Quando Hermione apareceu vindo do fim da rua onde aparatara, Rony sentiu que seu coração tinha parado. Ela caminhava de forma deslumbrante naqueles saltos finos e o hipnotizava.

— Oi. Me atrasei? - A garota sorriu e se inclinou para beijar a bochecha do garoto, que atrapalhado com a situação, virou levemente o rosto e por pouco seus lábios não se tocaram.

— Não. Não se atrasou. - Suas orelhas apareciam vermelhas. - Você está deslumbrante. - Disse sem pensar, mas sem se arrepender de ter dito.

Dessa vez a garota que ruborizou. Estava feliz pela sensação que causou no garoto. Ele também estava muito bonito. Seus cabelos estavam presos e ele vestia um elegante terno preto.

O concerto foi lindíssimo na opinião de Hermione. Rony tentou se manter interessado, mas claramente aquele não era o estilo de evento que ele gostava de ir.
Ele a acompanhou até em casa, mas naquele dia não iria se demorar, pois tinha combinado de ir até a casa de Harry ajudá-lo com os convites do casamento.

— Bem, Harry já deve estar me esperando. - o garoto falou

— Obrigada por me acompanhar.

— Okay. Então. Tchau. - E se virou em direção a saída. Ele deu alguns passos, mas repentinamente virou e voltou para próximo da garota tão rápido quanto era possível, mas então estancou o movimento.

Hermione arregalou os olhos. Tivera a impressão de que ele venceria aquela distância. Ela deseja que ele vencesse aquela distância. Mas ele não o fez.

— Te vejo amanhã n'A Toca então. Você vai ajudar a Gina, certo? - Ele falou tentando disfarçar seu movimento repentino.

— Vou. - Ela continuou observando o garoto. Ainda parado.

Ele então acenou com a cabeça e quando fez menção de se virar para ir embora, Hermione venceu a distância e o beijou.

O mundo parou naquele momento e tudo se resumia ao abraço de Rony a sua volta. Ele não hesitou e correspondeu seu beijo no mesmo instante. Acariciava suas costas tentando puxá-la para mais perto ainda. Ela por sua vez não agia diferente. Acariciava a nuca do garoto e tentava se aproximar mais. Suas línguas dançavam uma canção que só eles conheciam. Após alguns momentos, a realidade, a razão e a falta de ar bateu a sua porta.

Ela se afastou do garoto completamente corada.

— Me desculpa. - Ela gaguejava, parte por nervosismo, parte pela falta de fôlego. - Isso foi um erro. Não deveria ter acontecido.

Rony ainda processava aquele momento e as palavras da garota. A olhava sem entender o que estava acontecendo. A compreensão foi chegando aos poucos. Um misto de raiva e decepção tomava conta dele.

Raiva de si mesmo por se deixar levar naquela história. Raiva da garota por beijá-lo e no segundo seguinte dispensá-lo. Decepção por aquilo está acontecendo daquele jeito.

— Foi um mal entendido. - Hermione continuava a falar sem parar, tentando deixar claro que aquilo não deveria ter acontecido e que não significava nada.

— Tudo bem. - Foi a única coisa que Rony conseguiu dizer.

— Espero que isso não atrapalhe na nossa amizade.

— Não. Não atrapalha em nada. - o ruivo respondeu sem expressão aparente no rosto. - Bem... vou indo. Até a próxima.
Sem esperar por uma resposta, o garoto caminhou para a saída e aparatou.

Estava na rua da casa de Harry. Ele caminhava de um lado para ou outro tentando se acalmar antes de ir encontrar o amigo. Eles passariam a noite enfeitiçando os convites de casamento e ele não queria que Harry o visse daquele jeito. Porém tarde demais. O garoto com a cicatriz em forma de raio vinha caminhando em sua direção.

— Rony? O que houve? - Os olhos verdes do amigo refletiam preocupação. - Ouvi o barulho de alguém aparatando, mas você demorou a tocar a campainha então saí pra ver o que estava acontecendo.

— Está tudo bem. - respondeu tentando disfarçar seu nervosismo. - Já começou com os convites?

— Ainda não. Você sabe como sou enrolado. Por que não quer me contar o que houve? - Harry não queria insistir, mas claramente o amigo estava abalado. Quem é que ficaria rodando de um lado pro outro no meio da rua a noite? Ele sabia que Rony tinha saído com Hermione. Se fosse a alguns anos atrás, ele não se preocuparia, mas nos dias atuais, eles conseguiam conviver sem se matar, então se algo tinha abalado o amigo, devia ser sério.

Eles entraram em casa e foram para a cozinha. Rony tinha combinado que comeria na casa do amigo para chegar mais cedo. Harry não era um grande cozinheiro, por isso não se poderia esperar mais que vários sanduíches.

Rony se serviu de alguns. Ainda nervoso demais para falar. Harry era seu melhor amigo, ele poderia contar esse tipo de coisa para ele, mas queria tentar recuperar a calma primeiro. Após alguns minutos comendo em silêncio, ele começou a falar.

— Hermione e eu fomos ver aquela ópera idiota hoje. - o ruivo fez uma pausa.

— Sim. Você me disse que iria acompanhá-la. - Harry permanecia sério e atento ao que o amigo tinha a dizer.

— E aí acompanhei ela até em casa. - Ele fez outra pausa. O amigo o olhava paciente, esperando que ele tomasse coragem de dizer o que tinha acontecido. - E ela me beijou.

A boca de Harry abriu em "o" e eles ficaram em silêncio por alguns minutos enquanto Rony continuava a comer.

— Mas isso é bom não é? Você gosta dela ainda.

— Não é bom e eu não gosto dela. Droga, Harry. - O ruivo então levantou-se da mesa, deixando agora extravasar toda sua raiva. - Ela me beijou e depois disse "Isso foi um erro." ELA me beijou. Talvez naquele momento eu quisesse beijá-la, mas não fui eu que tomei a atitude. E depois ela diz que foi um erro? - Agora a voz do garoto estava alta o bastante para ser escutada de longe. - ESSA GAROTA É UMA SACANA! ELA FICA BRINCANDO COM OS SENTIMENTOS DAS PESSOAS. EU NÃO TENHO SENTIMENTOS POR ELA, MAS DEPOIS DE TUDO O QUE JÁ VIVEMOS, TALVEZ EU TIVESSE. E ELA BRINCA COMIGO DESSE JEITO?

Harry ouvia o amigo falar sem parar. A mágoa estava evidente na voz do garoto. Dizer que não tinha sentimentos por Hermione era a maior mentira que ele podia contar a si mesmo e Harry não o julgava por fazê-lo. Ele só estava tentando se proteger.

— Ela namora comigo. Termina comigo com desculpas esfarrapadas. Justo quando eu estava me matando de trabalhar para juntar dinheiro para dar a vida que ela merece. Eu não queria ela passasse as dificuldades que minha família passou. Mas ela chamou todo meu esforço de negligência e terminou comigo. Justo quando eu tinha comprado a droga do anel. Agora ela vem, se aproxima de mim, me beija e diz que é um erro? ELA É UMA SACANA! ISSO QUE ELA É! Erro foi eu ter me deixado entrar nessa furada.

Harry agora estava devidamente surpreso. Rony nunca tinha contado aquilo pra ele, que estava prestes a pedir Hermione em casamento quando esta rompeu com ele. Ele sempre achou estranho Rony seguir carreira tanto como jogador de quadribol como auror do Ministério, mas sempre que perguntava sobre o ruivo desviava do assunto. Ele conhecia o amigo e sabia como a situação financeira de sua família o constrangia. E agora ele entendia. Aquele tempo todo, Rony só queria juntar dinheiro para que Hermione não passasse as mesmas dificuldades que sua mãe passara.

O ruivo estava vermelho. Agora parado com seu olhar sem foco. Harry não sabia o que dizer e nem sabia se devia dizer algo. Se serviu de alguns sanduíches, minutos depois Rony também se serviu.

Ficaram calados por algum tempo. Quando o amigo já parecia mais calmo, eles resolveram que era hora de começar a trabalhar nos convites de casamento.

Hermione sempre fora justa, Harry não podia negar, mas dessa vez Rony estava certo. Ela tinha sido uma sacana.