Nym-pho escrita por Ugly Duckling


Capítulo 10
Cpítulo X - Regressar


Notas iniciais do capítulo

Hurray para um capítulo extra comprido!
Adoro quando comentam, a sério♥ Ai♥
Peço desde já perdão se houver algum erro ortográfico terrível que me tenha escapado. Acabei agora mesmo de escrever, estou cheia de sono, e queria postar o mais depressa possível.
Recomendo ouvir I got ID de Pearl Jam durante a leitura: foi a música que o inspirou.
Agradeço todos os comentários, vamos lá ! :D

PS: "Auf Wiedersehen" significa adeus... you'll get it later ;)



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A primeira coisa em que reparo é no elástico vermelho no seu pulso.

Não, não. Perdão pelo adiantamento. Ainda não chegamos aí, não… a este ponto na minha história ainda estou na Alemanha.

Passaram-se várias semanas até que o meu percurso se voltou a alterar completamente. Entretanto, eu e Viktor embriagávamo-nos um no outro. Os nossos habituais passeios pela cidade eram ainda mais íntimos, dávamos as mãos, olhávamo-nos de um modo algo diferente, tirávamos fotos. À noite, depois de jantar e de cada um se ter ido deitar, geralmente depois de um pequeno serão com Ada e Raimond, eu escapava-me para o quarto dele. Ríamo-nos com as piadas de sempre. E então, quando eu lhe beijava as pontas dos dedos e afagava a zona da pélvis, sorríamos entre os beijos e ríamo-nos outra vez por causa dos barulhinhos que ele deixava sair.

— Leonie.

Após um sexo muito abafado numa tentativa de discrição, quando já estávamos deitados, nus sob os lençóis da sua cama, Viktor gostava de murmurar o meu nome. Eu passava a mão pela sua face, sentia o seu ombro no meu, e levantava-me para voltar a vestir o pijama. Se ao início achava Viktor sisudo e estoico, agora achava-o simplesmente adorável. A sensação de irmandade não desaparecera, ele era meu amigo, mas agora também algo mais. Há uma certa proximidade emocional que vem com a intimidade entre duas pessoas, mesmo que tudo o que se saiba sobre ela seja o nome, ou até mesmo somente o rosto. Mas com Viktor era diferente, pois, para além de conhecer o seu corpo quase tão bem como o meu próprio, sabia quem ele era, conhecia-o realmente. Conhecer alguém realmente é muito raro; poucos são os que nos mostram o que se esconde por baixo da superfície.

Suponho que o que me deixava verdadeiramente ansiosa por aquelas noites ardentes era aquela emoção crua, a certa adrenalina que era saber que o que fazíamos não era inteiramente correto, que, se descoberta a nossa relação, um escândalo rebentaria. Talvez o facto de ser eu a esgueirar-me para o quarto do meu “irmão”, desta vez. Com a minha permissão. Com a minha iniciativa. Durante as primeiras vezes quase podia sentir Tom de pé ao lado da cama, com aquele olhar escondido pela noite, mas que ainda assim me dava arrepios. Sentia-o a julgar-me, ou seria a apreciar a cena? Pelo sim, pelo não, evitava olhar para cima. Com o tempo, contudo, essa sensação esvaiu-se e Tom voltou a morrer.

Mas como a morte na minha vida nunca se contentou com a realidade figurativa, a foice voltou a colher perto de mim. Raimond morreu num dia de finais de primavera, num acidente de carro. A culpa não foi dele, mas sim de um condutor bêbado que conduzia contra a mão na auto estrada. A minha tia Ada colapsou na porta de entrada quando a foram avisar, um fim de semana em que estávamos todos em casa, esperando Raimond para almoçar. Viktor pediu licença e foi para o seu quarto. Eu observei durante algum tempo, sentindo-me uma intrusa. Vi a tia Ada sair com o polícia que tinha vindo dar as notícias. Fui abraçar Viktor e deixei-o chorar nos meus braços. A sensação de que, por alguma razão, eu me encontrava no exterior continuava. O meu coração não palpitava nem mais rápido nem mais devagar. O meu corpo entrou em piloto automático e comecei a ameigar Viktor, a apertar a minha cabeça contra o seu cabelo.

A minha gratidão para com Raimond era infinita, é claro. Mas, mais uma vez, as pessoas têm maneiras diferentes de lidar com a morte. E eu, como a pessoa egoísta que sempre fui, só conseguia pensar: e agora? Raimond era o pilar daquela casa, financeira e emocionalmente. E a sua empresa? E Viktor? O futuro parecia tão próximo, de repente.

As horas, talvez dias, que se seguiram foram estranhas. Uma sucessão de acontecimentos em que eu não consegui interferir. Como uma folha de outono no vento, levada para aqui e para ali, a flutuar, mas tão fácil de partir.

Foi só ao fim da tarde do dia do funeral de Raimond que eu, Viktor e a tia Ada nos sentámos na mesa de jantar e conversámos pela primeira vez desde a tragédia que fora aquela morte. Desnecessária. Pessoas boas não deviam morrer, pensei. E depois pensei em como aquela pequena e aguda dor no fundo da garganta estava lá só agora que Raimond falecera, não quando foi Tom, não quando foi a minha avó, não assim.

Com a testa pousada sobre os punhos, a minha tia começou:

— Algumas mudanças vão ser precisas – Engoliu em seco. Viktor parecia cansado, olhando de lado – Vamos ter de parar de chorar e pensar em como continuar. Dinheiro não é um problema: sempre tivemos o cuidado de manter uma boa quantia guardada para alguma emergência.

Sem saber onde deixar os olhos, alternava entre o rosto da tia Ada, subitamente vinte anos mais velho, a abatida expressão de Viktor, e as minhas mãos, entrelaçadas sobre a mesa. Eu própria vendia muitos dos meus quadros, e por isso tinha algum dinheiro de lado – não era nenhuma fortuna, mas certamente suficiente para viver uns meses.

Ada continuou:

— Mas eu não posso ficar aqui. Há demasiadas memórias de Raimond nestas paredes, nestas divisões… - Escondeu um soluço – E por isso decidi vender a casa e visitar a minha irmã em França por uns tempos.

Sobressaltei-me.

— Viktor, Leonie, meus filhos, vocês sabem que vos amo. Sabem, não sabem? – Ambos acenámos que sim, muito lentamente – E saibam que nunca faria nada para vos prejudicar. Viktor, tens o futuro todo à tua frente, e esse futuro não é no campo, preso. Nunca te faria isso. – Estendeu uma mão carinhosa para o ombro dele. Depois olhou para mim.

— Tia, eu… - Mas ela interrompeu-me.

— E claro que nunca te forçaria a voltar para lá, querida. É por isso que hoje precisamos mesmo de decidir várias coisas. – Senti um alívio tremendo, pressão a cair-me dos ombros. – Viktor, se assim desejares, a companhia Chavalier. Podes começar a trabalhar de imediato, enquanto concilias o cargo com os estudos. A decisão é tua.

— Sim – Clareou a garganta – Sim, é isso que farei. É o que o meu pai gostaria que eu fizesse. É aquilo para que me tenho preparado. O meu dever.

A minha tia pareceu gostar:

— Muito bem. – E virou-se para mim – E tu, Leonie? O que queres fazer?

— Eu – Gaguejei um pouco. – Eu, eu…

Mas afinal, o que queria eu? Uma questão difícil assim do nada. Não queria muita coisa. Queria poder pintar à vontade, um corpo para abraçar. Naquele momento também queria bater em alguém. Mas querer, querer? Onde viver?

E então uma ideia encontrou a minha mente como uma bússola encontra o Norte; deveria ser óbvio. Pensei na minha alma e para onde prometi que regressaria. Pensei em Leigh e em Lysandre. Pensei em sonhos, em promessas de crianças, e em pureza. Talvez fosse ingénuo pensar que, por alguma obra do destino, Lys e Leigh tivessem realmente ido para a cidade que visitáramos uma vez, a cidade com o colégio e as lojas e os restaurantes. Mas nada me parecia mais perfeito.

— Eu também voltarei para França. Para a cidade.

E depois acrescentei:

— Julgo ter dinheiro suficiente para alugar um apartamento durante algum tempo, e posso sempre começar a trabalhar e… - Mas a tia Ada cortou-me:

— Se essa é a tua decisão, eu aceito-a – Olhou para Vikor, que tinha a cabeça baixa e os braços cruzados, num gesto de claro desgosto – Nós aceitámo-la. Mas não fales em gastar dinheiro, Leonie, esse é o mínimo que eu podia fazer por ti.

Abracei-a e agradeci-lhe imenso, e ela sorria.

E, sem demoras, começámos a fazer os arranjos. A minha matrícula no colégio de Sweet Amoris. Um apartamento perto do centro, perto da escola. As viagens. Também Viktor se decidiu por um pequeno apartamento lá na Alemanha, alegando que pouco tempo passaria em casa, entre a faculdade, a empresa e as muitas viagens.

A data estava marcada. Sairíamos no princípio do verão, e íamos no mesmo voo, eu a tia Ada. Tinha ainda três meses para me ambientar antes de começarem as aulas. Ia já para o meu penúltimo ano de escolaridade.

Nos dias anteriores à viagem, eu e Viktor passámos muitas horas simplesmente abraçados. Ninguém saía de casa, e eu própria poucas vezes fugi para me saciar com alguma outra pessoa. Viktor parecia distante. Nunca me disse que não se queria separar de mim, mas eu sabia-o. Sentia a sua relutância na sua voz trémula, nos dedos que me tocavam com receio.

Prometemos que mandaríamos uma mensagem um ao outro por dia. Uma chamada, talvez duas, por semana. E visitas, claro, assim de vez em quando. Viktor sabia que eu era e sempre seria livre, e resignava-se ao que eu decidia. Nunca tentou fazer-me mudar de ideias, e por isso eu estava grata.

Foram dias de companhia solitária, e a falta que Raimond fazia parecia ampliada por aquele sentimento de despedida.

*

Aeroporto. Viktor segurava a minha mão com força. Peguei no meu telemóvel e mandei uma mensagem a Nadja, Hoje volto para França. Não esperava uma resposta, mas pareceu-me correto avisar.

Qual não foi a minha surpresa quando, passados poucos minutos, a resposta veio: Hoje danço para ti. Em anexo vinha uma fotografia de Nadja com o seu leotard azul, as costas voltadas para o ecrã e o rosto meio escondido. Quis desenhá-la imediatamente. Encostei o telemóvel junto ao peito. Talvez eu tivesse mais medo que Nadja se esquecesse de mim do que o contrário.

A hora aproximava-se. A tia Ada despediu-se de Viktor com um longo abraço, voltando de seguida para a fila da segurança. Um gesto bem pensado, para nos deixar separar com alguma privacidade. Não pude deixar de ponderar, será que ela já se tinha apercebido do que nós fazíamos? Provavelmente. Não havia problema, de qualquer maneira.

Viktor segurou o meu rosto com o polegar e o indicador, e fixou o olhar tão intensamente em mim que jurei que tentava decorar cada traço, cada curva, cada cor. Ele tinha fotos minhas por todo o lado, quer quisesse ou não, mas o toque é outra coisa inteiramente. Fiz o mesmo. Interiorizei a forma do seu nariz e o tom dos seus lábios. Vi a sua maçã de adão dar um pulo quando ele engoliu em seco. Puxei-lhe a cabeça de maneira a que colidisse com a minha num beijo aceso, daqueles que não se dão em público.

— Eu… - Interrompi-o:

Auf Wiedersehen!

E corri para a beira de Ada.


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Notas finais do capítulo

Ayy
E então? Sugestões? O que acham que vai acontecer? O que gostariam que acontecesse? Aquilo que ainda não foi escrito (o futuro. o futuro da história!) pode sempre ser alterado. Estou aberta a ajudas!
Love you all♥



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