Obscuro escrita por Benihime


Capítulo 6
Capítulo 5




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Cassie acordou com um sobressalto, ouvindo o som de um carro que parava na frente do antigo casarão. Pulou da cama bem na hora em que Nia aparecia na porta de seu quarto, vestindo um robe de cetim negro que a cobria do pescoço aos pés.

— Você também ouviu isso? — A mais nova inquiriu, alarmada.

— Ouvi. — Foi a resposta. — Relaxe, os meninos devem ter vindo antes do que esperávamos. Vou descer e dar as boas vindas, você se veste e nos encontra depois, ok? Não precisa se apressar.

Cassie assentiu em resposta e sua irmã desapareceu pelo corredor. Ao abrir a porta da frente, deparou-se com dois homens. O mais velho era familiar, um jovem bem apessoado na casa dos trinta com cabelos muito negros, olhos castanhos, um sorriso gentil e uma barba desgrenhada sempre por fazer.

O mais novo, porém, era um completo desconhecido, e Nia teve que admitir que ele lhe atraiu o olhar. Embora jovem, era quase uma cabeça mais alto do que seu irmão e musculoso onde o outro era esguio, apresentando um físico que fazia pensar em um felino de grande porte. Seus cabelos eram negros também, mas seus olhos eram verdes como esmeraldas e brilhavam com uma expressão maliciosa ao examinar a mulher à sua frente. Nia sentiu vontade de dar-lhe uma bofetada, e o teria feito se o homem mais velho não se adiantasse para abraçá-la.

— Nia. — Ele disse carinhosamente. —  É bom te ver. Sinto muito se viemos cedo demais.

A morena retribuiu o abraço, descansando o queixo no ombro do desconhecido com o afeto de uma irmã mais nova.

—  James, você não muda nunca. —  A morena disse ao se afastar, bagunçando os cabelos do homem à sua frente. — Sempre o senhor certinho.

A provocação da jovem fez James abrir um sorriso torto. O sorriso dele era bondoso e cheio de calor, fazendo-a sentir-se imediatamente protegida e em paz.

—  É bom te ver também, Nia. — Ele disse. — Permita-me apresentar o meu irmão mais novo, Nicolas.

O homem de olhos verdes abriu um meio sorriso. Ao contrário de seu irmão, nele o gesto era simplesmente cheio de malícia.

—  Só Nick, gatinha. — Ele disse, estendendo uma das mãos para um cumprimento.

— E por que? — Nia foi cortante, mantendo os braços cruzados enquanto o encarava com um olhar de pura repugnância. — Seu cérebro não consegue lidar com nomes longos?

Nicolas abriu e fechou a boca como um peixe fora d' água, piscando várias vezes. Fora pego de surpresa e deixado completamente sem reação com aquela óbvia antipatia. James, por sua vez, soltou uma sonora risada e deu uma cotovelada amigável no irmão mais novo.

—  Acho que essa vai lhe dar um pouco mais de trabalho, irmãozinho. —  O mais velho provocou.

—  Por mim tudo bem. — O homem de olhos verdes rebateu, mirando Nia de alto a baixo com aprovação. — Eu gosto de desafios.

—  Espere sentado. — A morena bufou em resposta. — Enfim, James, tem alguma coisa muito estranha acontecendo nessa casa. Foi por isso que liguei para você. Minha irmã veio comigo, ela também viu tudo. Vem, entre.

Os dois assentiram e a seguiram, Nick sem tirar os olhos do corpo feminino envolto em seda. Parecia despi-la com o olhar. Nia percebeu e ficou vermelha de raiva, mas não disse nada.

A jovem os conduziu até uma sala grande nos fundos que parecia ter sido outrora uma sala de visitas, cujas janelas ofereciam uma visão do bosque atrás da casa. Quatro poltronas cor de marfim, ainda com a aparência confortável apesar dos anos, estavam dispostas em um círculo perfeito. Entre elas, uma mesa de centro de vidro que parecia fora de lugar em um aposento tão antigo, provavelmente adicionada na época em que o casarão fora convertido em hotel e, sobre essa mesa de centro, dois vasos idênticos de obsidiana negra.

— Fiquem à vontade. — Nia disse educadamente. — Só esperem um momento, eu vou subir e chamar a minha irmã.

—  Não se apresse. — James respondeu. — Se importa se dermos uma olhada por aí enquanto esperamos?

— Nem um pouco. Na verdade, seria ótimo.

Nia girou nos calcanhares e deixou a sala. James imediatamente olhou para seu irmão, que a acompanhava com o olhar.

— Nem comece. — O homem mais velho foi logo dizendo.

— Começar com o que? — Nicolas inquiriu maliciosamente. —  É sério, eu não tenho a mínima ideia do que você está falando.

James arqueou uma sobrancelha em resposta e cruzou os braços, avançando um passo até estar frente a frente com seu irmão mais novo. Apesar de ser mais baixo, algo naquele homem impunha respeito.

       —  Eu vi a forma como você olhou para ela. — Ele disse rispidamente. —  Nia nos chamou para ajudá-la, Nick. Não se esqueça disso.

        — Existem várias formas de ajuda. — Nick rebateu, rindo. — Não que você saiba disso, é claro, senhor certinho.

Mesmo contra a sua vontade, James riu e balançou a cabeça.

— Nick. — Ele disse. — Você é um pervertido.

— É isso aí, mano. Você está absolutamente certo.

Nia e Cassie desceram juntas logo em seguida, antes que James pudesse acrescentar qualquer outro comentário. James ficou imediatamente cativado pela jovem loira, que o fez pensar em um raio de sol.

Em sincronia quase perfeita, as duas irmãs se acomodaram nas poltronas, lado a lado. Nia havia trazido seu notebook e o virou para os dois, de forma a que ambos os homens pudessem ver as filmagens das câmeras feitas até o momento.

— Eu passei um bom tempo editando o material. — Nia disse. — Acho que reuni tudo o que poderia ser relevante.

— É um material muito bom. — Nick comentou. — Qual das duas teve a ideia das câmeras?

— Eu. — Nia respondeu rispidamente. — Quando se pesquisa o sobrenatural, documentar é o truque.

O homem mais novo a encarou com um meio sorriso, erguendo uma sobrancelha em desafio.

— Está dizendo que as suas câmeras tem autonomia, então? — Ele inquiriu. — Porque, do contrário, sua ideia não vale muito.

— Preciso descarregar a memória todas as noites para o meu servidor remoto, mas as baterias híbridas podem durar semanas. — A morena declarou com satisfação. — Se é isso que você quer saber.

Nicolas balançou a cabeça com aprovação, tentando e falhando em esconder sua surpresa.

— Ora, ora. — Ele disse. — Adoro uma mulher que sabe o que faz.

— Dispenso a sua opinião. — Nia rebateu friamente. — E aí, James, o que acha do que temos até agora?

— Nada está claro por enquanto. — O homem mais velho respondeu. — Mantenham as câmeras ligadas e fiquem atentas, é só o que posso dizer. E … Bom, acho melhor ficarmos por perto.

— Tem quartos de sobra lá em cima. — Nia informou. — Isso é, se você não se importar em me ajudar a dar um jeito neles.

— Pode contar comigo.

— Eu sei que sim. — A morena sorriu calorosamente. — Cass, pode mostrar a eles? Eu vou fazer um café. Puro e bem forte, certo James?

— Leu a minha mente, pequenina.

Nia não se importou com o apelido carinhoso, era apenas a forma como o amigo às vezes dirigia-se a ela. Cassie, porém, soltou uma sonora risada ao ouvir aquilo enquanto se afastava em direção ao segundo andar com Nicolas.

A morena se ocupou em começar a passar o café, mas um par de mãos masculinas gentilmente tirou a chaleira de suas mãos. Ela virou-se e tentou parecer zangada, mas seu sorriso a denunciou.

— Eu não preciso de ajuda, sabia? — Ela disse brandamente.

— Eu sei. — James respondeu enquanto se ocupava em terminar de encher a chaleira e colocá-la sobre uma das bocas do antigo fogão. — Mas seria egoísta e errado de minha parte não ajudá-la.

— Sempre um cavalheiro. — A morena zombou afetuosamente. — Obrigada, James.

— Disponha. — O homem moreno sorriu em resposta. — E então, quanto tempo mais pretendem ficar aqui?

— Mais seis semanas. — Foi a resposta. — Completando dois meses. Isso é, se tudo correr bem. Estou começando a achar que talvez seja melhor dar o fora.

— É, talvez. — James concordou. — Olhe, Nia … Eu falei bem sério. Dado o que já aconteceu até agora, todo o cuidado é pouco.  Eu não quis dizer isso na frente da sua irmã, caso você pretendesse manter o assunto entre nós, mas … Bom, leve isso como um conselho de um amigo, ok?

— Obrigada, garotão. — A morena lhe deu uma palmadinha afetuosa no ombro. — Mas não precisa se preocupar tanto. Cass e eu sabemos nos cuidar. Além do mais … Agora temos você, não temos? Nosso especialista particular.

— Nia, por favor, leve isso a sério. — James suspirou pesadamente. — Vocês duas não fazem a mínima ideia de com o que estão lidando.

A jovem se voltou completamente de forma a encará-lo de frente, seus olhos azuis penetrantes como adagas.

— E você sabe? — Ela inquiriu desafiadoramente.

— Tenho uma ideia. — Foi a resposta. — Confie em mim, é algo maior do que você imagina. Nenhuma precaução será demais.

Nia, que até aquele momento estava tensa e parecendo pronta para uma discussão acalorada, cedeu com um suspiro e deixou seu corpo se recostar contra a pia atrás de si.

— Diga o que precisa ser feito. — A jovem disse. — Não será como da última vez, eu prometo.

James a encarou com descrença por alguns instantes antes de assentir.

— Em primeiro lugar. — Ele disse. — Aqui e agora, quero a sua palavra de que não descerá mais ao porão, aconteça o que acontecer.

— Só isso?

— Na verdade não. — James disse em tom apologético. — Também quero que se lembre de uma coisa, pode ser?

— Depende. Que tipo de coisa?

— Nick é tão bom quanto eu, talvez melhor. Não se deixe enganar pelo jeito dele. — O homem mais velho falou com total seriedade, sem desviar os olhos dos dela. — Então, se meu irmão lhe pedir para fazer algo … Apenas faça, ok?

O tom sombrio daquele homem, que Nia considerava quase como um irmão mais velho, a dissuadiu de discutir. Silenciosamente, ela apenas assentiu.

— Tudo bem, eu dou minha palavras nas duas coisas. — A morena disse. — Mas, em troca, quero que me prometa que não contará nada para a Cassie sobre qualquer evento sobrenatural sem a minha autorização. E quero dizer absolutamente nada mesmo. Nem uma palavra.

James sacudiu a cabeça em reprovação, parecendo levemente divertido com a condição imposta por sua jovem amiga.

— Nia. — Ele protestou. — Cassie claramente já é adulta, ela …

— Ela sofreu um acidente, James! — Nia o interrompeu com veemência, baixando a voz ao perceber que quase havia gritado. — Eu quase perdi a minha irmãzinha. Se Cassie souber que alguma coisa ruim está acontecendo, não vai descansar um segundo sequer tentando me proteger. Isso vai atrapalhar a recuperação dela, e não vou fazer nada que coloque a saúde de minha irmã em risco. Entendeu, James?

O homem moreno ficou em silêncio por um longo momento, apenas encarando a mulher à sua frente, até por fim ceder com um aceno de cabeça.

— Está bem. — Ele disse suavemente. — Você tem a minha palavra.

— Ótimo. — Nia sorriu. — E … Não me leve a mal, James, mas o seu irmão é um idiota.

A brincadeira inesperada teve o efeito desejado: quebrar a tensão que havia se instaurado entre os dois.

— Cuidado. — James aconselhou, rindo. — Não deixe o meu irmão ouvir isso.

— Isso o quê, irmãozão?

— Nada. — O homem mais velho se virou ao ouvir a voz de seu irmão, que voltara acompanhado por Cassie. — Nia estava falando em colocar veneno no seu café, só isso.

— Como se eu fosse me dar todo esse trabalho. — Nia bufou indignada. — Andem, vocês dois, venham beber antes que esfrie.

Rindo, Cassie e Nicolas se juntaram ao casal mais velho. Mais tarde naquela noite, depois que todos já estavam dormindo, Cassie se cansou de rolar de um lado para o outro na cama e pôs-se de pé com um grunhido baixo de frustração.

A loira subiu silenciosamente até o terceiro andar, dirigindo-se à porta do quarto escolhido por sua irmã. Encontrou-a aberta, e logo ouviu as notas familiares de O Lago dos Cisnes flutuando baixinho pelo corredor. Ao espiar para dentro do quarto, viu Nia empoleirada na cama, sentada de pernas cruzadas.

— Oi, Cass. — A morena sorriu calorosamente. — Entra.

Cassie não se fez de rogada, indo sentar-se ao lado de sua irmã e lhe dando um beijo estalado na bochecha.

— Eu não esqueci, sabia? — A moça mais nova disse jocosamente. — Feliz aniversário, irmã mais velha. Vim trazer o seu presente.

— Cass, você não precisava …

—  Sei disso. — A loira sorriu. — Mas eu quero. Você me mimou a vida toda, deixe eu fazer o mesmo pelo menos uma vez.

— Tudo bem. — Nia cedeu com uma risadinha. — É justo.

Cassie lhe entregou uma pequena caixa negra. Quando a jovem morena a abriu, viu uma pulseira de prata com delicados elos na forma de corações minúsculos e uma pequenina cruz também de prata como pingente.

— Cass … — Ela disse, embora sem sinal de repreensão em seu tom. — Você sabe que eu não …

— Apenas aceite. — A loira disse com firmeza, fixando na irmã mais velha seus olhos castanho-dourados. — Vou me sentir melhor sabendo que você tem isso.

Nia hesitou por um longo momento. Das duas, sempre fora a mais avessa à religião, seu ceticismo tocando as raias da pura aversão. Mas, é claro, não havia nada que ela não fizesse por sua irmãzinha. Fora assim desde que eram crianças e continuaria a sê-lo para todo o sempre.

— Está bem. — A mais velha cedeu enfim. — Muito obrigada, irmãzinha. É linda.

Cassie meramente sorriu em resposta e deitou-se com a cabeça no colo de sua irmã. Nia sorriu, acariciando-lhe os cabelos loiros até que a jovem caísse no sono.


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