Amnésia escrita por Ana Coluto


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oooi gente,
desculpa demorar para postar esse capítulo, fiquei enrolada com o fim de ano e com o começo de ano!
Espero que gostem!!



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Maria estava ansiosa dentro do quarto, sentia o sol forte entrando pela janela e sorria igual uma menina de 14 anos apaixonada. Não sabia explicar como, mas a aproximação que havia tido com Daniel havia animado seu espirito.

Ok, falar que aquela carona que ele havia oferecido tinha sido uma aproximação era exagero. O caminho inteiro eles ficarem em silêncio pesado no carro, sendo quebrado pelos suspiros de Maria que estava sentindo o efeito do álcool subindo para a cabeça. O carro dele era cheiroso e por um instante achou que fosse ter outra lembrança, algo que não aconteceu.

Não houve despedida nem nada, ela apenas desceu do carro e entrou em casa. Só ouviu o carro partindo quando acendeu a luz do quarto. Significava que ele tinha se certificado que ela não havia caído durante o trajeto e chegara até o conforto da cama.

Penteou o cabelo de forma a tampar uma pequena falha que tinha na cabeça: era uma cicatriz não muito grotesca que havia ganhado devido ao acidente. Aquilo não a incomodava muito, pois já era possível ver os fios de cabelo crescendo no local e perto de como havia ficado seus dentes aquilo era fichinha. Dando um sorriso forçado para o espelho notou que os dentes falsos eram bem melhores que os antigos verdadeiros (que haviam sido destruídos no acidente) e agradeceu ao avanço tecnológico na área da medicina e implantes dentários.

Pegou a bolsa em cima da cama e desceu em direção à cozinha, aonde sua mãe tomava um café cheiroso enquanto lia os noticiários da manhã. Enquanto pegava uma torrada na mesa, Maria observava sua genitora.

Ela era uma mulher com o aspecto cansado, sem dúvidas. Os cabelos eram de um longo liso e sem corte, que faziam parecer que ela havia parado no tempo, os olhos eram grandes e de um castanho generoso e passivo demais. A pele morena indicava origem de mistura de negros e brancos, que fez sucesso na sua juventude e que havia sido o grande delírio de seu pai. Apesar da postura curva demonstrando um desânimo em relação à vida, dona Silvana era uma mulher bonita e ao que tudo indicava Maria era muito parecida com a mãe.

As duas conversaram amenidades como era de costume, sem nunca se aprofundar demais na conversa com medo de trazer a tona um assunto que nenhuma das duas estavam preparadas para debates. Por isso Maria optou por um caminho seguro e resolveu entrar no fluxo de conversa “mãe e filha adolescente”.

—Mãe – disse enquanto procurava um copo nos armários. – Por que eu e o Daniel terminamos?

Silvana pareceu bastante surpresa com essa pergunta e soltou um sorrisinho.

—Eu me pergunto isso todas as noites. – ela disse com o olhar distraído. – Será que você perdeu as lembranças do abdômen dele?

Maria gargalhou com a pergunta da mãe.

—Mãe, fala sério. – ela disse e suspirou: - Infelizmente esqueci.

Ela agradeceu aos céus por ter conseguido tirar um comentário engraçado da mãe e ter deixado o clima mais leve. Aquilo era importante pra ela e no fundo sabia que era o caminho para se reconectar com sua família.

—Eu não sei como isso aconteceu entre vocês, mas você ficou muito nervosa no dia. – a mãe dela falava com certa calma, como se tivesse sido um evento sem importância – Seu tio que te acalmou, talvez ele lembre mais detalhes do que eu.

Maria concordou pensativa.

—Você costumava ter uma espécie de diário online, talvez tenha escrito algo a respeito lá também. – a mãe dela sorriu enquanto beijava sua bochecha. – Pode ir buscar a Clarinha no balé, por favor?

O estômago de Maria revirou. Os momentos com sua irmã mais nova eram sempre agoniantes, devido à vergonha que ela sentia do repúdio inconsciente que a garotinha sentia dela.

Só aceitou ir porque estava indo no centro comunitário da cidade voltar a realizar suas tarefas rotineiras e seria caminho para ela, mas adoraria a todo custo evitar situações constrangedoras.

Se despediu da mãe e marchou em direção a sua jornada do dia.

—Maria, você fez tanto pelas pessoas dessa instituição que será um prazer ajudar você a antiga rotina. – disse Adaline enquanto a conduzia por corredores apertados.

Ela estava em um centro de reintegração social de pessoas em vulnerabilidade social e pessoas com deficiência que buscavam qualificação profissional para entrar no mercado de trabalho. Lembrava ainda do centro pois ele era antigo na cidade, e em sua infância costumava frequentar ali com seu pai. Ela só não lembrava quais eram as funções que desempenhava no voluntariado que exercia.

—Tem alguém que está sentindo muito a sua falta. – então a senhora de meia idade fez um gesto com as mãos e um rapaz começou a se aproximar. – Quando soube do seu acidente ele ficou muito preocupado.

O rapaz era da altura de Maria e usava um boné azul simples, seu sorriso era gigante e genuíno quando deu um abraço de urso na moça.

—Oi, tudo bem? – perguntou Maria levemente constrangida. Sentiu um farfalhar na memória, mas nada demais aconteceu.

O cara fez uma cara de perdido e gesticulou com as mãos.

—Maria, querida. – disse Adalina colocando a mão em seu ombro. – André é surdo, vocês costumavam a falar na língua dos sinais.

As bochechas de Maria queimaram. Tentou lembrar-se de algum conjunto de movimentos de cumprimento em libras e não conseguiu lembrar de nenhum.  Sendo assim, recorreu ao bom e velho polegar levantado em afirmativa e um sorrisão no rosto.

Pareceu surgir um efeito positivo em André que começou a guia-la pelo braço até um aglomerado de cadeiras, enquanto Adalina voltava para seus afazeres.  Ele procurou um bloco de notas dentro do casaco e pegou uma caneta que ficava atrás da orelha.

Você não lembra da língua dos sinais, certo?

A letra era um pouco atrapalhada, mas bastante legível.

Maria concordou com a cabeça.

Ele voltou a escrever no papel, dessa vez mais inseguro e com vários borrões ao longo do texto. Quando entregou o papel para Maria sua mão tremia.

Conseguiu resolver seu problema?

E aquela frase foi o suficiente para trazer à tona um momento passado.

A chuva fria atravessava sua pele e parecia estar instalada no seu coração. Maria estava com o rosto duro olhando firmemente pela rua deserta, algumas lágrimas estavam acumuladas no canto de seus olhos e pareciam relutantes em escorrer.

Ela entrou no centro comunitário e cumprimentou algumas pessoas que pareciam estar focadas em algumas leituras ou talvez disfarçando o tédio, passou rapidamente por algumas salas até vislumbrar seu amigo André deitado num sofá lendo um livro.

Ele levantou assim que a percebeu entrar na sala.

A conversa em libras parecia intensa, a cada movimento realizado os olhos de André arregalavam cada vez e sua postura corporal foi mudando.

Maria gesticulava com certo descuidado e, esquecendo a condição especial de seu amigo soltava algumas informações em voz alta, tendo que retomar o fio da meada logo depois

Colocando as mãos no bolso do casaco Maria tirou dois pacotinhos transparente, contendo uma pílula cada e ambas muito iguais entre si.

 

Maria voltou para o seu momento presente sentindo as mãos de André segurando firmemente seu ombro. Olhou para ele e sentiu uma urgência dentro de si.

—Preciso ir, acabei de lembrar de algo. – ela disse inutilmente.

Percebendo a confusão nos olhos dele notou seu erro. Levantou e começou a seguir m direção à saída. Sob os protestos de seu amigo e com um peso enorme na consciência por estar deixando ele daquela forma, ela conseguiu sair do centro comunitário e partiu rumo ao hospital.


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Notas finais do capítulo

o que vocês acharam genteee?



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