Platônicos escrita por Bia


Capítulo 1
I II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720991/chapter/1

I

— E então?

— E então o quê?

— O que eu te perguntei antes do jantar...Você ainda não me respondeu.

Revirou os olhos castanhos, de costas para o marido, arrumando a toalha da mesa.

— O que era mesmo?

Perguntou apenas para irritá-lo e sentiu-se vitoriosa quando o escutou bufar raivoso.

— Você sabe!

Não responderia. Não enquanto não fosse mais claro. Queria que ele fizesse a pergunta em voz alta para que se ouvisse dizer uma estupidez daquele grau.

Outro bufo.

Silêncio.

— Você sabe! É verdade que o Harry tem vindo aqui quando eu não estou?

As palavras foram ditas com tanta pressa que pareciam ter sido cuspidas. Nem deu tempo de passarem pelo cérebro de Rony.

Preferiu o caminho mais curto.

— Sim.

—...

—...

— E aí?

— E aí o quê, Ronald? — perguntou áspera, virando-se pela primeira vez para encará-lo. Não acreditava que estava tendo essa mesma conversa de novo.

Ele se acomodou sem graça e descontente no sofá.

— Não gosto disso. — resmungou baixinho — Gina também não. — continuou mais alto. Hermione revirou os olhos pela segunda vez, voltando-se para a toalha — Ela me disse que ele vem aqui toda sexta-feira. Fazer o quê, se eu não estou aqui?

— Mas, eu estou! — respondeu, quase gritando. — Eu também sou amiga do Harry, caso você tenha se esquecido.

Estava ficando irritada. A toalha da mesa não ficava reta.

— E o que vocês fazem aqui, sozinhos os dois, posso saber?

Fez um gesto de “esquece” com a mão direita, mas sabia que não responder seria pior. Só encheria a cabeça do marido com mais bobagens.

Tentou soar calma:

— Conversamos. É bom conversar com alguém que não dorme com você ou com quem você trabalha o dia inteiro.

A indireta para ele e Gina nas entrelinhas.

— Ah! Mas, conversar com a sua chefe pode?

— Aqui eu não sou chefe de ninguém, senão já teria mandado você parar de falar besteiras.

Menos de um minuto em silêncio antes de voltar a resmungar:

— Não gosto disso, não gosto.

— Do que é que você não gosta, Rony? — perguntou com frieza, encarando-o.

Estava cansada demais para aquele teatro. Já eram onze horas da noite e teria que acordar ás cinco da manhã para deixar Rose e Hugo com Molly antes de ir trabalhar.

— Você não gosta de saber que existem coisas que o Harry não conta para você ou não gosta de saber que, provavelmente, existem coisas que eu não conto?  

Sabia que tinha acertado em cheio quando viu a expressão do marido variando rapidamente entre choque, raiva e desapontamento. Arrependeu-se por um segundo.

Ele não respondeu nada. Sem “boa noite” ou apenas depositar um beijo em sua testa, ergueu-se da poltrona e dirigiu-se para o quarto. Hermione suspirou, decidida a não ir atrás dele e desculpar-se por dizer a verdade.

Sacou a varinha e sacudiu-a em cima da mesa. Por fim, a tolha ficou reta.

II

— E então?

— E então o quê?

Bufou irritada, inclinando-se em cima da mesa, na direção do irmão.

— Você sabe!

—...

— Você sabe! Conseguiu descobrir o que é que o meu marido conversa tanto com a sua esposa?

Gina e Rony estavam em um lugar discreto. Um café trouxa, para ser mais exato. Assim poderiam conversar tranquilamente sem se preocuparem com quem pudesse ouvir.

— Não...Eles só conversam, foi o que ela me disse.

— Ah! Claro! — retrucou, cruzando os braços debaixo do peito, indignada — Toda maldita sexta-feira? Acho que nem na escola eles se falavam tanto!

Estava irritada. Estava mais que irritada. Afinal de contas queria saber o porquê de Harry não conversar com ela. O que dizia a Hermione que não poderia lhe dizer?

Tentou restabelecer o controle.

— Estou enlouquecendo, Rony. — confessou — Não consigo parar de pensar o que tanto eles conversam. Pode ser uma coisa idiota, é verdade. Mas, também pode ser que não. Ele pode estar pedindo conselhos para presentes de aniversário de casamento, mas também pode estar falando de uma coisa séria. De uma outra mulher... Ou...Ou talvez...

Não quis continuar. Deixou subtendido. Viu o irmão suspirar e continuar a frase, cansado:

— Ou talvez, Hermione seja a outra mulher.

Não o encarou.

— Bem, talvez sim.

Não queria nem sequer imaginar essa situação. Seria desolador. A destruição de suas famílias.

No fundo, porém, sabia que estava sofrendo por algo insignificante, sem qualquer tipo de precedente ou motivo. Uma desconfiança tola que não permitia que dormisse em paz e que deveria, simplesmente ignorar, mas não conseguia.

— Preciso saber. — disse categórica

— Pergunte ao seu marido, então.

— E acha que eu já não fiz isso? Toda noite eu pergunto, mas ele se esquiva. Nunca me responde o que eu de fato pergunto.

Bebeu um pouco de seu café para dar um tempo das reclamações e criar coragem para o que pediria em seguida.

— Rony, por favor, eu preciso da sua ajuda. Se eu perder o Harry...

Arrepiou-se e seu queixo bonito tremeu. Estava prestes a chorar de verdade.

— Está bem, está bem. O que você quer que eu faça?

Apertou a mão do irmão, agradecendo, e preferiu acreditar que fazia aquilo pelos dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Platônicos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.