No More Secrets: Segunda Temporada. escrita por CoelhoBoyShiper


Capítulo 8
Reticências...




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A consciência se materializa de volta na cabeça de Mason, como bolhas emergindo até a superfície do fundo de um lago de lembranças.

Branco.

Era a cor de tudo em volta dele. As paredes, o chão, os aparelhos, os lençóis e o colchão em que estava deitado. Seu corpo estava completamente dolorido, em chamas pela sensação de formigamento, parecia que ele tinha caído sobre um agulheiro ou que tinha acabado de sair de um mural após ter sido pregado por tachinhas que fustigaram a sua pele.

— Mabel... — ele chamou, contraindo-se ao perceber o quanto a sua voz estava horrível e lânguida, assim que notou o molho arco-íris do cabelo dela criar ondas naquele revolto mar de branco.

— Dipper, finalmente. — a voz dela estava branda, sem a característica exaltação que ela sempre carregava, assim que ela se aproximou do irmão. — Eu fiquei tão preocupada, o que aconteceu lá fora?

— Onde estamos?

— Ah, desculpa. Deve ser confuso pra você, não é? Estamos na enfermaria. Eu não devia estar fazendo muitas perguntas, a enfermeira me avisou. Inclusive... — afastou-se, procurando a enfermeira do lado de fora da repartição. — Senhora Maiden, ele acordou!

Dipper ouviu o som das rodinhas de uma cadeira giratória arrastar-se sobre o chão mal encerado, seguido de passos que ficavam mais altos, até a médica escolar aparecer sobre ele, pairando sobre ele com sua feição juvenil e um sorriso conciliador que puxava as covinhas dela para dentro.

— Queda de pressão, Senhor Pines? Nada bom. — estendeu um copo de água na direção dele. — Consegue pegar e se sentar?

— Sim. Obrigado. — empertigou-se desajeitadamente, com Mabel ajudando do jeito que podia. Bebeu a água, sua boca estava esdruxulamente seca de um jeito que ele nunca tinha sentido antes. — Estou melhor.

— Por que você desmaiou daquele jeito, Dipper? Está comendo direito? O que foi? Eu to estranho o jeito que você vem agindo desde ontem, mó desligado. — indagou a irmã, ignorando o aviso anterior da enfermeira sobre muitas perguntas, mas a enfermeira não pôde evitar deixar a cena desenrolar. Maiden olhou para o garoto com um olhar de consentimento, afinal também precisava saber o motivo por trás do que tinha ocorrido com o aluno.

— Sua irmã me disse que você não toma nenhum remédio controlado, mas já teve ataques de ansiedade há alguns anos, talvez algo que aconteceu nos últimos dias serviu de gatilho para disparar isso em você de novo, talvez. Então, se você puder esclarecer para nós o que te deixou assim, talvez podemos te ajudar.

— Não foi por nenhum motivo imunológico, — assegurou Dipper. — não se preocupem.

— Sua irmã disse que você teve problemas na aula de literatura recentemente, não teria a ver com isso, me pergunto...?

— Não. — ele se precipitou. — Quero dizer, sim. São as minhas notas, sabe?

— Ahh... — a enfermeira assentiu calmamente com os olhos fechados como de quem dissesse já ter visto aquela situação antes. — Estresse. Pressão dos professores. Pressão dos pais. Pressão do futuro. Auto pressão. É muito comum na sua idade.

“Ah, claro, tenho certeza de o que acontece na minha vida é muito comum nos adolescentes de dezesseis anos. Colocar o mundo em risco quando se tem uma paixão proibida por um membro da sua própria família, quem nunca, não é mesmo?”, conteve a vontade de revirar os olhos.

— Você foi dispensado dos próximos períodos. Se ainda achar que não está apto para ver as aulas, sinta-se livre para ligar para os seus pais e ir para casa.

— Okay, vou fazer isso, então. — o corpo dele ainda estava restaurando a pressão arterial, ponderando entre as sensações de leveza e peso, fazendo-o se sentir em uma inconstante balança... assim como vinha se sentindo durante toda a sua vida. Que irônico.

— Tá bom, vamos Dipper, eu ligo pro papai e nós já vamos. — Mabel começou a puxá-lo pela manga da blusa.

— Não, não, Senhorita! — advertiu Maiden, retirando Mabel de cima do garoto pela gola da suéter dela. — Apenas o seu irmão tem a licença para isso, faça-me o favor e volte para a aula que, aliás, você já perdeu bastante, mocinha.

Mabel fez biquinho, bufando numa mistura de irritação, mas não de inconformidade. Ela parecia já supor que seu plano para escapar das aulas não daria certo, então continuou as ordens sem muita resistência.

— Tá aqui suas coisas, Dippy. — disse ela, tirando a mochila dele por debaixo da maca e colocando do lado dele, sobre o colchão. — Tô indo, viu? Fica bem, bro-bro. — retirou-se da enfermaria, evitando ao máximo a tentação de bater os pés e a porta.

— Tchau. — ele disse, mas ela já tinha ido. — Como ela sabia onde estava as minhas coisas? Enfim... — ele já estava a ponto de ignorar aquilo quando a enfermeira o respondeu.

— Não foi a Senhorita Pines que pegou as suas coisas, foi o professor Evum.

“Ah, tá”, Dipper nem se impressionou.

— Foi ele também quem te carregou da cantina até a minha sala. — continuou Maiden, contando toda a história de modo mirabolante. O coração de Dipper chegou a doer dentro do peito. — Cheguei a ficar impressionada, não sei se foi o modo com que os alunos contaram aquilo, exagerando tudo, mas, aparentemente, o professor apareceu do nada no refeitório, todo afobado. Foi na hora certa. Parecia um pai preocupado com um filho, haha! Quando ele chegou aqui na enfermaria, Evum estava em pânico, gritando como se o incidente houvesse sido algo gravíssimo, de extrema urgência. Eu nunca vi aquele professor se preocupar tanto com um aluno igual com você. Você deve ser um excelente estudante, mesmo, Pines. Ele te sacudia sem parar. Ele até te chamava pelo primeiro nome, o apelido. Parecia até nunca ter visto um ser humano desmaiado antes. Ele me implorava sem parar, “salva ele, doutora, por favor!” — fez uma imitação forçada, numa esperança de arrancar alguma risada do rosto opaco de Dipper, mas, quando olhou para ele, tudo que pode ver foi um menino com a expressão totalmente atônita. — Os alunos acharam muita graça, ficavam imitando ele toda hora até a ordem ser estabelecida. Eu disse que ele não tinha com o que se preocupar, mas A. Evum só saiu dessa sala quando eu tive que pedir licença pra ele quando a sua irmã chegou. Ele andava de um lado pro outro em volta da sua cama, sem parar, roendo as unhas nervoso, sem tirar os olhos de você. Alguns alunos juram ter visto ele saindo chorando durante o fim do seu turno, mas acho que é só boato da histeria coletiva.

— Puxa, que engraçado, né? — depois de sair do seu estado de choque, Dipper disse numa tentativa de ser invasivo ironicamente, porém, o que ele havia dito era um fato. Era realmente engraçado o jeito que Cipher havia agido depois de tanto ameaçar ele na sala de aula. “Que merda foi essa? Qual o problema dele?”

— Isso me faz lembrar de te perguntar, ele é algum membro da sua família ou algo do tipo? Porque, não tinha lógica o jeito que ele...

— Não, não é não. Mas ele é muito chegado a mim. Eu sou aluno do Evum desde o Fundamental I, todos os anos eu acabo tendo aula com ele desde então. Ele até conhece os meus pais proximamente. — contornou ele, mas, no entanto, não era exatamente uma mentira. Foi o suficiente para que Maiden se conter.

— Ahhh, sim... não sabia. Faz sentido.

— Bom, acho melhor eu ir agora. — falou Dipper, descendo da maca, seus pés atingiram o chão com força, desencadeando mais formigamentos sobre o seu corpo combalido.

— Sim. Eu só tenho que terminar de organizar a ficha dos alunos da semana e eu já te acompanho.

— Não precisa, eu estou bem.

— Sim, eu preciso.

— Estou falando sério, estou bem.

— Tem certeza? — ela olhou para ele.

— Sim, tenho.

— Okay, então já vai adiantando as coisas. Pode ir lá pra fora e ligar para o seus pais. Eu terminarei isso aqui em um minuto e já vou ir lá pra esperar com você, ok?

— Certo. — Dipper assentiu.

 

*

 

Dipper não estava acostumado a ver a entrada da Piedmont High vazia como estava naquela hora. Chegava a dar até um certo medo. O começo da tarde estava nublado, continuava feio, as folhas acumuladas por todas as partes, poças d’água e cheiro de umidade.

— Sim, pai... Ah, a Mabel te falou, né? — ele falava no celular. — Então você já sabe... não... não, está tudo bem, sim... Tá... Tá bom, tchau. — desligou o aparelho, arrastando a mochila para o chão para que ele pudesse guarda-lo novamente. Ele odiava estar achando a sua mochila mais pesada do que antes, quando ele estava indo para aula. Ele não tinha certeza do porquê. Se antes ele estava animado demais para atender às aulas, ou se a mochila não estava verdadeiramente pesada e era só o fato do seu corpo ainda estar fraco demais parar carregá-la.

De qualquer maneira, ele estava cansado demais para ficar matutando sobre aquilo. Era tão irônico, o jeito que ele tinha acordado mais disposto do que nunca para começar o dia, e, em menos de uma hora, literalmente tudo ao seu redor havia tomado um rumo inesperado, voltando às cinzas. Como de costume, tudo de bom havia sido arrancado dele mais uma vez, no momento que em que acreditava ser capaz de prosseguir em esperança, pelas constantes reviravoltas arrebatadoras que insistiam em aparecer no enredo da sua vida. Ele já não pensava em mais nada. Tentou não se ocupar em ficar refletindo sobre tudo que tinha acontecido naquele dia até o momento, não ficou tentando achar maneiras de sair daquela nova bifurcação na trama, nem tentando entender o motivo do destino ter escolhido aquele caminho. Apenas manteve a mente vazia. Havia sido provavelmente o dia mais cheio de toda a semana, ele só queria chegar em casa e se acomodar por debaixo do edredom ao calor de um chocolate quente e sua melhor amiga... Netflix.

Ele estava tateando os bolsos da sua mochila, de saco cheio de tentar encontrar o bolso certo para guardar o celular quando seus dedos tocaram algo estranho. Era duro, mas, subitamente, assim que os dedos de Dipper pressionaram um pouco mais, amaciou, como uma esponja. Dipper afastou os dedos depressa, estranhando o acontecido, e lançou os olhos na mochila. Nada parecia fora do comum. Tocou o mesmo lugar de novo e só sentiu o seu livro de álgebra.

Imaginação...

Assim que retornou à tarefa de encaixar o celular, aconteceu de novo.

Dipper ergueu uma sobrancelha, virando o olhar imediatamente para a mochila. Ele jurou ver algo se movimentar dentro dela. Como se algo tivesse se remexendo. Balançou a cabeça, tinha parado. Ele começou a questionar o seu estado de saúde novamente. Talvez fosse um problema com os olhos, ou a tontura estava dando aquela impressão de que a mochila estava se contorcendo.

Só pra se certificar, Pines colocou a mão muito levemente sobre a superfície do tecido, sem tirar os olhos da bolsa e nem fazer alarde... então algo embaixo dos seus dedos se retorceu, Dipper sentiu sob a palma da sua mão!

Com um grito penetrante, Dipper pulou para trás num rasante, deixando a mochila deslizar livremente para longe dele.

— Que porra é essa?!

O conteúdo da bolso continuava a sacudir freneticamente dentro dela, fazendo a epinefrina produzir cada vez mais hormônios de apreensão e pânico no encéfalo de Dipper, o zíper começou a soar. Seja lá o que estivesse dentro daquela mochila, estava vivo e pronto para sair. Dipper aprumou o corpo, por alguma razão desconhecida, estava preparado para lutar contra o que quer que estivesse por vir. A adrenalina pingava, transbordando das suas orelhas, assim que o fecho da mochila se abriu feito uma grande boca abissal insondável.

Com um impulso, o ser vivo saiu da mochila a toda velocidade na direção dele. Só deu tempo de Dipper ver uma bruma de cores — vermelho, azul, preto... — antes de se esquivar, deixando a coisa passar diretamente por trás dele. Ele jurou ouviu um grunhido animalesco, que aumentou assim que a criatura acertou a parede de concreto do colégio com o mesmo som de uma bola de basquete murcha nas aula de educação física.

Girou sob os calcanhares, cambaleando, torcendo o pescoço para trás.

— Você?! — era uma pergunta mais para ele do que para quem estava encarando.

De estatura extremamente baixa, a coisinha tinha um chapéu vermelho pontudo amarrotado, um macacão azul escuro sobre uma camisa clara. Todo sujo e coberto por terra, lama e folhagens. Era um homenzinho. Ou melhor...

Era um gnomo.

— Jeff, o líder dos gnomos?! O que você está fazendo aqui?! Como conseguiu sair de Gravity Falls? — Dipper persistia nas questões, enquanto o anãozinho se recuperava da sua queda. Quando Pines finalmente foi capaz de ver o rosto dele, deu mais um passo para trás. O anão exalava agressividade, os olhos dele estavam em chamas, sua boca espumava, ele mais parecia um cão de rua raivoso do que um daqueles gnomos inofensivos que Dipper tinha se acostumado a ver.

A adrenalina começou a tomar conta de Dipper novamente, dando indícios de o que viria a seguir não seria bom.

O homenzinho escancarou a sua boca e seus dentes pontudos e ameaçadores se fizeram presentes e, antes que o garoto pudesse recuar mais uma vez, ele saltou na direção dele.

Dipper deu um grito.

— SAI! — e lançou as mãos na direção da criatura no intuito de repeli-la.

Tudo ficou em câmera lenta, Dipper sentiu o formigamento aumentar e uma energia desconhecida fluir por suas artérias. A sua marca de nascença queimou sob a sua testa e ele sentiu o seu peito encher com aquela sensação, aquela aura poderosa...

Dipper nunca se lembrará inteiramente com precisão o que aconteceu em seguida. Pois, em um momento o elfo estava partindo na direção dele e, no outro, ele estava atirado contra o chão, contorcendo-se de dor.

“O... quê...?”

Mason rebobinou tudo o que tinha acabado de acontecer: ele desejou que o gnomo fosse para longe, jogando os seus braços na direção dele, e o gnomo foi atirado contra o chão imediatamente, mas, Dipper nem chegou a tocar a pele de Jeff, tinha certeza disso, e, mesmo assim, foi como se alguma coisa tivesse mesmo batido no gnomo. Algo invisível. E pesado. Todo o corpo do minúsculo ser arqueou para trás, ficando preso no chão por uma estranha energia azul que dissipou assim que Dipper tentou olhar por uma segunda vez para se certificar do que via.

A marca de nascença dele só faltava soltar faíscas, encarou a ponta dos seus próprios dedos e teve que se controlar para não gritar com o que viu: marcas de queimado, cinzas, como se Dipper tivesse tomado um choque elétrico sem nem ao menos ter noção daquilo.

O anão se levantou, ainda cambaleando e voltou a rugir na direção do jovem, mesmo que dessa vez ainda grogue pelo golpe misterioso.

— Ei! Parado aí! — Dipper alertou e, convenientemente, o gnomo parou. Mas, ainda sim, era muito estranho. Jeff ficava olhando para ele com o rosto congelado na mesma expressão de ira, os bracinhos parados no ar. Fosse o que fosse a estranheza que tinha acontecido, o gnomo não tinha parado por conta própria. Havia uma força misteriosa agindo para mantê-lo naquela posição. Uma interrogação pairou sobre a cabeça de Dipper.

“O que é isso?”, perguntou-se, então sentiu uma pontada na boca do seu estômago, a mesma energia esquisita de antes repercutiu dentro dele e ele foi levado por um instinto revelador assim que sua marca voltou a arder. “Eu me pergunto se...”

— Erga-se! — Dipper disse em voz alta, hesitante, e, para a sua surpresa, o anão se ergueu. E não era de qualquer jeito. Jeff começou a flutuar no ar, guiado por aquela onda azulada mística que parecia obedecer aos comandos de Dipper. O garoto teria soltado um palavrão, se ainda fosse capaz de falar.

Olhou para as mãos, a energia fluía através dos dedos dele.

Magia.

Dipper fazia magia.

“Não pode ser...”

Ele conhecia aquele poder antes. Porque ele já tinha o presenciado.

“Não. Pode. Ser.”

O poder de Bill Cipher.

“O poder do Bill... está dentro de mim...?!”

Distraído, ele perdeu o controle daquele conjuro assim que suas mãos começaram a tremer, Jeff caiu no chão de uma altura suficiente para que ele terminasse tonto, dando voltas em torno do seu próprio eixo, enquanto praguejava absurdos entredentes direcionados a Dipper.

O garoto viu o halo azulado desaparecer da palma da sua mão e os queimados descascarem como cinzas. Sentiu cheio de queimado e o zunido de energia, como o de um fio desencapado estalando numa poça d’água, começou a diminuir no fundo dos seus ouvidos na medida em que o comichão da sua marca de nascença se acalmou.

Foi quando o farfalhar dos arbustos não muito distantes do pórtico do colégio, esgueirados nas beiradas dos canteiros e do pátio, soaram. Ainda entorpecido, Dipper virou-se automaticamente, seu sistema de defesa o controlava, uma vez que ele se sentia oco diante da revelação, incapaz de concretizar nada racionalmente. Lá, no fundo das folhagens amareladas luxuriosas do outono, começou-se a despontar uma série de chapeis pontudos saindo dos seus esconderijos.

— Tem mais de vocês?! — ele disse em voz alta, sem perceber, na direção do chefe dos gnomos. — Quantos você trouxe?! Quantos monstros saíram de Gravity Falls?!

Foi quando o seu raciocínio fora resgatado pelo ronco bravo de um motor que rugiu logo por trás dele, da rua. O chão tremeu. Dipper achou que se pai havia chegado, e já estava se preparando para pular pra dentro do carro, fingir que nada aconteceu e pedir para o pai dirigir o mais depressa possível, quando viu que não era um automóvel que o aguardava. Era um motoqueiro, a sua motocicleta, tão negra quanto o resto da sua vestimenta de couro, reluzia no campo de visão de Dipper.

— Suba! — o motociclista ordenou.

Dipper tentou aguçar a sua audição e reconhecer a voz do estranho, mas, devido ao enorme capacete opaco que ele usava, em junção ao estado de choque que ainda estava a desnuviar dos sentidos do garoto, era impossível definir de quem era voz e nem muito menos se era feminina ou masculina.

Ele deve ter ficado muito tempo paralisado na mesma posição, encarando o nada, embasbacado enquanto pensava no que deveria fazer, pois o motoqueiro gritou para ele:

— SUBA!

Os gnomos já estavam à vista, eles tinham armas rudimentares e estavam se aproximando sem hesitar.

Dipper se perguntou como ainda não tinha desmaiado de novo.

— RÁPIDO! — o estranho pisou no pedal e o motor rugiu novamente, apressando o garoto a tomar sua decisão. Ao olhar tentar olhar através do vidro do visor do capacete, no intuito de decifrar o enigma que era o seu deus ex-machina, Dipper só foi capaz de ver o seu rosto conturbado refletido naquele espelho opaco. — Tem muitos deles para nós! Não temos chance! Precisamos fugir! AGORA, DIPPER!

Para sempre será impossível definir com clareza o que motivou acontecer o que aconteceu. Se foi por causa que aquele estranho o resgatou do seu estado de dúvida ao evidenciar que sabia o nome dele – o que lhe fez ter uma segurança maior – ou se foi pelo torvelinho descomunal de desespero o fazendo tomar mais atitudes sem pensar antes. Mas uma coisa era certa: num frisson descomunal de coragem, Dipper pulou naquela garupa.

Fundando os dedos na couraça do casaco do piloto, no mesmo tempo em que o mesmo fundava os dedos no acelerador, os dois rumaram para fora do pátio a toda velocidade.

Pode parecer loucura, ou simplesmente uma das reações da magia que aparentemente ambientava dentro dele, mas, quando Dipper tocou no seu resgatador, sentiu uma corrente elétrica percorrer o seu corpo da cabeça aos pés, e jurou sentir seu coração se acalmar mesmo estando naquele furacão de pousos arriscados.

Estranho.

A fuga durou pouco, pois o baque da moto ao frear foi quando intenso que Dipper quase voou para trás. Logo à frente, na rota de saída deles, um apinhado de gnomos havia bloqueado a passagem numa fila lateral. Dipper acreditou ouvir o motorista soltar um suspiro frustrado. A luva de couro tateou os lados do seu corpo assim que o piloto jogou um dos braços pra trás. Dipper achou que o estranho estava tentando chamá-lo para dizer alguma coisa, até ele ver que ele estava, na verdade, procurando algo próximo à cintura da sua calça. Quando ele finalmente achou, Dipper teve que sufocar um grito e o impulso de pular para fora daquela moto: era uma arma.

“AI, MEU DEUS, ELE TEM UMA ARMA! QUEM EU CONHEÇO TEM UMA ARMA?!”, o desespero era tanto que seus pensamentos quase ecoavam em alto e bom tom.

O motoqueiro apontou a pistola para a linha de homenzinhos ferozes e disparou sem hesitar, mais de uma vez. Alguns dos gnomos foram atingidos e saíram pelos ares com o impacto, enquanto outros saltaram para fora do caminho com o susto. Os estampidos das balas explodindo aranharam os tímpanos de Dipper, que se contraiu na garupa em medo.

A moto arrancou de novo e paisagem ao redor deles se tornou apenas um vulto desfigurado assim que a velocidade entrou em 80km/h. Na rodovia, o motorista descontrolado fazia curvas fechadas sem se preocupar com a sinalização e outros carros. Buzinas e gritos. Dipper nunca na vida desejou tanto ter um capacete igual naquele momento. Quando olhou para o lado, nas árvores e vegetação que circundavam as rodovias, Dipper viu sombras não-humanas se erguerem. Eles estavam sendo perseguidos!

— ALI! — ele gritou o mais alto que podia. — ESTÃO ATRÁS DA GENTE!

A motocicleta diminuiu de velocidade. O seu resgatador não hesitou duas vezes em tirar a arma do coldre de novo e disparar mais algumas vezes contra às ameaças antes de acelerar de novo. O som das cápsulas das balas atingindo o asfalto. A poeira, que subia juntamente com a violenta ventania, navalhava o rosto de Dipper.

— As balas não fazem nada com eles, mas é o bastante para afugentá-los! Precisamos despistá-los e fugir para um lugar seguro! — foi o que Pines acreditou ter conseguido escutar através do escudo que era aquele capacete.

Correram mais um pouco sobre as rodas. Após acessarem ruas que Dipper nem sequer conhecia e entrarem em cenários desertos, o piloto pareceu se ver seguro para diminuir a velocidade. Olharam para os lados, certificando-se sobre a sua situação. Os dois suspiraram de alívio ao verem que estavam sozinhos na estrada.

— Essa foi por pouco. — disse o motoqueiro, parando a moto numa encruzilhada.

Dipper desceu da moto, ainda atordoado, todavia, contente por ter se saído ileso daquele tornado de infortúnios. Também contente em ver que, até o momento e mesmo com todas as circunstâncias, o seu salvador misterioso não tinha o intuito de machucá-lo. E até agora não parecia ser alguém que pudesse julgar ser perigoso, mesmo portando uma arma de fogo na cintura.

— Obrigado. — recuperando o fôlego do tranco, Dipper agradeceu. — Minha pressão tava baixa mais cedo, essa adrenalina foi uma ótima maneira de fazer o sangue retornar para o fluxo normal dele. — tentou fazer uma piada para descontrair do clima.

— Vamos ter que esperar aqui por algum tempo, até que os gnomos desistam, depois será seguro para eu te deixar em casa.

— Como me conhece? Como sabia que eu estava lá e que eu precisava de ajuda? Como sabe de tudo aquilo que estava acontecendo? E... — parou, realizando que eram muitas perguntas para poucas respostas, então contextualizou tudo numa questão só: — Quem é você, afinal?

— Seu pai me pediu que eu te buscasse assim que você ligou. Eu queria te fazer uma surpresa te pegando na escola, te salvar de gnomos revoltados não estava no plano.

— Quê? Como assim?

— Haha... eu também não achava que chegaria em Piedmont tão cedo, mas, como você já viu lá atrás, a situação está crítica, então tive que chegar na casa dos seus pais o mais rápido que consegui. Viagem interespacial, sempre funciona.

Mesmo com o corpo aquecido da correria, o coração de Dipper congelou ao ouvir aquilo.

— Espera... você... tá dizendo que... — o olhar dele pousou nas luvas de couro que o motorista usava...

As luvas tinham seis dedos.

Ele tirou o capacete.

— Faz muito tempo que eu não te vejo, não é? Mas, qual é, não envelheci tanto assim, envelheci? — a voz ficou familiar de repente. — Você cresceu tanto, Dip.

 


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Notas finais do capítulo

Wow. Quantas coisas aconteceram nesse capítulo, não é mesmo?
Espero que tenham gostado,

Twitter: coelho_diaz



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