Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 2
Capítulo II - Mais de um ano depois


Notas iniciais do capítulo

Um comentário, duas pessoas a acompanhar e um favorito no último capítulo!
Bem, foi uma excelente surpresa. Obrigada, a sério :D

Este capítulo ainda é na onda do anterior, uma espécie de introdução que durará mais um bocadinho. Preciso de um início sólido para passar à ação, né?
Agradeço e aprecio sugestões! Todas serão bem vindas!
Cya~♥



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Só mais de um ano depois de conhecer Leigh é que Lysandre apareceu pela primeira vez à minha frente. Estava sozinha junto ao rio, como sempre, e desta vez sabia que Leigh viria, visto que tínhamos combinado no dia anterior. Mesmo assim, não seria surpresa nenhuma se ele se esquecesse. Por esta altura a má memória dele já não me incomodava.

Era uma manhã de primavera. Uma brisa gentil balançava as flores e as ervas, mas não estava muito frio. Tinha eu um piquenique preparado para os dois, com sumo de laranja, tostas, queijo e manteiga, tudo sobre uma manta vermelha e branca com um padrão de xadrez. Levava um vestido azul pálido de mangas curtas, um chapéu de palha com uma fita azul e umas sandálias brancas. Ultimamente tinha sempre o máximo cuidado em escolher a roupa quando ia para aqueles encontros, já que Leigh me confidenciara que adorava roupas e sonhava em viver na cidade e vender a roupa que ele próprio confecionara. Aqui não tinha materiais, contava-me, mas desenhava muitas peças que planeava fazer assim que saísse da aldeia. Os seus desenhos eram lindos, e prometemos, certo dia, que o primeiro dos seus vestidos ficaria para mim.

— Leonie! – Chamou Leigh ao chegar, um sorriso radiante no rosto perfeito e um brilho sonhador nos olhos cinzento-escuros.

— Leigh! – Respondi, segurando no chapéu e acenando.

Antes de se sentar frente a frente comigo, demorou-se a contemplar a pequena refeição que eu prepara – nada demais, certamente, mas um gesto de carinho – e agradeceu o gesto. Eu ri-me, e depois conversámos sobre o tempo, o céu, o lago e dos dias e como era rápido viver, enquanto comíamos o que estava entre nós.

— Oh, esqueci-me completamente – Exclamou – Consegui finalmente convencer o Lysandre a vir até aqui. Ele prometeu que viria assim que terminasse os deveres da escola.

— A sério? Que bom – Sorri, entusiasmada – Mas vai haver um problema se a memória dele for como a tua.

— É pior, acredita.

— Como é possível?

Ambos nos rimos imenso, até que um fio de som chegou até nós. Era um assobio limpo, uma melodia linda que eu nunca antes ouvira. Antes de nada, um rapaz pouco mais baixo que Leigh apareceu. Tinha cabelos brancos, mas escuros nas pontas, e uns olhos intrigantes de cores distintas. Parecia um anjo de algum reino superior, ali na aldeia, de roupas simples e rosto singular. Fiquei espantada com a sua aparência. Mais do que peculiar, era tão inacreditável que o meu cérebro demorou bastante tempo a processá-la. O meu corpo reagiu de forma quase tão violenta como a minha mente, e fiquei instantaneamente irrequieta, ansiosa.

— Olá. – Disse, simplesmente, parecendo desinteressado.

— O-Olá – Cumprimentei – Deves ser o Lysandre, de quem o Leigh tanto fala…!

— Sou, de facto. – Um sorriso apareceu nos seus lábios pela primeira vez desde que aparecera – E tu deves ser a Leonie.

Acenei que sim com a cabeça, e Leigh convidou-o a sentar-se, congratulando-o por não se ter esquecido do combinado. Ele suspirou.

— A canção que vinhas a assobiar… não a conheço. Como se chama? – Perguntei.

— Não tem nome. Foi apenas algo de que me lembrei no caminho para cá. – Lysandre abanou os ombros como se aquilo fosse apenas óbvio.

— Escreves canções? – Questionei, surpreendida. Sabia do interesse dele por música porque Leigh me tinha contado algum tempo atrás, mas não sabia que compor fazia parte dos seus hobbies.

— Não exatamente. São apenas melodias que se me afloram, uma cama para a poesia…

Falar com Lysandre era uma experiência imperdível, como depressa vim a perceber. Durante toda a manhã falámos de poesia e de música e de roupa, pela qual ambos partilhavam um curioso fascínio, e todos nos divertimos.

Fui-me embora quando Tom me chamou, acompanhado da cadela, e o meu corpo, que estava então relaxado, confortável, voltou imediatamente à rigidez que a sua voz me causava. Nunca soube se se tratava de medo, receio, antecipação ou simples desconforto. A minha relação com Tom atravessou uma época em que só falávamos o estritamente necessário; ele não me perguntava o que eu fazia com os Pentsgold, eu não sabia o que ele fazia nos tempos livres, e já nem havia brincadeiras, aquelas nossas brincadeiras com Emma ou no jardim. As únicas… brincadeiras tinham lugar na cama, no escuro.

Apesar de tudo, o que ocupava os meus pensamentos de forma permanente eram os irmãos da fazenda lá perto de casa.  

Leigh parecia maravilhado com o facto de eu e o seu irmão nos darmos bem. Mais tarde confidenciou-me que se preocupava bastante com as qualidades sociais do rapaz, que era muito quieto, distraído e reservado, o que não o ajudava nada a fazer amigos, na escola ou fora dela.

Tudo o que Leigh me disse sobre ele me pareceu estranho, dado que, para mim, ele era a pessoa mais interessante do mundo. Foi uma questão de dias até Lysandre, ou Lys, começar a acompanhar o irmão mais velho em todas as suas visitas ao lago e nós nos tornarmos inseparáveis, melhores amigos, nós os três. Tínhamos exatamente a mesma idade, mesma data de nascimento e tudo. Naqueles encontros, algo de extraordinário acontecia: três almas juntavam-se e brilhavam como uma só.

No entanto, os meus sentimentos relativamente a Leigh não se alteraram, por mais que a linda figura de Lysandre me encantasse. Para mim, Leigh era um porto seguro. Nunca duvidei da sua lealdade para comigo e, ainda que nunca o disséssemos alto, era como que um pacto cerrado entre nós que aquela ligação não se quebraria, acontecesse o que acontecesse. Aquilo que de romântico eu sentia era abafado pela força da vontade, ou medo, quem sabe, que eu tinha de o perder. Contudo, o nosso hábito de nos beijarmos na boca à despedida continuou, e Lysandre nunca pareceu estranhar.

As minhas experiências sexuais continuaram como sempre desde aquele fatídico verão – em poucas palavras, precoces e intensas. Não me atrevi a falar disto a Leigh nem a Lys. Limitei-me a utilizá-los como objeto de fantasias, no final das quais chorava sempre um bocadinho por sentir que, de alguma maneira, estava a pecar. Mas depois animava-me, porque ninguém sabia e, no que dependesse de mim, nunca ninguém iria saber.

Durante cerca de três anos, em que as estações iam e vinham, pouco ou nada mudou lá na nossa pequena aldeia no interior. A vedação foi eventualmente pintada de branco, e a Emma ficou demasiado velha para correr pelos campos como dantes. Tirando isso, o que mais mudou foi o corpo de mim e dos que me rodeavam. Uma barba rala crescia nas faces estranhas de Tom. A maçã de adão de Leigh tornou-se bem visível. Lysandre crescia mais e mais alto. Os meus seios brotaram do nada, e tudo o que havia de mulher em mim ficou mais refinado.

Passei a pentear com cuidado os meus cabelos cor de avelã, e a olhar-me ao espelho de maneira diferente, a apreciar a dádiva que eram os meus grandes olhos verdes, claros como a água. Eu tinha uma beleza quase poética, e adorava quando Lysandre escrevia sobre mim. Sentia-me elevada, e que todos nós realmente possuíamos alguma importância. Quando se vive assim isolado, é um alívio que alguém nos saiba admirar.

Enfim, eu, Leigh e Lysandre continuámos amigos. Éramos felizes com o que tínhamos.

Eu vivia a vida de mente aberta, aceitava aquilo que me aparecesse no caminho. Não passava de uma criança, é certo, mas certas coisas fazem-nos crescer mais rápido do que seria desejável.

Como a morte do meu irmão, na véspera do meu décimo terceiro aniversário.


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Notas finais do capítulo

Whoo...
Escrever isto foi uma emoção!
Eu gosto bastante desses três Ls, e vocês? E o que acham do Tom?



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