Ressaca escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 2
Ficlet 2


Notas iniciais do capítulo

Não faço ideia de onde esse surto vai me levar, mas bora lá.



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— Desculpa. - disse Milo, ainda em cima do outro cavaleiro.

— Tudo bem. - respondeu, depois de um longo suspiro.

Sua boca tinha um gosto ácido, a garganta doía. Mas não se moveu mantendo a cabeça baixa, temia se sentir ruim de novo se movesse. E além disso, o calor do corpo do outro estava confortável, Camus não parecia incomodado com seu peso ou contato. Respirou fundo e lambeu os lábios.

— Se eu disse… - parou e mordeu o lábio inferior, “além do que acabei de dizer”, completou mentalmente - Ou fiz alguma coisa, por favor me perdoe.

Sentiu o cavaleiro de Aquário ficar tenso e ficou alguns segundos em silêncio antes falar.

— Milo, do que você se lembra?

O cavaleiro de Escorpião apoiou um cotovelo na borda da cama e apertou os olhos, do que ele lembrava…

oOo

Era a festa da Fundação Kido em um dos hotéis mais luxuosos de Atenas, entre os convidados haviam homens com muita grana e influência política. Saori Kido os havia transformado em garotos propaganda do Santuário? Não via sentido em bebericar e conversar com pessoas poderosas da Europa que podiam financiar as obras nos domínios da deusa Athena. Não que o Santuário não tivesse a ver com quase todos os governos do mundo, mas eram assuntos que mais diziam respeito ao Patriarca.

De missões perigosas a politicagem. Não fora pra isso que passara anos treinando e pleiteando a armadura de ouro de Escorpião. E muito menos queria concorrer ao cargo de Patriarca, era muito problema para lidar. Deixou uma taça vazia em uma bandeja que passava por si e pegou outra cheia, bebendo o conteúdo em um gole.

Do outro lado do salão, viu Camus desviar seu olhar de um grupo de pessoas que conversavam para encará-lo como que o advertindo. Milo teve vontade de virar os olhos para cima. Não bastava ele ter de desfilar de terno em uma festa de gala, sorrir para pessoas que não conhecia e não fazia questão de conhecer, tinha um francês no seu pé toda vez que colocava álcool na boca.

“Dê-me uma missão nos confins do mundo, pelo amor dos deuses…”

O cavaleiro de Aquário voltou a dar atenção para o grupo de velhos e mulheres elegantemente vestidos, sorrindo de um jeito aristocrático. Talvez Camus pudesse se candidatar ao posto de Grande Mestre, parecia pertencer àquele mundo de aparências e sorrisos polidos. O terno caía-lhe muito bem, parecia estar confortável na vestimenta, colocando a mão nos bolsos. Já Milo queria arrancar a gravata que o incomodava terrivelmente.

Bem, se Camus estava bastante ocupado, ele também podia procurar uma distração antes que enlouquecesse. Decidiu aventurar-se. Havia ouvido muito sobre aquele hotel, principalmente… Abriu um enorme sorriso, encontrando o cassino.

oOo

Lembrava-se de ter jogado cartas, dados, apostando na roleta… Aliás, nessa última ele tinha feito bastante sucesso, não sabia quanto tempo ficou, só que aparecia muitas pessoas o instigando a continuar e mandava que as bebidas não parassem de lhe serem servidas.

— Hum… Eu ganhei bastante dinheiro. - murmurou.

— E…?

— Descobri que sou muito bom nisso! - soltou uma risada, pra logo voltar a baixar a cabeça com uma nova onda de dor.

— Okay, basta. - disse Camus, parecendo bastante irritado - Sai de cima de mim. - comandou com voz seca.

Confuso, Milo ergueu-se com muita dificuldade. Camus empurrou-o sem paciência. Observou-o como se estivesse em um sonho, o francês resmungava coisas que não conseguia entender, colocando os sapatos e pescando a gravata e o terno de uma cadeira.

— Não se preocupe que falarei com Saori sobre levá-lo a esse tipo de evento. - disse antes de bater a porta.

O som soou como uma martelada na sua cabeça pesada e dolorida. Ficou encarando a porta cerrada por longos segundos, piscou lentamente. Por que estava tão nervoso com ele?

Certo, tinha apostado. Mais uma das posturas que Camus condenava para sua longa lista. Deslizou para fora da cama, indo pesadamente até o banheiro. Parecia que seu estômago tinha lhe dado trégua. Enfiou-se debaixo da ducha fria e ficou ali de olhos fechados.

Mas Camus não parecia nervoso quando o observara acordar. Parecia estar bastante confortável, apesar de ter-lhe obviamente feito carregá-lo até seu quarto e chegado ao ponto de aprontá-lo para dormir. Veio a sua mente a visão da face pálida e tranquila ficando ruborizada, os olhos escurecidos e os lábios entreabertos em expectativa. Era a visão que tinha até então apenas nos seus sonhos.

“Milo, do que você se lembra?”

Abriu os olhos azuis de súbito, finalmente parecendo acordar. Amaldiçoou em grego tão alto que sua voz reverberou pelo banheiro. Havia mais merda que não se lembrava?


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