Os vampiros que se mordam 2 escrita por Gato Cinza


Capítulo 14
Déjà-vu




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Foi como assistir um remake de um filme ruim. O ataque de Jon Gilbert aos sobrenaturais, o apoio do prefeito que acabou caindo na própria armadilha, o luto da cidade por perdas numerosas causadas por descuidos de um plano falido. O retorno de Katherine e a transformação de Caroline. Tudo de novo. Bonnie olhava para o próprio reflexo sem realmente se ver. Pensava na última ligação de Vicki, há dez minutos. A ligação ás duas da manhã deixou a bruxa nervosa, tanto que sem se dar conta, vestiu um casaco e saiu á esmo. Os pensamentos e lembranças se misturando numa bagunça incompreensível.

“Bonnie? Acho que estamos com problemas” – disse Vicki assim que ela atendeu.

— O que houve? – questionou sonolenta, piscou parar se acostumar com o escuro do quarto.

“Não sei como, mas um vampiro hipnotizou Enzo e ele falou sobre você e a lança de ferro”.

— Que vampiro? – Bonnie sentiu o sono desaparecer enquanto sentava na cama.

“Sei lá, ele era Inglês, loiro, bonito, assustador”.

Klaus.

— O que ele quis saber? Vocês estão bem?

“Estamos. Ele nos prendeu e esperou a verbena sair, ficamos dois dias amarrados. Então ele perguntou sobre a Lança e contamos. Como pode um vampiro hipnotizar outro? E por que lembro depois dele ter mandado esquecer e Enzo não lembra?”

— Você está protegida por magia, vampiros não te controlam. Voltem para Mystic Falls.

“Quem é esse vampiro?”

— Voltem e eu explico.

Quando acordou sentiu a cabeça latejando de dor. Ao seu lado Damon dormia com um braço em volta de sua cintura e ressonava baixinho. Bonnie resmungou um palavrão, mas o cansaço físico era tão forte que em vez de sair, apenas se aconchegou ao vampiro. O dia ia ser complicado. Naquela madrugada ela se pegou diante da casa do vampiro, surpresa por ter ido parar ali enquanto “caminhava para pensar” decidiu voltar para casa e ia fazê-lo quando os faróis altos do carro de Stefan a iluminaram, de onde o vampiro vinha? Ela não perguntou.

— Vocês brigaram? – foi a pergunta dele depois de se cumprimentarem.

— Nós quem?

— Damon e você.

— Não que eu saiba, por quê?

— Por que são três da manhã e você está indo embora. Sozinha.

— E você está chegando a essa hora da madrugada em casa, sozinho, devo perguntar se brigou com a Elena?

Stefan arqueou a sobrancelha, desconfiado da bruxa. Mas não disse nada, apenas abriu a porta dando passagem para ela que hesitou por um instante antes de entrar e ir direto para o quarto de Damon. Não saberia explicar a razão de agir assim, talvez fosse instinto, contudo, já que seus pés a levaram até ali... Damon deixou toda sua surpresa estampada no rosto quando ela entrou em seu quarto o despertando com ruído da porta ao abrir.

— Posso dormir com você? – perguntou olhando para a cama, exausta demais para prestar atenção ao que dizia.

Algo em sua aparência foi percebido pelo vampiro que estendeu a mão para ela, deixando que ela descansasse a cabeça em seu peito ao se deitar.

— O que houve?

— Uma lista de problemas que começa com uma Bennett há mais de mil anos e termina com Mystic Falls queimando ao por do sol enquanto a última Bennett é consumida pela escuridão.

Foi só um pesadelo— ela ouviu-o dizer depois de um tempo ou talvez já estivesse dormindo e apenas sonhou que ele disse isso. Algumas horas depois ela despertou, a cabeça doía como se estivesse de ressaca depois de um dia de farra e mistura de bebidas e o corpo parecia ter sido castigado por uma longa jornada de trabalho. Xingou quando lembrou o por que de estar na cama de Damon, mesmo assim permaneceu onde estava, assim que fechou os olhos um celular tocou e semiconsciente atendeu:

— Alô?!

“Bom dia” – a voz hesitante de Elena a fez resmungar – “Desculpe, devo ter discado errado”.

Cinco segundos depois ela ligou novamente.

— O que aconteceu, Elena?

“Bonnie? Por que está com o telefone de Damon?”.

— Damon, atende – ela o chamou lhe entregando o aparelho e saindo da cama.

Fitou demoradamente a pessoa no espelho. Enormes bolsas debaixo dos olhos opacos denunciava seu cansaço, os lábios feridos, o cabelo despenteado estava sem brilho e até sua tez negra parecia desbotada. Se alguém dissesse que ela estava doente naquele minuto, acreditaria. Como foi se deixar chegar á esse ponto? Precisava ficar forte e não morrer aos poucos.

Damon ainda não tinha conversado corretamente com Bonnie desde o dia seguinte á festa de gala. Os acontecimentos que sucederam sua última conversa foram preocupantes e tudo o que ele fez foi adiar a conversa, aproveitando para dar tempo a ela que parecia se esforçar para evita-lo. Ele quase morreu por causa daquela armadilha para vampiros de Jon Gilbert, felizmente foi salvo pelo irmão e pela bruxa adolescente. Katherine retornou e estava usando sua semelhança com Elena para enganar á todos ao seu redor, ele queria saber as razões do retorno da vampe e como isso afetaria a vida sobrenatural na cidade. Katherine havia transformado Caroline, felizmente a loira estava aprendendo á ser uma estraga prazeres com Stefan e isso mantinha o irmão caçula ocupado, ele só estava preocupado com Liz e sua reação ao saber que a filha era uma vampira. E tinha aquele Mason Lockwood, podia ser apenas uma má primeira impressão, mas tinha algo naquele homem que o deixava incomodado.

Tinha tirado uma noite de folga daquele caos em que estava vivendo, uma noite para ser o Damon de sempre dos últimos cem anos. Sangue fresco, mulheres bonitas e Bourbon. Só que, nenhum sangue fresco tinha gosto bom, nenhuma mulher bonita tinha a beleza da jovem negra de olhos verdes, e nem todo uísque do mundo era suficiente para apaga-la dele. Acabou voltando sozinho, sóbrio e bem mais cedo do que o planejado para casa. Concluiu que aquela bruxa devia tê-lo enfeitiçado. Em retrospecto, ele passou mais de um século esperando por Katherine e nesse período ele teve todas as mulheres que desejou e se deu á todas que desejaram tê-lo. Dormiu pensando em procurar uma bruxa para descobrir se ele estava enfeitiçado ou coisa do gênero.

De madrugada ele é acordado pelo suave ranger a porta, abriu os olhos em alerta. Com Katherine á solta todos os cuidados eram poucos, e para sua surpresa quem entrava em seu quarto era Bonnie. Por um instante pensou que estava sonhando, então lembrou que vampiros não sonham. Ela estava estranha, olhar desfocado, mordiscava o lábio inferior e puxava aquele fitilho verde no pulso.

— Posso dormir com você?

Até a voz soou estranho, meio estrangulado meio sonolento. Se não a conhecesse, pensaria que a bruxa era sonâmbula. Ele estendeu a mão para ela que deu alguns passos trôpegos até a cama e deitou recostando a cabeça em seu peito. Perguntou o que tinha acontecido e ela respondeu de um modo tão estranho quanto seu comportamento, deduziu que ela tivesse saído de algum pesadelo, igual aqueles ela que teve em Miami que a fazia perder o sono e querer conversar até que fosse dia. Dormiu sentindo o calor do corpo humano dela e ela se protegendo nos braços dele.

Quando acordou novamente foi por um gesto brusco dela, ouviu-a pronunciar indistintamente um palavrão e a sentiu retornar para onde estava aconchegada á ele. Então o seu celular tocou e ela atendeu, e passou para ele indo para o banheiro em seguida. Era Elena quem ligava para saber que ainda ia com ela e Alaric para Duke. Ele queria saber se Isobel tinha alguma anotação em suas pesquisas sobre o mistério por trás dos Lockwood e para isso ia contar com ajuda de Alaric que fora casado com a pesquisadora, Elena soube e resolveu que queria ir junto para obter mais informações sobre a mãe. No dia anterior quando ele conversava com Alaric e Elena se convidou para acompanha-los, ele não se importou, na verdade tinha até gostado da idéia de ter a companhia de Elena por um tempo longe de Stefan e toda aquela tensão de Mystic Falls, mas agora que ouvia o coração de Bonnie pulsando á quatro metros de distância separados por uma parede fina, ele se questionava sobre a decisão de ter a cunhada por perto.

— Estou preocupado com a Bonnie – Stefan disse quando ele se sentou á mesa.

— Por quê?

— Quando cheguei esta madrugada ela estava indo embora, parecia ter chorado e cansada demais. Pensei que tivessem brigado, agora acho que ela nem teria entrado se eu não chegasse.

— Eu também estou preocupado com ela, mas ela se recusa a conversar.

— Vou falar com Elena, talvez ela e Caroline tenham mais sucesso em fazê-la se abrir.

— Ou vão cuidar da vida de vocês e parar de falar de mim como se eu fosse invisível – reclamou a mesma sentada ao lado de Damon.

— Você faz parte de nossa vida, Bonnie, pare de reclamar por querermos cuidar de você – Stefan falou servindo mais ovos mexidos para a garota.

Damon não gostou do comentário excessivamente afetuoso do irmão nem de Bonnie ter correspondido á gentileza com aquele sorriso sincero e espontâneo que surgiu em seus lábios se estendendo aos olhos verdes que brilharam.

— Estou grandinha o bastante para não precisar de babá, mas agradeço. E vocês tem outro assunto para lidar no momento.

— Katherine!

— Vou dar um tempo de Katherine. Elena e eu vamos a Duke ver se achamos uma pista sobre os esquisitões Lockwood – informou Damon querendo provocar.

— Eu vou ajudar Caroline com sua adaptação – Stefan falou ignorando a tentativa do irmão em provocá-lo – E tentar descobrir o que Katherine está aprontando.

— E quais seus planos para este dia magnifico, Bonbon?

— Vou tirar o dia de folga do sobrenatural e me preparar para mais problemas.

— Que problemas?

Maquinou se devia dizer, mas conhecia os vampiros o bastante para saber que eles insistiriam.

— Vicki me ligou para avisar que um vampiro havia hipnotizado Enzo, então os mandei voltar para casa.

Damon riu.

— Um vampiro hipnotizou Enzo? Tem certeza? A Vicki não estaria drogada, não?

— Quem é Enzo? – Stefan quis saber.

— Um vampiro que está ensinando a Vicki Donovan a caçar vampiros – o tom de Damon não ocultava o divertimento.

— Um vampiro? Vicki não estava em uma clínica?

— É uma história longa, depois o Damon te conta – disse Bonnie chutando o vampiro mais velho por de baixo da mesa que resmungou a encarando, sério – Vicki não está se drogando.

— Vampiros não podem hipnotizar outros vampiros, Bonnie.

Ela o fitou demoradamente.

— Como pode ter certeza? Vocês só tem um século e meio de vida, devem existir milhões de coisas que desconhecem – e se aprumando com uma expressão cômica – Vou perguntar para Caterina.

— Katherine? Vai procurar a Katherine para saber sobre vampiros antigos? – Stefan agora soava tão incrédulo quanto Damon.

— A menos que vocês conheçam um vampiro com tantos séculos de vida quanto ela – e apontando de si para Stefan – Nós vamos ter uma longa conversa com ela.

— Nós?

— Não quer saber o que ela está aprontando? Tem meio mais fácil que perguntar diretamente para ela?

— Já perguntamos, ela vai zombar e mentir – disse Damon, convencido.

— Vocês, eu imagino, fizeram as perguntas erradas e no tom errado.

— E você sabe fazer a pergunta certa?

A bruxa sorriu, apenas.

Encontrar Katherine foi fácil por que com Elena em Duke, tudo o que precisava fazer era perguntar as pessoas se viram a estudante. Katherine estava exatamente onde Bonnie lembrava que ela ficara da vez anterior, quando a vampe soube que Stefan estava á sua procura, aceitou recebe-los. Levou algum tempo para que conseguisse fazê-la falar algo sem soar uma moça indefesa e ingênua.

— Você é a única anciã que Stefan conhece – disse Bonnie aborrecida com o comportamento de Katherine, preferia a versão superior e odiosa – Só por isso nos demos ao trabalho de vir visitá-la.

— Anciã? – o tom finalmente quebrou a falsa inocência – Eu por acaso pareço velha?

— Considerando que é uma versão madura da Elena, sim.

Katherine olhou a bruxa com o máximo de ódio que podia demonstrar, e era muito. Stefan intercedeu e pediu que retomassem o foco da visita. E perguntou á vampira se havia alguma possibilidade de vampiros serem hipnotizados por outros vampiros.

— Por que querem saber? – perguntou desconfiada, os analisando.

— Não importa a razão – Bonnie se apressou em dizer – Apenas afirme ou negue a possibilidade.

— Talvez eu saiba de algo. O que eu ganho em troca da informação? – a doppelgänger olhou de um para outro, despreocupada.

Bonnie olhou para Stefan que estava pensativo.

— Não vamos barganhar – disse o vampiro.

— Stefan, não se ofenda – a bruxa cochichou como se a vampe não pudesse ouvi-los – Mas se há um vampiro com esse poder vindo para cá, nenhum vampiro em Mystic Falls será confiável.

— Como quiser, mas saiba que sou contra dar qualquer voto de confiança á Katherine – e olhando para a vampira que o fitava sem piscar – Uma verdade por outra.

— Uma verdade por outra – ela repetiu, refletindo – Uma verdade por outra. Aceito. Primeiro sua resposta. Sim, existem vampiros capazes de compelir outros vampiros.

— Vampiros? Quantos são? – Bonnie interrogou, deslizando para a ponta do confortável divã.

— Nana-Nina-Não! Uma verdade por outra, agora é minha vez. Como ficou sabendo sobre a existência desses vampiros?

Bonnie bufou, irritada, antes de responder:

— Um vampiro que conheço foi supostamente hipnotizado por outro, a namorada dele me ligou para informar que tal vampiro está vindo para Mystic Falls á procura de um objeto.

Katherine, como esperado pela dupla, ficou interessada.

— Que objeto?

— Um artigo mágico que não devia existir e que foi devidamente extraviado – e sem se prolongar – Sua vez. Quem são esses vampiros?

A vampe se calou pensativa, antes de responder, medindo a quantia de informações que daria aos dois e qual a pergunta seguinte que faria, com intenção de tirar deles mais do que dar-lhes.

— É a família original. Os primeiros vampiros que deram origem á todos os outros. Muito antigos. Qual é o vampiro que está vindo para cá?

— Não sei o nome dele, me descreveram-no como um inglês loiro, bonito e assustador. Conhece alguém assim?

Katherine ficou imóvel em seu lugar, os olhos arregalados e uma expressão de raiva assumindo o controle.

— Você conhece esse vampiro? – Stefan perguntou ansioso.

— Klaus – ela respondeu controlando-se – É um vampiro impiedoso e um inimigo poderoso. O que é esse objeto que Klaus procura?

— Uma estaca feita de carvalho-branco, era uma velharia que segundo as instruções não devia ter sido nem criado, eu destruí. Disse uma família original, quanto eles são?

Agora Katherine estava petrificada olhando para a bruxa. Bonnie e Stefan se olharam momentaneamente, antes da castanha reagir.

— Está dizendo que tinha uma estaca de carvalho-branco e o destruiu? – o tom da vampira soou mais perigoso do que qualquer coisa que Stefan já tinha ouvido em seus muitos anos – A arma mais poderosa do mundo contra um original e o destruiu?

Bonnie sabia que aquela informação ia tirar o controle da vampira, mas não esperou que fosse daquele modo. Raiva, medo e alguma coisa indistinguível transfigurava o rosto jovem de Katherine, deixando manifestar-se o monstro sanguinário que ela era.

— Arma? Era uma estaca velha e inútil, para que vou precisar usar uma estaca contra um vampiro se sou bruxa?

— Burra! – Katherine gritou – Os Originais não podem ser destruídos por magia comum, passei os últimos cinco séculos caçando um meio de matar Klaus e você tinha uma estaca de carvalho-branco e destrói? Te passou pela cabeça a chance de que se alguém se deu ao trabalho de fazê-lo é por que tinha importância?

Bonnie se levantou, erguendo a voz para o mesmo tom que ela.

— Eu nem sabia que existia um vampiro original. E se podia matar esse Klaus com a estaca, então não tenho problemas – e expressando alivio – Sem arma eu não represento perigo para ele.

Katherine riu irônica. A bruxa sentou novamente, olhando Stefan com a mesma expressão preocupada que ele dirigia á ela. Bonnie conhecia toda a história envolvendo a vampira e os originais, esperava tirá-la do controle para que ela dissesse o que Stefan queria saber. E funcionou. Katherine contou sobre como se tornou uma vampira, explicando a estranha obsessão de Klaus por seu sangue e aparência e que agora havia outra pessoa assim.

— Klaus não está vindo para Mystic Falls apenas pela arma que destruiu – dizia a vampira – Ele busca o sangue da sua querida Elena.

— Por quê? – Bonnie quis saber, já sabendo a resposta – Segundo você, Elena tem algum elo sobrenatural contigo, por que Klaus não usa seu sangue?

Katherine olhou para ela com uma expressão ofensiva.

— Para uma bruxa você devia saber mais sobre magia. Eu me transformei antes de Klaus usar meu sangue, eu morri e invalidei o poder. Elena ainda é viva.

— Então é isso que veio fazer em Mystic Falls? – perguntou Stefan – Certificar que Elena é viva para ser usada por Klaus?

— Não exatamente.

E sentando novamente, assumindo toda uma postura superior, a vampira narrou suas últimas semanas em Mystic Falls de 1864, deixando Stefan completamente atônito.


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