CASTELOBRUXO - O Início de Uma História escrita por JWSC


Capítulo 34
CAPÍTULO 1 – Inscrição (LIVRO III - As Minas Sombrias)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/721371/chapter/34

Janeiro foi um mês de novidades.

Para os alunos que ingressavam no terceiro ano, além de terem recebido o anúncio de que teria início as aulas de Defesa Pessoal, ministradas pelo famoso membro do Clube de Duelos, o professor Luís, ainda receberam a notícia de que a escola estava organizando uma troca cultural e educacional entre os alunos de Castelobruxo e o Instituto Varita Maestro, a segunda melhor escola de magia da América do Sul, localizada na Argentina.

Numa manhã tranquila de janeiro, a juruva chegou na janela de Eduardo. Batendo seu bico contra o vidro. Carregava enrolado em sua cauda os documentos de autorização e o questionário para se candidatar ao projeto de troca cultural das escolas.

Eduardo estava animado com a possibilidade do intercâmbio. Natural da cidade de Salvador, o jovem apenas havia deixado sua cidade natal para ir à Castelobruxo, o que ele mesmo viu como uma oportunidade de conhecer um lugar novo e diferente. Ele sabia que Miguel era argentino, mas o amigo pouco falava da vida no país, se limitando a dizer que era diferente.

Os cinco amigos haviam conversado algumas vezes durante as férias e acabaram concordando em tentar responder o questionário e pedir para que os pais assinem os documentos, mesmo a contragosto de Miguel.

A carta de autorização informava que a juruva viria buscar os documentos na manhã do quinto dia a contar o dia da entrega. Informava também que uma vez aberto o questionário, havia um tempo limite para respondê-lo antes que se auto lacrasse.

O questionário englobava perguntas gerais sobre todas as matérias que o aluno havia estudado até o ano anterior, além de uma sessão especial com foco na matéria de política e geografia sul-americana, em especial da Argentina (matérias lecionadas nas aulas de estudos gerais).

O documento era enfeitiçado para que apenas o aluno pudesse ver as questões e o local exato em que deveria colocar sua resposta. Além disso, a tinta escorria do documento caso houvesse duas ou mais pessoas nas proximidades, garantindo que o aluno deveria responder sozinho o questionário.

Eduardo respondeu seu questionário assim que o pássaro saiu, o restante do dia ele passou convencendo sua mãe para que assinasse os documentos de autorização. Ela assinou apenas depois que ele prometeu diversas vezes que iria se cuidar e evitar que o ocorrido no ano anterior se repetisse.

Na manhã do quinto dia a juruva veio voando como um borrão esverdeado pelo céu. Após fechar o pergaminho, o pássaro estendeu sua longa cauda, onde o garoto colocou os documentos. A cauda enrolou-se nos papéis e em seguida a ave saiu pela janela, mais rápido do que qualquer criatura que o garoto tivesse visto. Talvez tão rápido quanto o beija-flor prateado o qual, diziam alguns, teria sido a inspiração para a criação do pomo de ouro do quadribol.

Eduardo estava ansioso para o início das aulas. Esperava conseguir ir para a Argentina e ver outra escola de magia. Uma nova aventura, esperando em um país estrangeiro.

— Edu, o café está pronto — sua mãe chamou.

— Já vou, mãe!

 

Miguel havia pensado diversas vezes em desistir e não enviar sua carta. A juruva estava observando enquanto o garoto segurava sua documentação. Sua avó havia assinado os documentos, já que seus pais ainda estavam trabalhando nas minas e só retornariam após algumas semanas.

Seu irmão havia os visitado na noite anterior. Quando Miguel lhe informou sobre a proposta de intercâmbio, o irmão demonstrou preocupação.

— Tem certeza de que quer ir para lá, Miguel? — Questionou Juan com as sobrancelhas franzidas. — Há uma razão para que nossos pais tenham insistido que nós não estudássemos lá.

— Não sei. Meus amigos querem ir e eu não queria ficar sozinho na escola.

— Bem, é uma decisão só sua, mas eu acho que deveria desistir e dizer que perdeu a oportunidade de entregar os documentos. Eles vão entender. Acontece.

— Não minta, Miguel! — Interrompeu sua avó. — Se não quiser ir, diga-lhes que não quer. Não é bom mentir para as pessoas.

— Nisso a senhora tem razão — concordou Juan.

— Acho que eu vou ficar bem — disse Miguel. — Não estou indo sozinho.

— Isso também é verdade. Aliás, alguém que encarou o que tem na Floresta dos Sussurros não deve se preocupar com o instituto.

— Não gosto nem de lembrar que você esteve lá, Miguelito. Tantas coisas horríveis naquela floresta. Se a Chorona te pega? Não quero nem pensar.

A avó saiu da sala recitando algum tipo de oração ou ritual linguístico. Miguel e Juan riram da reação da senhora e passaram o restante da noite conversando, até que Juan fosse embora.

O pássaro se cansou de esperar e fez menção de alçar voo.

— Espere! — Chamou Miguel e lhe entregou os documentos.

O pássaro estendeu a cauda e a enrolou sobre os documentos. Em seguida voou como um borrão esverdeado pelo céu.

Miguel sentou-se em sua cama e cogitou se havia feito a escolha certa. Internamente, não queria que nenhum dos cinco fosse escolhido.

 

As semanas se passaram e logo o início do ano letivo chegou.

Havia uma enorme quantidade de alunos na Vila Saúva com o bordado de vitória-régia, ansiosos pelo início das aulas. Bordados de graminions caminhavam de um lado para o outro, conhecendo a vila e suas peculiaridades mágicas, sob o olhar atento de três Guardiões da escola e alguns professores que caminhavam entre os alunos.

Os alunos do terceiro ano estavam reunidos em grupos pela vila. Tinham a teiniaguá amarela bordada em suas vestes, representando a fartura de conhecimento já adquirida e a que iriam adquirir nos próximos anos.

Havia uma considerável quantidade de bordados alaranjados com o lobo guará e de serpentes aladas vermelhas, alunos do quarto ano e quinto ano respectivamente.

Hugo não viu nenhum aluno do sexto e sétimo ano nas redondezas. Costumava haver poucos pela vila. Diziam alguns que eles possuíam um caminho próprio para entrar na escola, o qual era exclusivo para eles.

 — Está perdido, garoto?

Hugo se assustou com a pergunta repentina, mas logo relaxou ao ver que eram Eduardo e Maria se aproximando. Prontamente respondeu o amigo:

— Estou procurando um jovem, chamado Eduardo. Conhece?

Os amigos riram e se cumprimentaram.

— Como estão? — Perguntou Hugo.

— Muito bem — respondeu Maria. — Fui com meus pais em algumas patrulhas nas férias.

— Que legal. Como foi?

— Vi muitos norques na praia. Época de procriação deles, um dos momentos mais importantes para proteger a espécie, de acordo com meu pai.

— Ser filha de patrulheiros deve ser muito legal.

— Sim. Só não gosto quando eles ficam dias trabalhando.

— Entendo. E você Eduardo? O que conta?

— Eu? Eu vou para o Instituto Varita Maestra. Não sabia?

— Ah, vai nos abandonar?

— Só por um tempo. Por favor, não chore demais quando eu for.

— Não sei como vou sobreviver sem você.

Os amigos caminharam até o Bar do Gorjala Feliz, um dos locais da vila direcionado para os estudantes. Os gerentes, Magalhães e Betina, garantiam a ordem e o controle das coisas com mãos firmes e todo início, meio e fim de ano letivo adaptavam o local para acolher os estudantes, inclusive fornecendo um cardápio próprio para menores de idade.

Roberto estava sentado em uma das mesas próximo a janela. Ele bebericava uma bebida avermelhada, que emanava uma fumaça azulada. Muitas crianças não gostavam da bebida nomeada de “vermelhinha”, por não ter muito açúcar, mas o garoto adorava a sensação refrescante dela.

— Olá! Como estão?

Os amigos se cumprimentaram e começaram a repassar as férias. Poucos minutos depois, Miguel entrou no bar.

— Bom dia. — Ele cumprimentou os amigos.

Eduardo pulou para o assento ao lado, deixando um lugar vago para o amigo.

— E aí? — perguntou Eduardo.

Miguel deu de ombros e disse:

— Enviei minha inscrição.

— Isso! Vamos todos para a Argentina, gente!

— Você está muito empolgado. — Comentou Maria.

— Lembre-se que só se inscrever não garante. Temos que ser escolhidos ainda. — Lembrou Roberto.

— Ah, mas já estamos ali, de frente para o aro. É só jogar a goles e comemorar. Ou então pegar o pomo de ouro e erguer bem alto.

— Calma, artilheiro. Segura o coração — recomendou Hugo.

Pouco depois os amigos saíram do bar e tomaram o rumo para a escola, cujo topo da pirâmide podia ser visto acima da copa das árvores.

 

Pouco após o sol surgir no horizonto, a juruva surgiu cortando o ar.

Augusto observou a ave sobrevoando as casinhas em busca de seu alvo. De um momento para o outro, como se tivesse um súbito pressentimento, a ave disparou em direção a janela onde o homem estava.

Era uma juruva especial, treinada para fazer a comunicação apenas entre Augusto e Orlando. O pássaro costumava demorar muito tempo para encontrá-lo, o que fazia com que a troca de mensagens sofresse certo atraso, mas era algo comum nos juruvas treinados dessa forma.

O homem alimentou e deu água para o pássaro, enquanto desenrolava a mensagem de Orlando e a lia. Ao final ele sorriu e enrolou a mensagem que escreveu na noite anterior. Quando a ave estava recuperada, ele entregou a carta e deixou que sumisse pelos céus.

Observou o vilarejo que havia se estabelecido alguns dias atrás. Fazia mais de um mês que caminhava pela região. Estava cansado e quase sem esperanças de encontrar algo.

A profecia rondava sua cabeça de forma constante. Quem você procura irá te procurar, mas não o encontrará. Pois antes disso, o terror irá se mostrar. Não precisou de muito para saber quem buscava. Estava há anos colhendo informações sobre o homem responsável pela morte de sua irmã.

Já sabia que o bruxo havia fugido para o sul, após o fim da rebelião da F.U.L.A.M. Buscou a vidente para verificar se podia encontrar algo, mas antes que a mulher terminasse de expor o que via na bola de cristal, teve a profecia e em seguida ficou exausta.

Os habitantes locais evitavam responder seus questionamentos quanto à região abandonada, próxima a algumas montanhas e barrancos. Diziam ser uma região de má sorte, bruxaria e morte.

O bruxo sabia que não havia nada de má sorte na região, mas sim feitiços que impediam que os comuns se aproximassem. O que lhe fez sentir que estava na linha certa. Apenas locais importantes eram protegidos por bruxos e não havia nenhuma informação governamental de que naquela cordilheira teria algo de importante.

Arrumou suas coisas e dirigiu-se para a região misteriosa.

Conforme distanciava-se do vilarejo, começou a sentir a solidão da região. Nenhum animal caminhava e as plantas pareciam ignorar qualquer presença. Era um dia nublado, assim como os anteriores.

Assim que chegou no barranco, pode ver a entrada da caverna. Era quase uma fenda disforme na parede da cordilheira. Conforme aproximava-se, sentia a magia ficar forte, até o ponto em que os feitiços protetores estavam a poucos metros de distância.

Retirou a varinha e apontou para a capa de invisibilidade que havia comprado há poucos meses.

Celare!

Ele se cobriu com a capa, respirou fundo e atravessou os escudos. Em seguida correu e escondeu-se atrás de umas pedras. Caso o feitiço lançado na capa não tivesse funcionado, a pessoa que lançou os escudos teria percebido sua invasão e sairia para verificar o que houve.

Após alguns minutos de silêncio, ele acreditou que o feitiço havia funcionado e decidiu ir em frente. Ainda coberto pela capa, ele caminhou calmamente até a fenda e observou o interior.

Era escuro e silencioso, seguia reto por uns dez metros e em seguida virava para a esquerda. Ele teve que se espremer para entrar e torcer para que a capa não se rasgasse. Era a capa mais nova que tinha, as outras duas eram mais velhas e já não funcionavam tão bem.

Após entrar, ele respirou fundo. Não sabia bem o que havia pela frente, mas sabia em seu peito que devia continuar.

 

https://drive.google.com/file/d/1-L7n-VGqy-MnUzvSQ0X1nr6y9PQKNRY5/view?usp=sharing


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "CASTELOBRUXO - O Início de Uma História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.