Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 1
Capítulo I - Quando vivia lá


Notas iniciais do capítulo

Um começo lento, mas impactante, espero.



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Quando vivia lá na aldeia tinha poucos amigos. Conversava com as galinhas e com os leitões e por vezes mesmo com as ovelhas, das quais não gostava demasiado. Algo nos seus olhos altos sempre me fez sentir inferior. Adorava também Emma, a velha cadela da família. Vivia na quinta dos meus avós com os meus pais e irmão, que eram a minha companhia mais normal, assim como os animais. Não ia à escola; um instrutor particular ia à nossa casa e levava lições, livros, tarefas, trabalhos… como se o trabalho no campo não fosse suficiente, rangia o meu irmão entre dentes. Quanto a mim, os dias em que o nosso estranho professor aparecia eram os mais felizes. Eu gostava de ler sobre tudo, desde história e geografia a poesia e todo o género de prosa.

Não muito longe havia uma outra fazenda. Raramente via quem de lá saía, mas sabia tratar-se de um casal e duas crianças mais ou menos da minha idade, cujos pais tinham quase a idade dos meus avós, que não conheci verdadeiramente até ter uns dez, onze anos.

O meu primeiro encontro com essa gente da outra fazenda, os Pentsgold, foi num dia de verão em que o calor se aproximava do insuportável, e eu estendia-me junto ao pequeno lago perto da vila. O meu irmão fazia coroas com flores, aquelas flores pequeninas da berma do lago, e eu dormitava, quando o chamaram para ir ajudar com alguma coisa em casa. Eu fiquei. Não havia qualquer mal possível que pudesse acontecer naquela calmaria demoníaca.

— Consigo ver as tuas cuequinhas…

Levantei-me num salto ao ouvir a voz desconhecida. Um rapaz de cabelos negros acocorava-se à minha frente, as faces rubras. As minhas não tardaram em fazer-lhe frente, e a minha reação foi bater-lhe – e assim o fiz. A marca da minha mão ficou bem visível na sua cara, que parecia mais surpreendida do que magoada, e só então falei.

— Quem és tu?

— O meu nome é Leigh, Leigh Jonathan Pentsgold. E tu, moça das cuecas brancas? – Ele olhou para mim de forma tão penetrante que quase consegui ver o meu reflexo nos seus olhos, as minhas tranças toscas e o vestidinho amarelo e florido – Não é muito bonito bater a um desconhecido.

— E é bonito ver as cuecas dos outros? – Arqueei as sobrancelhas.

— Só seria um problema se fosse de uma senhora, não faz mal com criancinhas.

— Mentira! – Não pude não me rir. – Chamo-me Leonie Francine Ole.

Leigh então sorriu e olhou para o lago, para a vila lá no fundo, para o céu escaldante e, por fim, para mim. E disse:

— Vives na fazenda perto de minha casa, sendo assim. As nossas famílias são velhas amigas. Já te vi cá fora a correr, mas não te conhecia a cara, que o milho ou as flores tapam-na sempre.

Assenti. – Se são velhos conhecidos, por que é que nunca se reúnem?

— Acontece. Os meus pais não são jovens, e o trabalho não é menos duro agora. Não vais à escola, pois não?

— Não, nem eu nem o meu irmão. Aprendemos em casa.

— Compreendo – Abanou o cabelo negro que agora pingava e suspirou – Quem me dera poder ir para o mar agora mesmo.

 - Nunca vi o mar.

— Nem eu.

Instaurou-se o silêncio. Nenhum de nós estava exatamente apresentável, com as roupas sujas da terra, a pele pegajosa de suor e os cabelos na desordem total. No entanto, não conseguir deixar de o achar encantador... delicioso, até. Uns anos depois estaria a prova-lo de todas as formas imagináveis, mas isso não me ocorreu no momento.

Todo o ambiente estava amarelado pelo sol que brilhava, cada vez mais escuro, indicando o fim da tarde. O céu tinha camadas de cores.

— Quantos anos tens? Pareces ter mais ou menos a idade do meu irmão, o Tom.

— Doze acabados de fazer. Thomas, não é?

— Sim. Ele tem catorze! Um bocadinho mais velho, afinal. Eu tenho dez anos.

— Pensei que eras mais velha, mas és da idade do meu irmão.

— A sério? E Como se chama ele? – Perguntei.

— Sim, talvez por falares tão bem. Chama-se Lysandre.

— Lysandre – Experimentei o nome, que soava doce, mas amargo, como limão e mel.

Antes de termos tempo de continuar a conversar, ouvi o meu nome a ecoar no grito do meu irmão, que me chamava para o ajudar.

— Parece que tens de ir. – Disse Leigh.

— Assim parece.

Verguei-me e beijei-lhe a face que anteriormente esbofeteara. Ele riu-se e beijou-me também, não na face, mas nos lábios. O beijo mais casto de todos, um toque simbólico entre crianças.

— Espero voltar a ver-te.

— Estarei atenta aqui ao lago.

E fui ter com o Tom, com o coração palpitante por uma promessa de ver Leigh novamente.

*

No decorrer desse verão, muitas coisas mudaram. Primeiro, o meu círculo de amigos alargou-se ao conhecer agora Leigh, com quem me encontrava sempre que podia. À primeira oportunidade em que me encontrasse livre de tarefas, fossem domésticas, do campo ou dadas pelo professor, corria para o pequeno lago e esperava que ele aparecesse. Umas vezes lá estava ele, outras ficava sozinha à espera, até que anoitecia e eu tinha de voltar, mesmo sem o ter visto. Os nossos encontros eram imprevisíveis, mas faziam sempre a melhor parte do meu dia.

A nossa despedida era um beijo na boca. Um mero contacto, na verdade, mas que me alegrava. Os lábios dele eram muito macios. De vez em quando eu pegava-lhe na cara para o beijar, ou ele a mim. E eu era feliz.

Depois, o meu irmão começou a comportar-se de maneira estranha. Nunca falei disto a ninguém, porque ele próprio mo pedia, mas durante muito tempo não compreendi de que se tratava. Eram muitas as noites em que Tom se esgueirava para o meu quarto e se deitava comigo. Eu, confusa, perguntava:

— Estás com medo?

Ou:

— Tiveste um pesadelo?

Mas Tom não me respondia. Em vez disso, tocava-me em sítios cujos nomes eu mal sabia, passava as mãos pelo meu corpo e encostava-se muito a mim, agarrava-me e tocava em si próprio enquanto respirava muito rapidamente. Acerta altura ele tremia, soltava um fio de voz e suspirava profundamente. Tudo isto eram coisas que eu não entendia, e por isso limitava-me a ficar deitada, muito quieta, rija enquanto esperava que aquela parte da noite terminasse. Perdi muitas horas de sono com estes assaltos do meu irmão.

Quando acabava, acontecia frequentemente de ele chorar e pedir perdão. Eu ficava calada, à espera. Talvez assim ele pensasse que eu dormia.

O meu corpo não passava do de uma criança, os meus peitos não tinham altura, havia gordura de bebé na minha barriga e a minha cara era de pura inocência.

Demorou uns largos meses até eu começar a sentir algo estranho. Eram sensações novas, assustadoras, e despertaram numa dessas muitas noites. Era o prazer. Quando Tom me tocava lá em baixo, de certo modo eu sentia que queria fazer chichi, mas depressa percebi que, mais do que isso, não queria que ele parasse de roçar aquele sítio.

Eventualmente comecei a experimentar sozinha, a explorar as imensas possibilidades que uma mulher tem para se satisfazer a si mesma – os dedos, a torneira, a água, o chuveiro… E descobri também que Leigh tinha o poder de me fazer querer fazer aquilo imediatamente, e as minhas cuecas humedeciam-se quando estávamos muito próximos. Não lhe dizia isso, claro, porque por esta altura já sabia o que era o sexo e tinha uma ideia do que era a masturbação, e nenhum deles devia ser partilhado por irmãos. Leigh não podia saber o que Tom fazia, nem que eu deixava, ou então odiar-me-ia.

Mas eu queria contar-lhe, queria pedir-lhe que me tocasse, e queria que ele me dissesse que nada disto fazia mal, que estava tudo bem. E queria saber que ele gostava de mim como eu gostava dele.


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Notas finais do capítulo

Welp...
Feliz Natal c:



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