Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 4
Capítulo IV - De casa à fazenda


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo do dia!
Espero poder voltar a postar amanhã.
Obrigada a quem se disponibiliza a ler! Espero sinceramente que seja tão divertido para vocês como está a ser para mim.



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Da minha casa na aldeia até à fazenda dos Pentsgold era uma mera caminhada de cinco minutos, a passo rápido. Contudo, nunca lá tinha ido. O meu coração martelava-me no peito quando ia a bater na porta principal. Antes disso, porém, a voz de Lysandre chegou até mim do celeiro mais próximo.

— Leo?

Virei-me. Lysandre sentava-se num banco comprido de madeira rodeado de montes de feno enquanto segurava um coelho branco e lhe dava uma cenoura. À sua volta, inúmeros coelhos dormitavam e passeavam. Mais para o fundo do celeiro, uma vaca mugia.

Sentei-me junto a ele.

— Tenho saudades vossas, Lys.

— E nós tuas.

— Onde está o Leigh? – Perguntei.

— Foi até ao mercado.

— E os teus pais?

— Tiveram de ir à cidade por causa de um contrato qualquer sobre o trigo…

Inspirei.

— Beija-me, Lysandre.

— O quê? – Ele parecia genuinamente confuso.

— Beija-me – Ordenei – Na boca.

Ainda que baralhado por um momento, e depois embaraçado, de rosto enrubescido, ele acabou por obedecer e inclinou-se sobre mim, pousando os lábios nos meus por dois segundos.

— Para que foi isto? – Murmurou Lysandre, vermelho até às orelhas.

— Há… necessidades que não conseguimos explicar, não é verdade? – O coelho já tinha fugido há muito, e eu colei-me ainda mais a ele. Apesar do seu peito largo e a sua estrutura alta para a idade, a gentileza do seu toque era incrível. Voltei a reunir os nossos lábios, desta vez por mais tempo. Abri e fechei a boca sobre a dele.

— M-Mas Leo, nós… nós não devíamos, hm – Ele coçou a cabeça entre os nossos beijos – Quero dizer, gostas de mim dessa maneira?

— Como assim?

— Podia jurar que gostavas do Leigh – Olhou para o chão ao dizer isto.

— Gosto dos dois, não é claro? – Arqueei as sobrancelhas.

— Refiro-me ao gostar romântico, aquele gostar que nos faz querer fazer… estas coisas.

— Não creio que seja preciso gostar de alguém para lhe quereres tocar, Lys.

— Bom, nunca pensei assim dessa maneira – Naquele momento o seu rosto estava tão adorável que eu rompi num sorriso largo e lancei-me noutro beijo, um beijo muito mais arrojado desta vez. Era a minha primeira vez a beijar assim, tão profundamente, um beijo tão molhado.

Alguns sons escaparam das nossas bocas seladas. Surpresas, sensações a acordar. Ele entregou-se quase tanto quanto eu. Segurei-lhe a cabeça com as duas mãos e puxei-a para mim. Afastando-me o cabelo, que já me chegava a meio das costas, ondulado, como sempre, Lysandre pousou também uma mão no meu pescoço.

Antes de conseguir sequer aproximar-me do destino final, infelizmente, o barulho de passos não muito longe, acompanhado pelo bramir das ovelhas atrás de si, parou-nos. Olhei para os pais dos irmãos, que voltavam carregados de sacos. Mordi o lábio inferior e olhei para Lysandre, que estava irrequieto, tão diferente da sua calma habitual. Não podiam ter escolhido uma hora mais inconveniente para regressar a casa, pensei.

Levantei-me, olhei para Lysandre e levei o dedo indicador à boca, esticando-o, como se lhe pedisse para manter aquele inesperado encontro em segredo. A verdade é que não estava particularmente preocupada se os outros sabiam ou não, mas pensei que assim seria mais fácil para ele aceitar o que fizéramos.

— Francine, que bom ver-te por cá – Cumprimentou-me a senhora Josiane Pentsgold, com um sorriso afável e os olhos ternos.

— Olá – E acenei para o seu marido, que estava a descarregar as coisas que traziam dentro de casa.

— Fomos agora à cidade, há tantas coisas para comprar que aqui não temos! Perdemo-nos um bocadinho, sabes.

— Pois, acredito. Nunca lá fui, mas deve ser outro mundo.

— É, é. E andar de comboio também foi uma aventura para nós, que já não vamos para novos!

— Nada disso – E sorri cordialmente.

Depois, a senhora pareceu ficar de semblante mais escurecido. Certamente que se lembrava da situação da minha família, que a aldeia já quase esquecera.

— Francine… sinto muito. O teu irmão, e depois a tua avó. – Soluçou – Foi uma tragédia. Sinto muito. Arrependo-me imenso de não ter voltado a falar com a Alice enquanto não era tarde demais.

— Obrigada. – Disse, simplesmente, e despedi-me com certa pressa. Corri pelo campo fora, um pouco enraivecida. Onde quer que fosse, a sombra daquelas mortes ainda tão recendes parecia perseguir-me, e o que eu queria era descanso, esquecimento.

E foi aí que uma ideia me ocorreu. Uma ideia espantosamente simples, mas revolucionária na minha cabeça: o comboio. A cidade. Haveria melhor saída à rotina do quotidiano numa aldeia em que os segredos são escassos do que uma viagem à terra desconhecida? Havia várias cidades ao redor da nossa aldeia. O apeadeiro estava à distância de uma curta caminhada a pé. E eu nunca lá fora. Quem acompanhava os meus pais era sempre Tom. Agora ninguém lá ia há semanas. Achei que esse passeio seria brilhante.

Não parei de correr, mas desta vez tinha um destino – o mercado, onde sabia que se encontrava Leigh. Prendi o cabelo com um elástico vermelho que andava sempre no meu pulso. Não parei para cumprimentar quem me chamava para dizer que pena, que coitada, e fui direta ao centro, onde a feira semanal tinha lugar. Procurei a barraca dos Pentsgold, e lá estava Leigh.

— Leo – Rasgou-se num sorriso – Que boa surpresa. – Levantou-se e mostrou-me por onde se entrava para ficar do lado de dentro da banca.

Adorava como ele e Lysandre me chamavam Leo. Em casa tratavam-me por Leonie ou Fran, e nenhum dos dois me soava apropriado. Leo era perfeito para mim, mas também não desejava que mais ninguém no mundo me chamasse assim. Na verdade, é provável que qualquer que fosse o nome pelo qual eles me tratassem, esse pareceria sempre o mais certo.

Sentada num pequeno banco com Leigh, a mente num frenesim, comecei:

— Adorava ir conhecer a cidade. Alguma vez lá foste?

— Sim, uma vez. – Olhou para o horizonte – Assim que puder, mudo-me para lá.

— E levas-me contigo?

— Mas é claro. – Riu-se, balançando os cabelos que já lhe davam pelo ombro – Eu, tu e o Lys, sozinhos na cidade. Quem me dera poder ir já amanhã. Há um colégio muito bom, vocês podiam andar lá. E eu abria uma pequena loja perto do centro, com um apartamento por cima.

— Se esse é o teu sonho, então fá-lo-ei também o meu. – Pensei por um momento – E quanto aos teus estudos?

— O meu sonho é muito mais importante para mim. Os meus pais dizem que, por ser tão bom na escola, não devia sequer pensar em sair, mas não se opõem demasiado. Valorizam os meus ideais. Eu pararia os estudos para poder ser estilista, produtor e vendedor da minha própria linha. Utilizaria os melhores tecidos, e senhoras de todo o país viriam à minha modesta lojinha fazer fila para ver os vestidos ou encomendar algo especial… - Suspirou – Não seria maravilhoso?

Vai ser maravilhoso – Entrelacei as nossas mãos e pousei a cabeça no seu ombro. Do outro lado estavam outras barracas com vários produtos, mas tudo o que eu via era o futuro incrível que teria ao lado dos meus melhores amigos, Leigh e Lysandre. O mais provável era eu acabar por casar com um deles, e depois podíamos continuar a viver juntos, ou muito próximos… e teríamos filhos… e podíamos viajar…

Leigh beijou-me o topo da cabeça e eu senti que não podia ficar parada. Disse:

— Vamos passear até à cidade. Apanhamos um comboio de manhã e só regressamos à noite. Que dizes?

— Digo que é uma excelente ideia, Leo! – Naquele momento pareceu tão entusiasmado quanto eu – Mas quando?

— A melhor altura é agora mesmo.

— Agora é tarde e tenho um… negócio em mãos – Riu-se.

— Tens razão. Estendemos o agora para amanhã?

— Sim. Só tenho de falar com os meus pais. O Lys pode de certeza.

— Então está perfeito – Beijei-lhe a bochecha – Obrigada por aceitares. Tenho imensa vontade de ir para outro sítio. Ou desaparecer, simplesmente.

— Não digas isso. Se desaparecesses, eu não saberia onde ir ter contigo.

— O mais provável era eu estar junto ao lago – Pensei no assunto por uns instantes – Talvez não o meu corpo. Talvez só a minha alma.

— Estou a ver – Fez uma pausa – É bom ter um sítio a que a alma pode voltar.

A minha nunca estará longe, pensei.

Um tempo depois, quando o véu da noite já cobria o céu quase por inteiro e a feira chegava ao fim, voltei para casa. Demorei-me a escolher cuidadosamente o que levar na nossa viagem. Juntei o dinheiro que tinha guardado para algumas eventuais compras.

Quando me deitei, duas coisas ocupavam a minha mente: a pequena aventura com Lysandre e a grande aventura que se seguiria. Quase não dormi, em parte devido à ansiedade, em parte devido à excitação… excitação. Palavra que dá para vários sentidos.


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Notas finais do capítulo

E então? Como está a ser a história para já?
Gostam de como estou a apresentar os personagens? De quem mais gostam? O que querem que aconteça?
Obrigada!
Beijos ♥



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