E se fosse diferente...? escrita por Klara Valdez


Capítulo 8
Capítulo 7




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— Annabeth, preciso falar com você.
Ártemis se aproxima de nós.
— Eu disse que ela passou tempo demais lá em cima — Sabrina cochicha para uma das meninas. Reviro os olhos.
— Sim Lady Ártemis — ela entra na loja que acabamos de sair e eu a sigo. Todas caçadoras permanecem do lado de fora.
Olho para trás antes de entrar e Thalia me lança um sorriso apreensivo.
Ártemis se senta numa cadeira no centro da loja e me sento do seu lado. Tudo ainda estava meio escuro.
— Minha senhora, se for sobre o que houve lá em cima, foi apenas um abraço e...
— Você não fez nada de errado minha querida, é que... Eu não sei como te dizer isso.
Ela fecha os olhos e pensa por um instante. Quando abre os olhos eu vejo algo que eu nunca vi nos olhos de um deus. Obrigação.
Quando um deus diz "eu não queria fazer isso, mas...", não é verdade, ele queria mesmo fazer isso. Geralmente deuses não são obrigados a fazer nada, principalmente em algo que diz respeito apenas a ele. No caso de Ártemis, as caçadoras.
Ela estava sendo obrigada a fazer algo, dava pra ver que ela não queria fazer isso. Eu não conhecia Ártemis muito bem, mas ela era uma das deusas mais humanas do Olimpo.
— Annabeth, você sabe que você é uma das minhas melhores caçadoras, e que eu odiaria perder você, mas... — ela pega a minha mão — Você tem que sair da caçada.
Eu acho que não entendi o que ela falou. Acho que eu estou meio atordoada.
Fico um tempo pensando bem nas palavras que ela disse e percebo que eu não entendi errado.
— Por que? O que tá acontecendo? Ninguém pode te obrigar a me tirar da caçada!
— Você está certa Annabeth, ninguém pode. A menos que ameace o resto das garotas.
Paro um tempo para pensar. Ameaçar as outras garotas? Por que alguém faria isso só pra me tirar da caçada?
— Por que?
— Eu não sei ao certo, mas ela não quer que...
— Ela quem?! — Ártemis me olha com dureza por eu ter interrompido, olho pra baixo e peço desculpas.
— É exatamente isso que eu ia falar. Ela não quer que você saiba quem ela é, ou ela cumprirá a ameaça de qualquer jeito.
— É uma deusa, não? — só uma deusa para poder ameaçar outra.
Isso era estranho. “Deuses não podem interferir”, não podem? Acho que estão interferindo sim. Na minha vida!
— Sim. Eu sinto muito Annabeth — ela fez um gesto com a mão e me senti extremamente cansada — Eu tirei sua imortalidade e agora você está livre do seu compromisso — sinto um pouco de arrependimento na sua voz — Me desculpe novamente, mas entre perder uma caçadora e perder todas eu...
— Eu entendo — me levanto e tiro o casaco prateado, dou ele para ela e saio da loja sem olhar para trás.
— Annabeth, o que ouve? — Thalia curiosa e vem até mim.
— Eu sai da caçada — falo sem enrolar.
— O que? Não! — Meg vem e segura meus ombros — Você não pode ir embora! — ela me dá uma leve chacoalhada.
— Eu disse que ela fez besteira — Sabrina fala.
— Cala a boca Sabrina, ninguém liga pra o que você diz! — Thalia fala. A garota fica vermelha, não sei se de raiva ou vergonha.
— Não se preocupe Annabeth — Ártemis chega do meu lado — Já está quase anoitecendo e pedi ao meu irmão para te levar ao acampamento.
Todas as caçadoras saíram reclamando e eu sorri. Elas não gostavam dele porque ele sempre as paquerava, mas ele nunca fez isso comigo. Ele me tratava como uma amiga, e eu achava engraçado o jeito que ele tentava levar as meninas pro lado negro da força.
O céu começou a adquirir uns tons de rosa e laranja, o sol estava se pondo.
— E lá vem ele... — Meg revira os olhos.
Olho para o mesmo lugar que ela olhava e vejo um ponto brilhante ficar cada vez maior.
Fecho os olhos pela claridade. Senti o ar ficar mais quente e o calor dominar meu corpo. Saudades do meu casaco... A claridade era tão forte que passava pelas minhas pálpebras, mas de repente ela some.
Abro os olhos e vejo uma Lamborghini preta a alguns metros de nós. Havia alguns papéis e jornais pegando fogo perto do carro, o que deixava claro que era a carruagem de Apolo.
Imagine um garoto de uns 17 anos lindo e loiro saindo daquele carro, esse garoto era muito mais bonito do que o cara que você imaginou. Ele vem até nós com um sorriso colgate no rosto.
— Como vai irmãzinha? — Ártemis revira os olhos, ela desistiu de contradizer o seu apelido a muito tempo.
— Preciso de um favor.
— Sempre... — Apolo murmurou. Ártemis o olhou com dureza e tossiu.
— Preciso que leve Annabeth até o acampamento.
— Tudo bem... E aí Annabeth? Quais as novidades? — ele põe o braço em volta dos meus ombros.
— Não sou mais caçadora.
— Ou... Quer dizer que eu tenho chance com você? — ele sorri pra mim de um jeito sedutor que me faz rir. Ele não estava falando sério.
— Pare com suas gracinhas Apolo e faça o que eu pedi.
Apolo da língua para irmã, como uma criança de cinco anos, e faz sinal para que eu entre no carro e se curva na frente das caçadoras.
— Desculpe minhas lindas, mas hoje eu não tenho tempo para vocês — ele vai pra perto da porta do carro — Mas, por favor, não chorem por isso — ele solta um beijo e entra no carro.
— Não vai entrar loirinha? — ele pergunta lá de dentro.
Entro e olho tudo em volta. Era meio surreal eu estar dentro de um carro tão caro como esse.
— Eu sei, ele é um máximo! — Apolo ri da minha cara de admiração.
— Nunca tinha entrado num carro como esse...
— Fico honrado por ser seu primeiro — olho pra ele e ele faz uma cara maliciosa que me faz rir — Ok... Acampamento Meio-Sangue.
O carro sobe como um avião para o céu e quando ele alcança a altura desejada, aumenta a velocidade, me fazendo colar as costas no banco.
Aos poucos fui me acostumando e comecei a olhar o oceano lá embaixo. Quem diria, eu estou atravessando o Oceano Atlântico de carro. Solto uma risada com esse pensamento.
— Então... O que você fez mocinha?
Olho para Apolo meio confusa. Ele reformula a frase.
— Você não é mais caçadora...
— Ah! Bem, não é culpa da sua irmã, nem culpa minha... Eu acho. É complicado...
— Entendo.
Não, ele não entendia. Eu também não queria explicar, sei o que aconteceria. A notícia se espalharia como fogo, mas não de eu não ser mais caçadora, e sim de alguém ter chantageado Ártemis para me tirar da caçada. E eu acho que Ártemis não iria gostar muito disso.
A viagem foi tranquila, silenciosa. Eu gosto de silêncio, de ficar na minha mente, observar em volta enquanto penso.
Eu olhava o Oceano, há um tempo atrás, se eu olhasse o oceano, só pensaria que era um monte de água salgada, mas agora eu pensava nele... eu o tinha esquecido, mas ele voltou na minha mente quando me salvou. Ok, esquecido eu não tinha, só não pensava mais nele com tanta frequência.
Tentei me distrair olhando um navio que passou, mas foi tão rápido que não adiantou.
— Estamos chegando.
Olho pra frente e, bem no horizonte, vejo terra. Consigo ver a Estátua da Liberdade, conseguia ver as luzes da cidade que não dormia. Deuses, quanto tempo que eu não venho a essa cidade.
Começamos a passar por cima de Nova York e suspiro ao ver tudo aquilo de cima. E passamos por ela... Pera, o que?
Apolo faz uma curva brusca e bato a cabeça na janela de vidro. Acho que vai ficar um pequeno galo na minha testa.
— Foi mal, caminho errado. Piloto automático sabe, noites em Las Vegas...
Massageio a testa e me afasto um pouco da janela, continuo olhando lá fora e vejo uma estrada e árvores. Estávamos muito perto.
Fecho os olhos. Eu iria ver todo mundo depois de cinco anos. É, nesses cinco anos as caçadoras não foram ao acampamento, não que elas precisassem.
Sinto o carro começar a descer e abro os olhos. Nós íamos descer no meio do acampamento, no espaço mais livre. Talvez para não incendiar tudo, é uma coisa bem legal de se evitar.
O carro pousou, vi que estava deserto a nossa volta, todos deveriam estar nas suas atividades diárias.
— Obrigada.
— De nada loirinha, mas eu agradeceria se você descesse agora, porque acho que ainda dá tempo de dar uma passada em Las Vegas.
Rio e saio do carro. Eu conseguia sentir o calor da grama através dos meus tênis e alguns raminhos queimaram por causa do carro.
Apolo espera eu me afastar um pouco dele para subir novamente. E vejo o carro brilhar no escuro do céu como uma estrela cadente.
Corro até o chalé 8. Eu me sentia meio desapontada por sair da caçada, mas feliz por voltar para casa, minha casa.

Entro no chalé e começo a arrumar minhas coisas numa mochila. Eu voltaria ao meu antigo chalé, eu não perderia nem mais um segundo. Senti um sorriso crescer no meu rosto, eu voltaria para o meu chalé.

Há muitos pontos negativos de eu sair da caçada, principalmente, contra a minha vontade, mas eu estava feliz por estar de volta.
No caminho que fiz do chalé 8 até o chalé 6, eu lembrei de quando Atena me reconheceu como filha e fui para esse chalé. Eu não tinha passado nem uma noite no chalé de Hermes, fui reconhecida como filha de Atena do dia que cheguei. Eu estava meio assustada no dia com Thalia e tudo que aconteceu e queria ficar com Luke, mas esse chalé me acolheu tão bem que não tive do que reclamar.
Entrei no chalé e fui direto para o meu antigo beliche. Joguei a mochila nele e me joguei junto. Senti saudades dessa cama, tão confortável... Cinco anos dormindo em sacos de dormir, tá pensando o quê.
Não que eu não gostasse do acampamento que a gente montava, mas nada pode competir com uma cama confortável e quentinha.
— Annabeth? — escuto uma voz depois da porta ser aberta.
Eu reconheci a voz, mas não a pessoa. Era Alice, mas não parecia Alice. Os cabelos longos dela foram cortados no ombro e estavam lisos. Ao seu lado havia um garoto.
Malcolm.
Ele não tinha mudado muito, apenas uma cicatriz meio feia na parte direita da testa e seu rosto parecia mais maduro e... Aquilo era uma barba?
— Oi! — me levanto e vou até eles correndo.
Estranho... Eles pareciam mais altos.
— Como que tá, baixinha? — Malcolm fala e ri, faço careta.
— Eu tô bem. Vocês tão diferentes.
— É né, quase 22 anos. Nós tínhamos que estar diferentes — diz Alice.
— Espera aí... — Malcolm interrompe — O que tá fazendo aqui? Quer dizer, não que eu não tenha gostado de você ter aparecido, mas... Porque?
— Acho melhor vocês sentarem...


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