Platônicos escrita por Bia
IV
Esperava a irmã sentado em um banco de madeira de um parque trouxa; uma sacola de papel pardo ao lado. Seu semblante demonstrava calma, diferente do seu interior.
Notou a aproximação de Gina sem se virar; sentiu quando se sentou ao lado do pacote de papel pardo, cruzou as pernas na calça jeans branca e apoiou a bolsa no colo.
Foi direta:
— E então?
Rony respirou fundo, recordando rapidamente tudo o que tinha ouvido aquela tarde, escolhendo as melhores palavras para que não houvesse nenhum mal-entendido:
— Seu marido ama você, assim como a minha esposa me ama. Não existe qualquer tipo de relação errada entre eles.
Silêncio.
Uma sobrancelha ruiva arqueada.
— Fala sério?
— É claro, Gina! Não era isso o que você queria?
Estava impaciente. Sentia-se desprezível depois de ter feito o que fez para obter aquela informação.
— O quê? Claro que era o que eu queria! Mas...mas e esses encontros? Esses encontros sozinhos?
Rony deu de ombros.
— Eles conversam. Bebem e conversam.
— Conversam sobre o que?
O auror sorriu e encarou a irmã pela primeira vez.
— Um pouco sobre nós.
O queixo bonito da ruiva caiu de surpresa, mas a recuperação foi rápida. Mordeu o lábio inferior abrindo um lindo sorriso; seu alívio expresso silenciosamente no relaxamento dos ombros.
— Obrigada, Rony. De verdade. — disse com doçura apertando-lhe a mão. — Me desculpe por ter te pedido esse tipo de coisa.
Balançou a cabeça, negando.
— Sabe que não agi só por você, então não carregue essa culpa. Agora, é melhor ir embora. Harry logo vai chegar em casa e você não vai querer que ele perceba que sua preciosa capa da invisibilidade não está no devido local.
Gina confirmou com a cabeça. Apertou mais uma vez a mão do irmão, pegou a sacola de papel pardo e partiu.
Rony suspirou e deixou-se relaxar no banco, ainda sem capacidade para definir se era bom ou não ser escolhido.
III
— Obrigado, Mione.
Harry agradeceu a caneca de cerveja amanteigada que lhe fora oferecida.
Esperou que a amiga se sentasse no sofá, com a própria caneca, para se sentar defronte.
Eram raras às vezes em que se poderia apreciar o silêncio na casa da família Granger-Weasley, mas Harry sabia que apreciar era a última coisa que Hermione estava fazendo no momento.
Sabia que ela estava preocupada ou zangada; bastava observar o sútil franzido dos lábios. Era tão sútil que passava despercebido até por seu marido, mas nunca pelos olhos verde vivos do Potter.
Bebeu um grande gole e perguntou:
— Problemas?
A Granger fez uma careta.
— O mesmo de sempre.
Preferiu ficar em silêncio e evitou um bufo. Mais uma vez falariam de seus cônjuges.
— ...
— Você sabe. — Hermione retomou, impaciente. — O Rony com a mesma pergunta de novo e de novo: o que você faz aqui quando ele não está?
— Deve ser mal da família Weasley. — Harry admitiu com um sorriso constrangido. — Como você também sabe, Gina me faz a mesma pergunta sempre que pode.
— Qual é o problema desses dois?
Colocou a caneca na mesinha de centro para poder cruzar os braços sobre o peito, indignada.
— Agem de um jeito ridículo. Ridículo! Como se estivéssemos fazendo algo errado. Você também é meu amigo, afinal. Eu não suporto essa constante insinuação e honestamente não entendo o porquê disso.
O auror passou a mão pelos cabelos negros, questionando-se se deveria, de fato, explicar algo tão óbvio para alguém tão inteligente.
Decidiu que sim.
— Você realmente não entende, Hermione?
A pergunta veio em voz profunda e calma. Uma sobrancelha arqueada, o rosto sério e seus olhos fixos nos olhos da Granger.
Incontáveis minutos em silêncio. A comunicação sendo feita através de um enfrentamento inquebrável de seus olhos e do entendimento profundo que tinham um do outro.
Fez-se um barulho estrondoso na cozinha, como uma panela sendo derrubada no chão. Nenhum deles pareceu interessado o suficiente para levantar e verificar o que teria acontecido.
— Você sabe sim. — Harry verbalizou, levando a caneca de cerveja aos lábios. — Você sabe melhor do que ninguém... Nós temos algo.
Demorou um determinado tempo para que Hermione fechasse os olhos e suspirasse, concordando:
— Sim, existe isso entre nós.
Existia alguma coisa entre Harry e Hermione. E eles sabiam.
Não era absolutamente nada físico ou apaixonado, mas era algo. Existia essa energia diferente que os cercava quando estavam juntos e essas atitudes opostas que eram estranhamente complementares. Existiam esses sorrisos cúmplices e essas conversas com o olhar. Existiam essas confissões que só faziam entre si de coisas difíceis de admitir até para eles mesmos.
Existia essa coisa incrivelmente forte e pura que nenhum deles queria chamar pelo devido nome, mas que era facilmente reconhecido como Amor.
Harry encarou o líquido dourado e espumante na caneca e retomou, suave:
— Você sabe... Uma vez Dumbledore me disse que são nossas escolhas que relevam quem somos... E, ainda que isso exista entre nós, fizemos nossas escolhas....Você escolheu Rony e eu escolhi a Gina. E, eu posso te garantir, Mione, não me arrependo nenhum segundo disso. Eu amo a minha família, amo a minha esposa. Nunca, em hipótese alguma, eu trairia a confiança dela...Assim, como eu sei que você jamais trairia Rony.
Ergueu a cabeça, respirando fundo como se não soubesse como prosseguir.
— Sendo sincero, eu entendo a desconfiança de Rony e Gina mesmo que nada, nunca, tenha ocorrido entre você e eu. O que sentimos um pelo outro...Não é de fácil explicação. E eles sabem... Sabem que sairiam magoados se pudêssemos comparar com o que sentimos por eles.
Harry voltou a beber, talvez para ajudá-lo a dizer aquilo tão claramente, e Hermione ficou em silêncio dessa vez, simplesmente porque não havia mais nada a ser dito.
Depois de esvaziar sua caneca, Harry tornou a encarar a amiga.
Sussurrou sério:
— O que eu sinto por você é completamente distinto, é impossível comparar com qualquer outro sentimento.
O semblante de Hermione era só doçura. Seus olhos e sorriso. As palavras que queria ter dito fluindo através dos lábios de Harry.
Apertou a mão dele.
— Eu sei o que quer dizer.
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