Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza


Capítulo 9
O sol é para todos




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O celular da bruxa tocou pela quinta vez enquanto ela terminava seu banho, o atendeu ainda enrolada na toalha. Não reconheceu o numero, mas atendeu assim mesmo. Era Vicki Donovan.

“Finalmente” – o tom parecia divertido demais para soar uma censura – “Conversei com Matt, ele me disse que esteve doente, o que houve?”.

Colocou o aparelho em modo amplificador enquanto vestia seu conjunto de lingerie preto.

— Conversou com Matt? Quando? Onde estão? Conseguiu a Lança?

“Uma coisa de cada vez” – disse Enzo ao fundo – “Comece com um, boa tarde. Como estão? Fizeram uma boa viagem?”.

Bonnie revirou os olhos, sentindo o curvar de um sorriso. Enzo estava sendo irônico, o que era uma coisa boa.

— Vicki?

“Estamos em Miami” – a humana parecia animada – “Sabia que nunca estive em Miami? Aqui é simplesmente incrível eu podia nunca mais voltar para Mystic Falls”.

— Miami? O que fazem ai? Estão com a lança?

“Não foi por isso que nos mandou para o outro lado do mundo”? – questionou Enzo – “Pegar esse troço e trazer?”.

— Por que não trouxeram para mim?

“Por que em teoria eu estou internada e por que Enzo não tem certeza se ainda estamos sendo vigiados”.

— Quem está seguindo vocês?

“Vampiros. Pegar a lança foi muito fácil, Enzo hipnotizou alguns funcionários que fizeram tudo. Então começou a perseguição, primeiro no restaurante perto do hotel, tinha uma dupla nos observando. Tentei falar com você, agora sei que estava doente, mas quando não atendia eu achei que tivesse nos deixado por nossa conta mesmo”.

“Entrou em pânico e quase estragou tudo” – reclamou Enzo em um tom meigo e depois riu quando Vicky o mandou se ferrar.

— O que aconteceu depois? – questionou Bonnie.

“Eu entrei em ação” – Enzo continuou convencido – “Nos livramos deles e saímos do Japão em um voo da madrugada que nos deixou em Paris”.

“Em Paris apareceu esse vampiro diferente, parecia ser legal. Normal. Até que tentou me matar e enfiei uma estaca no coração dele, a sensação foi apavorante, nunca tinha matado ninguém antes”.

“Se saiu bem” – o tom de Enzo deixou Bonnie atenta, não havia critica ou admiração, era tom de afeto – “Naquela situação e com pouco treinamento”.

A bruxa pigarreou e perguntou onde ele estava no momento do tal ataque, Enzo disse que estava em outro quarto um pouco ocupado. Mas depois do episódio ele passou a dormir no mesmo quarto que Vicky. Bonnie entendeu o porquê daquele tom afetuoso quase meloso. Estavam dormindo juntos em todos os sentidos da palavra.

— Entendi. Mas e agora? O que fazem em Miami?

“Estou aproveitando o sol para me bronzear e á noite nós saímos para caçar vampiros noturnos”.

— E o tal vampiro que pode estar seguindo vocês?

“Enzo achou mais seguro fazer voos em escalas, em todos os voos que pegamos indo de um lado para outro, tinha esse mesmo cara viajando. Acho que ele deve ter notado o que estávamos fazendo por que no ultimo aeroporto ele nos observou de longe, mas não entrou no mesmo voo que a gente. Então trocamos de voo na última hora e cá estamos nós”.

— Pode ser coincidência.

“Mas para que arriscar, não é? Vai que ainda tem alguém nos vigiando”.

— É a lança – concluiu a bruxa – Estão viajando com ela por ai, é impossível não chamar atenção.

“Hipnose, hipnose, hipnose” – informou a humana – “Ter um vampiro por perto tem lá suas vantagens, mas sua amiga ajudou bastante”.

— Que amiga? – Bonnie se preocupou largando a blusa que segurava.

“A bruxa medonha que não faz perguntas, Gina?”

“Nina” – corrigiu Enzo.

— Ruiva de olhos estranhos, vestes marrom? – os dois confirmaram – É Mina.

Bonnie sentou na cama pensativa, estendendo a mão para a toalha úmida e a enrolando no corpo, num gesto automático.

— O que Mina fez? Quando?

“O que ela fez eu não sei direito. Mas umas duas semanas atrás mais ou menos, chegamos aqui em Miami e ainda no aeroporto ela me parou, e perguntou ‘você é a irmã do amigo de Bonnie, a bruxa’ eu disse que sim e então ela nos levou para um canto que não chamava muita atenção e analisou a Lança fazendo uma careta. E falou alguma coisa noutro idioma, a Lança começou a queimar e ficou do tamanho do meu dedo. E sem dizer nada a bruxa pegou fogo e virou cinza”

— Ela faz isso – comentou Bonnie ainda pensativa – E a lança?

“Tá comigo. É tão pequeno que posso carregar no bolso. Mas Enzo teve a brilhante ideia de comprar uma bolsinha e eu carrego pendurado no pescoço debaixo da blusa... Viu só paranoico, ela não era perigosa”.

— O que?

“Enzo achava que a ruiva tinha quebrado a lança ou que aquilo era um truque”.

“Claro” – Enzo soava despreocupado – “Primeiro Bonnie desaparece, depois somos perseguidos e uma bruxa estranha aparece para salvar o dia. Quem não desconfiaria?”.

“Eu não desconfiei. Fiquei muito grata por ela ter aparecido, tem ideia do quanto pesava aquela Lança?”.

“Ela é uma bruxa, e se levasse a lança?”.

“Não levou, levou?”

Bonnie pigarreou mandando que eles parassem com a discussão. Vicki explicou que Enzo ficou a perturbando com o assunto até que ela ligou para Matt para pedir que ele a mandasse entrar em contato. Foi então que o irmão disse que Bonnie estivera no hospital desde o dia depois da viagem de Vicki e que tinha finalmente se recuperado, mas o mais novo não deu detalhes do que a bruxa tivera tão pouco Bonnie disse. Como a Lança estava segura e em teoria Vicki ainda tinha que ficar dois meses internada, ela e Enzo aproveitariam para seguir viagem e treinando suas habilidades de caçadora. Não ouve objeção, apenas uma sutil recomendação de que o casal tomasse cuidado e mantivessem contato frequente.

Bonnie sabia que eles estavam se divertindo agora, e que Vicki estava limpa. Seria bom que ela aprendesse mesmo a caçar por que as coisas tendiam a piorar em Mystic Falls, havia os Originais em breve, os Viajantes, Katherine, Silas... a lista de inimigos não era pequena. Distraiu pensando nas razões de Lumina ter ido atrás de Vicki e o que podia significar. Será que ela estava verificando a chance de Q’rey se libertar de novo ou era só curiosidade? Como ela achara Vicki? Talvez fosse mais prudente ligar para Enzo e manda-lo redobrar os cuidados, afinal ele também era uma anomalia temporal. Pegou o celular para ligar quando ouviu alguém bater na porta. Revirou os olhos, quem seria àquela hora? Elena ou Caroline? As duas possivelmente.

— Não precisa derrubar a porta – disse em voz alta sem gritar.

Stefan não reclamou quando ele tirou as chaves do carro de sua mão e informou dirigiria, não reclamou dele ter dirigido dentro do limite de velocidade, não reclamou da música. Na verdade Stefan não disse uma palavra desde que saíram de casa, apenas olhava para frente, a expressão séria e preocupada. Nem passou por sua cabeça ligar para Bonnie e dizer que estavam indo falar com ela, quando Damon seguia para o Grill onde era quase que ponto de partida para qualquer direção, Stefan informou:

— Ela não tem saído de casa nos últimos dias.

O mais velho fez a curva e foram para a casa da bruxa. Stefan nem esperou que ele estacionasse direito, e já estava correndo na direção da casa da avó-Bennett. Bateram e ouviram os passos da bruxa.

— Não precisa derrubar a porta – o tom dela soou implicante, ouviram a chave girando – Entra.

Toalha vermelha e preta da Pucca. A toalha na qual a bruxa ainda estava enrolada foi a primeira coisa de Damon notou, e os cabelos úmidos ainda. Ela digitava no celular com alguma seriedade que fez Damon se perguntar o que ela escrevia, sem olhar para eles, só chutou a porta com o pé e então ergueu os olhos para eles quando a notificação de mensagem enviada chegou. A expressão dela foi de interrogação para surpresa e logo para irritação. Colocou a mão na cintura assumindo uma postura autoritária.

— O que querem?

— Elena foi raptada – informou Stefan direto e aparentemente não dando importância para o fato da morena não estar apresentável.

Damon por sua vez não conseguia desviar atenção do cumprimento da toalha, pelo modo com que ela digitava quando abriu a porta, possivelmente devia ter sido tirada do banho e nem notou que não estava vestida.

— Elena foi raptada – Bonnie repetiu devagar e outra vez – Elena foi raptada. E?

— Anna, ela quer que você e Damon libertem a mãe dela da tumba.

— Por quê?

Damon piscou prestando atenção na reação da negra que parecia não estar entendendo.

— Por que o que? – ele questionou – Foi você quem insinuou que tínhamos aberto a tumba.

— Eu sei disso – não tinha entonação na voz da bruxa – Quero saber por que vieram me dizer isso.

— Bonnie, você entendeu o que eu disse? – Stefan pareceu notar só então a falta de roupa da bruxa por que desviou o olhar – Anna vai ferir a Elena se não libertar a mãe dela.

— Entendi isso também, Stefan. Mas isso não significa que eu vá sair correndo e salvar a Elena.

Stefan a fitou horrorizado. E assumiu uma postura ameaçadora que Damon conhecia muito bem, e antes que o irmão fizesse algo, ele se colocou na frente de Bonnie, tocando no seu ombro desnudo. A pele dela estava quente, o perene calor humano.

— Bonnie, precisamos que ajude a Elena.

— Sei disso – disse ela se afastando dele – Mas não vou libertar vampiro nenhum. Eu disse que libertaria a Katherine, mas ela não está lá então não há por que abrir nada.

— E a Elena?

— O que tem a Elena?

— Ela foi levada por Anna – gritou Stefan ficando impaciente

— E eu com isso?

Stefan se moveu rapidamente, gostava de Bonnie, ela era uma boa pessoa e amiga, mas não se tratava de qualquer inocente, era a Elena quem estava em perigo e era por culpa da bruxa e de Damon. A garota ficou perplexa com a repentina violência no vampiro e sequer reagiu quando o mesmo a pressionou contra a porta. Damon, porém, reagiu. E tirou o irmão de perto de sua bruxa e o jogando para longe, ia bater em Stefan, mas Bonnie o agarrou pelo braço e o usou como seu escudo. Damon a olhou rapidamente, não parecia assustada, só confusa.

— Perdeu a cabeça foi? – perguntou acusador para o outro que parecia ter recuperado a sanidade, Stefan olhava indeciso para Bonnie que estava parcialmente escondida atrás de Damon.

— Eu não queria – disse – Me perdoe, Bonnie. Não sei o que deu em mim.

— Saia de minha casa – falou a bruxa zangada, não era uma ordem soava mais como um pedido – Vá embora!

Stefan abriu a boca e fechou algumas vezes, então saiu atordoado. Damon se virou para a bruxa que tremia olhando fixamente para a porta, deu um passo na sua direção e ela percebendo seu gesto lhe apontou o dedo.

— Fique longe de mim. Vá embora.

— Bonnie – ele ignorou a ameaça e segurou sua mão lhe puxando para um abraço – Não vou te fazer mal.

Ouviu um soluço e a bruxa começou a chorar.

Ela abriu os olhos assustada. O cheiro cítrico apimentado familiar estava impregnado nela, sentou um pouco confusa. Estava no sofá da sala do bangalô de sua avó e o perfume masculino que sentia vinha da camisa preta que estava usando. A toalha da Pucca estava colocada sobre suas pernas como um cobertor. Será que estava tendo uma falha de memória? Por que estava usando a camisa de Damon? O que tinha acontecido?

— Não é nada do que está pensando – ela se virou para o vampiro que a observava encostado á janela – Você chorou demais e eu te vesti minha camisa quando pegou no sono.

— Há quanto tempo está ai?

— Menos tempo do que achei que levaria para que acordasse.

Bonnie revirou os olhos, lá fora já estava escuro. O que tinha ocorrido? Lembrou que quando Stefan quase a enforcou, sua toalha tinha caído, felizmente não estava sem nada por baixo. Ela se espreguiçou e bocejou antes de se colocar em pé. Sentia uma pontada de culpa pela reação de Stefan e por isso pediu:

— Ligue para o Stefan, diga que eu mudei de idéia.

Damon ergueu a sobrancelha, cético.

— O que te fez mudar de idéia?

— E quem guardará os guardiões – ela murmurou indo para seu quarto.

Enfiou debaixo do chuveiro deixando a água gelada despertar seu corpo. Aquelas crises iam durar por quanto tempo? Quando voltou a sala não ficou surpresa por Stefan estar á sua espera. Damon lhe entregou o celular informando que alguém estava lhe enviando mensagens sem parar. Ela digitou a senha e verificou as mensagens de Enzo que queria saber o porquê ele tinha que tomar cuidado, queria saber o que ela escondia em relação á Vicki e á tal Lança. Bonnie decidiu não responder, desligou o aparelho.

— Obrigado por mudar de ideia – disse Stefan sincero quando saiam da casa

— Não me agradeça. Ligue para Anna e mande-a nos encontrar e que ela leve Elena.

Damon caminhou ao lado de Bonnie, Stefan logo atrás da dupla os observava, percebeu quando começaram a se aproximar da entrada da tumba o ligeiro contato das mãos dos morenos, foi rápido quase imperceptível, ele teria pensado que foi apenas um roçar causado pelo movimento do corpo ao caminhar, mas havia o olhar silencioso que eles trocaram quando suas mãos se separaram. De algum modo sabia que eles estavam se comunicando, quase dava para ver a bagunça emocional que havia entre os dois. Como se não soubessem o que sentiam ou soubessem e quisessem não sentir.

Anna e um dos garçons do Grill estavam já à espera deles com uma Elena que começou a chorar assim que os viu e tentou correr para eles, sendo segurado pelo garçom cujo nome Damon não se lembrava. Um segundo depois notou a postura dele, não estava hipnotizado, estava transformado.

— Abra a tumba e a devolvemos – disse Anna segura de si.

— Certo – murmurou Bonnie pedindo que se afastassem.

Damon franziu o cenho atento ao que Bonnie dizia, não era nem de perto parecido com o que ela fizera dias antes quando notou que faltava um vampiro na tumba. Ele se empertigou, em alerta. Então um pentagrama de fogo se desenhou ao redor da bruxa que parecia inteiramente focada no objeto em sua mão. Damon pressentiu antes mesmo de acontecer, sabia que ela não estava abrindo a tumba coisa nenhuma e lançou um olhar para Stefan, ansiando que o irmão captasse o sinal. Stefan olhou dele para Bonnie e novamente para ele. No centro das chamas, Bonnie ergueu as mãos as separando como se libertasse um pássaro, e o colar de Emily se lançou no ar e destruiu-se. Anna gritou exasperada no segundo em que Damon cruzou seu caminho a impedindo de chegar á bruxa que cambaleou e caiu, enquanto as chamas se apagavam dando lugar á cinzas das folhas secas.

Stefan reagiu um segundo depois do grito estridente de Anna, mas bem á tempo de empurrar Ben que se preparava para morder Elena. Os dois brigaram. Anna e Damon brigavam. Elena correu para junto da bruxa inconsciente tentando acordá-la.

Damon não se surpreendeu com a força de Anna, apesar de pequena e da aparência de adolescente, a vampira era muitos anos mais velha que ele e consecutivamente mais forte. Stefan tão teve problema em quebrar o pescoço de Ben, improvisar uma estaca e matar o vampiro pouco habilidoso. Ele teria ido ajudar Damon, mas Elena gritou por ele. Então permaneceu ao lado da namorada enquanto assistia a luta do irmão contra a vampira.


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