Ponto de Ruptura escrita por Bia


Capítulo 5
Ruptura




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Ruptura

O tempo parou.

Ficou ali, ajoelhada no chão incontáveis minutos colocando café da manhã, almoço e jantar, tudo para fora. E mais um tempo depois, simplesmente pela vergonha e falta de coragem em levantar. Teve sorte; o cabelo estava longo, mas permaneceu limpo e cobria completamente o seu rosto. Naquele momento, emotiva, agradeceu interna e imensamente a ele e jurou não mais cortá-lo. Os olhos se encheram de lágrimas, mas controlou-se com uma força e um orgulho que lhe eram completamente desconhecidos até então.

Vômito e choro eram degradações demais para uma pessoa só.

Pelo canto do olho viu o marido se aproximar lentamente, com os braços abertos e o semblante confuso, cheio de tristeza e arrependimento. Ela, por outro lado, sabia muito bem o que sentia. Nunca tinha odiado ninguém, nem nada, como odiou Naruto naquele instante. Se seu rosto não estivesse coberto, se o seu olhar estivesse visível, ele não ousaria dar mais nenhum passo.

Temeu que ele a tocasse.

Por sorte, um vulto pequeno e acolhedor foi mais rápido. Himawari entrou sem hesitação na frente do pai, colocou-a de pé com delicadeza e sussurrou docemente em seu ouvido:

— Vamos entrar, mamãe.

Guiou-a, abraçada pela cintura para dentro de casa e Hinata ainda pode ouvir Naruto dizer seu nome ao mesmo tempo em que Boruto rosnava:

Que porra é essa, velho?

Naruto, Sakura e Hinata. As crianças não eram burras, nem ingênuas mais. Não foi preciso dizer muito para explicar.

Enquanto o irmão fazia o que quer que tinha de fazer com o pai, a namorada e a sogra na porta de casa, Himawari parou diante na porta do quarto dos pais e deixou que a mãe, novamente dona de seus braços e pernas, andasse para o centro dele normalmente. Os olhos perolados da Hyuuga mais velha fitaram ao redor como se fosse a primeira vez. Aquele quarto seria só dela agora?

— Mãe — a voz da filha parecia tão distante — Um banho talvez fosse uma boa ideia.

 

Automaticamente, Hinata deixou um esboço de sorriso deslizar por seus lábios. Não devia preocupar as crianças.

— Sim, é uma boa ideia. Não se preocupe, estou bem.

A filha sorriu e fechou a porta.

Dirigiu-se para o banheiro que havia ali, despindo-se da roupa com lentidão, com olhos secos e vagos. Permitiu que a banheira enchesse até a borda antes de entrar dentro do acrílico. Quando a água quente tocou sua pele, diferente de todas as outras vezes, não deixou escapar nenhum suspiro de prazer ou alivio. Fechou os olhos e abraçou um dos joelhos. Com a outra mão, puxou o longo cabelo para o lado esquerdo e passou a acariciá-lo. Ino lhe disse inúmeras vezes que água quente não fazia bem aos fios, mas já tinham passado por tanta coisa que a temperatura da água era a menor das preocupações.

Inconscientemente tentava ouvir o que estaria acontecendo fora daquela ilha de sossego em meio ao caos, mas nada, nenhum ruído. A situação era de tamanha gravidade que tinha feito com que Naruto, Boruto, Sakura e Sarada falassem baixo, sussurrando. A cada segundo decidia não pensar mais em nada e tentar relaxar e no segundo seguinte lá estava de novo, os pensamentos imitando novelos de lã, emaranhando-se e esbarrando-se um no outro. Também em que mais poderia pensar? Depois daquela noite, todos os problemas que pareciam enormes, agora eram ínfimos, poeira.  Curiosa, esticou levemente o pescoço para dar uma espiada na cama de casal. A cama que dividira com Naruto durante anos nunca questionando se, de fato, era a única na qual ele se deitava. Conseguiria dormir ali novamente? Acreditava que não.

Não sabia dizer quanto tempo estava dentro da água e sinceramente estava determinada a dormir na banheira quando ouviu uma porta se fechando.

O coração disparou no peito e o impulso que teve foi o de levantar de súbito. Controlou-se fechando os punhos. A água faria barulho, denunciando sua presença e o que estivesse acontecendo seria imediatamente interrompido, quase como uma surpresa macabra. Pé ante pé saiu da banheira e vestiu o roupão ouvindo passos. Ativou o Byakugan e aproximou-se da porta apenas o suficiente para que fosse capaz de ouvir.

Himawari estava encostada na porta do próprio quarto, com as mãos para trás olhando o irmão que subia as escadas com o semblante furioso. Hinata quase foi capaz de ver a raposa em seus olhos.

— Aquele velho maldito! — esbravejou de frente para a irmã que, com um olhar, o orientou a falar mais baixo. Boruto obedeceu imediatamente. — Aquele velho maldito. Ele disse que amanhã quer vir aqui conversar com a mamãe. O que diabos ele estava pensando?

— Acho que ele não estava pensando em nada. — a garota respondeu com a altura e a doçura da voz inalteradas, mas de forma cortante. Boruto bufou, trocou a cara amarrada por uma preocupada olhando para a porta do quarto da mãe.

— Como ela está?

— Ela vai ficar bem. Pode não parecer, mas nossa mãe é muito forte.

Hinata teve que apertar o roupão até os dedos ficarem brancos para segurar o choro. A confiança que a filha depositava nela foi uma das coisas que a manteve de pé.

— É verdade. — o filho concordou coçando a cabeça — Mas, foi um baque e tanto...— interrompeu-se de repente — Até para mim.

— O que quer dizer?

Boruto deu de ombros e por um instante a Hyuuga temeu que ele não fosse contar. Queria saber de tudo, os mínimos detalhes. Encostou-se mais à porta.

— Sarada e eu estávamos conversando. Resolvi...Resolvi dar um tempo.

— Ela não tem culpa, onii-san. — Himawari interveio em um sussurro apertando o braço do irmão. — Você sabe disso.

— Eu sei. — Boruto tornou a falar alto e abaixar o tom depois de olhar para a porta do quarto da mãe — Eu sei que não, mas por enquanto é impossível! É impossível eu olhar para ela e não lembrar do que aconteceu.

Himawari abriu e fechou a boca diversas vezes até questionar:

— E como ela ficou?

Ele preferiu encarar os degraus da escada do que os olhos da irmã.

— Ela aceitou. Mas disse que me ama, pediu para que eu pense bem...

— Que triste...

Hinata soltou um suspiro e olhou inconscientemente para baixo. Sentia-se nervosa e conformada simultaneamente. Boruto, aparentemente, não diria mais do que já tinha dito, pelo menos não por agora. Toda a sua energia estava concentrada em prepará-la para a conversa que teria com Naruto na manhã seguinte. Se é possível se preparar para esse tipo de coisa. Montou um diálogo em sua mente, pensando em tudo o que lhe diria e o que retrucaria caso ele apresentasse alguma desculpa. Afastou-se lentamente da porta ainda examinado o caso quando ouviu novamente a voz do filho. Dessa vez, em um tom mais baixo e rouco.

— Não se preocupe com isso. — ele disse pegando a mão da irmã que estava em seu braço e levando lentamente aos lábios.

A maior mentira da vida de Hinata foi negar para si mesma durante muito tempo o que sentiu naquele exato instante. Um instinto animal de perigo, algo avisando que deveria parar de olhar, um calafrio que percorreu sua coluna de cima a baixo.

Ignorou-o e arrependeu-se.

Arregalou os olhos instantaneamente com o que veio a seguir.

Boruto beijava repetidamente a palma da mão da irmã, soltando leves gemidos a cada novo beijo. Foi se aproximando com lentidão até tê-la encurralada entre os braços. Estranhamente, Himawari não parecia nenhum pouco surpresa, muito menos assustada.

Hinata viu ao vivo e a cores...

Viu seus batimentos cardíacos cada vez mais rápidos. Viu Boruto curvar-se para sussurrar no ouvido da irmã enquanto dirigia a mão sofregamente para dentro da camiseta do pijama dela.

— Por favor, eu preciso de você.

Soltando um longo suspiro, Himawari levou as mãos para o rosto do irmão atraindo-o para si. Eles se encararam, um acordo mútuo e silencioso antes que ela permitisse encostar sua boca na dele. Como sempre, Boruto estava faminto. Invadiu lhe a boca sem timidez, levando a outra mão para as nádegas da Hyuuga. Puxou com tanta força o quadril dela contra o seu que Hinata foi capaz de ouvir o choque e o gemido que saiu de suas bocas unidas. Deslizou os dedos acariciando a coxa feminina e ergueu-a, apoiando-a contra seu corpo. Assim poderia facilitar o encontro de sua masculinidade e o centro úmido e quente da irmã. Seu quadril não deixou de investir contra o dela nenhum segundo.

Foi só quando ele soltou um gemido alto demais, após Himawari enfiar a mão dentro de suas calças, que a garota resolveu parar. A expressão do irmão foi de pura frustração.

— O que foi? — gemeu — Por favor, não me peça para parar. — pediu introduzindo o rosto profundamente no decote de Himawari — Eu vou explodir.

A irmã acariciou seus loiros cabelos. O único gesto fraternal.

— Aqui é perigoso. — sussurrou. Abriu a porta do quarto e puxou-o para dentro pela mão.

Depois disso, Hinata não pôde ver mais nada. Existia um selo no quarto das crianças que impedia a visão de seu Byakugan. Na época em que eles decidiram colocar, disseram que era uma forma de terem privacidade – como qualquer adolescente. Naruto não tinha gostado nada, mas Hinata tinha apoiado a decisão.

Sabia agora que tinha feito o certo. Um minuto a mais daquilo e não sabia o que teria feito.

Estava de pé, colapsada, com uma mão grudada na porta e outra no peito. Foi impossível se mexer durante muito tempo, provavelmente durante toda a noite porquê quando conseguiu piscar os olhos novamente o Sol já tinha nascido.


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