I Want To Be Your Girlfriend escrita por Kyra_Spring


Capítulo 5
I can say you like me too




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            “Querido diário:

            Meu nome é Trista McLamure, venho da Cidade do Leste e estou prestes a me casar! É sério, vou me casar e realizar o meu maior sonho! Ah, nem vejo a hora, meu noivo é lindo e maravilhoso e fica me enchendo de mimos... ele é uma gracinha...”

            O diário de Trista McLamure era o que se poderia chamar de “coisa para menininhas”. Ela usava três a cada quatro linhas para descrever coisas como sua casa, seu vestido de noiva, o smoking do noivo, enfim, Riza só teve paciência para ler três páginas. “Não acredito que mandei o Ed pr’aquela casa de loucos só pra isso...”, ela pensou, ainda com um pouco de pena do garoto. “Se a Melissa não for com ele ao cinema, eu mesma vou”.

            Black Hayate ficava encarando a dona com mais freqüência, naqueles dias. Ele parecia perceber que ela estava tramando alguma coisa, e queria ajudar da forma que pudesse. E Riza conversava bastante com ele (nota da autora: O.O) ultimamente. Consciência da Riza, por sua vez, já não aparecia há algum tempo, como se estivesse esperando o plano terminar.

            A segunda fase estava prestes a começar.

 

Cote para segunda-feira de manhã:

            Se havia um dia da semana odiado por 11 entre 10 oficiais, esse dia era segunda-feira. Na sala de Roy Mustang, havia uma cara de preguiça pior que a outra. O próprio coronel ainda não havia chegado: ele tinha a tendência de se atrasar toda manhã de segunda, por coincidência. Maes olhava a pilha de papéis em sua mesa sem um pingo de coragem para começar a trabalhar neles.

–Vocês não acham que segunda tinha que ser parte do final de semana? – ele dizia.

–Nem fale – concordou Fuery, com voz de sono – Quase perdi a hora hoje por causa disso.

–Você sempre perde a hora, Kain – retrucou Falman, ácido e mal-humorado.

–Cuida da sua vida, Falman – rebateu Fuery.

–Querem parar, vocês dois? – foi a vez de Havoc intervir – Já temos problemas demais para bobagens como essa, então... Mamma mia!

–O que foi? – perguntou Maes, ao ver a expressão maravilhada do rosto de Havoc, que olhava na direção da porta – Tomara que seja uma coisa muito boa mesmo, porque senão... – mas o tenente-coronel nunca terminou a frase, porque também ficou olhando embasbacado em direção à porta.

            Aquele era o horário normal de entrada de Riza Hawkeye. Mas aquela não era a Riza normal, que eles estavam acostumados a ver todas as manhãs. Ela estava totalmente diferente: ao invés do costumeiro uniforme com corte masculino, ela usava outro, feminino, que realçava suas formas. A casaca era bem justa ao corpo, e estava entreaberta, exibindo uma blusinha preta colada. A saia, na altura dos joelhos, acompanhava o formato das pernas. Ao contrário das botas, sapatos de salto, e os cabelos, ao invés do coque, estavam caindo sobre os ombros, soltos e leves. O rosto, realçado com uma maquiagem discreta e elegante, arrematava a produção.

–O-o-o-oi, Ri-riza – gaguejou Falman, adiantando-se para cumprimentá-la – Como você está bon... diferente, hoje! Mudou o penteado?

–Olá, Vato! Que bom que você percebeu – respondeu ela, com um sorriso maroto – Mas onde está o Coronel Mustang? Temos uma reunião importante hoje, e ele não pode se atrasar.

–Você sabe que ele nunca chega no horário nas segundas-feiras – disse Maes, entendendo o motivo de toda aquela produção – Mas algo me diz que hoje, ele vai chegar mais cedo.

            Dito e feito. Dez minutos depois, Roy, com cara de quem havia acabado de acordar, aparecia na porta, sendo arrastado pelo braço por ninguém menos que Melissa, sua irmã. Os dois discutiam sem parar, e suas vozes estavam sendo ouvidas desde o corredor.

–Você sabe que eu nunca venho pra cá nas manhãs de segunda – dizia ele, a voz engrolada.

–Cala a boca, Roy! Você tem uma obrigação a cumprir, não tem? – retrucava ela, raivosa – E nem adianta discutir, você está errado!

–Para você, eu estou sempre errado, não é?

–Basicamente.

–Acho que você devia cuidar da... da... da... – ele queria dizer “da sua vida”, mas nunca terminou essa frase, porque quando entrou na sala deparou-se com Riza. De repente, ele resolveu ficar bem acordado, e começou a alisar os cabelos desarrumados com os dedos – Te-tenente Hawkeye... A senhorita está tão... tão... Tão diferente! O que aconteceu, você mudou o penteado?

            (Nota da autora: Está cientificamente provado que essa é a desculpa usada por 9 entre 10 homens para dizer que alguém está bonita sem, necessariamente, usar essas palavras).

–Riza, o que é isso? – Melissa, que arquitetava aquele plano, alfinetava os rapazes da sala – Você está um arraso! Ela não está linda mesmo, Roy?

            Ele era incapaz de articular uma frase, e só balbuciava qualquer coisa sem sentido, enquanto acenava afirmativamente com a cabeça. Mellie e Riza trocaram um olhar discreto, e sorriram uma para a outra. Elas, então, começaram o seu trabalho, como todos os dias. A alquimista saiu logo, para uma missão externa, e Maes também saiu. A primeira-tenente resolveu começar a provocar o coronel um pouco mais:

–E então, senhor, como andam os preparativos para o casamento?

–Hã? O quê? – ele estava com a cabeça no mundo da lua – Ah, sim, o casamento... Os preparativos vão bem, vamos fazer uma cerimônia bem bonita. A família dela está pagando tudo.

–Estão pagando tudo uma ova! – protestou Havoc – Esqueceu que nós é que vamos pagar a festa?

–Ah, sim... e Havoc, Falman, Maes e Fuery estão cuidando da festa – corrigiu-se Roy – Ah, acabei de me lembrar de uma coisa... Você se lembra que eu precisava convidar alguns padrinhos? Pois bem, queria saber se você quer ser minha madrinha no casamento.

–Eu? Ah, não, me desculpe – ela riu alto, mas sua vontade mesmo era a de dizer “o que é que você está pensando, seu idiota? Eu não quero ser a madrinha, quero ser a noiva!” – Não me dou bem como madrinha, sabe, toda aquela cerimônia, vestidos longos... Não, eu iria ficar muito deslocada e acabaria estragando as coisas. Além do mais, para eu ser madrinha, precisaria ir acompanhada ao casamento, coisa que não pretendo fazer.

–Certo... Já convidei o Maes. Quis convidar a Melissa, mas minha mãe, você sabe, não gostou nem um pouco da idéia – continuou ele – Ela e meu pai também serão padrinhos.

–E para quando é o casamento?

–Daqui a um mês, mais ou menos. Marcamos a data semana passada.

            Roy tratava dos detalhes do seu casamento de uma forma estranha. O natural seria pensar que ele estaria dando pulos de alegria, mas a verdade é que parecia que ele ficava entediado com a idéia. Será que estava reconsiderando aquela idéia estúpida?

            Mais tarde, naquele mesmo dia, Riza, em sua sala, estava conversando com Sciezka e com Mellie. As três, em volta do diário de Trista, riam sem parar. A opinião das três era a mesma: aquele diário parecia ter sido escrito por uma menina de doze anos que ainda brincava de Barbie. A única coisa que não ficava muito clara era o motivo pelo qual Roy estava prestes a se casar com ela. Talvez ele gostasse de mulheres que bancassem as menininhas, ou talvez ela tivesse alguma coisa além do que estava escrito lá (o que era difícil, baseado no que Riza vira no jantar e no que Ed e Al contaram sobre ela). Foi então que Melissa teve uma idéia:

–Espere... Será que ele não está se casando com ela por pressão da minha mãe?

–É claro! Como é que eu não pensei nisso antes? – a primeira-tenente se levantou – É lógico! Ele sempre foi o maior pau-mandado da mãe, e ela gosta da vaca ruiva! Acho que a prioridade era ver o cara casado com uma mulher que a bruxa da sua mãe pudesse controlar e, convenhamos, não existe ninguém no mundo mais fácil de controlar que a Trista.

–Tem mais uma coisinha sobre ela – foi a vez de Sciezka entrar no assunto – Andei pesquisando. Os pais dela têm influência, são ricos, e seria ótimo para um militar como Roy se envolver com uma família como a dela. O sobrenome fala por ela, se é que me entendem.

–Isso sem falar que a velha é uma megalomaníaca. Ela é capaz de assassinar o Marechal só para que o filhinho querido dela tome o lugar dele – continuou a loura – Esse casamento seria perfeito para todos... menos para mim, é claro.

–Mas acho que seu plano está dando certo, sabe? – Mellie deu uma risada – Eu sabia o que você iria fazer, por isso arrastei o Roy até aqui. Ele nunca vem trabalhar nas manhãs de segunda?

–Isso mesmo. Ele sempre aparece depois do almoço e diz que tinha uma tia doente – respondeu Sciezka, rindo também – Ele é o chefe, fazer o quê? Ele pode chegar atrasado, se quiser.

–Mas hoje ele tinha que chegar no horário, para ver o resultado da fase 2 – Riza deu um sorriso malicioso – E acho que ele gostou, viu? Roy ficou olhando embasbacado por um tempão, e quando eu falava sobre a Trista ele ficava distante, quase entediado. Parece que está dando certo.

–Agora a gente sabe ao certo quem tem que combater – disse a bibliotecária – Não basta só neutralizar a Trista, precisamos dar um jeito na mãe do Roy. E você tem que continuar virando a cabeça dele o quanto puder. Seu plano tem uma fase 3, não é?

–Sim, a dos Ciúmes – concordou a loura.

–A gente ainda tem algum tempo, mas é melhor já ir pensando em alguém – continuou a outra – E que seja alguém legal, porque...

            Mas, antes que ela continuasse, a porta se abriu com violência. As três se viraram de sopetão, e viram a pequena figura de Edward, vermelha como um tomate, dizendo:

–Eu fiz o que vocês queriam, agora quero o meu pagamento!

–Ah, sim, claro, o pagamento – disse Riza, com um sorrisinho – Cem pratas por hora... e um passeio com uma certa pessoa, não é, Mellie?

–Riza, eu te odeio – disse a própria, entredentes, furiosa.

–Ela quer dizer que está ansiosa para sair com você – continuou a primeira-tenente – Sexta-feira, no cinema, sessão das seis e meia. Está bom para você?

–PERFEITO! – respondeu Ed, efusivamente – Obrigado, Riza! Obrigado! – e ele saiu correndo da sala, batendo a porta atrás de si.

–Não acredito que você vai me fazer pagar esse mico – Melissa escondia o rosto nas mãos – Isso não é coisa que as amigas fazem umas pelas outras!

–Qual é, é só um filme! – Sciezka, que só assistia à história toda, argumentou – Não vai ser tão ruim assim... é só ir ver um bom filme e está tudo bem.

–Eu não quero pensar mais nisso, tá? – a alquimista entrava em desespero – Ainda tenho alguns dias para me preparar psicologicamente.

            Então, batidas foram ouvidas na porta da sala, e uma carinha tímida apareceu na fenda da porta aberta. Desta vez, era Kain, que vinha trazer um recado às três moças:

–Depois do trabalho a gente vai sair e ir a um bar que tem aqui por perto, e o coronel pediu para chamar vocês três também. Que tal?

–Por mim, está ótimo – respondeu Sciezka.

–Pode dizer ao Roy que eu vou também, Fuery – concordou Melissa. Riza, porém, hesitou, e foi preciso que Mellie desse uma cotovelada nela para que ela respondesse:

–Ah, claro, eu vou também – e, assim que o rapaz saiu, ela encarou a amiga alquimista e perguntou, raivosa – Por que fez isso? Droga, eu nunca vou a essas comemorações!

–Então comece a ir. Roy vai estar lá, e você tem que continuar pressionando – respondeu Mellie, dando de ombros – Confie em mim, garanto que você não vai se arrepender.

 

Corte para depois do expediente:

–Eu não acredito que você convidou todo mundo para vir a um bar de karaokê! – Mellie explodiu com o irmão, que, vermelho de vergonha, nada dizia – Não é qualquer um que paga esse tipo de mico, cara. Você, talvez, mas e o resto do pessoal?

–Tá falando daqueles três ali? – e Roy apontou para o palco, onde Kain, Havoc e Falman já começavam a sua performance (com direito a coreografia) de My Sharona – A gente vem aqui todo mês, Mellie! Relaxe e divirta-se! Além do mais, as batidas daqui são ótimas.

            Enquanto os três oficiais no palco cantavam “Ooh, my little pretty one, my pretty one, when you gonna give me some time, Sharona”, Riza estava sentada numa das mesas, bebericando uma batida, e Roy sentou-se ao lado dela. Os dois trocaram um sorriso cordial, e ela disse:

–Eles fazem isso toda vez?

–Não toda vez – respondeu o coronel, rindo – Mês passado eles cantaram Livin’ la vida loca. Acredite, perto daquilo eles estão perfeitos.

–Você costuma cantar? – ela perguntou, tomando outro gole de batida.

–Não... A última vez que cantei foi numa festa de fim de ano do quartel, e eu estava totalmente bêbado, naquela noite – respondeu ele – Não tem muita graça cantar sozinho.

            Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, sem se olharem. De repente, então, Roy disse:

–Olha, quando eu te vi, hoje de manhã, não soube o que dizer, mas... Você está linda. Aliás, você é linda – ela corou furiosamente, mas ele não parou – E ainda não tive chance de me desculpar por tudo o que minha mãe fica dizendo a você.

–Não se preocupe com isso. Já estou acostumada, sabe? – ela ficou séria – Desisti de tentar ser a garota perfeita que sua mãe queria. Ela não conseguiu acabar com a nossa amizade, não é? Então, nada do que ela diga pode me fazer mal.

–Meu pai tem razão sobre você – disse Roy que, corando levemente, sorriu – Você é adorável.

–Seu pai tem a mesma conversa mole que você tem – respondeu ela, rindo, enquanto virava o rosto para que ele não visse que ela também voltava a corar – Ah, olhe ali, parece que a sua irmã e a Sciezka vão cantar, também.

            Mellie, depois de uns dois ou três drinques, esqueceu totalmente a sua política de repúdio ao karaokê, e conseguiu arrastar Sciezka para o palco junto consigo. As duas tiraram as casacas militares e bagunçaram os cabelos, Sciezka tirou os óculos e, então, começaram o show. Mellie bancava Shakira e Sciezka imitava Beyoncé em Beautiful Liar. As duas cantavam pessimamente, e suas coreografias eram sofríveis, mas pareciam não se importar nem um pouco com isso.

            Roy e Riza, ainda sentados na mesma mesa, assistiam e riam da performance das duas moças. Naquele momento, os dois deixavam de ser o coronel e a primeira-tenente, e podiam mostrar quem eram de verdade. Ela tinha medo: sabia que aquela podia ser a sua chance, mas não conseguiu dizer nada. Tudo o que conseguia fazer era conversar com ele sobre qualquer banalidade e fazer dela algo importante.

            De repente, então, aconteceu algo mágico. Pela primeira vez em toda aquela noite, os olhares deles se cruzaram. Riza leu uma coisa nos olhos de Roy, algo que a fez se sentir a mais especial das pessoas. Nos olhos dele, ela podia ver segurança quando falava com ela, podia ver carinho e consideração. Mas havia mais alguma coisa... alguma coisa mais intensa, mais profunda, que ela não conseguia identificar, mas que quando a via sentia-se única. Ele também pareceu se perder nos olhos dela, e sem querer os rostos dos dois começaram a se aproximar. Riza sabia que era errado, que ele estava noivo, mas não queria parar. Trêmula, ela se aproximou cada vez mais, lentamente, bem lentamente...

–Aí, vocês dois não vão cantar hoje, não? – sem que Roy e Riza percebessem, a música de Sciezka e Mellie terminou, e elas estavam, agora, paradas na frente deles – Senão, nós vamos voltar.

            Assustados, os dois se afastaram, e evitaram se encarar de novo. Mellie percebeu a mancada que havia acabado de dar e, para tentar consertar, perguntou de novo:

–Ah, Royie, qual é, por que você não vai lá cantar com a Riza? Você tem uma voz linda!

–Não e não e não! – protestou a primeira-tenente, rindo – Eu não subo num palco de jeito nenhum!

–Pode esquecer, eu também não vou! – o coronel também tirou o corpo fora.

–Por favor, vai ser legal! – insistiu Sciezka – E, se vocês não forem, peço para os rapazes apresentarem Livin’ la vida loca outra vez.

–Tá bom, tá bom! – frente à ameaça, Roy se levantou – Riza, o que acha de um dueto?

–Qual é, você ficou doido? – a loura tentou se esquivar – Sabe que não canto há muito tempo. Estou fora de forma, minha voz é horrível!

–Ah, vamos lá, o que tem de mal? Por favor! – ele insistiu ainda mais.

–Tudo bem, então, mas se for muito ridículo o problema vai ser seu – então, ela também se levantou, e foi junto com Roy até o palco.

            Ele pegou o livro com os números das canções, e olhou página por página, até escolher uma canção em especial. Riza pegou um dos microfones, sem saber ao certo o que fazer. Fazia muito tempo que ela não cantava nem no chuveiro, e seu maior medo era pagar um monumental mico diante dos outros oficiais e do bando de desconhecidos que lá estavam. De repente, um riff de violão começou a soar. Ela encarou o coronel, surpresa, e ele apenas deu de ombros e sorriu.

–Você se lembra dessa música? – ele sussurrou.

–É claro que sim – ela respondeu, no mesmo tom – Como você ainda se lembra?

            Mas ele não respondeu. Na mesma hora, soltou sua voz grave e aveludada e começou a cantar a primeira parte da música, com segurança, olhando para ela:

 

I wanted to you know I love the way you laugh (Eu queria que você soubesse, eu amo o jeito que você ri)
I wanna hold you high and steal your pain away (Eu quero segurar você bem forte, roubar sua dor e a levar para longe)
I keep your photograph; I know it serves me well (Eu guardo a sua foto, eu sei que me serve bem)
I wanna hold you high and steal your pain (Eu quero segurar você bem forte, roubar sua dor)

 

            Riza lembrava-se daquela música como se a tivesse ouvido pela última vez ontem. Ela tinha um significado muito especial para a mulher, trazia lembranças muito boas. Com a voz trêmula e insegura, ela se juntou a ele no refrão da canção:

 

‘Cause I’m broken when I’m lonesome (Porque eu estou quebrado quando estou solitário)
And I don’t feel right when you’re gone away (E não me sinto direito quando você parte)

You’ve gone away (Você foi embora)
You don’t feel me here, anymore (Você não me sente mais aqui)

 

            Então, aquela foi a deixa para Riza cantar sozinha. Ela olhou rapidamente em volta, e viu os olhares das amigas na primeira fileira de mesas incentivando-a a continuar. Ao olhar para o lado, viu os olhos negros e doces de Roy, que também pareciam dizer “vá em frente, eu sei que você pode”. Então, respirou fundo e começou a cantar a sua parte. Sua voz era bela, doce e muito potente, sem ser enjoativa, e Roy, assim que ela começou, deu um sorriso.

 

The worst is over now and we can breath again (O pior acabou agora e nós podemos respirar de novo)
I wanna hold you high, you steal my pain away (Eu quero segurar você bem forte, você rouba minha dor e a leva para longe)
There’s so much left to learn, and no one left to fight (Há tanto a se aprender que foi deixado e ninguém ficou para lutar)
I wanna hold you high and steal your pain (Eu quero segurar você bem forte e roubar sua dor)

 

            Então, mais uma vez o refrão. Riza estava mais segura e mais calma. Sua voz já saía com mais clareza e mais intensidade, e Roy mantinha a sua com regularidade. Os dois, agora, se encaravam, olhos nos olhos, fazendo um perfeito dueto. Suas vozes se mesclavam perfeitamente, como se tivessem sido feitas para ficarem juntas.

 

‘Cause I’m broken when I’m open (Pois eu estou quebrado quando eu estou livre)
And I don’t feel like I am strong enough (E eu não me sinto como se fosse forte o suficiente)
Because I’m broken when I’m lonesome (Porque eu estou quebrado quando estou solitário)
And I don’t feel right when you’re gone away (E não me sinto direito quando você parte)

 

Depois do primeiro refrão, seguiu-se um longo instrumental, e logo depois dele, o refrão foi repetido duas vezes. A última parte foi a mais difícil para Riza. Sua voz tremia, mas mesmo assim ela terminou a música, cantando:

 

You’ve gone away (Você foi embora)
You don’t feel me here, anymore (Você não me sente mais aqui)

 

            Quando a música terminou, aplausos se fizeram ouvir por todo o lugar, inclusive os dos outros militares. Mellie era a que mais aplaudia e assobiava, e Sciezka, que também estava sob efeito de alguns drinques a mais, gritava “Mais um! Mais um! Mais um!”. Roy e Riza sorriram um para o outro, enquanto ele dizia:

–Parece que nós dois temos uma certa química, srta. Hawkeye.

–Ganhamos a platéia, não foi? – ela disse, acenando com a cabeça – Quem ganha a platéia ganha o show, não é o que se diz?

–Quer um bis?

–Acho que não. Já tive meu momento de rock star, agora prefiro deixar os outros cantarem.

            Ela desceu do palco, e voltou a se sentar. Mellie e Sciezka foram até ela, tentando perguntar como havia sido, mas ela apenas fez sinal negativo com a cabeça e nada disse. Tinha muita coisa para colocar em ordem, naquele momento. Roy sentia algo mais por ela, isso estava claro. Por que outra razão teria escolhido aquela música? E havia qualquer coisa nos olhos dele, alguma coisa que não dá para fingir ou inventar.

            Mas ele estava noivo de outra, e isso era o que ela não entendia. Será que ele estava só brincando com os sentimentos dela? Ou, talvez, estivesse se casando porque achasse que nada entre ele e Riza pudesse dar certo? Ela foi até o balcão e pediu uma dose dupla de licor de chocolate para clarear as idéias, mas não conseguiu. Não conseguia deixar de pensar no que aconteceria se os dois ficassem juntos. Que maldita razão haveria para Roy se casar com outra mulher?

            “Confusa, Riza?”, uma vozinha apareceu em sua cabeça.

            “Legal, já estou bêbada e até tô ouvindo vozes na minha cabeça”, pensou Riza, entediada. “O que você quer, Consciência?”.

            “O plano está dando certo, eu acho, mas você precisa continuar”, disse Consciência. “Sei que está sendo difícil, e que o que aconteceu hoje mexeu com você, mas precisa manter o plano”.

            “Não sei o que ele quer de mim”, Riza tomou outro licor. “Eu vi, ele sente qualquer coisa por mim, qualquer coisa maior do que simples amizade, então porque vai se casar com a vaca ruiva? Você tem alguma idéia?”.

            “Os homens tem razões que a própria razão desconhece”, respondeu Consciência, dando um risinho. “É por isso que você tem que dar um pequeno incentivo, sabe? Um empurrãozinho para que ele acorde. Tenho uma sugestão para a fase 3”.

            “Quem? Alguém bonito, de preferência.”

            “Sim, é bonito. E interessante. E, melhor ainda, próximo do Roy”.

            “Quem? Espero que você não esteja falando de um daqueles caras que trabalham com ele...”

            “É claro que não! Estou falando do Arthur!”

            “O irmão dele?”

            “Não, o rei Arthur da Bretanha! É claro que é o irmão dele, droga!”

            “Isso é errado! Não posso simplesmente usar o Arthur e depois descartá-lo! Ele é um cara tão legal, eu me sentiria péssima fazendo isso”.

            “Acredite, ele não vai se ofender. Fale antes sobre o seu plano que vai ficar tudo bem”.

            “Eu estava tão perto de beijá-lo... tão perto...”

            “Você terá outras chances, mas continue com o plano. O que acha de ir ao cinema na sexta à noite? Garanto que vai ser uma sessão bem... interessante”

            E Consciência nada mais disse. “Eu tenho que procurar um especialista”, pensou Riza, convencida de que já era hora de ir para casa. Kain deu-lhe uma carona até sua casa, e assim que ela entrou deitou-se no sofá, exausta. Teria sido muito melhor não ter ido àquele bar idiota e passar por aquela situação embaraçosa. Sentia-se tão mal... Estivera a um passo de beijar Roy Mustang, e não conseguiu. A princípio, quis culpar Mellie e Sciezka, mas percebeu que, se tivesse coragem o bastante para beijá-lo, elas não poderiam impedi-la. Por que tinha que ser tão covarde? Por que não simplesmente ia até ele, dizia tudo o que sentia e que se danasse o resto? Por que precisava daquele plano absurdo só para fazer com que ele tomasse o primeiro passo?

            “Ah, Roy, por que você torna a minha tão difícil?”, ela pensava, sentindo que seus olhos começavam a ficar úmidos. “Por que, entre todos os homens do mundo, eu tinha que me apaixonar justamente por você, o mais inacessível deles?”. Talvez, porque ele era lindo, engraçado e perfeito, mas deveria haver mais alguma razão, algo que a enfeitiçava completamente.

            “Tomara que eu esteja agindo certo...”, suspirou. A noite seria longa... longa demais.


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