Obscuro escrita por Benihime


Capítulo 7
Capítulo 6




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A primeira coisa que Nia notou ao abrir os olhos foi seu pulso. Ou melhor, a falta de algo em seu pulso: a pulseira que Cassie lhe dera havia desaparecido. A morena logo supôs que, na semi escuridão do quarto na noite anterior, a joia acabara mal fechada e caíra. Pondo-se de pé, começou a procurar.

Não tardou a encontrá-la, enfiada de qualquer jeito sob o travesseiro como se colocada ali às pressas. Nia sentou-se na cama, encarando a cena com curiosidade. Não havia como a pulseira ter ido parar ali daquele jeito a menos que ela própria a tivesse colocado, algo que tinha certeza que não fizera.

— Bom … — A morena disse consigo mesma, soltando uma risada baixa e hesitante. — Talvez eu tenha me tornado sonâmbula. É isso, só pode ser. Um caso de sonambulismo.

Mas, por via das dúvidas, achou melhor manter o ocorrido para si mesma e, recolocando a pulseira, desceu para tomar café da manhã. Cassie a esperava com cupcakes, e Nia nem precisou perguntar para saber que eram recheados com chocolate. Seus favoritos.

— Feliz aniversário! — A jovem loira exclamou animadamente, adiantando-se para abraçar sua irmã.

— Obrigada, Cass. — A morena disse. — Você é o máximo.

— Feliz aniversário, Nia. — James disse, adiantando-se para também abraçar a aniversariante. — Eu não fazia ideia, ou teria trazido um presente.

— Deixe de bobagem. — Nia sorriu, acomodando-se à mesa e pegando um dos cupcakes recheados, gemendo de prazer ao provar a massa fofa e doce. — Eu não preciso de presentes.

— Tem certeza? — Dessa vez foi Nicolas quem falou. — O que me diz de um beijo de feliz aniversário?

— Claro. — A aniversariante rosnou em resposta. — Prenda a respiração, e pode me beijar quando eu terminar de contar até um milhão.

Nick não se ofendeu, meramente lhe dirigiu aquele seu sorriso cheio de segundas intenções. Nia o ignorou.

A tarde daquele dia foi modorrenta, com nuvens baixas cor de chumbo que passavam velozmente pelo céu de aparência cada vez mais ameaçadora. O próprio ar parecia denso, como uma toalha úmida. Todos os fatos apontavam para mais uma tempestade, porém Cassie insistira em aproveitar o bom tempo momentâneo para dar um mergulho no lago. Além de adorar nadar, era uma forma de testar a si mesma, provar que estava melhor do que todos pensavam, que ainda era forte.

Nick, James e Nia lhe acompanharam de bom grado, mas ficaram sentados na margem. A morena levara sucos e sanduíches, e os três se deliciaram com um piquenique. Boiando placidamente sobre a água cinzenta, Cassie ouvia a risada de sua irmã mais velha ecoar por entre as árvores de tempos em tempos, o que a deixava satisfeita.

— Cass, acho que a tempestade vem vindo. — A mulher mais velha avisou. — É melhor entrarmos antes que ela comece.

— Só mais um pouco, Nia. — Cassie respondeu. — Essa tempestade não vai chegar antes do anoitecer. Me deixe aproveitar um pouco!

Mal terminou de falar, a jovem sentiu algo ao redor de seu tornozelo, sólido e muito mais frio do que a água, puxando-a para baixo. Tentou dar impulso e nadar de volta para a margem, mas seja lá o que a havia agarrado era forte, e a loira se viu afundando. Nia, que presenciara toda a cena, soltou um grito de terror.

Nick foi o primeiro a reagir, pulando sem hesitar naquelas águas cinza-chumbo, mergulhando e tateando às cegas até enfim sentir os dedos de Cassie fecharem-se ao redor dos seus. Ele tentou puxá-la para a superfície, tarefa que se revelou mais complicada do que o esperado. O que quer que a houvesse prendido, era forte o bastante para resistir a todos os seus esforços. Por fim, quando já começara a temer o pior, sentiu o deslocamento de algo gélido bem ao seu lado, e de repente foi como se a jovem não pesasse absolutamente nada. Em segundos os dois romperam a superfície da água, tossindo e arquejando.

— Cassie! — Nia gritou. — Cass!

— Ela está bem. — Nick garantiu. — Foi só um susto.

Claro que isso era parcialmente uma mentira. Embora houvesse escapado do pior, Cassie se achava semiconsciente apoiada contra o ombro de Nicolas, zonza e fraca devido ao tempo que passara submersa. James, sempre prevenido, jogou uma corda que trouxera consigo. O homem mais novo a amarrou ao redor da cintura da loira e passou um braço ao redor do objeto. Juntos, um nadando com apenas um braço e o outro puxando da margem, conseguiram levar a jovem de volta à terra firme.

Nia soltou um soluço estrangulado e caiu de joelhos na grama, aninhando a cabeça da irmã em seu colo. Cassie entreabriu fracamente os olhos para fitá-la.

— Nia. — A jovem balbuciou. — Nia … Alguma coisa … Na água.

— Fique quieta. — Nia ordenou gentilmente, pousando um dedo sobre os lábios de sua irmã para calá-la. — E não tente se mover, ok? Você me deu um susto e tanto.

— Me … Desculpe.

— Tudo bem, sua idiota. — A voz da morena tremia com o esforço de conter as lágrimas. — Mas, se fizer isso de novo, eu mesma mato você.

Cassie não respondeu, simplesmente esboçou um sorriso fraco e voltou a fechar os olhos, exausta. 

James se curvou e pegou a moça nos braços, levando-a a passos rápidos de volta para o casarão. Nia disparou correndo na frente, buscando toalhas e reavivando o fogo na antiga lareira que ornamentava uma das paredes da sala dos fundos, a mais distante da entrada.

— Coloque-a aqui. — Nia ordenou, apontando para uma das poltronas cor de marfim. — Temos que aquecê-la primeiro, ou …

— Vocês cuidam dela. — Nick disse. — Eu vou preparar um chá. Uma bebida quente vai ajudá-la.

Nia não respondeu, ocupada em secar delicadamente os braços da irmã com uma das toalhas que trouxera, esfregando-o para estimular a circulação. Cassie aos poucos foi recobrando as energias, erguendo languidamente a cabeça para encarar sua irmã mais velha.

— Oi. — Nia disse suavemente, agora massageando de leve os dedos esbranquiçados pelo frio da jovem loira. — Como se sente?

— Atropelada por um búfalo. — Cassie respondeu, rouca. — Que diabos aconteceu?

— Você nos deu um susto. — Nick respondeu, entrando na sala com quatro xícaras fumegantes de um chá de cheiro herbal e forte. — Foi isso que aconteceu. Do que se lembra?

A jovem balançou a cabeça em negativa, indicando que não se lembrava de nada. Nick lhe passou uma das xícaras de chá, mas Cassie ainda estava tão fraca que mal conseguiu segurá-la. Nia imediatamente assumiu a tarefa, tirando a xícara das mãos da irmã e soprando de leve o líquido antes de ajudá-la a beber como se fosse um bebê. A loira fez uma careta de contrariedade, mas sua fraqueza não lhe permitiu protestar. 

Não muito tempo depois, já seca e aquecida pelas chamas da lareira, caiu em sono profundo.

— Tem certeza de que ela está bem? — James inquiriu, olhando a jovem adormecida com preocupação.

— Aparentemente sim. — Nia respondeu. — Mas afinal, que diabos aconteceu lá?

— Não faço ideia. — Foi a resposta. — Nick?

— Bom … — O homem mais novo respondeu pensativamente. — A água estava escura demais para ver com clareza, mas pelo que pude compreender alguma coisa agarrou Cassie e a puxou para baixo.

— Uma alga, talvez?

— Duvido muito. — Nick rebateu. — Era forte demais, nunca vi uma alga tão resistente.

— Um entulho submerso, talvez? — Nia conjecturou. — Sabe, tipo a corrente de uma âncora ou …

— É, seria possível. Mas não acho que o lago seja assim tão profundo.

— Então o que você acha que pode ter sido?

— Honestamente? Não faço a menor ideia. — Nick respondeu com toda a seriedade. — Isso é o mais horripilante.

— Se importaria se eu desse uma olhada, Nia? — James inquiriu. — Talvez vendo o ferimento possamos entender o que o causou.

— Faz sentido. — A morena respondeu em tom cansado. — Tudo bem, vá em frente.

A própria Nia se pôs de joelhos e ergueu a barra da calça do pijama de flanela que colocara em sua irmã, de modo a expor seu calcanhar esquerdo. Arranhões lhe subiam pela panturrilha, parecendo vinhas que brotavam da enorme mancha roxa.

— Isso são … — Nicolas estava tão atônito que mal conseguiu formular a frase. — Dedos. Alguém a agarrou.

— Não seja ridículo. — Nia bufou com impaciência. — Isso é impossível. Quem poderia ficar debaixo da água por tanto tempo?

— Com certeza … — James respondeu com toda a gentileza possível. — Nenhum ser humano. Isso já aconteceu antes, esse tipo de ferimento inexplicável?

— Bem … Eu arranhei o ombro alguns dias atrás. — A mais velha respondeu. — Mas provavelmente foi um prego ou algo do tipo.

— De qualquer forma … — O homem mais velho insistiu. — Se importaria em me mostrar?

Nia silenciosamente tirou o cardigã que usava por cima da blusa, expondo o ombro que fora arranhado dias antes. O ferimento estava protegido por uma bandagem, mas até mesmo o curativo estava manchado de sangue.

— É estranho … — A morena comentou, seus olhos se arregalando de alarme. — Já fazem dias. Os cortes deveriam ter cicatrizado a essa altura.

— Mantenha isso enfaixado. — Nick ordenou. — Eu vou pegar o kit de primeiros socorros e volto num segundo.

A jovem não protestou e, conforme prometido, o homem mais novo não demorou a voltar com uma pequena maleta preta. Com Nia ainda sentada em uma das poltronas, Nick delicadamente desfez o curativo, expondo arranhões profundos e ainda nem perto de cicatrizarem, com bordas de um feio tom amarelo-infecção.

— Há quanto tempo exatamente você foi ferida? — O homem de olhos verdes inquiriu.

— Quatro ou cinco dias. — A voz de Nia revelava medo e confusão. — Eu não estou entendendo. O ferimento já devia ter melhorado.

— Está tudo bem. — Nick disse no tom mais gentil que a jovem já o ouvira usar. — Vai melhorar agora, eu prometo. James, segure-a para mim sim?

James assentiu silenciosamente e se postou na frente da jovem. Ela escondeu o rosto em seu peito e permitiu que ele a amparasse enquanto Nick passava um líquido gelado sobre o ferimento, fazendo-a gemer de dor.

— Calma. — O rapaz mais novo disse, acariciando-lhe os cabelos com a mão livre num gesto quase fraternal. — Isso é um anestésico, vai fazer a dor passar. Apenas respire fundo.

De fato, depois de alguns segundos o local do ferimento ficou completamente dormente. Distraída, Nia virou o rosto de forma a poder observar o que estava acontecendo. Nick tratava dos arranhões com cuidado, limpando delicadamente o local antes de voltar a envolvê-lo em uma gaze limpa. As mãos deles eram firmes, trabalhando com rapidez, e a jovem viu-se hipnotizada por seus movimentos precisos.

— Pronto. — Ele disse após alguns minutos, dirigindo-lhe um breve sorriso. — Está feito. Como se sente?

— Melhor. — Foi a resposta. — Obrigada, doutor.

Nick meramente riu daquela resposta, afastando-se novamente para guardar o kit de primeiros socorros, deixando Nia, Cassie e James a sós na sala.

— Nia … Talvez não seja uma boa ideia ficar aqui. — James disse. — Esse lugar claramente não é seguro.

— Ah, não, nem pensar. — A jovem rebateu, tendo o cuidado de manter a voz baixa para não acordar sua irmã. — Não vou deixar que um susto estrague minha pesquisa.

James a encarou de braços cruzados, irradiando reprovação.

— Os cortes no seu ombro foram um susto, por acaso? — Ele desafiou. — E quanto ao tornozelo de sua irmã, aquilo também foi um susto?

— Acidentes. — Nia respondeu prontamente. — Farpas, pregos, qualquer coisa do tipo. E, francamente, qualquer coisa poderia estar escondida debaixo da água, e nunca saberíamos a menos que drenássemos aquele maldito lago.

— Farpas ou pregos não teriam levado quatro dias para começar a cicatrizar. — O homem a lembrou. — Quanto ao lago … Detritos não tem dedos, Nia.

— Eu sei lá, James! — A morena exclamou, exasperada. — Pode ter sido qualquer coisa. Você não quer que eu acredite que foi um … Um fantasma, quer? Isso é ridículo!

— Eles existem Nia, quer você acredite ou não. — Nick, que havia retornado, interrompeu, entrando na sala e estendendo seu celular para Nia. — Olhe. Isso tem aparecido na janela do meu quarto todos os dias desde que chegamos.

Nia pegou o aparelho, analisou a imagem por um momento e perguntou algo em uma língua que ninguém compreendeu. Ela devolveu o celular a Nick, parecendo satisfeita.

— Ótimo. — Ela disse. — Nenhum de vocês sabe o idioma maia.

— Maia?! — James espantou-se. — E onde foi que você aprendeu maia, Nia? Essa língua já não é usada há séculos.

— Minha irmã tem adoração por línguas mortas. — Cassie explicou com uma ponta de orgulho na voz. — Latim, maia, sânscrito … Nia estudou cada língua que pôde desde que consigo me lembrar.

— Ah, Cass, também não é para tanto. — A morena protestou, corando ligeiramente. — Honestamente, James, simplesmente é um passatempo meu.

— Um passatempo um tanto incomum. — Nick acrescentou. — Mas e então, sabichona, pode traduzir a inscrição?

— É claro. — Nia rebateu arrogantemente. — A inscrição diz que devemos ir embora.

— Não. — O homem mais novo disse imediatamente. — Não devemos. Nia, estou com a impressão de que essa sua pesquisa vai ser muito boa. E … Essa coisa … Seja lá o que for, não nos querendo aqui só prova isso.

Pela primeira vez desde que o conhecera, Nia relaxou e sorriu para Nick, um sorriso de verdade. Surpreendendo até a si mesmo, o rapaz sentiu seu coração falhar uma batida dentro do peito. 

Caramba, ele pensou, ela é mesmo bonita!

— Anda, maninho. — James interferiu. — Pare de babar e vamos começar a trabalhar. Precisamos dar mais uma olhada naquele porão.

Nick se afastou de boa vontade com seu irmão mais velho. James, porém, foi somente até a antiga cristaleira que escondia a entrada do porão antes de parar, apoiando-se casualmente contra a madeira do móvel antigo.

— Você também percebeu, não percebeu? — O mais velho inquiriu em voz baixa, tomando cuidado para não ser entreouvido. — Nia é superdotada. Ela pode ser muito valiosa.

— Não seria certo pedir a ela que se arrisque desse jeito. — Nick protestou. — Nia precisa saber no que está se metendo. Ela precisa ser treinada.

— Se ela souber dos riscos, talvez não queira assumi-los.

— É um direito dela. — O homem mais novo declarou. — Caramba, James, e todos pensam que você é um santinho. Um tremendo egoísta, é isso que você é!

— Ah, por favor, Nick. — James bufou impacientemente. — Só estou pensando no que é melhor para todos nós. Além do mais, nem estaríamos tendo essa conversa se você não tivesse segundas intenções quanto a Nia.

Uma discussão em voz baixa se instaurou após este comentário, culminando em Nick saindo como um furacão para o jardim mal cuidado. Ele sentou-se no primeiro degrau da varanda, respirando profundamente para acalmar-se antes que seu temperamento o levasse a fazer algo de que pudesse se arrepender.

— Oi.

A voz de Nia fez o rapaz olhar para cima, apenas para vê-la deixar a casa e sentar-se ao seu lado.

— Oi. — Ele respondeu simplesmente.

— Você está bem? Parece chateado.

— Estou bem.

— Tá. — A morena bufou ironicamente. — Também tenho uma irmã, esqueceu? Conheço uma briga fraternal quando vejo uma. O que James disse?

— James e eu … Discordamos. — Nick respondeu, optando por ir direto ao ponto. — Meu irmão foi contra algo que eu quero. E nossa discussão foi sobre você.

Nia o encarou, seus olhos azuis muito abertos e cheios de surpresa.

— Sobre mim?!

— Sim. — O homem de cabelos negros assentiu. — Existem pessoas nesse mundo que tem afinidade com o sobrenatural, chamadas de superdotadas. Alguns podem sentir, outros ver através daquilo que chamamos de Véu, a camada que separa este mundo e o mundo sobrenatural. O fato de você ter visto o que viu nos últimos dias prova que é uma dessas pessoas.

— Eu?!

— Sim. E eu quero ensiná-la, mostrar certas coisas que podem ajudá-la a se defender se necessário. James não acredita que isso seja preciso, ele acha que nossa proteção é o bastante. Então, Nia, a decisão cabe a você.

A morena ficou em silêncio por um longo momento, encarando as mãos que unira sobre seu colo. Parecia completamente perdida em pensamentos, e Nick estava a ponto de desistir de esperar por uma resposta quando ela finalmente voltou a olhá-lo.

— Se for mesmo me ajudar. — Ela disse. — Então eu quero aprender.

— Ótimo. — O rapaz sorriu, encantado com a coragem daquela mulher. — Troque de roupa, vista algo bem confortável. Te vejo no lago em meia hora.

A jovem simplesmente assentiu e, como combinado, os dois se encontraram na clareira do lago meia hora depois. Nick, que havia chegado alguns minutos antes, sorriu ao ver Nia de leggings e camiseta, num traje que expunha as curvas de seu corpo.

— Ótimo. — Ele disse aprovadoramente. — Vamos direto ao ponto por enquanto, haverá tempo para o resto mais tarde. Lembre-se de uma única coisa: uma entidade sobrenatural jamais tentará um ataque físico a não ser como último recurso mas, se tentar, espere qualquer coisa.

— Isso, é claro, partindo do pressuposto de que esse tipo de coisa realmente existe.

— É claro. — Nick sorriu novamente com o tom jocoso da jovem. — Vamos lá, me ataque. Mostre o que sabe.

Nia não reagiu de imediato, simplesmente o encarou intensamente. Esse truque o manteve distraído por tempo suficiente para que ela lhe passasse uma rasteira.

— Ei, isso não vale. — Ele protestou ao se pôr novamente de pé. — Distração é um truque sujo.

— Você não acabou de me dizer para estar preparada para tudo?

— É, acho que eu disse. — Nick respondeu, rindo alto. — Mas nem sempre o charme vai ajudá-la, não esqueça disso.

— Pode deixar, vou me lembrar disso.

Após terminar de falar, Nia atacou girando sobre si mesma e desferindo uma série de jabes rápidos. Nick os evitou e, quando ela tentou chutá-lo, agarrou sua perna. Isso conferiu a Nia exatamente a oportunidade que ela esperava: usando o próprio apoio proporcionado pelo agarrão de Nick, ela saltou e desferiu um segundo chute com a perna livre, empurrando-o para trás e forçando-o a soltá-la.

— Caramba, morena! — O rapaz ofegou. — Você briga como um demônio!

A jovem sorriu em resposta, embora nenhum dos dois tivesse certeza absoluta de que aquilo era realmente um elogio. Nick sentou-se em uma pedra à beira do lago, fazendo sinal para que Nia se aproximasse.

 — Eu sabia. — Ela provocou. — Estava esperando sua chance, não estava?

— Não sei do que você está falando. — O rapaz rebateu inocentemente. — Venha aqui, quero te mostrar uma coisa.

Nia ergueu uma sobrancelha, provocando-o, mas se aproximou mesmo assim, surpresa ao ver que Nick segurava um livro de aparência muito antiga. Ela se inclinou por sobre o ombro do jovem para poder ler.

— Não acredito que esse tipo de livro realmente existe! — A morena exclamou, indecisa se ria ou ficava surpresa.

— Eu te disse, há muito mais nesse mundo do que podemos imaginar. — Nick respondeu calmamente. — Este aqui é sobre demonologia. História, espécies de demônios, o que fazem, como combatê-los … Está tudo aqui. Tem também um capítulo sobre espíritos malignos, que antigamente eram considerados demônios inferiores. Eu recomendaria ler sobre o fenômeno Poltergeist.

Nia não se afastou quando Nick entregou o livro em suas mãos, abrindo-o na página sobre o fenômeno que citara. Lendo por alto as letras antigas e elegantes, ela logo entendeu o motivo.

— Isso tudo … — A jovem comentou. — Parece com o que está acontecendo aqui.

— Exatamente. — O moreno assentiu. — Esse lugar tem uma história e tanto. Se quer minha opinião, acho melhor mandar abençoar a casa. Só por precaução.

— Não acho que seja necessário. — Nia protestou.  — Quer dizer … Não vamos ficar muito tempo aqui.

— Pense nisso como uma medida de proteção. — Nick insistiu. — Não queremos que mais nada aconteça, não é?

— Bem … — A jovem pesquisadora corou levemente, desviando os olhos por um momento antes de voltar a encará-lo. — Seria muito bom ter vídeos provando a atividade sobrenatural nessa casa.

— Está me dizendo que quer que os fenômenos continuem? — O homem de olhos verdes inquiriu seriamente, ao que Nia assentiu em resposta. — E está ciente dos riscos que pode correr com isso?

Mais uma vez ela simplesmente aquiesceu em resposta, seu rosto se fechando em uma máscara de determinação.

— Tudo bem, então. — Nick suspirou pesadamente, cedendo, balançando a cabeça em negativa quando Nia fez menção de devolver-lhe o livro. — Leia primeiro. Talvez possa lhe ser útil.

— Está bem. — A morena assentiu, segurando o livro conta o peito com cuidado. — Quase esqueci de perguntar: e quanto a um exorcismo?

— Exorcismo?

— É. Ao invés de uma benção, que tal um exorcismo? — Nia sugeriu. — Funcionaria?

Para sua surpresa, Nick jogou a cabeça para trás numa sonora gargalhada.

— Se já viu algum filme de terror … — Ele disse. — Deve saber a resposta para essa pergunta.

— Ah, por favor! — Nia se pegou rindo também. — Aposto que nem metade daquilo é verdade. Vamos, me diga: como é realmente?

O rosto de Nicolas ensombreceu e ele balançou a cabeça num gesto de negativa.

— Confie em mim. — Foi a resposta. — Quanto menos souber sobre isso, melhor para você.


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