Inlustris escrita por lau


Capítulo 2
O Rei


Notas iniciais do capítulo

Feliz Ano Novo, que vocês tenham um ano repleto de paz, alegria e todas essas coisas bonitinhas.



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II

O REI

Quando um bom rei de um reino distante resolve seguir uma profecia, que será muito importante no futuro.

 

 

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e todas as ciências, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

 

Nossa história começa em um reino chamado Hogwarts, um lugar com florestas encantadas onde vivem centauros que leem os céus e conversam com os deuses sobre o futuro, onde há fadas d´água e fadas que saem apenas à noite, com seus corpos azulados brilhando no escuro, e pequenos homens feitos de graveto. Há colinas e montes cobertos de gelo nesse reino, e vilarejos com casas de pedra e telhados feitos de flores. Existem muitas coisas lindas e mágicas em Hogwarts, mas não vamos falar sobre elas agora. Agora, vamos falar sobre o Rei Albus Dumbledore.

Ele era muito velho, tinha uma longa barba que cada dia mais passava de acaju para prateado e seus olhos azuis estavam sempre brilhando por trás dos óculos meia-lua. Ele usava roupas estranhas e coloridas e tinha uma grande fênix vermelha como animal de estimação. Todos no reino sabiam que o homem era muito sábio, e também sabiam como era escolhido o próximo na linha de sucessão ao trono: o atual rei dava ao seu escolhido a Pedra Real, um rubi bem antigo que só o rei podia usar, e por terem conhecimento desses dois fatos, ninguém se preocupava com quem seria o próximo no trono de Hogwarts, pois sabiam que a escolha seria feita com sabedoria.

Mas tinham duas coisas que quase ninguém sabia, nem os empregados do castelo ou os membros da nobreza. A primeira era que o Rei estava doente e ele se recusava terminantemente em dizer qual a causa daquilo a todos que descobriam sua situação. Ele balançava a cabeça e ria daquele jeito misterioso que só quem sabe de algo muito divertido que ninguém mais sabe ri, e dizia que foi um ‘simples acidente’. Ninguém acreditava, afinal de contas, simples acidentes não fazem uma pessoa ficar com a mão tão escura quanto o Lago Negro e não conseguir subir sequer um pequeno lance de escadas sem ficar ofegante. Mas nenhuma pessoa o contestava, tanto por respeito quanto por confiarem completamente em seu Rei.

  ‘Ele sabe o que faz’, as pessoas diziam aos sussurros.

A segunda, e mais difícil de acreditar, envolvia uma mulher. Ela havia chegado ao reino há pouco tempo e se hospedado em uma estalagem perto da estrada que dava para o Castelo. Seu nome era Cassandra. Os cidadãos de Hogwarts já viram muitas coisas estranhas em suas vidas e aquela mulher se encaixava perfeitamente ao titulo de ‘uma das mais estranhas’ que as pessoas que estavam na estalagem no dia de sua chegada lhe deram. Mas eles não falaram por maldade, era apenas a impressão que as roupas muito espalhafatosas e velhas, o óculos vermelho com penas de pavão e o cabelo louro frisado dela causaram nos outros, mas depois de dois dias lá e de tirar cartas para quem parecia interessado em ler seu futuro, ninguém mais a chamou de estranha, nem de forma curiosa nem de forma debochada (porque quem estava na estalagem no dia que ela apareceu falou sobre isso de um jeito amistoso, mas algumas crianças haviam jogado tomates nela durante a feira), e então todo mundo começou a gostar da moça que usava óculos de pavão e meias trocadas.

“ELA TIRA CARTAS PARA AS PESSOAS!”

“ELA LÊ NOSSA MÃO E DESCOBRE COISAS QUE NINGUÉM MAIS SABE!”

“ELA FEZ UMA BONECA DE PANO DANÇANTE PARA A FILHA DOS ABBOT!”

Logo, o reino inteiro queria conhecer aquela mulher tão extraordinária. Ela alugou uma casa amarela perto do Lago, aonde ia todas as manhãs colher ameixas dirigíveis e conversar com os sereianos, criaturas esverdeadas com caudas longas e uma língua estranha que não eram muito amigáveis com ninguém, mas pareciam adorar Cassandra e suas histórias. Os cidadãos a levavam para as feiras e a apresentavam aos seus amigos, rindo dos truques que ela fazia.

Agora você deve estar se perguntando o que Cassandra tem a ver com o Rei Dumbledore. Nada, na verdade, não até o dia que ele resolveu chamá-la para tomar uma xícara de chá. Você deve ter imaginado como ela ficou ansiosa por ter recebido um convite tão pessoal do homem mais poderoso de Hogwarts, e no dia seguinte lá estava ela, parada na frente dos portões do Castelo com seu melhor vestido e estralando as juntas de nervoso a cada dois minutos.

O Rei não tinha segundas intenções com aquele convite. Sua única vontade era de conhecer aquela mulher da qual todos falavam. Eles tomaram chá e comeram biscoitos e conversaram por horas de uma forma muito agradável, até Cassandra cair no chão tremendo, revirando os olhos e falando algo com uma voz grossa que não condizia com sua voz animada e fina.

Após meses daquele encontro e após sua doença ter chegado a um ponto que o Rei não podia mais ignorar, ele ainda pensava nas palavras ditas pela moça naquela tarde. Eram bobeiras, qualquer um diria, mas Dumbledore sempre se orgulhou de sua capacidade de não ser como qualquer um. E foi por essa razão que ele chamou seus dois conselheiros aquela noite em seu quarto, com urgência.

Severo Snape e Minerva McGonagall eram as pessoas que o Rei mais confiava no mundo. Eles entraram em seus aposentos preocupados e sentaram nas poltronas em frente à cama onde Dumbledore estava mais pálido que o normal.

“Pelos deuses Albus, você esta péssimo!” Exclamou Minerva. Ela tinha os cabelos castanhos presos em um coque e olhos azuis firmes.

“Obrigado pelo comentário minha cara.” Falou o Rei, o que fez a mulher corar e Snape bufar baixinho ao seu lado, não tão baixo a ponto de não ser ouvido.

“O que lhe aconteceu, Severo?” Perguntou Dumbledore, bebendo um gole de sua água.

“Diga logo o que Vossa Majestade deseja, para que eu possa voltar as minhas masmorras, estava no meio de um experimento.” Snape bufou novamente. Era um homem não muito simpático de cabelos escuros, que andava pelo Castelo com sua longa capa preta balançando as suas costas.

Minerva ia começar a criticar Severo, mas o Rei levantou a mão pedindo silêncio e os outros dois o olharam, aguardando.

“Os chamei aqui, pois tomei uma decisão que envolve o reino. Como bem sabem, já estou velho e doente e morrerei em breve – ele ergueu a mão novamente – e preciso de alguém para ser Rei quando eu me for. Ia nomear você, Severo, mas me disse que a ideia de possuir a Coroa o desagrada e eu não confio em nenhum dos Lordes do Conselho para algo tão importante. Então decidi que vou seguir a profecia de Cassandra.”

A expressão no rosto dos conselheiros não podia ser mais cômica. Minerva gaguejou um pouco, com os olhos arregalados e Snape parecia muito enfurecido.

“Vossa Majestade enlouqueceu de vez, acho que a doença está finalmente afetando-lhe o cérebro. Não pode colocar o reino nas mãos de alguém só porque uma charlatã...”.

“Cassandra Trelawney não é uma, como você disse, ‘charlatã’. Ela é uma mulher boa e honesta na qual eu confio e acredito, e por isso irei seguir a... profecia”.

“Albus, por favor, escute a voz da razão.” Minerva parecia desesperada. “Aquela moça disse que o próximo Rei de Hogwarts será aquele que, por amor, destruirá a maldição das estrelas... Ninguém, em duzentos anos conseguiu fazer isso.”

A Maldição das Estrelas era um assunto delicado em toda Hogwarts. Veja bem, por mais magnífico que o lugar fosse, nem todos que lá viviam eram bons. Havia bruxos, bruxas e feiticeiros que desejavam afundar o reino em trevas e faziam tudo que podiam para conseguir mais poder. Há muitos anos, um bruxo chamado Grindelwald lançou uma maldição nos céus, que tornou o dia em noite e fez tudo ficar gelado com se fosse inverno. As pessoas ficaram com medo de aquilo durar para sempre, mas no dia seguinte tudo já havia voltado ao normal. Dumbledore expulsou Grindelwald e o mandou para o exílio, onde ele vive desde então. Mas sua maldição funcionou e logo todos descobriram o horror que ela fazia.

Porque a cada cem anos, uma estrela caía do céu, e quem comer o coração de uma estrela se torna imortal. Já haviam caído duas estrelas até então, e a terceira iria cair em breve. Ninguém ousava ajudá-las por medo da ira de Grindelwald e o fato de nem o Rei Dumbledore conseguir quebrar a maldição fazia com que todos tivessem mais medo ainda do bruxo das trevas.

“A sempre uma chance, por mais mínima que seja, e nós temos que nos agarrar a ela. As estrelas caírem do céu e serem mortas é algo horrível que nenhum de nós conseguiu por um fim, mas em algum lugar talvez tenha alguém que consiga.” Disse o Rei, sorrindo.

“Então seu plano brilhante consiste em nós ficarmos aqui, esperando essa pessoa aparecer e quebrar uma maldição de duzentos anos que nem sabemos se pode ser quebrada, e quando isso acontecer nomearmos ela rei?” Perguntou Severo.

“Exatamente.”

“Ótimo, e se Vossa Majestade morrer antes de tal feito acontecer?”

“SEVERO!” Exclamou Minerva, mas a única coisa que o Rei fez foi sorrir, depois teve uma leve crise de tosse.

“Você e Minerva podem cuidar das coisas caso isso ocorra, e tenho certeza que tudo ficará bem.” Os conselheiros sabiam que quando o Rei decidia algo, estava feito, ninguém conseguia fazê-lo mudar de ideia.   

“Albus, você tem certeza? Basear o futuro do reino em uma profecia que fala de amor...”.

“E não seria o amor a coisa mais poderosa do mundo Minerva?” Dumbledore estava com os olhos brilhando mais que o normal quando sussurrou aquilo. “Agora, Severo, tenho uma missão para você. Vá até a caverna onde está a Pedra Real e traga para cá, não sabemos quando nosso herói irá aparecer.”

É engraçado como o destino é. Muitos acreditam que nós fazemos nosso próprio caminho, baseado em nossas próprias escolhas, mas às vezes a algo mais. Às vezes existe essa força que empurra algo em nossa direção e a única coisa que podemos fazer é aceitar essa nova realidade e viver com ela. E o destino muitas vezes gosta de brincar com as pessoas, com os fenômenos e principalmente, com o tempo.

Porque algumas horas depois, ao mesmo tempo em que Severo Snape montava em seu cavalo e cavalgava pela ponte de pedra que liga o Castelo e a floresta, uma estrela caía do céu. No começo era só um brilho vacilante que se aproximava devagar, depois virou um longo e prateado risco que cortava a noite e então, uma bola de fogo e luz que fez um grande estrondo e uma grande explosão ao colidir entre as árvores mais ao sul. E ao mesmo tempo em que a estrela caía, um homem loiro a observava de sua janela. Ele passou as mãos velhas em sua varinha e a acariciou, sentindo a magia desta e sorriu. Sorriu como não sorria há cem anos.


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