Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 5
Capítulo V - No dia seguinte


Notas iniciais do capítulo

Estou cheia de sono.
Este é um dos meus capítulos favoritos... enjoy! E comentem! Falem comigo, façam perguntas!!
Boa leitura, love y'all ♥



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No dia seguinte, logo de manhã cedo, muito tempo antes da hora combinada para me encontrar na estação com Leigh e Lys, já eu estava pronta e radiante para seguir viagem. Coloquei um dos meus vestidos favoritos, cinzento e cor de rosa, com mangas compridas e um padrão lindíssimo de pequenas flores. Por cima vesti um casaco preto de malha grossa, e depois meia calça transparente e umas botas castanhas com pelo que me davam pelo tornozelo. Para terminar, prendi apenas parte do cabelo na parte de cima, entrançado, e deixei-o solto dos lados e atrás. Admirei-me no espelho por longos minutos, sempre com um olho no relógio, para saber quando seria uma boa hora de sair de casa. Em menos de nada desisti de ser paciente e agarrei na bolsa, uma bolsa em tom claro e espaçosa, indo aos pulos caminho fora em direção à estação.

Não avisei ninguém em casa que ia sair. Ninguém estava interessado, de qualquer maneira. Fiquei mais de uma hora sozinha num dos bancos da estação. Felizmente tinha levado um livro, que me salvou do abismo do aborrecimento. Ainda assim, ouvir a voz cristalina de Leigh foi um alívio enorme, sinal de que ninguém se esquecera e não apareceram contratempos.

— Cá estamos! – Fechei o livro e abracei os dois. Quando chegou a vez de Lys, pude senti-lo tremer ligeiramente – Chegaste há muito, Leo?

— Um bocadinho. Não me consegui conter!

Mesmo assim, faltava mais de meia hora até à chegada do comboio. Fomos à bilheteira e tratámos dos bilhetes, que contemplámos, segurando-os por cima da cabeça. Era a primeira vez tanto para mim como para Lysandre.

Leigh decidiu que ia comprar garrafas de água ao café mais próximo, e nós fomo-nos sentar no banco, mais uma vez. Lysandre não parecia com vontade de falar, mas eu achei-o enternecedor, assim envergonhado, e por isso peguei-lhe na mão e beijei-a.

— As tuas mãos são maravilhosas, Lys – Pus a sua palma na minha face.

— Leo – Começou ele, olhando para todo o lado menos para mim – Tenho uma coisa que gostava de te mostrar.

Pegou na mochila e procurou durante algum tempo o que queria tirar de lá. Por fim, tirou o seu pequeno mas espesso caderno de couro onde escrevia poesia e canções infindáveis, numa letra que só ele próprio e eu mesma compreendíamos.

— Vê – Entregou-mo – É um bocadinho embaraçoso, por isso preferi mostrar-te quando estivéssemos só os dois – Limpou a garganta – N-Não confundas, a verdade é que já tinha começado a escrever isso muito antes de ontem. Acabei hoje.

Assim que o abri nas últimas páginas, percebi que desta vez era algo diferente. Era um poema que podia muito bem ser uma letra de uma canção, rabiscado e rasurado em muitos sítios, páginas arrancadas. Aquele era o fruto de trabalho árduo, não os usuais despejos de inspiração de Lysandre. Naquelas linhas estava o seu coração, era uma prova do seu verdadeiro talento.

Se quisesse, podia reproduzir aqui todas as páginas de beleza que ele me mostrou naquele banco, naquele dia, mas não o farei, por várias razões. É que sou demasiado egoísta para pensar sequer em partilhar aquele que se tornou o meu tesouro, que eu murmuraria todas as noites, ao ritmo da melodia do assobio naquele dia no lago em que o conheci.

Ainda assim, uns poucos versos não magoam.

A flower bed to lay our bare souls, maybe? / Or the flowers on your dress / The wings on my back burn / Si Dieu le permet / Then please let us fly.

Como sempre, Lysandre gostava de escrever em inglês com francês à mistura. Fechei o caderno depois de ler tudo pelo menos duas vezes e abri a boca para falar, mas nada saiu. As palavras fugiram-me.

Sorrindo timidamente, Lys inclinou-se e beijou-me. Foi inesperado, mas bem-vindo. Os seus lábios eram mais suaves do que a mais cara das sedas.

Sem necessidade de falar, soube pelo seu olhar que a minha gratidão e contentamento tinham sido transmitidos. Ergui o caderno para lho devolver, mas ele parou-me com as suas mãos.

— É para ti. É o meu primeiro caderno acabado.

— Ena…! Obrigada. Gostava de o poder engolir para não o perder nunca.

— Não me parece lá grande ideia – Ficou pensativo durante um momento, enquanto eu guardava o caderno já velho na bolsa – Hoje quero comprar um novo. Não me posso esquecer.

Escusado será que dizer que, afinal, Lysandre acabou por se esquecer de o comprar.

Pouco tempo depois, Leigh juntava-se a nós e o comboio não tardou a chegar. Lá dentro, tanto eu como o seu irmão não parávamos de olhar para a janela, a exclamar vezes sem conta quão rápido o veículo ia, e de apreciar a paisagem, ainda que esta estivesse desfocada pela velocidade. Leigh também estava fascinado, mas parecia demasiado orgulhoso de já ter feito este percurso para mostrar tamanho entusiasmo.

Quando chegámos, passada mais de uma hora, a minha primeira reação foi andar à volta de mim mesma, a cabeça voltada para cima. A estação ficava mesmo no centro da cidade, e era enorme. Havia pelo menos seis linhas, contrastando com as duas pequenas linhas do nosso apeadeiro. Os tetos eram altos, havia lojas de doces e de bebidas lá dentro, uma sala de espera e um gabinete de apoio ao cliente. Os meus olhos iam saltando, de tão impressionada que estava.

Já cá fora, o ciclo voltou ao início. O barulho da cidade era imenso. Havia carros em constante circulação, pessoas com malas muito grandes e caras de todas as cores e feitios.

— Lys, Leigh, vejam! Uma loja só de livros! – Apontei para uma livraria na rua oposta à estação.

— E olhem! – Leigh indicou uma banda a tocar na rua – Música ao vivo.

Nesse dia estourei completamente com todo o dinheiro que guardara até então. Não me arrependi. Comprei sacos de livros e de roupa, lanchámos em quatro cafés diferentes e ainda almoçámos e jantámos em bons restaurantes.

Na rua andávamos os três de mãos dadas, comigo no meio. Entrámos em todas as lojas de roupa que vimos, e o processo era sempre o mesmo: Lysandre e Leigh passavam em todos os corredores e pegavam em vários montes de diferentes peças, como vestidos, casacos, calças, saias, e depois experimentávamos à vez, para os outros poderem avaliar.

— Que tal? – Perguntei, girando, pela última vez do dia, num vestido verde claro, de mangas curtas, esvoaçante e simples.

— Hmm – Disse Leigh, pensativo – Acho que talvez um cordão à volta lhe desse mais graça, mas é bonito. Fica-te bem.

— Combina com os teus olhos – Murmurou Lysandre – Verde é a tua cor.

— Acho… acho que vou ficar com ele.

Corei, agradeci e voltei para dentro do provador. Sentia-me agitada. Enquanto me vestia e aguardava que eles se trocassem para experimentar as peças que escolheram para si mesmos, masturbei-me. Senti vergonha, mas também um certo êxtase. Nunca o tinha feito fora de casa.

O gosto de ambos na moda era parecido. Ambos caíam para o vitoriano, com folhos, lenços e casacos de botões com padrões intricados. Leigh falava em frente ao espelho, contando todos os detalhes que faltavam ou estavam a mais em cada peça. Era difícil não concordar com a sua opinião, quando a sua maneira de descrever o que queria fazer era tão convincente que a imagem quase se formava nitidamente ali mesmo.

Divertimo-nos imenso. As próprias ruas eram encantadoras, preenchidas com o som das bandas que animavam o serão, os transeuntes que nunca mais acabavam e a música que se libertava de dentro das lojas. Parámos várias vezes nos bancos, para descansar e conversar com mais calma. Leigh insistiu que passássemos no tal colégio, e assim foi. Mesmo de fora, dava para perceber como era amplo o espaço, com vários pavilhões altos e jardins nos arredores. Não vimos alunos, por não ser um dia de escola, mas o sítio era realmente maravilhoso. Juntámos os mindinhos um por um e jurámos um dia viver ali.

Ao jantar, um sentimento de tristeza contraditório apoderou-se de mim. Algo me dizia que um dia tão bom tinha de ser seguido de alguma notícia nada agradável. As histórias seguem um padrão, e a vida não é diferente; antes de um período de felicidade, é necessário um período de tristeza. Sendo que eu estava com a ordem alterada (apesar da morte de Tom e da minha avó, que não me afetaram tanto quanto isso, ainda que pela minha avó não sentisse nada além de amor… enfim, nada me podia atingir porque eu tinha com quem contar e vivia como que num pódio onde nada chegava tão alto… coloquemos as coisas assim), algo de mau tinha de acontecer. Era quase imperativo.

Lysandre pareceu perceber logo que algo me apoquentava.

— Que se passa, Leo? – Mirou o meu prato quase intocado – A comida não está do teu agrado?

 - Nada disso – Fixei-me no seu olhar. O olhar de Lysandre era difícil de fixar, tão belo que parecia não querer largar os nossos olhos, mas criador de indecisão para quem o observava. Qual escolher, o verde ou o âmbar? A escolha parecia impossível – Estou só a pensar. Adorei o dia de hoje e desejava que não terminasse.

— Muitos dias iguais ou melhores virão – Assegurou ele. Sorri-lhe, feliz.

Voltei-me de novo para a comida e agora saboreava verdadeiramente aquela carne fabulosa. A conversa retomou o rumo da palhaçada, num misto de três contentes vozes, a minha solta, a de Lys suave, e a de Leigh madura.

Para nosso desgosto, o dia chegara ao fim. Tinha passado demasiado rapidamente. Acabei por adormecer no caminho de regresso, e Leigh carregou-me da estação até casa. Somente sonhos deliciosos me encontraram nessa noite. E pensei naquelas frases, The wings on my back burn …

Passou pelo menos uma semana até chegar a má notícia que eu receava.


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Notas finais do capítulo

Mal posso esperar pelos capítulos que se avizinham. Tenho algumas ideias interessantes aqui a cozinhar.
O que acham que vai acontecer? O que acham que devia acontecer?



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