Não conseguia imaginar, nem em mil anos, o meu pequeno dongsaeng me dizendo essas coisas. Meu coração não cabia mais dentro do meu peito, ele queria sair e poder mostrar todo o amor que eu nutria por Jungkook. Todas as borboletas que estão no meu estômago, desde o dia em que o vi, estão querendo sair e voar sobre seus lábios.  

No entanto eu tive que me controlar, não o queria colocá-lo sob pressão, deixá-lo nervoso. Por hora eu me satisfazia com a sua declaração, mas apenas por hora. Eu sabia o quão difícil devia ter sido para ele me dizer que gostava de mim. Ele alternava entre me olhar e olhar o chão.  

—Você acaba de se declarar para mim, e fica olhando o chão? Ele é mais atraente? Falei a eles para irmos à outro hotel -falei, no intuito dele se sentir menos constrangido.  

O que resultou em um pequeno sorrido rápido, quase imperceptível. Que vontade de sentir esse sorriso em meus lábios. Eu estava perdendo o controle, e essa ausência de raciocínio nos levou para mais perto. 

Conseguia sentir sua respiração em meu rosto, o que revelava o quão perto estávamos, sua boca a poucos centímetros. Agora Jungkook não olhava mais o chão, pelo jeito eu devia ser mais atraente mesmo. Podia ler seus olhos, ele também queria aquele beijo tanto quanto eu.  

Quando nossos lábios se encontraram tão sutilmente, tão doce, tão delicadamente, pude ouvir todas as palavras reprimidas por sua vergonha, seu beijo me dizia todas elas, cada uma. Seu beijo tinha gosto de amor, e eu queria provar mais desse gosto, muito mais.  

Infelizmente fomos interrompidos por batidas na porta. O que nos fez pular, não devíamos ter ficado assustados, mas ficamos. Não estamos fazendo nada de errado, estamos? Na minha cabeça não estamos, amigos podem se gostar, podem se beijar. Entretanto, e as outras pessoas, os outros membros, e o próprio Jungkook? Esse pensamento me fez revirar o estômago, colocando todas as borboletas, que antes estavam tão felizes, para fora.  

Aos tropeços meu dongsaeng foi atender a porta. Era Jin nos avisando que era melhor jantar naquele exato momento, ou não restaria nada. Jungkook agradeceu ao Jin por ter avisado.Após fechar a porta, ele me disse que iria comer naquele exato momento, mesmo nosso beijo ter sido interrompido. O mais novo estaria me evitando? Aquilo me fez perder a fome, lhe disse que iria ficar no quarto, mas que poderia ir sem mim.  

Deitado na cama, fiquei repassando todos os últimos minutos na cabeça. Não sabia se ficava feliz ou decepcionado de nossas camas serem duas, e dispostas em espaços opostos do quarto. Por fim acabei dormindo, nem cheguei a vê-lo mais naquela noite. 

Ao acordar me deparei com Hoseok na cama oposta a minha. O que apenas confirmou a minha suspeita, Jungkook realmente estava me evitando. Ele trocara de colega de quarto. Eu não iria deixá-lo escapar assim tão fácil de mim, ainda mais depois de ter declarado seus sentimentos a mim. Eu queria e iria sentir o gosto do amor o quanto puder.  

No decorrer do dia, sequer olhou para mim, muito menos trocou uma palavra. Eu teria que resolver essa situação o quanto antes. Não posso aguentar mais uma desviada desses olhos castanhos dos meus. Teria que ser ainda hoje. Teria que ser agora. Durante o fanmeeting lhe adverti da conversa que iriamos ter.  

Ao chegar no hotel, avisei ao responsável por colocar o grupo nos quartos, eu dividiria o quarto com Jungkook. Posteriormente de adentrarmos no quarto, o peguei pelo pulso, fazendo-o sentar na cama, do meu lado. Minha mão desceu até sua mão, ao entrelaçar nossos dedos, pude sentir sua hesitação, que logo se dissipou ao sentir o calor que nossas mãos juntas proporcionavam naquele dia tão gelado. Demorei um para me pronunciar, sem saber ao certo por onde começar, eram tantos problemas que minha cabeça criara. 

—Jungkook-ah, você sente que isso é errado? Não deveríamos ter feito o que fizemos ontem, ter falado o que falamos? 

Ele queria encerrar essa conversa o mais rápido possível, seus olhos me diziam isso, ele não precisava me falar pelos seus lábios. Compartilhávamos o mesmo desejo; não termos mais esse tipo de conversa, aliás mesmo agora não queríamos ter essa conversa. No entanto, era preciso, ansiava por mais um de seus beijos, e para isso era preciso essa conversa. 

—Estou com medo, Com medo de que se seguirmos esse relacionamento, esses beijos, essa troca de carícias, posso resultar. E se, nos pegarem? E se, o grupo acabar por nossa causa? E se, tivermos que desistir da carreira, dessa vida de idol, para que possamos ficar junto? Você está disposto? Disposto a trocar tudo o que conquistamos por mim?- ele pareceu pensar muito nas próximas palavras que estava prestes a dizer, como se já estivesse arrependido de só pensá-las- Eu não tenho certeza se trocaria o que tenho agora por você. 

A última frase me deixou em pedaços. Todos os problemas que eu criara não era nada comparados ao que ele acabara de me dizer. Não sabia o que falar, não sabia se queria segurar mais aquela mão. As borboletas, que antes habitavam em minha barriga, não voavam mais, não conseguia as sentir mais. 

Me arrependi tanto dessa conversa, queria não ter ouvido essas palavras ditas de forma tão duras e ríspidas. Minha mente só pensava em tantos nãos, "não queria ter começado essa conversa", "não queria ter ouvido essas coisas da boca dele", "não queria ter o beijado ontem", "não queria ter insistido na conversa de ontem", "não queria ter me apaixonada por ele".  

Soltei sua mão, respirei fundo, sem saber ao certo o que falar, se eu sequer deveria falar. 

—A vida é repleta de 'e se". O meu "e se" começou a passar rondar sempre a minha cabeça, logo depois de me apaixonar por você. Mas todas ás vezes que elas surgiam, minha resposta final era sempre estar perto de você, amar você, nem que para isso eu tivesse que desistir de meus outros amores, como a dança, a música e o grupo. Entretanto, você só conseguiu pensar em  você, nos seus amores, nas consequências.  

As palavras apenas saíam da minha boca com tamanha facilidade que me assustava, não conseguia controlá-la.  

—Então, se você quer se preservar, e ignorar o que o seu coração sente, faça isso. Apenas me veja como amigo, e nada mais. Só não me olhe mais com aqueles olhos, não me abrace mais por trás, não venha mais a minha cama. E eu irei fazer minha parte, vou matar todas essas borboletas dentro de mim, não vou tentar mais ler seus olhos, ouvir suas palavras não ditas. Só me diga o que quer, e eu irei fazer. Porque eu te amo, e estou disposto a tudo por você.