Another Way to Die escrita por Claire Smith


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Estou de volta!
Bom, esse capítulo pode ser um tanto dramático - e um pouco grande também -, por isso perdoem algumas coisas.
Agradeço a minha beta, Dani, por todos os termos técnicos e informações importantes sobre exposições de arte (sim, vocês leram certo, vamos ter exposições hoje) que eu não fazia ideia. Alguns termos vão ser explicados no final do capítulo.
No mais, espero que gostem do que vão ler.
Bjs.



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Molly Hooper

— Você precisa me incluir mais vezes nesses almoços com a Molly, Agatha – Emma estava com as faces rosadas devido à bebida. – Preciso de alguém para ouvir as vergonhas que ela passa.

Uma semana depois de conversar com minha irmã, lá estávamos, as três almoçando juntas.

— Não foram tantas assim – tentei me defender.

— Ah, não? – Emma perguntou, enquanto eu via as engrenagens em sua cabeça procurarem por histórias. – Há alguns meses você quase beijou o Kurt – explicou à Agatha quem era.

— Nós duas quase fizemos isso – lembrei a ela. Agatha ria inabalável. – Ele ficou envergonhado até a raiz dos cabelos, acabamos com o encontro dele – deixei escapar um sorriso.

— Ok, escapou dessa. Mas e quanto à dança com o Greg, hein? – arqueou a sobrancelha em tom de acusação. – Não me lembro de combinarmos nada a respeito. Muito menos de eu conseguir me aproveitar do detetive.

Fiquei vermelha. Ela nunca esqueceria aquilo.

— Estava um pouco bêbada nesse dia – comentei ao ver Agatha tendo dificuldades em segurar o riso. – Não me aproveitei de ninguém, Emma, foi só uma dança.

— Que dança... – suspirou, abanando-se sutilmente com o guardanapo de seda.

Tive que rir dela.

— Tão disputada – comentou Agatha -, com dois detetives no encalço.

Revirei os olhos.

— Você vai, não é? – perguntou, mudando completamente o assunto.

— Claro – o garçom aproximou-se para retirar a mesa -, como já havia dito.

— Ah, ótimo – suspirou aliviada. – Emma, considere-se convidada para ir à exposição de arte que organizei. Você vai amar.

— Molly não me disse que tinha uma irmã artista - Emma comentou.

— E não tem - Agatha sorriu. - Sou a curadora* da exposição que é que organiza tudo. O vernissage* vai ser ótimo, eu pensei em cada detalhe e em tudo o que poderia e deve ter num evento como esse.

— Eu gostaria de ir, mas hoje é meu dia de ficar no plantão – respondeu.

Levantamo-nos e saímos do restaurante.

— É uma pena – ela disse, indo até o carro que alugara e checando o horário no relógio de pulso. – Aceitam carona?

— Não, obrigada – Emma e eu respondemos juntas, sabíamos que ela tinha uma reunião com o diretor da exposição, falara animada disso durante o almoço. – A gente pega um táxi – respondi para ela.

— Mesmo?

— Claro! Boa sorte – dei um abraço rápido nela. – Até mais tarde – me afastei.

— Obrigada – murmurou, entrando no carro e jogando um tchauzinho pela janela para nós. – Foi um prazer conhecê-la, Emma.

— Você também – minha amiga respondeu quando Agatha já tinha ido.

Caminhamos uns poucos metros antes de pegarmos um táxi para o Saint Barts.

 

Sherlock Holmes

— Essa é uma das situações mais estranhas em que já estive – contei.

Num cômodo próximo, era possível distinguir os ruídos que denunciavam uma busca ávida por algo. O fechar de armários, bater de utensílios, os ocasionais xingamentos para os objetos sem vida. Tudo era audível. E ainda assim, tudo estava num silêncio absoluto.

Ou quase absoluto. Se não fossem os pequenos ruídos que ouvia, o quarto estaria perfeitamente silencioso, onde minha fiel ouvinte dedicava sua total atenção a mim.

— Não consigo fazer isso. – elevei a voz na esperança de ser ouvido. De preferência, por alguém que não babasse em um brinquedo ao me encarar com fascinação.

— Ah, pelo amor de Deus, homem – ouço Mary vir da cozinha ao quarto. – Isso não é um quebra-cabeça a ser montado.

— Bem, precisa ser montado – demonstrei a questão ao erguer Rosie que estava sem fralda.

Mary olhou-me irritada.

— Pensei que ela já estivesse vestida – abriu uma gaveta ao lado do berço onde pegou uma fralda. – Que demora!

— Ela ficava jogando os brinquedos, espalhando água por todo lado e não parava quieta – enumerei.

Rosie sorriu orgulhosa de seus feitos. Sua mãe a acompanhou.

— Ah, por favor, Sherlock. Ela estava brincando, como sempre faz. Ela ama água, não é meu amor? – e sorriu ainda mais para o deleite da pequena.

Suspirei.

Mary jogou a fralda para mim.

— Agora, coloque nela.

— O quê? Não!

— Sim. Agora. Vou supervisionar.

Rosie riu alto para a mãe, como se aprovasse a decisão. Suas covinhas aparecendo e seus braços gorduchos balançando num ritmo animado. Senti-me num complô.

Mary se afastou ligeiramente, observando-me na tarefa.

— Sherlock – chamou.

— Sim – já imaginava o assunto.

— Você contou a Molly?

— Ainda não, ando ocupado.

— Já faz uma semana, com o quê você anda ocupado?

— Caso Lauren Smith – respondi -, ela está em perigo.

— Bom, até onde sabemos Molly também está.

— Não da mesma forma.

— Ah, não? – seu sarcasmo era perceptível. – Então, me desculpe por achar que um consultor de crimes ou toda uma organização possa estar atrás dela, pelo simples fato dela o ter ajudado a fingir sua morte.

Olhei para ela.

— Meu pessoal e Mycroft vêm mantendo vigilância.

— Mas você ainda não contou a ela.

— É aconselhável não deixar uma possível vítima alarmada.

— Possível? – questionou. – Por quê?

Trinquei os dentes.

— Você acredita que possam estar blefando? – ela perguntou.

— Não.

— Então, qual o problema?

Não respondi até ter terminado de arrumar a pequena Rosie que nos olhava com atenção.

— O alvo. Molly não é um alvo. Não faz nenhum sentido ela ser a escolhida.

— Não faz, e ainda assim descobrimos uma ligação. Quantas pessoas sabem que ela ajudou você a fingir sua morte?

— Poucas – já havia pensado naquela linha de pensamento. Alguém poderia ter contado o segredo, embora nada houvesse acontecido. – Você, John, Sra. Hudson, Lestrade, Mycroft e alguns agentes. Ah, Anderson também.

Ela esboçou um sorriso. Seu semblante desanuviou e pude perceber que relaxou.

— Ele não deve ser um problema – comentou.

— E não é.

— O que você vai fazer? – perguntou.

— Contar o que sabemos – respondi.

— E quanto antes melhor. Quero a madrinha da minha filha segura.

Meneei a cabeça em concordância.

— Sherlock – Mary chamou.

— O que foi?

— Trate o assunto com seriedade, ok? Você tende a se perder no meio da grandiosidade do plano e esquece como agir.

— Eu não...

— Sim, você se perde – respondeu. – E sem discussões. Você vai ficar para almoçar? Tenho certeza que John chega em alguns minutos – pegou Rosie no colo e se dirigiu com ela até a cozinha. – Vamos lá, Rosie. Vamos esperar o papai.

Fiquei sozinho no quarto, imaginando na maneira que contaria a Molly Hooper que ela era um alvo de Moriarty.

 

Molly Hooper

A exposição de arte na galeria The Pixies era um evento organizado para artistas recém chegados ao mundo das exposições, uma forma de apoiá-los na carreira, trazendo visibilidade, ousadia e um toque de inovação que às vezes parecia estar desaparecida do mercado. Pelo menos era isso que o informativo que peguei dizia se tratar.

Com tanta gente ali, até parecia que um cantor famoso resolvera fazer um show vip de última hora na cidade. Se um dos objetivos era visibilidade, certamente foi alcançado com esmero. O salão principal do primeiro andar era uma área grande, repleta de arte: fotografias, pinturas, esculturas, poemas emoldurados. Os artistas circulavam pelo lugar junto com os convidados, apreciando trabalhos de colegas, socializando e fazendo contatos importantes.

Andei por um tempo sem ver minha irmã. Em uma rápida espiada no relógio em meu pulso, concluí que Agatha não se importaria com um pequeno atraso.

— Mais um minuto e eu mesma iria buscá-la, Molly – Agatha falou, assustando-me enquanto observava uma pintura à frente. – Posso lhe apresentar alguns pintores, caso tenha interesse, que adorariam se inspirar em uma musa para alguma obra – indicou a mim.

— Ah, por favor. Só estou vestindo um simples macacão.

— De simples ele não tem nada – ela começou. - Ele a deixa linda, elegante e atraente também, visto que alguns olhares a acompanham desde que chegou. – comentou, arrastando-me consigo enquanto distribuía sorrisos ocasionais às pessoas. – Por favor, dê crédito a si.

— Você também não está nada mal – disse.

Agatha mostrou todos os painéis, todas as passagens que conectavam uma obra a outra, todos os clientes em potencial que ficavam extasiados em certos momentos ao ver um traço que muito apreciavam.

O ambiente mudava a cada cômodo; uns mais claros, nos deixando expostos, e outros escuros, com a proporção exata entre conforto e obscuridade. Uma parcela igual em todos nós.

Li algumas partes dos programas listados nas revistas* entregues durante a exposição. Estávamos numa sala onde grande parte do que estava sendo exposto eram fotografias, a maioria em preto e branco. Algumas retratavam o cotidiano londrino, outras mostravam o olhar solitário e imaginativo de cada um, como uma viagem de trem, um castelo em ruínas, peças de um museu, um jogo. Cada uma contendo uma peculiaridade.

— Ei – chamei a atenção de Agatha -, que grand finale é esse? – apontei para o último programa listado no informativo.

— Esse deve ser o assunto de todos no final da noite, embora eu mesma não saiba do que se trata – disse. – O diretor da galeria me informou algumas semanas atrás que tinha encontrado a escultura perfeita. Linda e expressionista. Ele ficou horas contando sobre como tinha se apaixonado pela obra, e decidiu usá-la no final da noite. Todos estão curiosos para ver tanto o trabalho quanto o artista.

— Iago? – li no papel. - Só isso? Sem um sobrenome?

— Sim. O diretor disse que ele prefere ser chamado pelo primeiro nome sempre. Incomum, não é? Dizem que ele se inspira na literatura trágica para fazer suas esculturas, mas também pode ser boato, afinal ninguém viu nada – dava para ver seu olhar brilhar de curiosidade e mais alguma coisa que não consegui identificar.

— Você parece curiosa – comentei.

— Estou, por motivos diferentes do que você imagina – respondeu. – O que achou? – perguntou, dando um giro rápido que indicava tudo o que tinha visto.

Sério que ela queria minha opinião sobre decoração?

— Posso não entender sobre pinturas, poesias ou maneiras diferentes de retratar a Mona Lisa – apontei para um painel chamado As Muitas Faces de Mona Smith onde a pintora se apropriou* da obra de Da Vinci sob o olhar da população geral -, mas quanto ao lugar e às pessoas, está impecável. Você as fez sentirem-se confortáveis – disse. – As salas de interação foram uma ótima ideia, eu as amei você sabe. E claro, há boa comida e bebida – parte importante -, ou seja, chance zero de dar errado.

— Obrigada – respondeu fingindo enxugar uma lágrima do rosto. – Espere só para ver como será o casamento.

— Não vejo a hora.

Uma mulher, vestida de preto, se aproximou de Agatha para sussurrar em seu ouvido e se afastou.

— Isso foi secreto – comentei.

— Eu sei. Olha, fui chamada para conhecer umas pessoas que chegaram, ok? Preciso deixá-la por uns minutos. Aguenta a festa sem mim?

— Ah, claro. Prometo não ir muito longe.

Enquanto ela sumia entre as pessoas, me perguntei o que raios eu faria ali sem conhecer nada e nem ninguém. Só restava pegar uma bebida e circular pelo lugar, torcendo para Agatha não demorar tanto.

Depois de alguns minutos, acabei em frente a uma fotografia de um castelo em ruínas na Bélgica. Ao lado dessa haviam mais duas, uma em preto e branco, da época de funcionamento do castelo, e outra atual, onde a fortaleza era vista de dentro da floresta que a cercava e invadia o local. Parecia realmente que a vegetação estava engolindo, pouco a pouco, a construção com ares neogóticos, como se aquele fosse um fim apropriado, ser tragado pela sua natureza particular.

— Não acredito que você possa estar aqui – alguém disse, tirando-me dos meus devaneios.

Quem não acreditava era eu ao ouvir a voz de sotaque carregado.

— Jamie! – beijei seu rosto. – Quanto tempo!

— Eu sei. Não a vi mais depois do incidente na festa – comentou.

— Ah, desculpe aquilo – estava envergonhada por ter sumido -, não sei bem o que deu em mim, eu só...

— Tudo bem – respondeu. – Sam me explicou. Ela contou que fui visitá-la no hospital?

— Sim. Não precisava ter ido, você mal me conhece.

— Eu dancei com você, acho que a conheço um pouco.

Concordei com ele por falta do que dizer. Ele percebeu.

— O que achou da foto? – puxou assunto.

— Você é o artista?

— Sim, viajei por um mês e visitei alguns castelos na Bélgica.

— Não sabia que era fotógrafo.

— E não sou – o canto de sua boca levantou. – É só um hobby que tenho.

— Ah, é? E resolveu expor?

— Sam mostrou algumas fotos para o diretor. Ele gostou e cá estou eu.

Senti o celular vibrar na bolsa.

— Elas são lindas – disse ao pegar o telefone e ler a mensagem.

 

Olá, Molly.

SH

 

Apenas isso. Uma semana sem ter notícias dele e ali estava. Uma mensagem de Sherlock. Uma saudação. Simples e direta. Nada para se preocupar. Exceto que ele nunca fez isso.

Claro que ele já mandara alguns sms, mas tudo relacionado ao trabalho, ou ao tédio, ou a qualquer coisa que não significasse uma saudação educada.

O que raios Sherlock estava pensando?

De qualquer forma, aquilo precisava de uma resposta. Ele não fez uma pergunta, ou uma afirmação, ele desejou algo a alguém, praticamente uma continência ao país.

 

Oi, Sherlock.

 

Enviei. Isso devia bastar visto que ele não respondia nada que começasse com oi.

— Posso mostrar algumas fotografias que já vi aqui? – Jaime perguntou.

— Eu adoraria – respondi, quase abraçando ele por ter me salvado de ficar zanzando sem conhecer alguém.

Enquanto ele mostrava a próxima foto, o celular vibrou em minha mão. Uma nova mensagem.

 

Como você está?

 

Oh-oh. Isso era novo. Completamente novo. Eu estava bem confusa agora.

— Isso só pode ser brincadeira – comentei.

— O quê? – Jaime perguntou.

— Oh nada. Continue.

Concentrei-me ao máximo, ouvindo tudo o que ele dizia, mesmo que a curiosidade estivesse me matando.

O celular vibrou novamente.

 

Vamos lá, Molly. É rude não responder a uma pergunta tão simples.

 

Eu precisava responder.

 

Sherlock, isso é sério? Você está ferido? Sofreu um acidente? Bateu a cabeça? Está tendo um lapso de memória? Sabe com quem está falando? Dormiu na noite anterior? Está drogado? Porque caso esteja, apareça o quanto antes, vão ser bem mais que três tapas! E se essa mensagem não for baseada em qualquer uma das alternativas que listei, você pode me deixar sozinha com minha paciência intacta. E respondendo sua pergunta, estou ótima!

 

— Hã, Molly? – Jaime chamou. - Está tudo bem?

— Ah, sim, só estou dialogando com um louco.

— Atrapalho?

— Não, não. Só me dê um minuto – disse ao ver que Sherlock havia respondido.

 

Estou perfeitamente limpo, minha cara legista. Não há necessidade de tapa algum. Mas admito que algumas linhas de mensagem foram quase tão interessantes quanto a minha noite mal dormida. Precisamos conversar, Molly. Agora.

 

Eu odiava quando ele se achava tão convencido. Ou quando era tão sarcástico.

 

Mais tarde. Tenho um compromisso agora.

 

E quando pensei que teria uma folga:

 

Compromisso? Não minta, você deve está fazendo uma autópsia qualquer. Estou a caminho do Barts.

 

Espero que aproveite a visita. Tchau, Sherlock.

 

— Pronto. Desculpe-me por isso.

— Não se preocupe – respondeu. – Devia ser importante conversar com esse louco.

— Longe disso – disse. – Era apenas para estar livre dele.

— Algum ex-namorado que não aceita o término?

— O quê? – perguntei incrédula.

— O cara das mensagens. Foi algum namorado?

Primeiro sorri. Depois gargalhei da forma mais contida que pude para não chamar atenção para nós dois. Claramente alguns olhares nos fuzilaram, e Jaime ficou quase tão vermelho quanto seus cabelos.

— Isso foi hilário – respirei fundo para conter o riso.

— Percebe-se. Só não entendi o que pode ter causado essa reação.

— Bom, eu não...

Quando ia explicar que não tinha namorado algum, a mesma moça que chamara Agatha uns minutos atrás estava me chamando.

— Srta. Hooper? – perguntou e continuou após eu confirmar com a cabeça. – Sua irmã pediu que fosse até a última sala. Ela pediu que fosse logo.

— Por quê? O que aconteceu?

— Apenas fui informada disso, senhorita – e indicou o corredor que seguia pelo próximo salão.

Olhei Jaime por um instante antes de ele dizer:

— Vá logo. Verei você no casamento de Charlotte.

— Você vai?

— Claro – sorriu galanteador. – Nunca terminamos de dançar, então você me deve uma – piscou e deu-me um beijo no rosto. – Até mais, Molly.

— Até, Jaime – respondi, despedindo-me.

Vamos ver o que Agatha está aprontando, pensei ao seguir pelo caminho indicado.

— Agatha – chamei. – Estou aqui.

Ninguém respondeu. Nem sequer parecia que pudesse ter alguém aqui além de mim e da garota que me acompanhara.

— Srta. Agatha – ela gritou. De novo, sem resposta.

— Quão grande é este espaço? – perguntei a ela, começando a acreditar que tudo não passava de uma brincadeira.

— Alguns metros maior que os outros – ligou a lanterna do celular -, seria visível se não estivesse tão escuro – tateou em busca do interruptor.

Ajudei-a na procura, e mesmo quando encontramos isso não pareceu ajudar muito.

— Era para a iluminação estar assim? – questionei, visto que entrava mais luz da lua pelas janelas do que das lâmpadas fracas que acenderam.

— Não, não era – respondeu com assombro.

Aquilo não era um bom sinal.

— Ei – chamei-a -, qual o seu nome?

— Claire – disse.

— Ok. Prazer Claire, sou a Molly. Você pode repetir exatamente o que Agatha disse a você?

— Eu não poderia – informou -, não foi para mim que ela disse. Foi dito a mim.

— Como assim?

— Logo depois que chamei sua irmã, havia um grupo de pessoas conversando com ela. Circulei pelo local, tirando dúvidas das pessoas, e minutos mais tarde, um homem chamou-me dizendo ter um recado de Agatha. Ele pediu que eu a informasse, e aqui estamos.

— Quem é ele?

— Nunca o vi. Não trabalho a muito tempo para a galeria. Imagino que seja um cliente.

Não fazia sentido. Um cliente não daria recados aos funcionários de um lugar, e nem Agatha teria qualquer motivo para me chamar ali, eu acho. Mesmo que tivesse, uma simples ligação ou mensagem teria resolvido.

Por outro lado, como ela gostava de um toque mandão sempre que podia, fazia sentido pedir que alguém me levasse até ela.

Se aquilo fosse só uma brincadeira...

— Agatha – gritei -, isso não tem graça!

Por um momento, pensei ter escutado algo.

— Agatha?

Num timing perfeito, fachos de luz vermelha passaram a iluminar partes do salão, acendendo e apagando em pontos diferentes, assustando tanto a mim quanto a Claire. Senti uma sensação de mal estar ao perceber que as luzes despertaram a incômoda lembrança do interrogatório de Elizabeth.

Não poderia haver relação nisso.

Com as luzes acendendo e apagando cada vez mais depressa, foi possível ver o quanto o lugar estava bagunçado, com muitos objetos cobertos e outros no chão, bem como esculturas e outras peças quebradas.

Novamente pensei ter ouvido algo. Era como se alguém não conseguisse falar, emitindo apenas ruídos baixos. Talvez fosse minha imaginação pregando peças em minha cabeça.

— Você também ouviu, não é? – Claire segurou meu braço para logo soltá-lo, recomeçou a andar sem esperar resposta. – Vou avisar o segurança – pegou o celular. Observei-a digitar quando parou bruscamente. – Ah não. Droga, droga.

— O que foi?

— Ninguém pode vir aqui. Não agora.

— Não entendo.

— Esse é o horário do grand finale, o último painel. Se alguém vem aqui antes eles podem me demitir – continuou a digitar, tentando avisar alguém.

Ouvimos um grito. Havia sido alto e claro para nós duas ouvirmos dessa vez. As luzes acesas ainda dançavam freneticamente quando percebi que havia uma sombra disforme em frente à parede dos fundos.

— Claire. Olhe, olhe – apontei.

Novamente, a luz incidiu no exato ponto em que vi a sombra. Um homem e uma mulher. E então o susto. Ele estava com as mãos ao redor da garganta dela que estava usando suas últimas forças para impedir que ele concluísse o ato.

— Ah meu Deus, é a sua irmã – Claire gritou.

Não havia tempo a perder.

— Agatha – gritei.

O homem assustou-se por ter sido pego no ato e olhou para trás. Agatha aproveitou a distração dele e o chutou com toda a força que tinha antes de deslizar para o chão.

Mesmo com o chute, o homem levantou-se, correu e subiu por uma escada lateral e desapareceu por uma porta no final do corredor.

Claire e eu corremos até minha irmã que buscava o ar profunda e rapidamente. Quanto mais nos aproximávamos mais ela balançava a cabeça e murmurava para que ficássemos longe.

— A entrada é por aqui – ouvimos alguém dizer do lado de fora. – Senhor, senhor. Por favor, fique em seu lugar e não cause tumulto – segundos depois todas as luzes se acenderam e revelaram o corpo de Lauren Smith numa cúpula de vidro no meio do salão. Como se ela realmente fosse uma das obras e estivesse ali para ser admirada.

Não. Não podia ser.

A sequência de gritos que se seguiu era previsível. Os acontecimentos ali, não.

Como eu podia estar diante de um novo assassinato? Era azar demais para uma pessoa só.

— Molly, Molly! – Sherlock gritou. Ele parou ao lado do corpo, tocou o vidro e pegou o celular para, provavelmente, avisar Lestrade.

Olhei o caminho que o estrangulador tinha percorrido. Ele parecia conhecer todo o local, nem hesitou em subir a escada para fugir.

— Molly – Agatha falou -, nem pense nisso. Tire essa ideia da cabeça.

— Que ideia? – Sherlock perguntou. Ele já fazia suas deduções ao analisar o corpo da garota por diferentes ângulos.

Atrás dele, vários funcionários tentavam tirar as pessoas que conseguiram entrar e ligavam para os números de emergência em busca de ajuda. Claire estava entre eles.

— Desculpa – pedi a Agatha.

Subi a escada lateral e percorri o caminho até a porta.

— Espere. Molly, espere – Sherlock gritou.

Desapareci nas sombras.

 

 


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Notas finais do capítulo

OBS:
*Curadora: é quem organiza a exposição, bem como acompanha o artista durante as escolhas das obras e cuida do roteiro (de como se pode ler a exposição) das mesmas.

*Vernissage: é o nome que se dá para o primeiro dia (abertura) de qualquer exposição. Nele há coquetel e uma introdução do curador sobre o evento, geralmente tem falas do artista sobre as obras expostas também. Sempre rola bebida e alguns aperitivos. Se for evento grande, provavelmente terá imprensa.

*Revistas da exposição: Exposições grandes costumam fazer REVISTAS ou LIVROS DE ARTISTA, que é uma junção do que tem naquela exposição com espaço para o artista falar sobre, com a descrição das obras segundo o artista.

*Se apropiar: apropriação é o termo correto e mais comum dentro do mercado da arte quando eles vão recriar algo que já exista, com alguma diferença.

Enfim, se tiverem alguma dúvida ou verem erros no capítulo me avisem que arrumo. Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo.



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