Ninguém deveria passar o Natal sozinho escrita por Caderno Azul


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

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De cabeça baixa, a mulher pisava ruidosamente pelas folhas secas no piso de mármore trazendo a neve da rua para dentro do escritório do Sr. Lancaster. Havia um pergaminho enrolado pelos seus dedos gelados, havia um nó em sua garganta, havia um aperto em seu peito, mas ela respirou fundo e continuou a andar, suportando os olhares do Departamento de Mistérios sobre aquela que deveria estar em qualquer lugar, menos lá.
— Granger - o Sr. Lancaster a avaliou com a testa franzida. - Vejo que minha coruja não conseguiu te desestimular.
A mulher sacudiu os ombros, não sabendo se manteria a firmeza em sua voz perante a atenção indesejada dos funcionários da seção da Segurança da Ala de Mistérios.
— Suponho que queira entrar - o senhor abriu passagem para que ela entrasse em seu cômodo. O escritório parecia infinitamente mais caloroso que o lado de fora, onde olhares hostis e cochichos pelos coredores a aguardavam.
O Sr. Lancaster ajeitou a garganta e respirou fundo antes de fechar a porta.
— Receio que subestime a minha influência em Askaban. - replicou o homem, fechando o paletó e se sentando em sua mesa, com a elegância que o marcara como o Chefe da Ala de Mistérios mais duradouro da História - Lamento não poder te ajudar com o que me pede, Granger.
—Até quando vai insistir em me chamar assim? - Hermione retrucou se munindo da raiva que lhe faltava para enfrentar a situação delicada.
—Até quando insistir em permanecer casada com um bruxo ligado à Arte das Trevas - responder Sr. Lancaster, categórico. Hermione revirou os olhos para o conselho paternal, ao que o Chefe da Ala de Mistérios acrescentou: - e eu conheço a história que vai me contar. Malfoy é um novo homem. Assim como seu amigo, Conl, que quer tanto libertar da sua sentença de prisão perpétua em Askaban. Como você disse no Julgamento? Ah, sim, afirmou que foi um engano que cometemos. Tem ideia quantos aurores ofendeu naquele dia?
Hermione balançou a cabeça, entendendo que precisaria mudar a estratégia. Depois que o apoio de Harry Potter, o herói do Mundo Bruxo, se mostrou infrutífero, concluiu que as regras do jogo mudaram. Sabia em seu íntimo que não teria como operar pela porta da frente. De certo modo, toda essa situação exigia agir nos bastidores do problema. Um meio pouco ortodoxo, certamente. Mas agora entendia o que Malfoy lhe confidenciou: a ocasião faz o sonserino.
—Tenho consciência de como minhas palavras provocaram a ira de inimigos poderosos aqui no Ministério - Hermione ponderou com a sua voz mais sensata. - Mas você precisa entender que o grande afeto que sinto por Daniel me turvou a visão e me roubou o senso do razoável. Precisa entender que encaro essa pessoa como um irmão.
Sr. Lancaster estava mais ocupado em achar sua caixa de charutos do que em olhar o espetáculo de emoção que a mulher lhe proporcionava. Ainda assim, ergueu os olhos a tempo de ver seus olhos brilhante de lágrimas.
Mas ele era duro na queda.
—É curiosa, sem dúvidas, essa afirmação, Granger. De acordo com os registros de Aurores, durante o colégio você e Conl se envolveram romanticamente - disse o homem a encarando duramente.
Hermione sorriu, desviando o olhar, se perguntando como ainda se surpreendia com o empenho e talento que os bruxos tinham em escavar cada centímetro de sua vida pessoal.
—Pelo que me lembro, registros de Aurores se prestavam em examinar evidências reais, não fofocas da boca de adolescentes dos tempos de colégio - ela retrucou, ainda visivelmente desconcertada com a revelação daquela parte de seu passado que ameaçava se colocar como ameaça em seus planos.
—E pelo que me lembro, você lutava do lado dos mocinhos, Granger - Sr. Lancaster a consertou com a voz grave, acendendo um charuto. - Presumo que não aceite um.
—Sabe que não posso - ela disse, passando a mão na barriga, confirmando os boatos. O homem reprimiu o desejo de revirar os olhos diante daquilo. - De todo modo, gostaria de entender se está realmente insinuando que Harry Potter está se filiando a bruxos da Ordem das Trevas? Porque essa é uma declaração perigosa.
—Certamente. E por esse motivo passa muito longe do que falei, Granger. Aqui não é Hogwarts para que possa manipular as peças do tabuleiro ao seu modo. Tome cuidado antes de tentar colocar palavras em minha boca ou posso esquecer o respeito que tenho pela sua pessoa. - Sr. Lancaster a alertou erguendo as sobrancelhas.
—O que lhe peço é muito simples e modesto, senhor - disse Hermione, deixando que sua voz trêmula o amaciasse - Apenas uma carta. - ela suplicou, deixando o pergaminho com o envelope em sua mesa, ao lado da caixa de charutos importado. - Por favor, é Natal. Ninguém merece passar o Natal sozinho.
Lancaster se remexeu desconfortável na cadeira, encarando sua antiga funcionária com o olhar atento de um mentor experiente.
—Você tem consciência que esse pergaminho passará por todo o exame minucioso de entrada de objetos e se for classificado como item suspeito, não apenas será vetada sua entrada em Askaban como a senhorita será chamada para o Interrogatório. E eu garanto, Granger, que não seremos gentis como da última vez. - O Sr. Lancaster esclareceu, se perguntando se a mulher seria imprudente a esse ponto pelos amigos de moral questionável.
Hermione sustentou o olhar do antigo chefe com a perícia de uma aluna acostumada a burlar todas as normas de Hogwarts durante o tempo que frequentou o colégio.
—Mas é claro, Sr. Lancaster. Agora não quero tomar mais do seu tempo, tenho certeza que é um homem muito ocupado, mesmo nessa época do ano. - disse, se levantando com medo de se denunciar se ficasse mais um minuto naquela sala, que se tornava a cada minuto mais abafada. - E tenho certeza que verá que esse é apenas um desejo de transmitir algum conforto a meu querido amigo em um momento difícil - sorriu com candura, esperando suavizar o velho homem.
Lancaster igualmente se levantou, a levando até a porta enquanto replicava:
—Eu espero mesmo, Granger, de todo o coração, que se mostre merecedora da confiança que ainda reservo à senhorita.
Hermione crispou os lábios, reprimindo a vontade de falar pela enésima vez que era casada, não senhorita, que era uma Malfoy e não uma Granger. Por fim decidiu que aceitaria esse pequene revés para vencer uma batalha maior. Tiraria Daniel de Askaban naquela noite, a noite da véspera de Natal, e em algumas horas estaria cercando o amigo francês de cuidados. Ele beberia o hidromel envelhecido de dezesseis anos e faria as piadas sonserinas tradicionais com Draco. Talvez até fizesse alguma piada cretina sobre ter engordado pela gravidez.
Ela tirou a máscara de sofrimento quando deixou o Ministério. Eles estariam em família mais uma vez. Porque aquela carta que guardava uma Chave de Portal teria valido os meses de pesquisa. Daniel Conl seria liberto. Se não pelos meios legais, pelos que ela criara. Os velhos bloqueios de Askaban não seriam páreos para a nova magia que descobrira.
Ninguém deveria passar o Natal sozinho, muito menos seu inocente e desmiolado amigo francês.


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Notas finais do capítulo

Sabe o que me faria feliz? Já sabe, né? Seu comentário!



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