Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza


Capítulo 7
Enquanto você dormia


Notas iniciais do capítulo

Eu mudei a personalidade deles um pouco, mas acho que isso já perceberam



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Que o irmão era ego-maníaco Stefan sabia, ele estava era tendo problemas para compreender a razão do recente silêncio no comportamento do mais velho. Talvez tivesse acontecido semanas atrás quando Bonnie entrou em coma e Sheila o impedira de ver a neta ameaçando contar á todos o que os irmãos eram, ou talvez na semana anterior no dia de seu aniversário na qual Lexi viera visitá-lo e acabou assassinada por um capricho de Damon que deixara claro que era a punição por ter tentado aprisiona-lo. De qualquer modo o vampiro se manteve quieto nos últimos dias, quase não parava em casa e aparentemente tinha retomado seus planos as quais envolviam Caroline. É claro que o mundo de Damon ainda girava em seu próprio umbigo, mas a falta de comunicação – ainda que arrogante e desnecessária – o incomodava. Tentara tirar alguma informação do irmão e a única resposta que tinha era um sorriso torto ou um longo e silencioso olhar vazio.

Damon estava ocupado, tinha que libertar Katherine e já tinha perdido muito tempo com distrações. Em algum lugar no fundo de seu subconsciente ainda havia algo de humano que se apegava ás lembranças de um verão onde conhecera uma encantadora garota destemida e prática, mas aquela garota ficara no passado. A Bonnie que ele reencontrou no presente nada tinha haver com aquela de quem ele nitidamente se lembrava, não era mais a garota forte e corajosa que se metia na mata e caminhava no cemitério á noite por causa de um desafio juvenil, esta Bonnie de agora era tão evasiva e desconfiada quanto se lembrava, mas tinha uma coisa a mais que a tornava... normal. Sim, ele estava consciente de que precisavam ter uma longa conversa sobre muitas coisas, mas ela estava em coma e podia levar muito tempo para despertar além de que teriam que lidar com a Bennett-avó. Por isso ele retornara ao começo, seu motivo de voltar para casa era libertar Katherine e ia fazê-lo. Pegou o celular e ligou para Caroline á quem ele havia confiado o medalhão de Emily até que chegasse a hora de usá-lo.

— Estou ocupada – respondeu a loira com rispidez sem nem mesmo dizer “alô”.

— O que está fazendo? – não tinha nenhum interesse em saber, mas estava entediado e implicar com alguém podia fazê-lo se animar.

— Estou lendo para a Bonnie.

— Ela acordou? – havia esperança na voz.

— Quem dera. Mas se ela puder ouvir. O que quer comigo?

— Quero saber se meu medalhão está bem guardado?

O vampiro ouviu um resmungo baixo e barulho de zíper. Caroline tinha dito algo sobre o colar ser a coisa mais feia do mundo das joias cafonas, e largou o objeto na bolsa de onde saia apenas causalmente quando a loira trocava de bolsa.

— Ainda está inteiro e tão feio quanto antes. Posso voltar para minha leitura?

— Antes me diga como a Bonnie está.

Fazia duas semanas que a bruxa estava naquele estado e ele evitava tocar no nome dela.

— Como da última vez e da anterior e... Ai-meu-Deus!

— O quê foi Barbie? – a loira ficara muda do outro lado – Caroline?

— Bonnie? – ouviu o sussurro distante.

— Oi – disse uma voz fraca, porém firme.

Damon apertou o celular sem o perceber enquanto ouvia sons confusos e risos.

— Care, eu também estou feliz em te ver, mas precisa parar de demonstrar sua alegria com abraços apertados – a voz de Bonnie estava firme, como se não tivesse passado os últimos dias dormindo.

— Desculpe – pediu a moça começando uma série de perguntas rápidas demais, então pareceu lembrar que falava com Damon e gritou para ele – Ela acordou!

O grito ecoaria pelo resto do dia, estranhamente, o vampiro não se irritou com a euforia de Caroline Forbes, ele sentia naquele momento uma terna satisfação, como se a noticia preenchesse um espaço emocional que ele tem tinha notado existir. Mandou que Caroline não desligasse, e ficou quieto ouvindo.

— Quanto tempo eu apaguei?

— Dezoito dias – o tom de Caroline soava como um pedido de desculpas – Nós ficamos preocupados. Se lembra do que aconteceu?

Á Damon só coube imaginar a expressão de Bonnie ao saber que ficara tanto tempo “apagada”. Surpresa com um pouco de preocupação e talvez um quê de indiferença.

— Lembro, tive tonturas e tentei frear o carro, mas não sentia os pés então desviei da parede de uma loja e bati em alguma coisa. Tive um sonho bizarro e ouvi sua voz dizendo ‘está inteiro e tão feio quanto antes’. Falava de mim? – o vampiro identificou diversão no tom dela e sorriu, pelo menos mantinha o bom humor.

— Não, você está com cara de doente nada que uma maquiagem não disfarce. Eu falava desse colar... – passos apressados e um arfar suave – Hum, é joia mesmo. Nem arranhou.

— Emily!

— O que disse?

Mas a bruxa não respondeu. Damon tinha certeza que ouvira o nome da ancestral Bennett que lhe confiara sua família. Aguardou impaciente, quase gritando, por uma resposta e o que ouviu foi:

— Caroline, eu acho que devia informar uma enfermeira de que acordei.

Ouviu as exclamações nada “femininas” proferidas por Caroline que fora avisar que a paciente havia saído do coma e alguns bip-bip irritantes.

— Damon eu terei que desligar, a bateria está acabando...

O vampiro desligou sem esperar a garota terminar de falar. E sem pensar muito no assunto, tomou a decisão de ir falar com Bonnie.

Bonnie tinha sentido um calafrio percorrer o corpo, como quando se tem a estúpida idéia de nadar em noite de frio, foi um choque arrepiante com qual se acostumava rapidamente. E abriu os olhos. Caroline estava de costas falando com alguém ao celular e pelo tom não estava feliz em manter a conversa, então se virou e deixou o objeto que segurava cair e viera correndo lhe abraçar e interrogar. Bonnie lançou um olhar curioso para o celular na mão da loira que o levou á boca gritando que ela tinha acordado. Bonnie achou graça da reação exagerada da amiga e se deu conta que talvez não fosse assim tão exagerado, perguntando quanto tempo estivera naquele estado. Dezoito dias, quando “sonhou” com Mina fazia apenas três dias desde o acidente. Era confuso todo aquele estado de semiconsciência. Tentou brincar com Caroline que tinha uma expressão preocupada como se de repente fosse tirar um estetoscópio do bolso e examiná-la ou um bloco de papel onde anotaria informações de um interrogatório. A loira pegou o objeto caído e ao erguê-lo, Bonnie, percebeu de onde viera aquele calafrio despertador.

— Emily!

Caroline franziu o cenho, questionou-a e a bruxa fez-se de distraída pedindo que a outra fosse informar uma enfermeira de seu estado. Caroline estava com o medalhão de Emily, o que significava que Damon ainda não tinha aberto a tumba tão pouco sabia que Katherine estava á solta desde sempre. O que faria? Não tinha prometido nada á Mina sobre não interferir nos acontecimentos futuros, na verdade, tudo o que a coisa-alienígena-élfico-ruiva disse não passou de mera sugestão, como os conselhos de Elena que começam com um “se eu fosse você...” e sempre termina com “... a decisão é sua”.

Passou horas respondendo perguntas de um neurologista bonitinho de voz rouca e do clínico que lamentavelmente era amigo de sua avó, ou seja, a conhecia bem demais para detectar uma mentira sobre sua saúde, como quando era criança comia doces demais e passava mal, o Dr. Tate sempre sabia. Felizmente o talento dele só dizia respeito á saúde, por que Bonnie não teve problema nenhum em mentir sobre o que fizera no período em que estivera fora de Mystic Falls. Em parte por que já tinha bolado a mentira quando saiu da cidade levando Vicki, o resto era por que de repente mentir parecia certo. Normal.

Quando finalmente lhe deram permissão para ver suas muitas visitas – uma enfermeira dissera que a filha da xerife tinha ligado para metade da cidade informando que ela tinha saído do coma, de modo que quem desconhecia o fato ficou sabendo. Bonnie forçara um sorriso, tinha a impressão de que as pessoas, especialmente os enfermeiros, tendem a tratar convalescentes com excesso de simpatia, não que ela desprezasse a tentativa dessas pessoas em dar motivos para seus pacientes sorrirem, mas estava cansada de passar tanto tempo respondendo as mesmas perguntas feitas com palavras diferentes. A primeira e única pessoa que ela queria ver era sua avó, precisava deixar claro para a bruxa-mais-velha a razão por qual estava naquele estado, ainda que não fosse dizer a ela toda a verdade. Tentou manter uma postura calma quando fosse falar com Sheila, mas assim que a viu começou a chorar. Um lado de si dizia que não se viam á anos, outro lado recordava que tinha almoçado com ela menos de um mês antes.

— Ah, minha criança, vai ficar tudo bem – dissera Sheila em um tom maternal que servira apenas para fazer a neta chorar mais.

Bonnie não tinha certeza de quanto tempo ficara chorando feita criança nos braços da avó, mas quando finalmente as lágrimas secaram, ela se sentia bem. Como se nenhuma outra coisa no mundo pudesse fazê-la chorar mais.

— Está melhor agora? – questionou a avó, consoladora.

— Estou

Sheila não disse mais nada, ficou esperando que a neta começasse a conversar sobre o que quisesse e a jovem bruxa sabia sobre o que devia falar com a avó, só estava incerta de como abordaria o assunto. Hesitante, começou:

— Eu fiz uma coisa ruim, vovó, por isso estou assim, doente.

— Bonnie, você não fez nada errado, foi um acidente – tentou amenizar a mulher.

— Por favor, só escute. Eu sei o que nós somos e sei sobre os vampiros – Bonnie desviou o olhar para os dedos, suas unhas estavam pintadas de rosa-claro e ela tinha certeza que era coisa de Elena – Quando a senhora apagou minha memória no passado, de algum modo eu bloqueei seu feitiço e quando me reencontrei com o vampiro lá na casa de Elena tudo voltou. Foi como levar uma pancada na cabeça, era tanta coisa de uma só vez que desmaiei. E desde aquela noite que as coisas ficam assim, minha cabeça doí, eu tenho tonturas e agora acabo de sair de um coma.

Sheila olhava para a neta com tamanha descrença que estava literalmente de queixo caído. Bonnie a fitou por um tempo esperando alguma reação.

— Vovó? A senhora está bem?

— Por que não me procurou antes? – foi a resposta da bruxa – Devia ter me dito que isso estava acontecendo.

— Achei que podia resolver sozinha, era só dor de cabeça. Mas agora sei que não era só um mal estar.

Sheila estava preocupada, mas antes que pudesse expressar sua preocupação uma enfermeira entrou pedindo que deixasse a paciente descansar. Bonnie que tentava ver algo na expressão da avó, um vestígio de desconfiança por que Sheila sempre sabia quando a neta mentia e nem precisava usar magia para isso, permaneceu olhando para a porta por muito tempo depois dela se retirar. Agora tudo seria daquele modo, não era apenas com os colapsos que ela deveria aprender a conviver, teria que aprender a lidar com novos segredos e mentiras cada vez mais verdadeiras.

Damon hipnotizou a enfermeira para que pudesse ficar um tempo com Bonnie, sem ser incomodado por amigos e parentes da bruxa que queriam vê-la. Assim que Sheila saiu, ele entrou.

— Oi, Damon – ela cumprimentou-o.

— Fico feliz que esteja se recuperando – disse ele sincero – Temos muito que conversar.

— Sente-se, tenho impressão de que vai ser uma longa conversa.

Damon começou questionando o que tinha acontecido, como de repente lembrava-se dela. Bonnie explicou que tentara impedir que tudo fosse apagado e só ficou bloqueado até o dia em que se viram. O segundo e mais importante assunto do vampiro era a respeito de Emily. Bonnie mentiu, com a mesma naturalidade que mentira para todos desde que acordara, e contou que tivera um sonho estranho com uma ancestral de nome Emily que tinha um medalhão e dizia para que fosse destruído, mas a bruxa não tinha ideia de como fazer aquilo e do nada acordou encontrando Caroline no quarto segurando o colar de Emily enquanto falava ao celular. Então, questionou com toda ignorância que soube simular quem era Emily e o que ele tinha haver com ela.

— Sou um vampiro bem mais velho do que aparento ser, em 1864 apareceu aqui em Mistyc Falls uma moça de nome Katherine e com ela viajava uma bruxa chamada Emily...

Bonnie estava estupefata, não pela história que ela já conhecia e sim pelo fato de Damon estar contando absolutamente tudo á ela, o envolvimento da vampira com os dois irmãos, o feitiço do cometa feito por Emily, sua transformação causada por Stefan. Enquanto o vampiro narrava sua desventura de um século atrás, a bruxa pensava, não era Vicki a mudança que ela fizera ao voltar para o passado, era Damon. Ter permitido que lembrasse um do outro mudava tudo. Damon não devia confiar nela, ele devia estar atormentando Stefan e causando problemas em sua busca pela liberdade de Katherine. Ela e ele deviam se odiar ao trabalhar juntos pelo bem de Elena e seus amigos, e continuar se odiando até que fosse obrigado á conviver um com o outro e se tornarem amigos. Estava tudo errado. Damon falava sobre como libertar Katherine da tumba junto com os outros, então ela se deu conta que ele não estava mais narrando sua história, estava lhe pedindo um favor.

Ela sabia que não devia mudar mais nada, mas já estava tudo diferente e ela seria capaz de lidar com aquilo. Na pior das hipóteses ela morreria e isso já tinha acontecido o bastante para aprender a aceitar que todas suas decisões terminava com a morte de alguém á quem amava.

— Abro a tumba com três condições – disse olhando o par de safiras á sua frente – Vai deixar o Stefan em paz para viver a vida dele como ele quiser sem ter que ficar esperando um ataque de sua parte. Vai parar de usar a Caroline. Eu farei as coisas de meu jeito, se me ameaçar ou eu me sentir ameaçada enfio uma estaca no coração de quem quer que cruze meu caminho. Aceita meus termos?

Damon assentiu solene. Talvez ela não tivesse mudado tanto, só amadureceu.


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