25 de dezembro de 2013

— Não acredito que está indo justo no natal — Sansa comentou, encolhendo os lábios em uma linha severa, claramente irritada. — Nunca passamos um natal separados desde... Desde que me lembro. — ergueu os olhos antes focados em seus pés para olhá-lo. Jon a encarava com tristeza. — É nosso aniversário — disse, mesmo que ele já soubesse daquilo.

— É por isso que escolhi as passagens para a madrugada... Tivemos a ceia juntos, Sansa. Além disso, vai passar o ano novo comigo, certo? — indagou, segurando as mãos dela.

— Sim, mas... Depois disso quando nos veremos? — haviam feito planos, mas planos eram o que eram, apenas fantasias. Quando Jon estivesse em Porto Real, duvidava que encontrasse tempo para ela. Além disso, era quase um comum acordo que terminariam o relacionamento. Embarque dos passageiros do voo 204 que sai às 1h35min com destino à Porto Real em 10min. Ecoou a voz mecânica pelo aeroporto. Sansa sentiu seu coração se encolher, se comprimindo em uma angustia que ela quase podia sentir o sabor.

— Vamos dar um jeito — ele prometeu.

Costumava acreditar em todas as suas promessas, acreditava cegamente quando ele lhe olhava nos olhos e dizia qualquer coisa com palavras gentis e um olhar bondoso. Mas não acreditava nele daquela vez, sabia que nem mesmo Jon confiava nas palavras que dizia.

— Troque o voo para mais tarde — ela sussurrou em uma súplica, querendo atrasar a despedida.

— Jamais iria encontrar um voo vazio em pleno natal. Além disso, tenho horário marcado com o proprietário do apartamento que aluguei pela manhã. Você sabe disso...

Sabia. Mas sentia que no momento em que o visse cruzar o portão de embarque o perderia para sempre. Podia ser um medo infantil, precipitado e tolo, mas não podia evitar senti-lo. Temia que Jon conhecesse alguém melhor, mais inteligente e mais bonita do que ela. Que o fizesse mais feliz. Conseguia lembrar-se de todos os momentos nos quais poderia ter se esforçado mais. Porém, bem no fundo de suas emoções, naquele resquício de racionalidade que tinha esmagado sob todas as tormentas, sabia que precisava deixá-lo livre. Sabia que precisava ceder para que Jon pudesse viver todas as experiências ao máximo. Ela sabia disso, porém saber não tornava as coisas mais fáceis.

Embarque dos passageiros do voo 204 que sai às 1h35min com destino à Porto Real em 5min. A voz ecoou mais uma vez. Conteve a vontade de chorar, mas tinha consciência de que as lágrimas não tardariam a cair.  

— Deveria ir, então. — ela disse, engolindo as palavras logo em seguida, sentido-as rasgar sua garganta.

— Nos veremos em uma semana — ele então a abraçou.

Envolveu-a em seus braços com tanta força que acreditou que pudesse fundi-los, queria poder fazê-lo. Ouviu Sansa soluçar, o choro era alto e desesperado. Odiava vê-la triste, odiava ser o motivo de sua tristeza. Foi duro quando teve que encarar que precisavam terminar antes que partisse. Não por ele, não por querer, mas sim por ela. Por saber que precisava se focar em passar na faculdade, sabia que seria uma distração, sabia que se a fizesse se deslocar de Winterfell até Porto Real para vê-lo nos feriados a faria perder tempo, a faria se afastar de seu sonho e aquela não era sua intenção, já que haviam construído juntos. Eles encontrariam o caminho de volta um para o outro, sentia aquilo, mas aquele simplesmente não era o momento. Sabia que precisavam crescer longe um do outro, precisavam seguir o caminho que escolheram, os sonhos que nutriram.

— Eu amo você — ele sussurrou, envolvendo a face dela com uma das mãos, colhendo suas lágrimas persistentes. — Nunca esqueça disso, ok? Preciso que tenha consciência do que sinto, que tenha noção de que o que estou fazendo é o certo. — ele queria que ela lhe confirmasse que era certo, porque ele podia sentir que deveria abrir mão, mas simplesmente dentro de si tudo gritava o erro.

— É o certo. — ela confirmou, mas também pouco crente daquilo. Como poderia ser certo se a fazia sofrer? — Também amo você. — então beijou a palma da mão que ele tinha a tocando e puxou-o pela nuca para beijar seus lábios.

Sansa nunca imaginou que um beijo entre eles pudesse ser tão doloroso. Era um beijo que significava tudo o que não deveria, aquele toque de lábios não poderia servir para um final, mesmo assim era esse o seu fim.

— Tenho que ir — Jon colou a testa na dela, a olhando nos olhos. Esperou que ela lhe desse permissão, sabia que não moveria um músculo até que Sansa  dissesse para ir. Ela suspirou pesadamente, sabendo da carga que carregava por ser responsável pela sentença.

— Você tem que ir — Sansa então forçou um sorriso, um sorriso marcado pelas lágrimas que contornavam sua boca, que a enchiam de um sabor salgado.

Deram mais um beijo, um beijo apressado porque a voz responsável por separá-los ecoou avisando que não havia mais tempo para despedidas. Jon deu as costas, se esforçando para caminhar para longe. Sansa sentiu quase como se duas mãos geladas afagassem seu coração. Observou enquanto ele caminhava em meio às pessoas apressadas que corriam de um lado para o outro, atrasadas para seus respectivos voos. Viu também os sorrisos ecoando, os reencontros de pessoas que assim como eles haviam sido obrigadas a se manterem longe. Então o perdeu de vista.

— Vou esperar por você — sussurrou para si mesma.