Kingdom Hearts: Motherland escrita por Kyra_Spring


Capítulo 10
A garota que roubava estrelas


Notas iniciais do capítulo

N/A: Sobre esse capítulo, apenas uma sugestão: ouçam Star-stealing Girl, da trilha sonora de Chrono Cross. Espero que gostem, beijos a todos e até mais!



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            As pesquisas continuavam intensas. E, tanto em Disney Castle quanto em Radiant Garden e Traverse Town, os progressos iam aparecendo aos poucos. Aerith finalmente conseguiu identificar o cristal misterioso. Era uma pedra chamada de vidro-de-luz, que tinha o poder de concentrar e amplificar a luz e transformá-la em ondas contínuas de energia. O cristal que Tifa havia encontrado era um exemplar especialmente raro, muito puro e regular, mas eles sabiam que seus efeitos não durariam para sempre.

            Em Disney Castle, o último sonho de Sora foi a pista da qual eles precisavam. Logo, eles tinham um complexo e longo relato sobre o reinado da rainha Selene, e de seus antecessores e sucessores mais próximos. Embora eles não tenham encontrado nada sobre Seth, logo puderam perceber que, na época dela e dos que a antecederam, a cidade passava por uma grave crise interna, que acabou desembocando numa guerra civil terminada apenas quando Selene assumiu o trono.

            Em Radiant Garden, Leene e Riku trabalhavam na tradução das inscrições das portas, sem muito sucesso, além de ajudar com a construção do sistema de comunicações entre os mundos, sob as instruções de Cid. A notícia do retorno de Cloud a Traverse Town animou a todos. Talvez, eles pensavam, ele pudesse ter alguma informação que os ajudasse.

            Mas o ar de tensão e dúvida ainda permanecia, como uma nuvem de chuva num céu límpido. Eles não sabiam o que esperar dali em diante, e mesmo com as novas informações, ainda era como se tateassem no escuro à procura de um inimigo que era capaz de enxergar perfeitamente entre as sombras. Erinia continuava um mistério absoluto, assim como seus reais planos.

            Sora, Donald, Goofy e Kairi voltaram para Radiant Garden depois de alguns dias de pesquisas. Cid monitorava constantemente as taxas de Heartless e Nobodies nos mundos, mantendo-os informados sobre flutuações, e foi exatamente um chamado dele que os trouxe de volta. Assim que eles chegaram, o engenheiro já os esperava no hangar, dizendo:

–Já temos uma missão para vocês, pessoal. E é coisa grande.

–Algum mundo desconhecido, ou algum lugar onde já estivemos? – perguntou Sora, já ansioso por voltar à ação.

–Na verdade, não é um mundo e sim uma nave, Axiom – respondeu Cid – Tem alguma coisa estranha vindo dela, então é melhor vocês darem uma olhada. E... – então, ele foi interrompido por um som ensurdecedor vindo do céu – Mas que droga é essa?

            Os olhares de todos se voltaram para cima. Eles se depararam com uma nave monstruosa, pintada em cores vivas e chamativas, que se aproximava do hangar e pousava barulhentamente sob os olhares atônitos de todos. Cid era o mais chocado, e encarava a nave com um misto de fascínio e espanto. O choque dele, porém, se estendeu a todos assim que a porta da nave se abriu e, de lá, desceram três moças bem familiares a Sora...

–Yuna? – ele ergueu uma sobrancelha, pasmo – Rikku? Paine?

–Olha, é o Sora! – Rikku foi a primeira a acenar e correr na direção deles – Oi, tudo bem?

–Erm, tudo, eu acho – ele as analisou de cima a baixo. Sem dúvida eram elas, mas havia alguma coisa bem diferente do último encontro – Mas, da última vez que nos vimos vocês eram... bem... vocês tinham uns vinte centímetros de altura, no máximo!

–Ah, aquilo – Yuna riu – Bem... aquilo aconteceu por causa de uma esfera amaldiçoada que a Rikku encontrou e levou para nós. Quando tentamos vê-la, ela nos deixou daquele jeito que você viu. Maleficent nos disse que poderia nos ajudar a voltar ao normal, se encontrássemos tesouros para ela, mas... bem, conseguimos quebrar o feitiço por conta própria e a mandamos ir pastar.

–Aliás, devemos desculpas a vocês pelo nosso último encontro – disse Paine – Infernizamos tanto aquele rapaz, o Leon, por causa desses tesouros que ele quase partiu para cima de nós com aquela Gunblade dele. Soubemos que coisas terríveis estão acontecendo, e queríamos oferecer a nossa ajuda, para nos redimirmos.

            Eles se entreolharam, sem acreditar na boa notícia. Alguém estava oferecendo ajuda, ao invés de pedir? É, isso era novidade. Uma novidade que eles não poderiam deixar passar.

–Estamos à disposição de vocês – disse Yuna – Nossa nave, a Celsius, é grande, rápida e muito resistente. Ela pode servir para dar apoio às suas naves.

–E nós sabemos bater, se for preciso! – acrescentou Rikku, erguendo os punhos.

            A conversa continuou. Sora apresentou as três garotas a Kairi, e eles começaram a conversar animadamente. O único que não dizia nada era Cid, que ainda tinha os olhos pregados à Celsius. Paine percebeu e disse a ele:

–Você pode ir até lá e olhá-la por dentro, se quiser. Brother irá apresentá-la toda a você.

–Posso mesmo? – a voz dele saiu num tom mais eufórico do que deveria – Erm... obrigado – e correu para dentro da Celsius, sem conter a empolgação.

–Ah, então vocês estão aqui! – então, eles viram Riku e Leene entrando no hangar e acenando para eles de longe – Pensei que vocês nunca mais iam voltar!

–A gente sabe que você não vive sem nós – replicou Sora, irônico – Mas parece que já estamos indo de novo, o Cid começou a falar sobre uma missão mas depois saiu correndo pra ver o brinquedinho novo que chegou aqui... – e apontou para a Celsius – Sabem de alguma coisa?

–Um pouco – respondeu Leene – Pelo que eu entendi, é uma nave que tá vagando entre os mundos há uns 700 anos, porque o mundo original de onde ela veio estava inabitável. Mas há registros de Heartless por lá, então vamos dar uma checada.

–Além disso, vamos tentar levar esse pessoal para algum lugar mais seguro – continuou Riku – Como Traverse Town, por exemplo. Ou talvez o antigo mundo deles, se ele estiver em condições de receber pessoas agora.

–E quando podemos ir? – perguntou Kairi.

–O mais rápido possível – respondeu Leene – E acho que podemos ir despreocupados. Pelo visto, aquelas três podem ajudar a manter Radiant Garden nos eixos enquanto estivermos fora. As coordenadas já estão na Fantasia, então podemos partir ainda hoje, se quiserem.

–Por mim está ótimo – concordou Sora, na hora – Vamos, então?

–Vamos só esperar o Cid terminar de se divertir, e aí então partimos – sugeriu Leene, rindo – Se bem que, do jeito que eu o conheço, acho que isso vai demorar um pouco...

            E realmente, depois do que pareceu uma eternidade, Cid finalmente saiu de dentro da Celsius, com olhos brilhantes. Ele se recompôs rapidamente e voltou à sala de controle, dando início ao lançamento da Fantasia. Logo, eles estavam no ar, afastando-se à toda velocidade de Radiant Garden, deixando para trás os acenos das três garotas da Celsius e encarando com grandes expectativas a nova missão.

            Expectativas... e uma certa apreensão.

 

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–Por que será que eu sabia que iria acabar te encontrando aqui?

            Em Traverse Town, Leon acompanhava com preocupação os relatórios de Disney Castle e Radiant Garden, assim como as notícias que chegavam todos os dias com os forasteiros que passavam pelo Seventh Heaven. Ele sabia da responsabilidade que pousava em suas costas, mas a cada dia sentia-se menos capaz de levá-la adiante. Por isso, sempre que não havia nada a fazer, ele ia para o topo da torre do sino da loja de bugigangas do Segundo Distrito, e tentava pensar. Mas, por mais que tentasse manter as idéias em ordem, tudo ficava mais confuso e indefinido a cada dia.

            E, agora, com a chegada de Cloud, havia mais um ponto em que pensar.

            Ele não percebeu, naquela noite, que havia alguém que silenciosamente subia as escadas e se aproximava. O instinto foi mais forte: assim que percebeu que não estava sozinho, sacou a Gunblade e se virou num impulso, pronto para atacar. Quando percebeu quem era, porém, abaixou a espada e, disse, com uma nota bem-disfarçada de vergonha na voz:

–Aerith, já pedi para você não fazer isso. Minhas reações são meio automáticas, você sabe disso. Posso acabar te machucando.

–Você não faria isso – ela riu – Vim trazer uma xícara de chocolate para você. A noite está um pouco fria, e você passou o dia todo trabalhando naquele sistema... talvez isso ajude.

–Obrigado – ele disse, pegando a caneca fumegante das mãos dela e sentando-se no parapeito da torre, enquanto observava o céu límpido e sem nuvens da noite – E como está o Cloud?

–Ele já falou algumas vezes em ir embora, o que quer dizer que ele deve estar bem – respondeu Aerith, sentando-se ao lado dele – Deixei Tifa cuidando dele. Yuffie apagou no balcão do Seventh, acho que vou deixá-la cochilar um pouquinho antes de levá-la para casa. Ah, a propósito, Cid mandou uma mensagem. Você se lembra daquelas três garotas, Yuna, Paine e Rikku?

–Quem...? Ah, elas! – ele demorou um pouco, mas logo se lembrou das três diabinhas que o atazanaram por causa de tesouros, meses atrás – Se alguma delas falar sobre tesouros outra vez, vai conhecer o verdadeiro significado da palavra “dor”!

–Não se preocupe – Aerith riu outra vez – Elas mandaram um pedido de desculpas, e disseram que vão nos ajudar no que precisarmos, daqui para frente.

–Bem, pelo menos isso... – ele tomou um gole de chocolate – Uma boa notícia, para variar.

–Leon, nós não poderíamos ter feito nada por Port Royal – ela sabia exatamente o que o afligia daquela forma – Não conseguimos prever os sinais, não conseguimos chegar a tempo. Mas, agora, sabemos o que fazer, e estamos vigilantes. Além do mais, quem sabe, depois que tudo isso terminar, esse mundo será restaurado.

–Como os que desapareceram quando Maleficent estava tentando tomar Kingdom Hearts? – ele disse, ainda com os olhos fixos no céu – Não sei... admita, Aerith, estamos cegos, surdos e fracos. Não estamos sendo muito úteis aqui – abaixou o rosto, apoiando-o sobre a mão – Aliás... não sei se nada do que todos nós estamos fazendo, tanto aqui quanto em Radiant Garden, é realmente útil.

            Ela não disse nada, apenas ficou ao lado dele, em silêncio. Ela o conhecia desde crianças, em Radiant Garden. Depois da destruição de seu mundo, porém, eles assumiram caminhos separados, e só se reencontraram um ano antes da primeira derrota de Maleficent. Como tantos outros, ele também saiu viajando pelo universo em busca de respostas sobre o que havia acontecido, mas seus caminhos voltaram a se cruzar em Traverse Town.

            Aliás, era isso que sempre acontecia, ali. Todos os caminhos se cruzavam naquela cidade.

–Não pensei que voltaria para cá tão cedo – ele disse – Cheguei a pensar que, depois que Radiant Garden fosse restaurada, eu poderia ficar lá para sempre. E olhe só onde estamos, outra vez.

–O que fazemos é importante, Leon – disse ela, suave – Nós temos a chance de lutar. E é o que devemos fazer, exatamente porque muitos não podem lutar por si mesmos.

–Mas você nunca se perguntou por que justamente nós estamos nessa bagunça? – ele a encarou fixamente – E não outros? Oras, nenhum de nós é pretensioso o bastante para se considerar forte o bastante para essa luta. Será que, em algum lugar, não haveria outros que talvez fossem melhores escolhas para isso?

–Você anda pensando muito nisso, não é? – ela devolveu o olhar, e ele assentiu afirmativamente com a cabeça – Não acho que exista uma razão específica para nós estarmos aqui. Aliás, acho que isso é uma oportunidade para fazermos a diferença. E isso é melhor do que simplesmente assistir sem poder fazer nada, não concorda?

            “É... é melhor sim”, ele pensou. “Melhor do que ver toda a sua vida desmoronar sem poder fazer absolutamente nada para impedir. Mas será que é melhor do que lutar para impedir uma tragédia e mesmo assim ser obrigado a assisti-la de camarote, depois de todo o esforço e dor?”.

            Era mais uma pergunta sem resposta. Mais uma que ele manteria para si mesmo.

–Eu vou deixá-lo sozinho – então, Aerith se levantou – É melhor eu voltar ao bar e resgatar a Yuffie. Se precisar de qualquer coisa, estarei na antiga casa do Cid, OK?

            Ele apenas assentiu com a cabeça, e a acompanhou com os olhos enquanto ela atravessava a extensão do grande pátio do Segundo Distrito, em direção ao Terceiro. E, depois, voltou seus olhos para o céu em silêncio, querendo cada vez mais que alguma resposta viesse das estrelas e caísse milagrosamente em seu colo.

 

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            Enquanto isso, a nave Fantasia cortava o espaço em busca da Axiom.

–Eu ainda não entendi uma coisa – disse Goofy, lendo os relatos – Por que todos eles saíram do seu mundo? O que aconteceu? Algum tipo de monstro, ou algo assim?

–Não exatamente – respondeu Leene – Foi meio que culpa dos próprios habitantes. Em um certo momento, havia tanto lixo na superfície do planeta que já não era mais possível morar nele. Então toda a população foi colocada em naves como a Axiom, até que as condições do planeta voltassem a ser boas o bastante para abrigar pessoas.

–Uau... – murmurou Donald, espantado – Passamos tanto tempo lutando contra Heartless e esquecemos que as próprias pessoas podem ser tão ou mais destrutivas que eles...

–Bem, até seria simples, se fosse só isso – continuou Riku – Poderíamos levar todos para outros mundos e tudo ficaria bem. Mas os sensores estão acusando níveis absurdos de energia negra, aqui. Heartless, Nobodies... ou, talvez, a mesma onda de energia que acabou com Port Royal. Precisamos ir até lá e ver o que está acontecendo.

–Energia... – Sora arregalou os olhos – Sentimos isso em Paris! Eles devem estar em perigo, ou então...

–Os sensores permanecem estáveis – disse Kairi – Esse mapa que o Cid criou é excelente, e nos permite monitorar o estado dos mundos. E os níveis de atividade de escuridão permanecem os mesmos de quando você esteve lá.

–Não sei se posso dizer que isso é um alívio – replicou ele – Enfim, vamos nos concentrar aqui. Como vamos entrar lá? A gente pode até não levar tão a sério a regra de não-interferência, mas vamos chamar a atenção se simplesmente entrarmos e dissermos olá, não concordam?

            Eles não responderam, a princípio. Mas, depois de alguns minutos em que Donald olhava atentamente os esquemas e protocolos de informação sobre a Axiom, o mago sorriu e disse:

–Bem... acho que tenho uma idéia!

 

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–Qual é a sua, hein?

–Qual é a minha? E você ainda pergunta? Você chega aqui, faz a maior bagunça na minha oficina, quer chegar dando ordens e ainda acha que está certo? Eu estou avisando, mexa no meu trabalho outra vez e parto a sua cara em duas!

            Em Radiant Garden, o rei Mickey estava ajudando Cid a monitorar o estado dos mundos. Naquele dia, quando voltou à oficina, porém, ele ouviu ao longe uma discussão inflamada. Logo reconheceu uma das vozes, a de Cid, mas não sabia de quem era a outra. Aproximou-se lentamente da porta da sala de máquinas e perguntou, numa voz humilde:

–Cid... está tudo bem aí?

–O que foi? – então, o engenheiro e o outro homem se viraram no mesmo instante, retrucando rispidamente e o fazendo recuar. Só então ele percebeu quem era o outro: um homem alto e careca, com roupas incomuns e uma expressão de fúria.

–O que tá havendo aqui? – perguntou o camundongo, sem entender absolutamente nada.

–É esse cara! – respondeu Cid, irado – Ele chega, tenta mandar no meu trabalho e fica se intrometendo em tudo! Quem cuida daqui sou eu, entendeu? Cretino...

–Cid, acalme-se, por favor – insistiu o rei – Podemos chegar a um denominador comum...

–Não me diga pra me acalmar! – novamente, os dois responderam ao mesmo tempo.

–Espere um pouco – a cada segundo, Mickey ficava mais confuso – Quem é você, afinal de contas?

–Meu nome é Cid, oras! – disse o outro homem – Vim na Celsius com as garotas. Sou o pai da Rikku.

–O seu nome... é Cid? – ele coçou a cabeça, confuso – Isso não vai dar certo... escute, Cid – o primeiro se manifestou, mas o rei se apressou a acrescentar – Não você, o que veio na Celsius. Por favor, eu e o Cid já trabalhamos juntos há muito tempo. Vou ter que pedir para não interferir no trabalho dele. Agradecemos muito a sua ajuda, e tudo o mais, mas isso não lhe dá o direito de interferir.

–Isso mesmo, impostor! – disse o outro, triunfante – Faça o seu trabalho e fique fora do meu caminho, e todos ficam felizes. Simples, não?

–Ora, seu... – o primeiro rosnou, mas Mickey cortou a discussão, dizendo:

–Que tal deixarmos para brigar depois, hein? Cid... o primeiro, o que já estava aqui antes... preciso falar com você em particular. Pode ir até a sede do Comitê de Restauração um instante? E quanto a você, será que poderia por favor ir com as garotas até as ruínas de Port Royal? Preciso que investiguem uma coisa para mim por lá, está bem?

–Por mim, tudo bem – ele concordou, e saiu, não antes de lançar um olhar injetado de ódio na direção do outro Cid, que por sua vez o devolveu três vezes mais cáustico.

            “Era só o que me faltava...”, pensou o rei, sem acreditar no que estava acontecendo. “Como se já não bastasse toda essa confusão, agora até os aliados brigam entre si! E como assim ele também se chama Cid? Isso não vai dar certo, não vai...”

–Bem, acho que agora estamos sozinhos – suspirou Cid, irritado – O que o senhor queria falar comigo?

–Eu andei conversando com a Yuna – respondeu o rei – Estou sempre ouvindo a mesma história, todos falam de Heartless andando livremente, pessoas com medo... Está se espalhando muito rápido.

–Isso eu já sei, majestade – replicou o engenheiro – E qual é a novidade?

–Ela também disse que encontrou relatos de outras vezes em que isso aconteceu – respondeu ele, lentamente – Relatos antigos, de centenas de anos atrás. Na época não eram Heartless, mas a essência era a mesma... a escuridão crescendo e drenando cada mundo até que não sobrassem mais do que ruínas. Yuna também mencionou que, em todas as vezes que encontrou histórias assim, havia uma guerra envolvida.

–Uma guerra... – murmurou Cid, engolindo em seco – E o que fazemos? Contamos aos meninos sobre isso?

–Ainda não. Eles não precisam de mais preocupações agora. Por enquanto, vamos focar em Axiom.

            Ele concordou, em silêncio. As informações novas, apesar de úteis, eram cada vez mais perturbadoras. O tempo ia se escoando rapidamente, e eles sabiam o que estavam prestes a perder, se uma guerra realmente acontecesse. Uma guerra que, eles sabiam, não teria vencedor algum.

 

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–Ah, qual é? Você não tinha nenhuma idéia melhor, não?

            Leene protestava vigorosamente contra a forma de robô de limpeza que lhe havia sido dada por Donald. Essa era também a forma de Kairi. Riku e Sora, por sua vez, tinham a forma de robôs de manutenção, Goofy era uma empilhadeira e Donald, um mensageiro. Era um pouco desconfortável, mas ainda assim era melhor do que simplesmente aparecer do nada na nave.

–Temos alguma idéia do que vamos encontrar lá dentro? – perguntou Sora – Não podemos confiar cegamente nas leituras dos sensores.

–Para ser honesto, não – respondeu Donald – O que sabemos é que eles podem estar com problemas.

–Bem, pelo visto teremos que descobrir quando estivermos lá dentro – retorquiu Leene, despreocupada – E então, podemos ir?

            Eles seguiram em frente, e depois de algum tempo se depararam com uma nave monstruosa. De repente, os sensores ficaram completamente insanos, à medida que se aproximavam dela. Era aquilo. Só podia ser a Axiom. Eles se aproximaram um pouco mais, e então ejetaram na direção de uma pequena entrada na lateral da nave. O trajeto foi curto e muito rápido, mas um tanto turbulento.

–Sério, viagens no espaço são uma droga! – sibilou Kairi, assim que pousaram.

–Acredite, é melhor do que voar com asinhas – replicou Riku.

            Não foi difícil entrar na nave. Havia uma passagem, provavelmente usada para manutenção, e em questão de minutos todo o grupo estava num dos corredores principais. A Axiom, por dentro, parecia uma interessante mistura de colméia, cidade e shopping center. As pessoas se deslocavam em cadeiras flutuantes, e os robôs transitavam sobre trilhos. Era uma rede intricada de túneis, passagens e corredores, com telões e painéis por todos os lados.

            E, aparentemente, eles haviam chegado num momento bem agitado...

            Assim que chegaram ao corredor, eles se depararam com uma perseguição intensa. Na dianteira dela, dois robôs, um cheio de ferrugem que mais parecia uma máquina de lavar com rodas, e outro branco, com linhas arredondadas semelhantes às de um míssil. E, atrás deles, uma série de pequenos robôs de defesa.

–Mas o que tá havendo aqui? – perguntou Goofy, ao ver a confusão.

            Era difícil avaliar expressões faciais e emoções naquela forma metálica, e por isso Riku era extremamente grato. Ele sentia algo estranho vindo das paredes da nave, algo que parecia partir do coração da Axiom. A sensação era tristemente familiar.

–Sora – ele disse – Acho que sei o que está havendo. É algo no sistema central da nave.

–Como o MCP, talvez...? – ele murmurou para si mesmo – Bem, isso facilita as coisas. É só ir até lá e ensinar uma lição pra ele, e fica tudo bem!

–Não é tão simples assim – replicou Donald – Esse sistema também está mantendo todas essas pessoas vivas. Se o desligarmos, elas todas morrem.

–Bem, vamos coletar informações – disse Sora, por fim – Descobrir por que aqueles dois estavam sendo perseguidos é um bom começo. Talvez possamos conseguir algo útil com eles.

–Ah, isso vai ser fácil – disse Donald, transformando uma das mãos num pequeno cabo conector e o inserindo em um painel da parede – Isso vai nos dizer tudo o que precisamos saber!

–Desde quando você se tornou hacker, hein? – a risada de Goofy soou metálica, mas o feiticeiro o ignorou. Em alguns minutos, ele já tinha um relatório completo da situação.

–É o seguinte: essa nave tem a função de abrigar a humanidade até que o mundo de onde eles vieram se recuperem. Tudo é controlado por um computador, Auto Pilot. Ele tem a função de tomar conta de toda a nave, e de promover o retorno seguro à Terra quando ela voltar a ser habitável.

–OK, mas isso não explica toda aquela zona que tava acontecendo agora há pouco – observou Sora, pensativo – O que seria? Um motim contra o sistema central, ou algo assim?

–Não sei – disse Donald – O que sei é que todos os sistemas de vigilância da nave estão atentos para o aparecimento daqueles dois robôs que estavam sendo perseguidos.

–Certo... – disse Kairi – O que acham de procurarmos algumas pistas?

            Mas Sora já não ouvia mais. Seus olhos estavam fixos em uma das clarabóias da nave, e se perdiam em meio ao infinito de estrelas. A visibilidade da gummi ship não era boa, e ele sempre estava ocupado demais tentando desviar dos meteoros para prestar atenção no céu infinito e estrelado – uma profusão de diamantes sobre um veludo negro.

            Foi então que Riku teve uma idéia...

–Leene, Donald, Goofy, vamos sair daqui – ele sussurrou – Talvez Sora queira ter um tempinho para aproveitar a cena... se é que vocês me entendem.

–Não, estamos no meio de uma missão! – protestou Donald.

–Ah, deixe de ser ranzinza! – retrucou Leene – Acho que podemos tirar umas horinhas pra deixar o casalzinho se acertar, certo?

–Eu também concordo – disse Goofy – Não vai fazer mal deixar os dois ficarem a sós por um tempinho.

            O mago revirou os olhos, mas por fim concordou. Riku foi o porta-voz.

–Erm... eu e os outros vamos dar uma volta por aí, para reconhecer a nave... nos encontramos mais tarde, está bem?

–Mas hein? Ei, esperem! – Sora foi surpreendido por ele, mas antes que pudesse protestar, os quatro haviam desaparecido. Ele se virou para Kairi, e apesar de ser difícil dizer algo baseando-se em suas expressões metálicas, era óbvio que ela estava tão embaraçada quanto dele.

            Por um tempo, os dois ficaram se encarando, até que Kairi quebrou o silêncio, dizendo:

–É... isso bem que me parece um planinho sujo deles.

–É... – “eu vou matar o Riku... juro que vou matar o Riku, vou arrancar os olhos dele com as unhas depois dessa!”, pensava Sora, desesperado – Então... erm...

–Eu vi que você tava olhando pela janela – então, ela o interrompeu, e se aproximou da clarabóia, também – É tão lindo...

            “Pense, Sora, seu retardado mental! Pense!” A mente de Sora se esforçava para trabalhar rápido. Aquela era uma oportunidade em um milhão – e, já que os outros o haviam jogado para cima dela daquela forma tão descarada, o melhor a fazer era aproveitar a chance.

–Você quer ir lá fora? – ele perguntou, de supetão, fazendo com que ela o encarasse – Para ver mais de perto. Pense bem, agora não precisamos nos preocupar com frio ou falta de ar.

–Voar perto das estrelas... – ela murmurou, sonhadora – Seria tão mágico!

–Vamos! – ele insistiu – É só sair por uma das escotilhas de serviço!

            Ela hesitou por um instante, mas depois disse sim. Os dois andaram depressa em direção à escotilha por onde entraram e, com o apertar de alguns botões, ela se abriu. Depois do primeiro instante de incerteza, eles encararam mais uma vez o céu negro absoluto e saltaram da nave, em direção ao vazio.

            E então.... eles voaram.

 

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–Mas que droga é essa?

            A Celsius acabava de pousar no que um dia havia sido o cais de Port Royal. Agora, não havia absolutamente nada que lembrasse que, um dia, a cidade fora movimentada e agitada: tudo o que havia restado eram escombros e pedaços quebrados de navios, tudo rodeado por uma névoa densa e morosa.

–Não faz o menor sentido! – Rikku caminhava pelos destroços do cais, observando as ondas atingindo a praia languidamente – É como se não houvesse ninguém aqui há mil anos!

–É quase como... Zanarkand... – sussurrou Yuna, sem que as outras ouvissem e, depois, falou mais alto, sem tirar os olhos das ruínas – Isso não faz o menor sentido! Sabemos que a destruição foi recente, então deveria haver algum traço de ocupação humana, sei lá... e não tem nada, nenhuma ferramenta, nenhuma peça de roupa, nenhum corpo... nada.

–Isso é verdade – observou Paine, abaixando-se para procurar algo no chão – Elas não podem ter simplesmente evaporado, isso seria impossível.

–Da mesma forma que seria impossível um lugar ficar desse jeito a menos que estivesse desabitado por séculos – disse Rikku – Acho que “impossível” não é um conceito a ser considerado aqui.

–O rei me explicou sobre o que Erinia faz com os mundos – disse Yuna – Ela os envelhece, e os drena. Talvez o mesmo aconteça com as pessoas que vivem neles. Mas ainda encontraríamos algum sinal de pessoas por aqui – e, observando uma parede semicaída de perto – É como se uma onda de energia tivesse tentado varrer toda a cidade do mapa.

–Então temos uma seqüência de fatos – disse Paine – Primeiro, o mundo é invadido por uma massa imensa de Heartless, e depois algo o drena e destrói. Como os dois fatos se relacionam, então? São os Heartless que fazem isso?

            Então, Yuna olhou para o céu enevoado e encontrou algo familiar.

–Vocês procuravam evidências de ocupação humana – murmurou ela – Olhem. Reconhecem aquilo?

            Paine e Rikku olharam na direção que ela apontou, e viram pequenas luzes coloridas flutuando pelo céu. As duas engoliram em seco. Sim, elas sabiam o que era aquilo, e sabiam muito bem.

–Eu pensei que não as encontraria fora de Spira – disse Yuna, ainda olhando para as luzes – Mas, se elas existem nesse mundo também, significa que alguém morreu aqui. E eu diria que foram muitas pessoas... quem consegue fazer isso?

–Não se preocupe, Yunie – disse Rikku, decidida – O que quer que isso seja, vamos descobrir e impedir que aconteça em outros lugares! E se...

–Meninas, atenção – então, a voz de Brother se fez ouvir através do rádio – Recebi uma mensagem de uma nave. Eles disseram que tem informações importantes sobre o que houve em Port Royal... e sobre sobreviventes, também.

–Sobreviventes?! – as três disseram ao mesmo tempo, estupefatas, e Paine acrescentou – Impossível!

–Voltem para a Celsius agora mesmo – insistiu Brother – Eles estão falando sério.

–Pode pelo menos dizer qual é o nome da nave? – disse Rikku, por fim.

–Strahl. Strahl é o nome da nave...

 

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            Depois do primeiro instante de susto, a sensação de voar em gravidade zero era simplesmente inacreditável.

            Sora guiava Kairi num vôo suave, apenas rápido o suficiente para acompanhar a Axiom e não se perder dela. Ele a segurava por um dos braços, conduzindo-a. Naquele momento, desejava imensamente poder senti-la, e lamentava o fato de que aquela forma, apesar de permitir que eles pudessem ver aquela cena, também os impedisse de senti-la.

            E eles também não podiam se ouvir. Mas Sora não precisava. Na verdade, ele quase podia ver o olhar dela – fascinado, reverente, com um meio-sorriso tímido. De repente, tudo parecia muito fácil e certo, sem que houvesse a necessidade de palavras. Eles estavam lá, e o céu era a sua testemunha. Ele estava cheio de decisão e coragem – e nada, absolutamente nada, poderia estragar aquele momento.

            E foi essa coragem que o levou a se aproximar mais dela.

            Delicadamente, ele pegou as duas mãos da garota, e começou a guiá-la em uma dança delicada pelo vazio. Entre giros lentos e passos suaves, ele a conduzia com segurança e graça. Não precisava de música: a canção das estrelas de Seth ressoava em seus ouvidos, e naquele momento ela parecia mesmo a trilha sonora perfeita para aquele momento.

            Kairi, por sua vez, estava em êxtase. A visão do céu, tão de perto, já era suficiente para tirar o seu fôlego, mas nada poderia prepará-la para o que Sora estava lhe proporcionando. Mesmo que não pudesse senti-lo fisicamente, aquele gesto limitado por suas articulações metálicas lhe proporcionava a mesma sensação quente e aconchegante de carinho e proteção que o abraço dele. Nada mais existia, apenas ele, ela e todo um infinito de estrelas.

            Estrelas... ela sempre sonhou em chegar perto delas, tocá-las, até mesmo roubá-las para si. Mas, agora que estava tão perto, descobriu que havia coisas muito mais importantes, que faziam seu coração bater muito mais forte. Ela não precisava mais querer roubar as estrelas para si – agora, sempre que olhasse para elas, perceberia que tinha algo muito mais belo do que elas.

            Os olhos dos dois estavam fixos um no outro, sem se desviarem por um único instante. As estrelas que preenchiam os de Kairi agora se refletiam nos de Sora – e, vistas daquela forma, elas pareciam muito mais bonitas. E eles continuavam girando no céu, flutuando, apenas sentindo um ao outro. Sem palavras, sem nada. Eles apenas... sabiam. E isso bastava.

            Enquanto isso, da Axiom...

–Qual é o problema de vocês, hein? – sussurrava Riku, aborrecido, para Goofy, Donald e Leene, que se amontoavam em frente a uma janela para assistir ao encontro de Sora e Kairi – Não dá pra deixá-los em paz por um instante?

–Nah... e perder a chance de ver esses dois desenrolarem de vez? – rebateu Leene – Droga, Donald, quer sair da frente?

–Ah, dá um tempo! – resmungou Donald – Assim quem não consegue ver nada sou eu!

–Vocês dois estão na minha frente! – queixou-se Goofy – Não consigo ver nada daqui!

            Riku pôde ver, de relance, Sora e Kairi, ao longe, girando e flutuando livres. Sorriu intimamente, pensando que o seu planinho tinha funcionado e que, talvez, com aquilo, eles desfrutassem um pouco mais da companhia um do outro e finalmente se declarassem. E, antes que pudesse se conter, olhou de relance para Leene e, por um instante, imaginou-se com ela, do lado de fora, voando entre as estrelas também.

            E mais uma vez, agradeceu por ser de metal e não ser capaz de corar.

            Então, de repente, algo pareceu terrivelmente fora do lugar.

            A nave deu um violento solavanco, e mudou de direção muito rápido. Os quatro que estavam na escotilha da Axiom se encararam, apavorados, e foi Leene quem pôs em palavras o espanto deles:

–Sora e Kairi... eles estão lá fora...

            Então, eles olharam pela clarabóia.

            Mas não havia mais ninguém lá.

            Eles foram passando pelas clarabóias, uma a uma, tentando descobrir onde Sora e Kairi estavam. A apreensão ia ficando mais e mais forte, à medida que a velocidade da nave ia aumentando.

–Donald, o que tá acontecendo? – disse Riku, lutando para manter a voz calma. O mago, então, novamente transformou sua mão em um conector e ligou-a a um monitor.

–A nave está retornando à Terra – respondeu ele – É uma diretriz especial, ativada quando é detectada uma forma de vida no planeta. Quem faz isso é um robô especial, uma Examinadora de Vida Alienígena... Ou, se preferirem, EVA.

–Isso é bom, não é? – arriscou Riku – Eles vão voltar, tudo vai ficar bem...

–Não, esperem aí! – murmurou Donald – EVA era um dos robôs que estava sendo perseguidos. Se ela foi a responsável por ter descoberto essa forma de vida e está sendo perseguida por isso, então...

–...alguém não quer que eles voltem – concluiu Leene – Mas quem? E por que?

–O mais importante, agora, é encontrarmos Sora e Kairi – disse Goofy, por fim – A nave está muito rápida, se eles nos perderem de vista, então...

–Não vamos pensar nisso! – Riku o cortou – Eu vou lá fora tentar encontrá-los. Vocês ficam aqui e, quando eu der o sinal, abrem a porta para entrarmos.

–Não vai dar certo! – replicou Goofy – É rápido demais, você pode se soltar e se perder.

–Eu preciso tentar... – murmurou Riku. Os outros três o encararam e, depois de um segundo de hesitação, aceitaram. Antes de ele ir, porém, Leene disse:

–Você se lembra de quando estava na enfermaria? – o olhar dela era penetrante – Do que me prometeu, quando estava lá?

–Eu me lembro – ele disse. “Voltar para casa. Não morrer. Ficar ao seu lado. É claro que eu me lembro. Como poderia esquecer?”.

–É melhor você cumpri-la – ela sussurrou, a voz angustiada e feroz – É melhor você voltar. Pro seu próprio bem.

            Riku aproveitou a deixa para dar as costas e abrir a escotilha. A pressão era muito forte, e quase o arremessava para fora. Ele olhou para o espaço por um segundo. Era perigoso demais, rápido demais, e o feitiço de Donald não duraria indefinidamente. Se algo desse errado, se ele se soltasse e se perdesse da Axiom, ficaria vagando sem rumo pelo espaço até que o feitiço perdesse o efeito e ele simplesmente se desintegrasse em meio ao vácuo.

            Não. Ele não podia pensar nisso, Havia prometido a Leene que ficaria bem, e cumpriria essa promessa.

            A diferença extrema de pressão o atordoou por um instante, fazendo-o cambalear e quase cair da nave. No último instante, porém, ele conseguiu se agarrar a um cabo, e com dificuldade começou a escalar até o topo. Ele não se permitia pensar. Quanto menos pensasse, menos medo teria daquela atitude completamente estúpida e suicida que estava tomando.

            “Ah, por favor, estejam por perto!”, ele pensava, aterrorizado. Imaginar a si mesmo perdido no espaço, apenas esperando pela morte iminente que viria com o fim do prazo do feitiço, já era terrível por si só. Agora, imaginar seus maiores amigos naquela situação, era simplesmente desesperador. “Por favor, estejam em algum lugar seguro... por favor...”

            E então, quando terminou de escalar, e finalmente chegou ao topo da nave, percebeu que suas preces haviam sido atendidas. E, ao mesmo tempo, percebeu que precisaria de mais um milagre, ali.

            Ao longe, pôde ver Sora e Kairi. Eles estavam bem. Mas estavam com grandes problemas.

 

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