Tão Perto... Tão longe... escrita por Esmaryn


Capítulo 4
Irritante


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, tudo bem? Então, eu esqueci de dizer que essa história começa a partir do mangá 52 do Naruto Shippuden, por isso Sasuke ainda ta ficando cego e tals. Era só isso mesmo, boa leitura!



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A caverna ficava nos limites do país do Vento, era um lugar rochoso e bem camuflado, uma pessoa normal demoraria dias para achá-la, pois além de muito bem escondida, era protegida por genjutsus muito poderosos.

Quando chegamos, senti dois chakras distintos, eu os conhecia bem: Suigetsu e Juugo. Eles se aproximaram de nós logo na entrada. Suigetsu sorriu ao nos ver, olhou para mim e depois pousou o olhar em Sakura ao meu lado, se dirigindo até ela.

— Ooooh! Trouxe um presente para mim, Sasuke? – disse ele esticando a mão para pegar uma mecha de cabelo rosa que caía sobre o ombro dela.

Para minha surpresa, Sakura desviou rapidamente da mão dele e se posicionou atrás de mim.

— Deixe-a em paz, Suigetsu. – falei adentrando a caverna.

— Certo, certo, você viu primeiro, não é? – ele jogou as mãos para cima.

— Sasuke. – Juugo me cumprimentou com a cabeça. Eu retribuí.

Andei mais um pouco até virar no corredor que dava para meu quarto. Depois olhei para Sakura.

— É melhor você ir deitar, amanhã te explico minha situação. – tentei soar suave, mas ainda havia gelo em minha voz.

Ela assentiu e se virou para a porta do quarto, ou teria feito isso se houvesse uma porta. Fitou-me e eu suspirei. Teria que esperar Zetsu aparecer para construir outra no lugar.

— Droga!— bati o punho na parede. Não podia deixá-la ali sem porta, pois eu tinha que fazer outras coisas e eu sabia que ela era capaz de quebrar as algemas com facilidade, só não o havia feito porque eu estava junto e a teria capturado novamente.

— Não fui eu que quebrei. Foi você. — ela me olhou de modo acusativo e eu a encarei, a incredulidade estampada no meu rosto. Sakura apenas deu de ombros.

Eu respirei fundo, pensando no que fazer.

— Eu não vou fugir. Sou mais lenta e mais fraca do que você, seria burrice. — ela disse de repente. Eu a fitei e ergui uma sobrancelha. — prometo.

Por algum motivo eu senti que ela falava a verdade, então decidi confiar. Ela entrou no quarto e sentou na cama de pernas cruzadas, a encarei por mais alguns minutos antes de ir para a cozinha, onde encontrei Juugo e Suigetsu.

— O que estão fazendo aqui?

— Tobi nos mandou pra cá. – Juugo falou.

— Depois que você nos largou no encontro dos cinco Kages. – Suigetsu adicionou com veneno na voz.

— Humpf que seja. Apenas fiquem fora do meu caminho e façam o que eu mandar.

— Qual é a da garota rosa?

— Não te interessa.

— Ela é bem bonitinha... Se não a quiser, eu aceito. – Suigetsu sorriu.

— Fique longe dela seu idiota. – me sobressaltei com minhas próprias palavras. Por que eu me importava com o que ele pensava da Sakura? O único motivo para ela estar ali era para provocar Naruto e me servir como médica.

— Suigetsu, vá dormir. – Juugo disse em tom autoritário.

— Claro senhor. – falou sarcástico e se retirou do local.

— Parece que o pessoal de Konoha está procurando por ela desde que sumiu.

— Sim, eu sei. E confesso que não ligo. Logo teremos uma guerra, Juugo, uma garota sequestrada é o menor dos problemas deles.

— Isso é verdade. Mas eu não baixaria a guarda. De qualquer forma se não se importa eu vou tentar dormir um pouco.

Ele saiu da cozinha lentamente e logo eu estava sozinho, repassando o dia que eu tivera. Após meia hora – eu queria que Sakura estivesse dormindo quando eu voltasse pro quarto – eu fui me deitar, estava cansado e minha cabeça latejava um pouco, talvez fosse por causa da visão embaçada.

Zetsu aparecera depois de um tempo e concertou a porta como eu mandei, também havia trazido roupas e outras coisas para Sakura e eu me perguntei o que ela tinha que todos estavam aos pés dela.

Sakura estava dormindo como eu previra. Deitei-me a seu lado, e sem pensar enterrei meu rosto no emaranhado de cabelos róseos, respirando o cheiro doce profundamente. Quando me toquei do que estava fazendo me afastei rapidamente e virei o rosto. Com um longo suspiro fechei meus olhos.

                                                                      ***

Acordei com um peso sobre meu peito. Demorei um pouco para perceber do que se tratava: Sakura. Ela estava deitada de bruços sobre mim, a respiração lenta causando pequenas ondulações em minha camisa de algodão.

Eu pensei em retirá-la dali, mas temi que pudesse acordá-la, então apenas aproveitei a sensação de estar tão perto dela sem machucá-la ou estar bravo. Não sei ao certo porque me sentia assim, mas não questionei.

Algum tempo depois eu resolvi que devia levantar. Com cuidado eu movi a garota e a coloquei na cama lentamente. Houve um suspiro, nada mais.

Vesti-me e deixei uma muda de roupa para Sakura em cima da cômoda e fui para a cozinha. Eu me senti estranhamente revigorado aquela manhã, como se nada pudesse me abater.

Sakura’s POV

Eu não tive nenhum pesadelo aquela noite. Fiquei um tempo deitada antes de levantar, imaginando se estava ou não imaginado o cheiro de Sasuke no meu cabelo. Mas pensando bem, essa é a cama dele, claro que ficaria com o cheiro dele.

Levantei e fui para o banho, notei algo dobrado sobre o criado-mudo. Ao pegar as peças de roupa me surpreendi. Era uma blusa verde de manga e um short preto com barra. Sasuke tinha um bom gosto...

                                                                ***

Quando saí do quarto quase tive um ataque, uma vez que Juugo, um dos homens que haviam falado com Sasuke ontem, estava encostado na parede como um vigia.

— Por aqui. – ele disse num tom sem emoção.

Eu o segui até a cozinha, onde os outros dois já estavam.

— Se não é a garota rosada. – o tal de Suigetsu falou com um grande sorriso no rosto.

Sentei-me do lado de Sasuke, que não pareceu surpreso, apenas me olhou rapidamente e se voltou para o café que tinha nas mãos.

Comi silenciosamente. Suigetsu deu um sorrisinho de lado e olhou para Sasuke.

— Ela não fala nunca?

— Ela fala quando quer. – a voz de Sasuke saiu fria como água.

— Foi só uma pergunta.

— Então pergunte a ela, não a mim.

Suigetsu assobiou e me fitou.

— Diz aí, gata, como você o suporta?

Ergui uma sobrancelha.

— O que foi?

— Primeiro: não me chame de “gata”, segundo: não se deve falar com os prisioneiros, - olhei de canto para Sasuke antes de continuar - terceiro: Não tenho a mínima vontade de falar com você, pois mesmo não te conhecendo, já não gosto de você.

— Uau, você tem um gênio forte. – ele disse mais para si mesmo.

Ao meu lado eu vi Sasuke dar um sorrisinho de canto, como se isso o divertisse de algum modo.

— Podia ter me avisado. – falou para Sasuke.

— Sim, podia. – disse simplesmente, depois se virou para mim – termine de comer e venha até o laboratório. – se levantou e foi embora.

— Ele fala assim com você e pra ele você não diz nada? – Suigetsu disse pra mim.

Não consegui evitar dar um sorrisinho, afinal eu o tratei daquele jeito para me divertir e confesso que me senti mal, ele não parece ser um cara mal.

Terminei de comer e fui encontrar Sasuke no laboratório. Ele estava sentado sobre o catre no centro da pequena sala.

— Mangekyou Sharingan. – falou assim que eu fechei a porta.

— O quê?

— É o que está me deixando cego, Mangekyou Sharingan. – ele me contou rapidamente como havia conseguido os poderes e quando percebeu que sua visão estava falhando. Confesso que ver Sasuke falando tanto me deixou desconcertada. Apenas escutei em silencio quando ele contou sobre o antídoto, que consistia em um transplante de olhos – no caso os olhos de Itachi – e que as ervas que ele comprara na loja só serviriam para diminuir o processo de cegueira.

— Entendi. – falei quando ele acabou e peguei as coisas.

Comecei tentando prender meu longo cabelo, mas sem um elástico ou bandana era difícil.

— Use isso. – Sasuke me ofereceu a tira de elástico que ele usava para prender a luva sem dedos da mão direita.

— Obrigada. – senti que estava ruborizando e desviei o olhar.

Lavei as mãos e comecei a examinar o que ele havia comprado, calculei rapidamente a quantidade certa para cada coisa e comecei a trabalhar. Sasuke me olhava com uma curiosidade contida, me fazendo ficar menos à vontade ainda.

Quando terminei olhei para ele e disse:

— Você terá de ficar com os olhos em repouso por alguns dias.

Dias?

— Bem... Sim, se não está enxergando...

— Eu ainda posso enxergar. Não exatamente bem. Mas posso ver silhuetas e cores. – ele me encarou por um longo tempo antes de continuar – consigo enxergar o rosa vibrante do seu cabelo, assim como o verde dos seus olhos...

Ele se conteve e balançou a cabeça como se quisesse se livrar de algo. Eu fiquei meio boquiaberta por escutá-lo soando tão suave e leve, nem parecia o cara que me atacara ontem.

— S-Se pode enxergar isso, então bastam algumas horas para o remédio fazer algum efeito.

Ele não disse nada. Então eu peguei o remédio de coloração amarelada e fui em direção a Sasuke. Ele deitou sobre o catre.

— Mantenha os olhos abertos, vai doer um pouco, mas vou tentar amenizar com meu chakra. – falei apoiando a mão esquerda no rosto dele, que apenas assentiu e fixou o olhar no teto.

Concentrei meu chakra verde e pinguei o remédio em seus olhos. Sasuke não se moveu, era incrível a capacidade que ele tinha de se manter calmo e controlado. Quando acabei, falei:

— Agora feche. Não os abra de jeito nenhum. Tem algo que eu possa usar para fazer uma fazer uma venda?

— Tem uma camisa minha no armário, rasgue-a se preciso.

Fiz o que ele disse. Usei apenas uma tira da camisa preta de algodão para fazer a venda.

— Pronto. Eu aconselharia ficar deitado... – mas duvido que vá me ouvir, acrescentei mentalmente.

— Prometa que não fugirá.

Demorei um minuto para assimilar, pois mesmo que houvesse gelo na voz dele, também havia um pingo de... Ansiedade... Ou seria desespero?

— Prometa! – ordenou.

— P-Prometo... Não vou fugir.

                                                                ***

Ele já estava deitado, permanecia tão imóvel, que se não fosse pelo levantar e abaixar do peito, eu diria que estava morto. O pensamento me fez estremecer, livrei-me dele. Eu decidira ficar perto de Sasuke enquanto o remédio fazia efeito, talvez ele ficasse mais tranquilo a meu respeito.

Eu tentei contar o tempo que eu já estava ali, mas foi meio difícil, mesmo assim eu diria que se passaram umas duas horas. Ele continuava imóvel, até que expirou pesadamente e eu voltei toda minha atenção para ele.

— Está com dor? – sussurrei.

— Não.

Cerca de um minuto se passou até ele continuar.

— Por que você não vai para a cozinha? Diga ao Juugo que eu o mandei ficar de olho em você.

— Sou eu que tenho que ficar de olho em você. – dei um sorriso largo – incrível como o mundo é irônico, não é? Uma hora você está me arrastando por aí na sua algema e na outra está acamado sob meu comando.

— Você não comanda nada. – ele disse claramente irritado – posso sair daqui a hora que eu quiser. – e com essa frase ele começou a se levantar, porém pareceu desnorteado e voltou a deitar.

— Ah, esqueci de dizer que um dos efeitos colaterais desse antídoto é tontura.

Um resmungo baixo atravessou seus lábios e ele virou de costas pra mim. Era a primeira vez que eu via Sasuke agindo feito criança, e confesso que resisti ao impulso de rir alto. Não parecia nem um pouco com o homem ameaçador da primeira noite.

Levantei e fui para a porta, deixando Sasuke sozinho. Como na ultima vez, Juugo montava guarda na porta do quarto, eu não tinha notado antes, mas ele é bem maior que Sasuke, e as feições acentuadas o fazem parecer, com certeza, mais velho do que realmente é. E é um pouco assustador também, é o tipo de pessoas que eu jamais teria me aproximado por livre e espontânea vontade.

— Oi. – eu olhei para ele meio relutante. Precisava erguer quase completamente o queixo para olhar em seus olhos.

— Está indo para a cozinha? – para minha surpresa a voz dele era incrivelmente calma.

— Estou.

Ele gesticulou para eu ir à frente, seguimos silenciosamente até a cozinha, que estava vazia.

— Você quer algo? – ele perguntou.

— Sasuke me mandou pra cá, acho que ele queria dormir.

— Ele é complicado.

— Então por que segue ele? Digo você pode ir embora quando quiser.

— Motivos pessoas.

— Certo, desculpe. – me sentei à mesa.

— Suigetsu te acha interessante. – ele disse sem nenhuma emoção e se sentou também.

— Ele pode achar o que quiser, eu não ligo.

— Falando de mim pelas costas, Garota Rosa? – a voz animada de Suigetsu invadiu a cozinha.

Em seguida ele apareceu na porta larga de pedra e sorriu.

— Juugo, sua vez de vigiar a entrada. Zetsu foi buscar algumas coisas... Às vezes eu tenho um pouco de dó dele, parece que nunca descansa. – essa última parte ele acrescentou mais para ele mesmo.

— Você cuida dela então. - Juugo se levantou e gesticulou para mim. Depois sumiu pela porta.

Suigetsu sentou à minha frente, sua face meio corada e um pequeno sorriso brincava em seus lábios.

— Sasuke te expulsou do quarto?

— Não exatamente. – falei.

— Ele é assim mesmo, mas depois de um tempo você acostuma.

— Eu sei, mesmo ele estando diferente agora, continua sendo o Sasuke.

— Você já o conhecia? – ele pareceu surpreso.

— Sim, éramos companheiros de time em Konoha, junto com Naruto e Kakashi-sensei.

— Ah. – ele ruborizou um pouco antes de continuar. – olha, eu sei que não causei uma boa impressão ontem, mas...

— Tudo bem, eu só estava meio nervosa com essa coisa toda de ser prisioneira.

Algo pareceu se acender na face dele e o fez sorrir mais ainda.

— Só o Sasuke te vê como prisioneira, mas mesmo assim não te trata como uma, trata?

— Desculpa, não entendi.

— É que prisioneiros não têm direito a banho, comida na mesa, cama para dormir, sem falar de passeios pela cidade.

— Presa com uma algema você quer dizer.

— Isso é um detalhe. Mas diga se não é verdade o que eu disse?

— Bem, pensando por esse lado...

— Pois é, mas mesmo assim continue fingindo que é prisioneira do Sasuke, senão ele me mata.

— Ok. – sorri. Era bom ter alguém com quem conversar, já que os dias de silencio ao lado de Sasuke foram horríveis. - mudando de assunto... Você sabe quando aquele Tobi vai voltar? Preciso fazer o transplante no Sasuke logo, ou ele pode perder a visão totalmente.

— Eu não sei, mas não acho que ele vá demorar. Sasuke é a peça fundamental para os planos dele darem certo, duvido que ele o deixaria perder a visão.   

— Planos dele? O que ele quer com o Sasuke?

— Nem eu sei.

Ele me olhou sério, e nesse momento Juugo entrou na cozinha, estava calmo, mas seus olhos tinham algo que eu não pude identificar.

— Sakura, eu acho que o Sasuke está sentindo dor. Acabei de passar pelo quarto e o ouvi gemer.

— Acho que foi por isso que ele mandou você sair do quarto, pra que você não o visse com o orgulho perfurado. – Suigetsu falou.

— Tem algo para fazer chá? – perguntei a Juugo. Tinha quase certeza de que Sasuke estava com dor de cabeça, o remédio causava isso também, era uma benção e uma maldição. A dor de cabeça só iria piorar.

— Do que você precisa?

— Gengibre, limão e hortelã.

— Já volto.

E com isso ele saiu da cozinha, eu me voltei para o pequeno fogão à lenha que tinha ali e comecei a acender o fogo.

— Pode usar isso. – Suigetsu me deu uma panela já com água dentro.

— Obrigada, Suigetsu-kun. – ele ruborizou um pouco e se voltou para a mesa.

Quando Juugo voltou, estava com o que eu havia pedido e mais algumas coisas, tipo: frutas, legumes, verduras e sucos em lata.

Eu preparei o chá rapidamente e servi em uma caneca que eu encontrara por ali.

Segui para o quarto de Sasuke. Ele estava deitado, uma das mãos por cima da venda preta, parecia desconfortável.

— Sasuke-kun. – falei ao fechar a porta atrás de mim. Ele moveu a mão de volta para o colchão rapidamente.

— Pensei que tivesse mandado você ir pra cozinha.

— Você não está se sentindo bem. – me aproximei da cama.

— Estou sim.

— Não foi uma pergunta, Sasuke-kun.

Concentrei meu chakra na palma da mão e toquei seu rosto gentilmente, do mesmo modo que havia feito nas outras vezes, mas dessa vez foi diferente, pois ele não esperava por isso e se sobressaltou um pouco com meu toque, mas logo se recuperou.

A maciez da pele dele era incrível. Eu jamais havia visto um homem tão lindo quanto Sasuke, e não digo isso por amá-lo, e sim porque é verdade. Ele parecia ter sido esculpido... Sem pensar eu acariciei sua bochecha, aproveitando a sensação do toque.

Só me toquei do que estava fazendo quando ele levantou a mão e segurou meu pulso.

— Desculpe. – falei esperando que ele retirasse minha mão dali ruidosamente.

Mas não o fez, ao invés disso ficou segurando-a ali, no rosto dele, como se gostasse do meu toque. Ele fez menção de que ia dizer algo, mas ficou quieto. Eu havia começado a ruborizar e agradeci silenciosamente que Sasuke não pudesse ver.

— E-Eu fiz chá pra você. – falei baixinho, tentando manter a voz firme.

Ele afrouxou a mão e eu retirei a minha lentamente, aproveitando uma última vez a suavidade de sua pele. Mesmo estando escuro no quarto, eu pude perceber um tom rosa atingir as bochechas de Sasuke, mas ele continuou calado e parado.

— P-Pode se sentar? Acho que a tontura já deve ter passado. – falei pegando a xícara.

Assim que ele se sentou na cama eu entreguei-lhe o chá. Observei calmamente enquanto ele tomava. Era tudo tão confuso, ainda ontem nós estávamos quase nos matando, e agora está tão pacifico...

— Quando vou poder tirar isso? – falou em seu habitual tom frio.

— Daqui a quatro horas.

Ele emitiu um ruído baixo e me entregou a xícara.

— Bem, se sua cabeça não estiver doendo tanto, pode sair da cama.

Ele apenas assentiu e pôs as pernas para fora da cama, ficou sentado um momento, e eu imaginei se estava cogitando a ideia de voltar a se deitar, mas ele levantou, sem precisar de ajuda nem nada.

Eu fiz o possível para guiá-lo, evitando tocá-lo. Mas no fim ele achou o caminho sozinho. A cozinha estava vazia, ajudei Sasuke a se sentar numa cadeira e me sentei de frente pra ele, pegando uma maçã e mordendo.

— Está com fome? – perguntei.

— Não... – e nesse momento seu estômago roncou alto e eu sorri discretamente. – Não muito.

— Toma. – coloquei a maçã em sua mão. – será que eu posso usar algumas coisas para fazer o almoço?

— Zetsu trará almoço pra nós.

— Isso é crueldade, fazê-lo ficar indo e voltando.

— Você não tem direito a expressão. – ele entortou um pouco a boca em uma careta.

Franzi o cenho e o fitei.

— Eu falei para ele não ir. – disse, mesmo sendo mentira, mas eu senti uma vontade única de perturbar Sasuke.

— O quê?

— É brincadeira. – falei notando a veia que pulsava em sua testa; era bom não deixá-lo mais irritado ou a dor na cabeça podia voltar, então contive meu impulso de atormentá-lo.

— Irritante. – ele disse serrando os punhos sobre a mesa.

— O quê?

— Você é irritante. — colocou os indicadores nas têmporas.

Meu coração se apertou, eram as mesmas palavras que ele havia me dito quando fora embora da vila, e por mais que fizesse tempo, ainda soavam da mesma maneira, como se ele não medisse esforços para dizê-las, ou simplesmente não se importasse se ia ou não me magoar... Meus olhos umedeceram e eu contive a vontade de chorar, até porque seria algo ridículo de se fazer, ele só havia me chamado de irritante, mas o peso na voz... A frieza...

— Sakura-chan? Está me ouvindo? – alguém tocou meu ombro. Suigetsu. Eu nem havia percebido que ele tinha entrado na cozinha.

— Desculpe, o que você disse? – evitei olhar em seus olhos, uma vez que os meus ainda estavam molhados.

— Eu perguntei se você está bem, parecia meio perdida.

— Sim, eu estou bem, obrigada.

— Humm. – eu sabia que ele não se convencera da minha resposta, entretanto optou por deixar de lado e se sentou a mesa conosco. – Zetsu está demorando, não?

— Um pouco...

— Sakura-chan, você sabe cozinhar?

— Um pouco.

— Mas ela não vai cozinhar. – Sasuke falou.

— Por que não? Eu to morrendo de fome. – Suigetsu franziu a testa para Sasuke.

— Porque não! Eu disse que não.

— Você é muito estraga prazeres, parece um velho de noventa anos.

Sasuke resmungou algo ininteligível e depois cruzou os braços no peito.

— Certo, Sakura, cozinhe. – havia desdém em sua voz.

— Você podia ser mais gentil. – Suigetsu falou fechando a cara.

— Cala a boca. – uma veia saltou na testa de Sasuke.

— Por você ser tão ridículo que a Karin foi embora.

— Ela não foi embora. Eu a matei. – um sorriso de lado apareceu nos lábios de Sasuke, eu estremeci com a tensão que havia tomado o lugar. – ela era inútil, o bastante para eu perceber que não serviria para me ajudar.

Suigetsu estava perplexo, encarando o rosto mascarado de Sasuke. Havia um pouco de dor em seus olhos lilases, e eu senti pena dele.

— Qual é o seu problema? – ele sussurrou.

De repente eu me lembrei da garota na ponte, a ruiva que eu havia curado, eu sabia que devia dizer para Suigetsu que ela não estava morta, pois sabia que o agradaria, mas não podia, não com Sasuke ali, sorrindo glorioso, como se tivesse possuído todo o poder do mundo. E mais uma vez, eu senti nitidamente o monstro que Sasuke afirmava ser.

 Suigetsu se levantou.

— Suigetsu-kun...

— Te vejo depois, Sakura-chan. – ele tentou sorrir, mas logo desistiu e se retirou.

— Não vai cozinhar? – Sasuke falou após um momento de silencio.

— V-Vou. – fui para o fogão e separei as coisas que Juugo havia trazido mais cedo.

Sasuke não me atrapalhou enquanto eu cozinhava, e de algum modo eu me senti bem fazendo aquilo, era quase familiar.

Cerca de meia hora depois Zetsu apareceu trazendo peixe fresco, temperos e arroz.

Fervi os legumes para fazer um curry e em seguida cortei o peixe em fatias, temperei e fritei, fiz o arroz levemente temperado. Usei umas frutas para fazer uma salada de sobremesa. E por fim fiz um suco natural.

— Pronto. – falei pra Sasuke. – eu vou chamar os outros. – disse relutante, mas ele só assentiu.

Juugo, Suigetsu e Zetsu estavam na entrada da caverna, eu sorri para eles.

— Esse cheiro bom é sua comida? – Suigetsu sorriu; aparentemente ele já estava mais tranquilo.

— Vamos comer. – eu sorri e eles me seguiram.

Eu coloquei toda a comida na mesa, servi todos e depois coloquei para mim.

— Isso está maravilhoso, Sakura-chan! – Suigetsu falou.

— Mesmo não sendo um humano de verdade, eu posso dizer que isso está muito bom. — Zetsu falou.

— Eu não sabia que você comia. – Suigetsu disse.

— Você tem um dom Sakura. – Juugo falou.

— Obrigada. – sorri e olhei para Sasuke, que estava do meu lado.

Ele parecia irritado com algo, e eu logo notei o que era: estava com dificuldade para acertar o prato e cortar o peixe, uma vez que estava cego.

— Sasuke-kun, eu ajudo você. – falei suavemente enquanto colocava minhas mãos sobre as dele e pegava os talheres.

Ele não se moveu, mas mesmo assim pareceu desconfortável com a situação. Eu podia sentir o olhar dos outros sobre nós e tentei ignorar, pois sabia que meu rosto estava ganhando um tom escarlate.

Cortei um pedaço do peixe e quando eu ia levá-lo para a boca de Sasuke, este levantou da cadeira como se algo o tivesse espetado e andou para a saída, parando na porta.

— Eu não preciso da sua ajuda. – falou sem se virar. Depois sumiu no corredor escuro.

Senti a bile subir por minha garganta e engoli em seco. Como eu pude ser tão estúpida? Achando que ele aceitaria algo assim, que insensatez... E agora eu estava ali, parada e com os olhos marejados, exatamente como estava algumas horas antes, quando Sasuke me chamara de irritante. Mas dessa vez era pior. Eu tinha uma plateia.

Alguém tocou minhas mãos – que ainda seguravam os talheres no ar – e as abaixou lentamente. Levantei o olhar, esperando encontrar Suigetsu, mas, para minha surpresa, era Juugo, tinha um olhar um tanto caridoso. Eu queria dizer para ele não se preocupar comigo, mas tudo que saiu foi:

— Eu só queria ajudar...

— Eu sei. Mas Sasuke é orgulhoso demais para aceitar esse tipo de ajuda.

— Você é legal, Sakura-chan, acho que é a pessoas mais gentil com quem Sasuke já se envolveu por isso ele não sabe lidar com você.

Assenti enquanto Suigetsu se sentava onde Sasuke estava. Nós comemos em silencio, eu quase não sentia o gosto da comida. A cada dia que eu passava nesse lugar me sentia mais vazia por dentro, como se de algum modo, minha felicidade estivesse sendo sugada.


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Notas finais do capítulo

Estão gostando ou acham que preciso melhorar em alguma coisa? Aceito comentários rsrs
Beijos, até o próximo.