A Study in Words escrita por Raura


Capítulo 9
Lazuli


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez a palavra é da Amélia Holmes Potter que recomendou a história, mais um vez: muito obrigada! ♥
Sua sugestão é 'azul'

Façam uma boa leitura!



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— Molly?! - a patologista estava concentrada preenchendo alguns relatórios no laboratório do St Barts, quando ouviu Greg chamar com a voz cautelosa.

— Olá, Greg - ela desviou sua atenção da papelada diante de si para encará-lo. — Entre.

Molly observou o inspetor hesitar, ele estava com metade do corpo atrás da porta. Avaliou rapidamente a expressão dele e pressentiu problemas.

— Preciso que me acompanhe, Molly.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não sou a melhor pessoa para explicar… - ele coçou a cabeça visivelmente desconfortável. — Só me pediram para vir te chamar e dizer ‘Lazuli’.

Molly sentiu a pulsação acelerar, fazia pouco mais de três anos que não ouvia aquela palavra. Inspirou e expirou longamente antes de concordar com um aceno de cabeça. Tinha a impressão de que não voltaria para terminar o expediente, por isso tirou seu jaleco e deixou em cima da mesa.

 

Esse era um dia em que Molly Hooper não deveria ter saído da cama.

Definitivamente.

Logo de manhã tinha sido recrutada para fazer hora extra ajudando com os corpos de um acidente entre dois carros envolvendo muitas vítimas, a única sobrevivente era um criança - que agora seria órfã. Não conseguiu não pensar em sua afilhada, a pequena Rosie, a menina não tinha completa ciência do falecimento precoce de sua mãe.

Tinha aproveitado a tarde para ir ver Rosie, assim que viu Molly a pequena começou a balbuciar ‘oly’ e esticar os bracinhos em sua direção. Seu coração se apertava sempre que imaginava as coisas que Mary perderia, como os primeiros passos e as primeiras palavras.

E completando os motivos para Molly não ter saído da cama: a ligação de Sherlock naquela tarde.

Estava preparando um chá para ajudar a colocar o emocional em ordem, quando o nome dele apareceu na tela de seu celular. Era uma ligação sem sentido e cheirava muito a Sherlock Holmes tentando provar um ponto às custas dela.

Molly tentou não ficar zangada ao ouvir o que ele queria, mas não conseguiu não sentir vontade de marcar as elegantes feições de Sherlock com um belo tapa.

Foi nesse momento que teve a ideia.

Se Sherlock Holmes queria ouvir aquelas palavras da boca de Molly Hooper, fazê-la verbalizar aquilo que ela nunca escondeu, se ele queria ouví-la dizer com todas as letras para ter certeza, então ele também teria de dizê-las como se fosse verdade.

E Sherlock disse uma vez.

Depois outra.

Implorou por sua resposta.

Molly disse.

 

— Vou deixá-los sozinhos - Greg disse assim que pararam ao lado de um carro preto.

— Obrigada, Greg - Molly abriu a porta do veículo e entrou sentando-se no banco passageiro ao lado do outro ocupante. Suspirou. — Seja rápido por favor, Mycroft.

— Boa noite para você também, senhorita Hooper.

Mycroft Holmes que sempre mantinha a postura fina e polida, demonstrava cansaço na voz. Isso atraiu a atenção de Molly, a patologista encarou o irmão Holmes mais velho estudando sua fisionomia.

— O que aconteceu? - Molly perguntou com a voz gentil depois de notar angústia e exaustão no semblante de Mycroft.

— Você é a única que consegue ver através dos Holmes, Molly. Sabe o motivo de você ser Lazuli?

— Só sei que tem relação com a pedra lápis-lazuli - respondeu. Assim como Sherlock foi Lazarus durante a queda em Reichenbach, ela tinha sido Lazuli.

— Essa pedra é usada há séculos tanto para fins espirituais quanto decorativos, ela é relacionada com a mente, e o tom azul dela é muito valorizado por aqueles que apreciam - Molly ouvia a explicação de Mycroft sem entender o motivo dele estar esclarecendo um codinome, certamente não era por isso que tinha sido chamada. — Uma cor que simboliza lealdade, serenidade, combina com Molly Hooper.

— Mycroft… - Molly segurou as mãos dele entre as suas. — Me conta o que aconteceu - pediu.

Mycroft puxou o ar lentamente sinalizando para o motorista dar a partida no carro, contaria aquela história pela segunda vez naquele dia e ainda teria que narrá-la para seus pais. Soltou o ar o mais devagar que pode, aquele dia parecia não ter fim.

Relatou os fatos sobre Eurus, a infância conturbada, Sherrinford, os jogos psicóticos a que fora obrigado a jogar junto de Sherlock e John. Contou também a motivação perversa por trás da ligação sem deixar de fora o caixão. Molly estava com os olhos marejados quando Mycroft terminou a narração.

— Chegamos, senhor. - o motorista anunciou.

—Sherlock lhe aguarda. - o Holmes mais velho informou em tom significativo, Molly assentiu compreendendo. Após os incidentes em Sherrinford, assim que pode colocar as mãos em um celular, seu irmão pediu para mandar verificar se realmente não haviam bombas no apartamento dela.

— Obrigada por me contar - a patologista deu um último aperto forte nas mãos dele, antes de abrir a porta do carro, inclinou-se e beijou sua bochecha. — Vai dar tudo certo, as coisas se acalmam depois de uma tempestade. Boa noite, Mycroft.

 

Era madrugada e mesmo sentindo-se à beira da completa exaustão decidiu que esperaria por ela, depois de tudo o que ocorrera em Sherrinford, precisava ter certeza que estaria tudo bem entre eles, ou se não estivessem que fosse possível darem um jeito.

Aqueles três minutos tinham sido horríveis, Molly Hooper estava em perigo e Sherlock teria que assistí-la morrer caso ela não dissesse aquelas três palavras. Foi atordoante imaginar Molly naquele caixão ou a possibilidade de perdê-la de uma vez por todas. Disse antes dela aquelas palavras, ao reconhecer em voz alta percebeu o quanto aquilo era verdade, por isso repetiu.

“Ela gosta de você” “Tem ideia do quão sortudo você é?” “Sentimentos te completam como humano” “Faça algo porque a chance não dura para sempre e você a perderá antes que perceba” A voz de John ecoava em sua cabeça.

Estava na cozinha dela preparando um chá quando ouviu ela chegando, contou cinco segundos e alguns passos cautelosos até que finalmente viu Molly. Nenhum dos dois disse nada, Sherlock acompanhou com o olhar ela vir para seu lado e ajudar com o preparo da bebida.

— Imagino que já saiba a história toda. - Sherlock disse, ela concordou com um aceno. — Me perdoe, Molly.

A patologista encarou Sherlock pela primeira vez desde que entrou em seu apartamento, encontrou pesar no olhar azul esverdeado - resquícios do furacão que tinha passado na vida dos Holmes... Certamente ele tinha receio se ganharia seu perdão ou não. Era verdade, depois de saber toda a história não estava mais zangada por causa da ligação, mas ainda estava chateada, afinal, seus sentimentos tinham sido usados.

Um dano colateral.

Molly suspirou, aproximou-se de Sherlock e o abraçou pela cintura pousando a cabeça no peito dele, ouvindo seus batimentos cardíacos. Sentiu os braços dele a envolvendo ternamente, mantendo-a o mais perto possível, o rosto próximo dos cabelos dela inalando o perfume.

— Soube que havia um caixão. - ela comentou baixinho, em resposta Sherlock estreitou mais os braços em torno dela.

— Eu o destruí. -  viu-a afastar-se um pouco para poder olhar em seus olhos. — Fui sincero… - baixou a voz uma oitava. — Quando disse como se fosse verdade. - admitiu.

— Você sabe que eu também.

Sherlock queria muito beijar Molly naquele momento e sabia que era recíproco, mas isso podia esperar, em vez de fazer o que ansiava, encostou sua testa na dela fechando os olhos.

— Como seu apartamento está inabitável, fique aqui. - ela falou alguns minutos depois.

— Não pretendia ir a outro lugar. - o tom na voz de Sherlock era de alívio por saber que Molly não estava ressentida.

Molly bocejou, tinha sido um dia longo e sabia que ambos sentiam-se exaustos, levou Sherlock pela mão até seu quarto, precisavam de uma boa noite de sono; ele a puxou-a para seu peito mantendo os braços ao seu redor assim que ela deitou ao seu lado, entrelaçando suas pernas.

Mesmo não sendo nas devidas circunstâncias, assumiram como se sentiam em relação ao outro.

Sherlock seguiria o conselho do amigo. Inclinou-se para beijar o topo da cabeça de Molly antes de adormecer.


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Notas finais do capítulo

E então? Quero saber o que acharam! :3



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