Estrela decadente escrita por Ariel F H


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

esse capítulo é meio pequeno, então eu decidi postar ele já mesmo ajosijfasdf

agora eu me vou, vejo vocês daqui a alguns dias, espero

paz, amor e empatia



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Eu sabia que não conseguiria dormir com Sara em minha mente.

Sem pensar muito sobre, eu estava com uma pasta em que guardo a maior parte do que escrevo. Algumas julgo vergonhosas demais para guardar.

Em algum ponto da madrugada, pensei que seria bom dar uma alongada no corpo, infelizmente não era uma ideia muito boa sair de casa e ir até o jardim ou algo assim, então decidir ir para a cozinha e talvez pegar algo para comer.

Eu apenas não esperava encontrar alguém lá.

Marcus estava sentado em uma cadeira, os cotovelos sobre a mesa e uma expressão estranha.

— Oi... — disse ao me ver.

Ele nunca pronuncia meu nome. Sempre deixa um espaço em branco no lugar. Faço o mesmo, mas é meio que automático. Como um “você faz, então também vou fazer”.

Foram segundos estranhos aqueles. Nós não estamos acostumados a ficar sozinhos no mesmo lugar. Eu parei por um momento, apenas para observa-lo, mas então logo fui pegar uma garrafinha de água na geladeira.

Estava esperando sair dali sem falar nada, mas aparentemente não era a ideia dele.

— Não consegue dormir? — Tive que virar para olha-lo. Não iria dizer que tinha planejado virar a madrugada acordada, então dei de ombros. — Eu estou com insônia de novo.

— Não tem mais remédios? — perguntei. Refleti que seria rude me fingir de muda no momento, e eu estava ciente do problema dele.

Marcus tinha complicações para dormir as vezes. E enxaqueca. E mais algumas coisas que não me interessam.

— Sim. Preciso tomar alguns. Eu acho.

Ele estava meio estranho, mas não sabia como perguntar o que estava errado. Por um momento pensei se ele me perguntaria se fosse ao contrário. Eu, ali, com uma cara de cansada e ele no meu lugar.

Não cheguei à nenhuma conclusão.

— Vou tomar algum comprimido agora. — falou, o que não respondeu minha dúvida.

Marcus levantou e colocou sua mão sobre meu ombro ao passar por mim. Nós nos olhamos brevemente.

Quando fui para meu quarto, não sabia muito o que pensar. Mas como não era nada de muito importante, e eu certamente não teria o poder de resolver algo, segui o plano de ler meus poemas antigos e escrever novos se me desse inspiração.

No dia seguinte, no almoço, o assunto era sobre um menino que cometeu suicídio em uma cidade próxima. Todos estavam falando sobre isso, aparentemente.

— Ele era viado. — minha irmã disse quando Marcus tocou no assunto.

Demorei um pouco para processar a informação.

— O que? — acabei falando.

Raquel olhou para mim, ela parecia contente em saber de algo que eu não soubesse.

— Ele era viado. — repetiu. — Sabe? Então contou os pulsos. — não falou isso com pena, ou empatia, muito pelo contrário.

Minha mãe parecia descontente.

— Não diga essas palavras na mesa, Raquel. Estamos comendo. É feio.

— O que? Viado? — Renato disse. Estava rindo.

— Mas é o que ele era! — Raquel fez cara feia. — Bianca me contou. Ela conhece a irmã dele.

— Esse tipo de gente sempre acaba tendo o que merece. — Marcus opinou. — Desvirtuados.

Mordi o lábio. Estava claro que a melhor opção era ficar calada. Então fiquei.

— Ele cortou os pulsos no quarto. Bianca disse que a mãe dele ficou doida tentando limpar a sujeira. — Raquel contava. Não sei como o estomago dela não revirava com coisas assim, porque eu estava perto de vomitar.

— Chega disso Raquel.

— Mas mãe...

— Não precisamos ficar falando sobre isso agora. Deus cuidará da alma desse menino. Que os pecados dele sejam perdoados. Agora coma.

— E que ele sirva de exemplo. — Marcus disse. — A geração de hoje está tão perdida. Na minha época...

 

 

Para: dumbsara@hotmail.com

Assunto: hey

Oi!

Pensei em te mandar algo mais cedo, mas achei que seria precipitado demais. Mas, de qualquer maneira, eu amei tanto conversar com você. Nós realmente precisamos fazer aquilo com mais frequência.

Como você está?

Não quero parecer que vim aqui apenas para dizer isso, mas ontem um garoto cortou os próprios pulsos. Ele morava a menos de duas horas daqui. Andei pesquisando um pouco. Ele tinha 17 anos. Seu nome era Miguel. Estava no último ano do ensino médio. Uma pessoa normal. Há uma citação de uma amiga dizendo como ele era amável. Nada de errado com ele.

Mas, bem, ele era gay. A família não o aceitava. Isso meio que acabou se tornando um fardo, eu acho.

É tão triste.

Sabe o que mais?

Minha família falou algumas coisas realmente horríveis hoje sobre isso. Sobre Miguel e pessoas como ele. Não sei se quero repetir. Acho que isso está martelando na minha cabeça. Não quero pensar mais sobre isso. Mas não consigo. Tentei escrever alguns poemas (passei a noite fazendo isso) mas acho que minha inspiração acabou. Enfim, vou ver algum filme. Tirar isso da mente.

Espero notícias suas.

Incrivelmente sinto saudades de você. Mesmo que tenhamos passado horas conversando ontem.

Com amor,

Iris

 

 

Para: irisaddler@hotmail.com

Assunto: hey

Jamais se esqueça que família não é aquela que te deixa desconfortável ou se sentindo uma peça de quebra cabeça com defeito.

Só por que moram no mesmo teto que você não significa que sejam sua família. Eu posso ser sua família, certo? Te considero como parte da minha.

Isso é o que significa família: amor.

Eu sinto muito muito muito por Miguel. Mas não tanto como sinto pena das pessoas que moram com você. Eu não entendo, sério. Qual o problema?

Eu queria tanto ter uma arma e sair atirando em todo tipo de preconceito que encontrar por aí. Infelizmente não posso.

Apenas não deixe as palavras deles dominarem sua cabeça, okay? Meus pais dizem coisas seriamente preconceituosas por aqui, principalmente justificando com a religião. Aprendi a bloquear esse tipo de coisa. Tente fazer o mesmo, certo? Sei que não é fácil, mas é como uma saída.

Com amor,

Sara

 

 

Para: dumbsara@hotmail.com

Assunto: ♥

Talvez eu nunca tenha ficado tão feliz em ler palavras suas.

Fiz o que você disse. Tenho mantido a mente ocupada com outras coisas.

Mas apenas é difícil, sabe? Não tenho coragem de bater de frente com Marcus, ou mesmo com minha mãe. Ou meus irmãos. Sei que seriam quatro contra apenas eu, e no fim de nada serviria.

Sempre é assim. Eles dizem algo e minha opinião é contrária.

No fim, eu realmente acabo me sentindo como uma peça defeituosa de um quebra cabeça.

Você é minha família, Sara.

Mas se eu pudesse, gostaria que nem eu nem você tivéssemos que passar por isso.

Com amor,

Iris

 

 

Para: dumbsara@hotmail.com

Assunto: :p

Ok, ok, faz poucas horas desde meu último e-mail e eu sei como as coisas funcionam para você.

Mas eu simplesmente me sinto sozinha de repente. Não sei.

Na verdade eu acabei de colar dois poemas aqui e os apaguei. Tenho pensado em você, e sobre outras coisas também, mas não sei como expressar isso.

Apenas sinto que preciso conversar com alguém.

Iris


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