Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 25
Avondale


Notas iniciais do capítulo

1. Avondale é uma música da banda americana Yellowcard.
2. "If you're gonna rip my heart out, could you use a knife that's dull and rust in color." é um dos meus quotes favoritos de todas as músicas dele.



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Muito muda na vida de uma pessoa em questão de segundos. Você passou a existir neste universo em um certo ponto do tempo e deixará de existir em um outro. Durante este intervalo de tempo absurdamente curto, você atingirá seu máximo e começará a decair.

Tudo acaba. Algumas coisas não têm um começo, mas tem um fim. Porque todos somos fadados ao fim.

Aceite que não há felizes para sempre. Porque eu descobri nos meus curtos 23 anos de vida que não há nada que eu possa fazer: eu não vou viver feliz para sempre.

Veja, eu estava feliz e estava planejando criar raízes – como uma das plantas da Acácia Amarela – eu acreditei que finalmente teria o que sempre desejei.

Mesmo que meus desejos variem todos os dias.

O universo me deve muito, sabe.

E eu acho que me esqueci que tinha que ele tinha que pagar as contas. E eu também.

Estava tão perdido nos braços de Giane que esqueci que sangrava.

 

— Então você está me dizendo que você nunca encontrou a Irene, porque ela se recusava te encontrar? - perguntei querendo gritar. Como alguém pode ser tão crédulo?

Isso explicava a Malu.

— Mas eu preciso encontrar meu filho e eu sei que ele está com você. - Plínio me encarou. - Você não é a pessoa que dizem que você era, mas não acha errado isolar um rapaz de sua família só para satisfazer sua necessidade de atenção?

— Eu não fui na sua casa e convenci seu filho a me seguir. Eu estava na minha casa quando ele apareceu me convidando para sumir por uns tempos. - retruquei irritada. - Agora, vamos parar de frescura? Seguinte, já concluímos que eu sou bem mais inocente que suas queridas filhinhas me julgam ser, você já sabe muito bem que me importo com seu querido filho apesar do que parece.

— Eu sei, só queria que ele me escutasse e… - Plínio começou, mas eu o cortei.

— Olha, eu vou conversar com ele e tentar convencê-lo a voltar para casa. Mas vou querer uma coisa em troca: explique para sua filha que eu não tenho obrigação nenhuma de contar minha história do garoto triste para ela.

Ele me encarou como um pai preocupado e eu revirei os olhos.

— Nem vem com papinho preocupado. Eu sei me cuidar, como você claramente notou. - saí batendo pé pela estufa.

Muito maduro da minha parte, eu sei. Plínio me seguiu – devia estar acostumado com pitís das pessoas ao redor dele e não comentou minha atitude ruim.

— Pelo menos entrega o celular do Fabinho para ele. - me deu o aparelho e eu o encarei confusa.

Plínio aproveitou e comprou algumas plantas aromáticas para Madá e saiu.

Enquanto isso sentia vontade de coçar a camélia que Fabinho desenhou no meu pulso.

— Sabe, Wesley. Às vezes acho que precisamos de mais um funcionário. - comentei e ele encarou meu pulso que eu não parava de acariciar.

— Aí que eu nunca veria o desenrolar da vida dos meus patrões. - fui obrigada a rir.

 

Acordei mais uma vez e saí me arrastando do quarto de Giane. Ao chegar na sala, notei um Bento pálido encolhido no sofá e um Silvério melhor que nós dois depois de ter ido visitar um hospital com uma expressão que sabia muito bem o que tínhamos feito na noite anterior.

— Sua irmã não pára de me ligar. - Bento me informou e eu suspirei me sentando na poltrona ao lado, agradecendo a caneca de café preto que Seu Silvério me ofereceu.

— Malu, Amora, Luz ou Dorothy? A Dorothy tem ótimos conselhos de investimento, se quiser saber. - perguntei tentando fazer piada e gemendo de dor.

— Não sei como não tivemos que levar os dois para uma lavagem estomacal ontem à noite. - Seu Silvério nos informou e Bento teve a graça de parecer envergonhado. Eu só pensava no que a maloqueira tinha me contado.

— Seu Silvério, eu por um acaso pediamãodasuafilhaemcasamento? - disse tudo num fôlego só e ele sorriu como se tivesse entendido.

— Meu filho, você queria que fôssemos para Guarulhos pegarmos um avião ontem mesmo. Giane teve que te enganar que já estavam voltando de lá para que você sossegasse. - ele me informou com um sorriso e me deu. - Nunca conheci os namorados da minha filha, mas acho que você serve como genro.

Corei e desviei o assunto.

— O que a Malu quer? - perguntei para Bento.

— Eu ainda não atendi. Não sei se tenho foco para entender o que ela quer de mim. - ele deu de ombros e eu sorri.

— Malu tem dessas. Por isso larguei meu celular na casa do meu pai. - respondi com um sorriso gigante, ou o maior que uma pessoa de ressaca consegue produzir, e Bento me encarou.

— Nunca pensei que você fosse esse tipo que consegue ficar longe do próprio telefone. - ele me informou e eu pensei nisso.

— Esse bairro é tão animado, que eu mal tive tempo de pensar na ausência do meu telefone.

— Você trouxe essa emoção toda, rapaz. Não era nada disso antes de suas irmãs e você chegarem aqui. - Seu Silvério comentou e eu percebi o que Giane queria dizer quando me contava que a vida dela viraria um circo por minha causa.

— Desculpe por isso. - disse num misto de brincadeira e vergonha e dei um gole no meu café.

— Por? - ouvi a voz de Giane da porta. - Por ficar bêbado e fazer o Douglas sofrer as consequências do seus atos? Gritar para os quatro ventos que Bento era o seu primeiro bro? Falar que a Rosemere é uma deusa e pedir para ela modelar para você? Convencer o Bento que era uma boa ideia ficar bêbado?

— Como você sabe que fui eu quem convenceu ele e não o contrário? - perguntei e ela sorriu conforme se aproximava de mim.

— Eu reconheço uma má influência quando vejo uma. - ela contou fingindo segredo.

— Porque vê uma no espelho todos os dias. - debochei e ela riu.

— Exatamente. - ela nem piscou e me estendeu meu celular. - Seu pai deixou comigo. Meio cafona manter a capa do Overdrive como proteção de tela.

Eu quis morrer naquele instante, mas antes que eu conseguisse formular qualquer comentário Giane saiu de casa. Bento e Seu Silvério só riram da minha falta de resposta. E eu reparei que tinha inúmeras mensagens de Malu. Um deles era um link de reportagem que eu cliquei:

 

PARSONAGE SE APRESENTA EM SÃO PAULO ESTA SEXTA

Banda de Andrew Kirk faz sua primeira apresentação no Brasil

 

A reportagem inteira era sobre um show do rockstar de Giane em São Paulo, não havia uma linha sobre Giane ou sobre mim. Não sabia se Giane sabia que ele viria, mas também não entendia o porquê de Malu me mandar um link sobre isso. Isso soava tão Amora e tão pouco Malu que eu me perguntei quando todos nós nos tornamos estes seres humanos estranhos…

Sentia falta da minha irmã mais nova com os olhos brilhantes e que acreditava que todo mundo tinha chance de se redimir.

Eu preferia minha Malu que chegava a ser usada por pessoas mal-intencionadas que esta que não acreditava na única mulher que já amei, por mais que eu não soubesse como isso aconteceu.

Talvez tenha me apaixonado por ela na Espanha. Talvez tenha me apaixonado por ela no noivado de Amora. Talvez tenha me apaixonado por ela nos dias que passei no Lar do Gilson e da Salma aqui na Casa Verde.

Talvez tenha amado a Giane desde quando éramos poeira e átomos soltos no Big Bang.

Suspirei e mandei uma mensagem para ela: “Precisamos conversar. Deixe suas ideias em casa.”

— Se não quiser encontrar minha adorada irmã, Bentinho, melhor ir para sua casa. - informei em tom grave.

— O que você vai fazer? - ele me perguntou e eu o encarei sem forças.

— Falar umas verdades na cara de Maria Luísa Campana.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Sugiro olharem significados de flores para camélia e lerem um certo livro de Alexandre Dumas Filho...



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