Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 20
All Along the Watchtower


Notas iniciais do capítulo

1. Versão do Jimi Hendrix >>>> qualquer outra versão dessa música.

2. Sumi e sumo de novo. Pronto falei.



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—Você não vai falar nada? - perguntei e meu pai só suspirou.

—O que você quer que eu fale? O que você quer que eu faça? Te deixe de castigo? - ele me perguntou sem muita animação. - Você responde pelos próprios atos já faz um tempo.

—Eu sei que eu fiz merda, ‘tá bem? Eu tenho consciência que querer fazer purê de babaca não foi a melhor das ideias e a melhor forma para cuidar do problema. - o cansaço me dominava. - Mas eu sempre fui assim, pai. Eu explodo, eu destruo tudo e daí eu acalmo.

—Eu sei, meu filho. Mas você estava melhor. Não estava se metendo em tanta encrenca ultimamente. - ele comentou me encarando pela primeira vez desde que pagou minha fiança. - Você entende que eu não estava mais esperando que você se envolvesse em briga de balada.

—O cara tentou matar uma moça grávida, pai! Grávida de um bebê que pode ser dele! - eu me defendi, mas sabia que meu pai não se importava.

Ele tinha certeza de que eu estava errado.

 

—Giane, você está bem? - Bento me perguntou enquanto eu me desvencilhava e tentava me dirigir ao meu quarto.

—Maravilhosa. Adoro tomar enquadro de madrugada. - respondi sentindo os olhos de Bento sobre mim.

—Você faz merda e me fala uma coisa dessas?

— Quer que eu chore e finja arrependimento? Não sou falsa, Bento. Eu não sinto nada de culpa. - retruquei, tirando os sapatos.

—Aquele moleque mimado te envolveu em um escândalo, Giane! E você fala isso!

Encarei Bento confusa. Era meio óbvio que a mente maléfica era minha nesse caso e somente alguém que me visse como uma menina inocente e delicada não veria isso.

Ha, eu delicada!

—Vamos lá, - comecei. O cansaço de uma noite mal dormida começando a me dominar. - eu chamei o Fabinho para localizarmos o Tito e batermos nele. EU envolvi o Fabinho num escândalo porque EU queria o sangue daquele babaca. Entendeu ou quer que eu explique em outro idioma? Eu não sei o dos lentos, mas posso tentar em baleiês.

—Você não era assim, Giane!

—Eu sempre fui assim, Bento! Eu explodo, eu destruo! Eu sou fodida nesse ponto, desculpa! Mas eu não vou fingir que não sinto a raiva que consome! - esbravejei e ele empalideceu.

—Isso não é saudável, Giane. - murmurou depois de alguns segundos.

—O que é saudável? Viver em paz com gente babaca? Ver o melhor em gente que não é legal? Viver se iludindo com pessoas porque você as conheceu no passado? - retruquei irritada e depois suspirei. - Admita, Bento: somos todos fodidos nessa vida.

—Acho que você tem razão.

—Estranhamente, Bento, eu geralmente tenho.

 

—O que você pensou que estava fazendo, Fabinho? - Malu me perguntou e me deu vários tapas no braço. Revirei os olhos.

—Ajudando uma amiga a dar o troco? - sugeri e minha irmã engoliu um grito frustrado.

—Ah, claro. Foi o que ela te disse? - ela perguntou e eu a encarei confuso.

—Quem? A mãe da Renata? Foi sim. - respondi sem paciência, sabendo que a ladainha de que eu devia me manter longe da Giane ia continuar.

Malu precisava de uma vida para deixar de vigiar a minha.

—Fabinho, - ela começou e eu a encarei sem paciência.

—Malu, eu sei o que eu fiz. Eu sei que fiz merda, mas não me arrependo e faria de novo, sim. Quer que eu chore por não ter acabado com a raça de um cara que tentou matar uma mulher só porque ela podia estar grávida de um filho dele, sério isso? - avisei e me deitei.

—Agora vai ficar deitado fazendo nada da vida? Voltou ao Fabinho clássico? - ela me perguntou e eu a encarei.

—Ué, eu não posso? Pensei que era o papai que pagava minhas contas, não você… Ah, espera um momento! Me disseram de fonte segura que é Plínio Campana que paga minhas contas! - debochei e Malu saiu bufando e batendo o pé.

—Depois eu que sou mimada. - Amora disse encostada no batente da minha porta.

—Você por aqui? Nossa, estou no meu leito de morte? - perguntei e ela me encarou como um predador encara uma presa deliciosamente boba.

—Quase isso. Morte social talvez. - ela me informou. - Fabinho, se deixar levar para a prisão com uma favelada que fez isso para lucrar? Nem parece que cresceu no meio.

—Ah é? Então a Giane se tornou mais desejada depois que quebrou a cara do Tito? - perguntei com deleite. Adorava quando Amora perdia.

—Não sabem que foi ela. Acham que vocês dois foram se divertir e você se envolveu numa briga por ciúmes. Bem troglodita da sua parte, querido. - Amora me disse se inclinando levemente na minha direção.

—Não entendi uma coisa: Seu motivo para estar aqui. - lembrei e Amora gargalhou.

—Apesar de querer de todo coração que você se foda, minha vida está conectada à sua. Quanto mais escândalos essa família se envolve menos desejável eu me torno para o mercado de artigos de luxo. - Ela se acertou parecendo mais bonita do que nunca.

—Para alguém que pensa tão bem de si mesma, se esquece que vai participar de um reality sobre a família Campana. Quase uma Kim Kardashian, Amora. - observei seu corpo lentamente. - Bom, falta o corpo, não é mesmo?

—Não sei porque perco meu tempo falando com você. Deveria te deixar torrar toda sua fortuna naquela favelada para você aprender.

—Mas daí você não gastaria ela, não é mesmo?

—Até hoje eu quis? Só fica esperto, Fabinho, que as aparências enganam. - ela me avisou.

—Como no seu caso? - debochei e ela abriu um sorriso mais debochado ainda.

—Exatamente.

Era essa Amora que eu desejava. A que ela não queria ser.

 

—Os cheques voltaram? - Plínio perguntou ao telefone completamente exasperado. - Nos últimos quinze anos eles nunca voltaram!

—Pai? - Fabinho chamou da porta e o cineasta tentou controlar a ansiedade.

—Meu filho.

—Eu ouvi alguma coisa sobre cheques depositados nos últimos quinze anos? - ele perguntou confuso e Plínio parecia muito assustado com a pergunta.

—Uma ONG que eu ajudo, filho. Só isso. - afirmou e o filho sorriu.

Sorriso de Irene que logo se transformou em um franzido.

—Fala a verdade, pai. - ele exigiu.

—Não é nada. - Plínio tentou mais uma vez sabendo que o filho não aceitaria suas explicações.

—Pai. Você sabe que eu vou revirar essa história e vou descobrir a verdade.

Tremendo, Plínio se levantou e se preparou uma dose, enquanto Fabinho o encarava sério. O pai desejava saber mentir para o filho que não teria emocional para aguentar mais esse baque.

Fabinho merecia mais do que o universo entregava para ele.

—Quinze anos atrás, fui contatado por um parente da sua mãe. Ele me disse que ela estava muito doente e que precisava de dinheiro para o tratamento. - ele suspirou e Fabinho travou. - Ele me mandou fotos de Irene para comprovar que era ela, então eu acreditei nele.

—Você sabe onde minha mãe está? - o filho perguntou ofegante com os olhos marejados.

—Ela mora no interior com esse primo, que cuida dela. - Plínio esclareceu e tremeu enquanto Fabinho empalidecia e tremia.

—Você sabia onde ela estava esse tempo todo e nunca me disse nada! - Plínio tentou se aproximar do filho que começou a andar pelo escritório. - Todo esse tempo, me vendo sofrer por uma mulher que te pedia dinheiro para se manter longe!

—Ele me disse que ela não queria contato com você, meu filho. - Plínio contou. - Eu tentei te proteger.

—Você só me machucou mais, pai. - lágrimas escorriam dos olhos de Fabinho, partindo o coração de Plínio. - Nunca pensei que fosse dizer isso, mas a Bárbara é muito mais minha mãe que essa mulher que me pariu. - ele riu sem humor. - Caralho.

—Filho…

—Só não, pai. Me deixa.

Fabinho saiu do escritório ao som dos chamados angustiados de seu pai.

 

Abri a porta para Fabinho que não me beijou.

—Saí de casa! - Fabinho me avisou com uma mochila nas costas e uma expressão turbulenta.

—O quê? - perguntei antes de sentir o corpo dele colidir contra o meu e lágrimas molharem o meu ombro.


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