser leve para facilitar seus movimentos, ao mesmo tempo que buscava imitar o casco de uma tartaruga.

— Quem é você?! – Chat deu um passo a frente, segurando seu bastão com força, os olhos levemente arregalados. Parecia... não, não parecia. Ele com certeza estava com medo.

— Ah, o jovem Chat Noir, creio que ainda não tenhamos nos encontrado... pelo menos, não diretamente. – A fumaça começava a baixar e só então me dei conta do motivo de não termos sido incinerados. Uma pequena barreira esverdeada surgira, formando uma espécie de cúpula ao nosso redor. – Eu sou Jade Turtle. Mas se preferir pode me chamar de...

— Mestre Fu! – Ele sorriu para mim, pondo um dos dedos sobre os lábios. Não devia chamá-lo pelo verdadeiro nome tão alto. Corei ao perceber meu erro.

— Você o conhece? – Chat relaxou os ombros, mesmo que ainda com a guarda alta.

— Sim, jovem Ladybug. – Seu sorriso vacilou no momento seguinte. Quando uma coluna de fogo atingiu nossa proteção, mas a mesma manteve-se inabalável. Do lado de fora, Persuasion Explosive mostrava-se insistente, golpeando a barreira com tamanha força que os tremores que seguiam as explosões lembravam terremotos.

— Não. Não, Não! Trapaça! Como ousam sobreviver mais uma vez? Não é justo! Ele disse que seriam apenas dois! Não sabia que teria que lidar com um terceiro! – O akumatizado bradava indignado. Então Hawk Moth não tinha conhecimento da existência do Jade Turtle, bom... pelo menos até agora. – NÃO FAZ DIFERENÇA! É muito fácil zombar e enganar o garoto cego! É fácil pregar peças e ameaçá-lo, obrigá-lo a fazer suas vontades e no fim queimá-lo com um isqueiro quando ele decide procurar ajuda... Vocês super-heróis vivem sua vida perfeita, no seu mundo perfeito, com todos lambendo o chão para vocês passarem por cima! Vocês fingem que se importam com a população parisiense, mas agem apenas para alimentar o próprio ego. Então eu deixo uma promessa para vocês. Eu irei destruí-los, um por um, mostrarei o verdadeiro significado de viver no escuro... Se acham que são um farol para o povo, eu serei a luz tão intensa que cega e deixa para trás apenas a escuridão!

— Jovens heróis! – A voz de mestre Fu me arrancou das palavras hipnóticas daquele garoto. Maldição! Por que tudo que ele falava parecia tão certo? Por que eu estava concordando tanto com o que ele dizia? – Não deem ouvidos a ele! Esse é o verdadeiro...

— Calado ancião! – Persuasion Explosive gritou com tanta autoridade que não só o mestre se calou, mas eu acabei levando as mãos até a boca como se a ordem fosse dirigida até mim. – Abaixe esse escudo! Abaixe agora.

— Não posso. – Ele respondeu como se num transe. Seus olhos focavam em algum ponto muito além de onde estávamos. – Esse é o meu poder, barrier, depois de ativado só irá sumir após cinco minutos.

— Ah, então só preciso esperar que sua energia se esgote?

— Sim.

— Que ótima notícia! – Um sorriso brotou na boca distorcida do vilão. – Esperemos um pouco então! E me faça o favor de não se mover, desejo enfrentar os heróis de Paris sem interferência alguma.

— Chat! – Chamei aflita, inúmeras possibilidades atravessando minha mente como um raio. Se eu estivesse certa... Aquilo que mestre Fu tentou alertar... só podia ser isso! A explicação por trás da necessidade de fazer o que ele pedia. – Um plano. Eu tenho um plano!

— My lady...

— Pode tentar o que quiser heroína, quando o tempo se esgotar vocês cairão! – Ignore Marinette. Você só precisa ignorá-lo.

— Ele não deve ser capaz de produzir chamas se estiver molhado. Precisamos de uma fonte d’água!

— A mais próxima fica no centro do parque, um pequeno lago, mas seria impossível chegar lá a tempo... – Chat parou de subido, encarando o akumatizado que sorria em nossa direção.

— Que gato esperto! – Persuasion Explosive se aproximou da barreira verde. Mestre Fu ainda permanecia estático, seguindo sua ordem. Então ele bateu a bengala na nossa proteção, provocando mais uma explosão de chamas, mas a barreira permaneceu firme. – Argh! Maldição. Velho idiota, se não tivesse se metido a minha vitória já teria se firmado. Depois que acabar com...

— Persuasão Chat Noir. – Sussurrei para meu parceiro enquanto nosso inimigo ocupava-se com ameaças contra o mestre Fu. Chat ainda parecia imerso nos próprios pensamentos. – O nome dele é autoexplicativo. Esse é seu verdadeiro poder, obrigar os outros a cumprir a sua vontade!

— Boa tentativa, Ladybug. – A cabeça sem olhos do vilão se voltou em minha direção. O sorriso havia desaparecido de sua boca sem dentes. – Mesmo tão inteligente ainda subestimou a extensão de minha audição. Porém, com meu segredo descoberto não posso permitir que essa luta se prolongue nem mais um minuto. Então faça o favor de entregar o seu...

— É ISSO! – O berro de Chat Noir arrancou minha atenção de suas palavras venenosas. Persuasion rosnou irritado, mas Chat Noir continuou a gritar, impedindo nosso inimigo de nos controlar com sua fala. – Acho que precisamos de um pouco de sorte ao nosso lado My Lady!

Entendi o que ele queria dizer, mas meu poder simplesmente não seria o suficiente. Haviam grandes variáveis, além do akumatizado aparentemente ter dois tipos de poderes, o mestre Fu precisaria de nossa proteção. Mas quando vi a confiança em seus olhos, seguida de seu polegar erguido num pedido mudo de confiança, percebi que não tinha escolha senão confiar nele.

— LUCKY CHARM! – O ioiô se elevou no ar, juntamente com o surgimento de uma luz vermelha intensa. No instante seguinte, uma pequena bola de baseball caiu em minhas mãos enquanto o mundo ao meu redor escurecia e alguns pontos irradiavam um brilho avermelhado. A bola, o escudo de energia, o bastão de Chat Noir e um grupo de carros pouco a frente, ainda não afetados pelas explosões. O plano tomou forma na minha mente assim que a proteção mágica de Jade Turtle começou a ruir, como uma bolha dissolvendo no ar.

— Chat! – Gritei por cima até mesmo de sua voz. Seu rosto estava vermelho e algumas gotas de suor percorriam sua testa até despencar pela ponta do nariz.

— Heróis malditos! – Rugiu o akumatizado batendo a bengala mais uma vez contra o escudo, a explosão fez o asfalto estremecer e a quantidade de calor que conseguiu adentrar pela fenda aberta no escudo fez meu rosto arder. – Eu ordeno que...

— Faça sua melhor tacada Chat Noir! – Gritei mais uma vez, sobrepondo a voz ardilosa de Persuasion Explosive enquanto lançava a pequena bola para cima e apontava a direção que deveria acertar. Chat Noir se virou com o bastão em mãos e então rebateu, o objeto ultrapassou a fenda e passou rente ao rosto de Persuasion Explosive, seu trajeto se alongou até que atingiu um dos carros com força. O alarme disparou no momento exato que o escudo de energia ruiu. Institivamente o vilão se virou e apontou a bengala na direção de que vinha o som, a explosão seguinte foi intensa e barulhenta o suficiente para encobrir nossa fuga. Agarrei o Mestre Fu e utilizei o ioiô para nos içar até um prédio próximo, mas a uma distância segura do akumatizado.

Cataclismo! – Virei meu corpo em direção a sua voz. Meu parceiro não havia movido um músculo, permanecendo ainda em frente ao nosso inimigo. Sua mão foi envolvida pela energia negra no momento em que Persuasion virou-se em sua direção. Quando a bengala foi apontada contra seu corpo, seus dedos tocaram o chão. E quando o asfalto desabou e Chat foi engolido pela escuridão, veio a explosão.

— CHAT NOIR! – O grito involuntário escapou de minha garganta e o desespero tomou conta de meu corpo. O akumatizado se virou rapidamente em minha direção, sua boca se contraiu em algo que devia ser uma careta. Levei uma das mãos até o ioiô e com a outra agarrei Jude Turtle que ainda permanecia em estado catatônico, meus olhos ardiam numa ameaça clara de choro. Mas não podia chorar, ele não podia morrer.

— Fique parada! – Sua voz soou como um rosnado assim que dei o primeiro passo e meu corpo travou. Meu cérebro pareceu congelar, incapaz de ir contra aquela ordem. A sensação devastadora do desespero se alastrava cada vez mais por cada célula do meu ser. Inferno! Pensa, Marinette! – Agora tire os brincos, poupe-me o trab...

Ele não pôde continuar a falar. Um vulto negro saltou da escuridão abaixo de si e agarrou um de seus pés, Persuasion Explosive perdeu o equilíbrio e tentou gritar algumas ordens desconexas, agitou a bengala no ar criando pequenos focos de explosões ao seu redor, mas o que havia lhe agarrado parecia ser teimosamente insistente. Um sorriso brotou em meus lábios inconscientemente, reconheceria aquela teimosia em qualquer lugar, bem como o cabelo loiro que parecia ter sido atacado por uma doninha raivosa. Era um gato muito abusado.

— Argh! Maldição! Seu desgraçado, eu ordeno que voc... – Persuasion continuou tentando rosnar ordens enquanto perdia cada vez mais altitude, o peso extra de Chat Noir facilitava a ação da gravidade e o puxava cada vez mais rápido em direção a fenda criada no asfalto por seu poder.

— Bananas! Queijo camembert! Chat Noir é o herói mais gato de Paris! – Chat, no entanto, sufocava os rosnados de nosso inimigo com sua própria voz. Gritando palavras aleatórias que o impediam de dar ouvidos ao akumatizado e ser controlado por sua voz.

Encarei o mestre Fu uma última vez, ainda imóvel, porém seguro. Meus brincos apitaram uma vez, restavam quatro minutos. Segurei o ioiô com força e respirei fundo. Foco, Era o que precisava. Não iria falhar com Paris, não iria falhar com o povo que possui Ladybug como símbolo de paz e justiça. Afastei qualquer insegurança assim que me lancei novamente na batalha. No instante que meus pés tocaram o chão pude entender o plano de Chat Noir. O odor inconfundível de algo podre atingiu meu nariz com tanta força que lágrimas brotaram sem permissão em meus olhos, mas ele havia encontrado um modo de preencher a última lacuna do plano, não precisávamos do lago no parque sendo que um esgoto inteiro atravessava o asfalto abaixo de nós. Persuasion Explosive continuava a rosnar e agitar a bengala, mas nenhuma das explosões parecia ser tão poderosa, elas sequer ocorriam próximas a ele. Então... Sim! Só podia ser isso! Não importa o quão poderoso seja, ele não possui imunidade contra o próprio poder!

— Herói miserável! Eu ord...

— Croissant! Macarrons e pães frescos! Eu sou o mais lindo do mundo inteiro!

Iniciei uma corrida desenfreada assim que o akumatizado começou a se estabilizar no ar. Talvez tenha escutado o barulho de meus pés batendo contra o chão, ou apenas estivesse tentando apenas mais uma sequência de ataques desesperados, mas com um agitar da bengala uma sequência de explosões ocorreram ao seu redor. Agarrei o ioiô com força, utilizando os postes ao longo da rua para desvia e tentar me aproximar, pulando sobre alguns destroços ou dando cambalhotas na tentativa de escapar das explosões. Em algum momento desse jogo de desvia e corre meus brincos apitaram uma segunda vez. Restavam 3 minutos. Mas eu conseguira os alcançar. Lancei-me sobre a fenda e agarrei o pé que estava livre, distribuindo generosos pontapés contra Chat Noir que o segurava com afinco.

— Desgraçados! Me lar...

— Você perdeu! – O último grito de Chat ecoou em meus ouvidos, um segundo antes de mergulharmos na água gelada do esgoto. Admito que a sensação não foi muito boa. E eu, definitivamente, não engoli nenhum pingo daquela água imunda. Claro que não! Como poderia beijar o Adrien depois disso? Não! Obviamente minha boca permaneceu travada. E só abriria para abrigar a lín... Nada! Não pensei em nada!

Emergi alguns segundos depois. O lugar era escuro e a água turva, as paredes de concreto estavam repletas de um lodo esverdeado. A pouca luz solar que invadia o local por meio da fenda sobre nossas cabeças não permitia uma boa percepção no espaço relativamente apertado. Meus brincos apitaram mais uma vez, indicando os últimos dois minutos de transformação. Pouco tempo depois Chat Noir veio a superfície, tossindo e buscando ar com exaustão. Havia caído a alguns metros de mim.

— My Lady, precisamos...

— Argh! Maldição... – Então Persuasion Explosive emergiu. A água imunda do esgoto escorria por sua boca e seu cabelo colorido cobria o lugar onde deveriam estar seus olhos. Seu corpo virou-se em minha direção no momento que fiz um leve movimento, a água se agitou e tremulou, mais foi o suficiente para ele detectar minha presença. A bengala metálica surgiu então em sua mão que ainda estava submersa. Chat avançou e eu me preparei para o possível ataque. – Queime, seja lá qual dos dois for.

A explosão não veio. Sua bengala estalou como um isqueiro sem combustível e uma pequena nuvem de fumaça clara se formou. Como havia pensado, ele não podia utilizar seu poder encharcado e num local repleto de umidade. O akumatizado rosnou e agitou a bengala que nada mais fez além de liberar pequenas faíscas, como em fogos de artifício para crianças. Então dois braços negros o envolveram, um deles enroscou-se fortemente em sua boca, fazendo-o se calar e não proferir mais palavras venenosas. O outro agarrou a bengala de suas mãos e a atirou em minha direção. Ainda pude escutar seus gritos sufocados antes de erguer o bastão de metal e açoitá-lo contra a parede, sucessivamente, até que se partisse em dois pedaços.

— Mas, o que... – ­Não fazia sentido. Nunca havia sequer acontecido. Encarei brevemente meu parceiro que parecia tão confuso quanto. Em seus braços, Persuasion Explosive parecia ter entrado num estado de inércia. Então voltei meu olhar para o objeto quebrado, onde duas borboletas negras voavam em pequenos círculos. Suspirei pesadamente, seria esse o motivo de o vilão não possuir um, mas dois poderes tão distintos?

O som de meu brinco apitando pela quarta vez me trouxe de volta a realidade violentamente, como se um soco tivesse sido disferido contra meu estômago. Eram muitas perguntas, dúvidas e questionamentos, mas não tinha muito tempo. Apertei o ioiô entre meus dedos.

Chega de maldade pequeno akuma... É hora de aniquilar a maldade... Miraculous Ladybug... – As ações e palavras foram saindo de meu corpo de maneira automática, de forma inconsciente e muito rápida. Minha mente ainda estava carregada de suposições e mal senti quando a magia do Miraculous me envolveu e me arrancou para fora do esgoto, mal acompanhei os reparos que ocorriam ao meu redor, bem como o garoto que caiu ao meu lado, os olhos repletos de confusão e preocupação. Simplesmente pedi para Chat Noir ajuda-lo. Não tinha tempo, o último dos pontos negros de meu brinco piscava furiosamente, ameaçando desaparecer a qualquer momento.

Quando dei as costas para o aglomerado de pessoas que se amontoava no local senti a estranha sensação de que estava esquecendo de alguma coisa. Acabei me destransformando na sacada onde havia deixado o Mestre Fu, mas dele não havia nenhum sinal.

— Essa foi por pouco... – Tikki suspirou cansada, enquanto se aconchegava dentro da minha bolsa.

— Tikki! – Meus medos e preocupações vieram à tona assim que voltei a ser simplesmente Marinette, a desastrada. – Você viu aquilo não viu? Dois poderes, dois akumas purificados! Ele era mais forte do que qualquer coisa que já tenhamos enfrentado antes... Se essa é a dimensão do poder de Hawk Moth nós nunca conseguiremos...

— Marinette, acalme-se! – Ela me encarava com os olhos quase fechados, a batalha provavelmente exigira muito dela. Infelizmente não tinha nada na bolsa para lhe alimentar. – A situação não é boa, mas não adianta se desesperar. Você é um dos pilares dessa cidade. Um símbolo de paz e justiça, todos confiam em você. Você é capaz e vai superar esse desafio como sempre superou os outros!

— M-Mas Tikki, você mesma viu o quão poderoso ele...

— Não se preocupe, Marinette. – Um pequeno sorriso brotou dos lábios da kwami. Era reconfortante e me transmitia paz, como um abraço materno. – Vamos continuar seguindo em frente. Além disso, o Mestre sabe o que faz... Ele é um homem sábio. Devemos visitá-lo em breve e buscar sua orientação.

Provavelmente eu teria retrucado e insistido mais, se não fosse pelo toque insistente de meu celular, que me arrancou dos meus próprios pensamentos.

Marinette?!

A-Adrien? – Ai meu Deus. Ai meu Deus! Eu tinha esquecido completamente o encontro! Burra! Era isso. Por que eu tinha que ser tão burra?

Ainda bem que você atendeu! – Do outro lado da linha ele suspirou de alívio e eu estremeci completamente. Sem julgamentos, ok? Meu futuro marido estava me ligando, era tudo o que importava no momento. – Onde você está? Acabamos nos perdendo na confusão... Você está bem? Quer que eu lhe encontre em algum lugar? Alô? Marinette, você está aí?

— S-Sim! – Forcei minha mente a abandonar temporariamente a imagem do vestido que usaria no nosso casamento. Droga. Era um vestido incrível. Mas ele queria vir me buscar? Certo! Respira, Marinette. Você só precisa responder sem gaguejar, é fácil. Fez isso mais cedo lembra? – Eu quero casar com você. Di-Digo! Namorar seria ótimo... Não! Buscar? Podemos voltar de mãos dadas? Que-quero dizer... Não, esqueça tudo. Ai droga!

Marinette? Não consigo te escutar... Muitas pessoas falando, pode repetir?

E-Eu estou bem! – Se em algum lugar existir um deus supremo que tenha impedido Adrien de escutar o que eu disse, esse deus tem meu agradecimento eterno. – Pode ir para casa, já estou chegando na padaria dos meus pais. – Menti descaradamente. Cheguei a conclusão que era melhor do que passar vergonha.

— Tem certeza? Posso passar aí...

Não venha! D-Digo, você precisa ir para casa. Se não se apressar vai acabar tendo problemas com seu pai. – Quem diria senhor universo. Marinette Duppain-Cheng recusando uma visita de Adrien Agreste. Mas a coragem de hoje cedo parecia ter evaporado, sentia meu rosto queimar só de imaginar Adrien indo na padaria e se encontrando com meus pais.

Tudo bem. – Escutei um barulho alto de buzina pelo telefone. Adrien gritou alguma coisa que não consegui entender. – Nos vemos amanhã. Foi ótimo passar a tarde com você!

Você é incrível, Adrien. – Não tive resposta. A ligação já fora encerrada. Apertei o celular em minhas mãos e observei o movimento de pessoas se normalizar nas ruas da cidade. Quase como se nada tivesse acontecido momentos antes. As pessoas detinham grande confiança nos heróis de Paris, mas seriam Ladybug e Chat Noir o suficiente para ir de frente a ameaça de Hawk Moth?

Encarei Tikki que dormia profundamente em minha bolsa. Sentia minha cabeça latejar, ainda repleta de dúvidas. Por um momento minhas pernas fraquejaram e acabei sentando-me no chão. O ar se tornou quente e seco em meus pulmões. No fundo eu sabia a resposta para pelo menos uma de minhas perguntas. Senti os olhos arderem com o pensamento.

Ladybug e Chat Noir não eram o suficiente.


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Notas finais do capítulo

Então galera. Desapareci por um tempo e o motivo foi: falta de inspiração. O desenho vinha me decepcionando tanto que eu não tinha mais motivação pra escrever. Além de que a fic é uma sequência direta da primeira temporada, já estamos na terceira e eu acabei me desmotivando.
Mas esses dias quando entrei na conta, vi os comentários de uma leitora depois de tanto tempo que me motivaram a continuar.
É isso. Lembrem-se de que nada que aconteceu depois da primeira temporada do desenho será levado em conta na história.
Se ainda tiver alguém por aqui, espero que tenham gostado e...
Até a próxima!!



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