I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridinhos!

Boa leitura ♥



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Regina espreguiçou-se e abriu os olhos devagar, acostumando-se com a claridade que vinha da janela. Rolou na cama expulsando o sono com muita vontade de que ele ficasse e a consumisse novamente. Afundou o rosto no travesseiro inalando o próprio cheiro e percebeu, ali, um pouco do cheiro de outra pessoa. Sorriu ao lembrar-se do Natal que teve e como as coisas com Swan aconteceram.

— Então, em que página estamos? – Emma passou os dedos pelo rosto de Regina em um carinho terno, mas a morena permaneceu calada. – Estamos juntas, não estamos?

—  Estamos. – Regina sorriu para uma Emma ansiosa e desceu os braços para a cintura da mulher, mantendo seus corpos unidos.

— E como faremos isso?

— Não sei, mas vamos descobrir juntas. – A rainha apertou a sheriff no abraço e passou o nariz pela extensão do pescoço da loira, embebedando-se com o cheiro de lírios brancos que ela já havia sentido uma vez.

Um sorriso fácil dançou nos lábios nus de Regina quando levantou-se e se arrastou até o banheiro. Olhando-se no espelho, a rainha abraçou o próprio corpo e pode sentir aquele perfume novamente. Esticou a mão até a toalha e abriu o box. Encarou o chuveiro por alguns segundos reconsiderando a ideia de tomar banho. Ela não precisava sair e estava com o cheiro de Emma, eliminá-lo não era sua vontade. Balançou a cabeça em negação enquanto aquele pensamento lhe ocorria, deixando que um sorriso brotasse em seus lábios, até que, finalmente, fechou o box, jogou a toalha sobre ele e voltou para o quarto buscando pelo celular e repassou sua lista de músicas.

 

I've been so many places in my life and time

(Eu estive em muitos lugares durante a minha vida)

 

I've sung a lot of songs, I've made some bad rhyme

(Eu tenho cantado muitas músicas, eu tenho feito rimas ruins)

 

I've acted out my life in stages

(Eu tenho atuado durante toda a minha vida)

 

With ten thousand people watching

(Com dez mil pessoas me assistindo)

 

But we're alone now and I'm singing this song for you

(Mas estamos sozinhos agora e eu estou cantando essa canção para você)

 

Regina escorou-se no lavabo e levou água ao rosto antes de buscar pela escova de dentes. Com ela em punho, a morena usou-a como uma espécie de microfone para entoar a canção.

I know your image of me is what I hope to be

(Eu sei a imagem que tem de mim é o que eu quero ser)

 

I've treated you unkindly but can't you see

(Eu te tratei mal, mas você não pode ver)

 

There's no one more important to me

(Não há ninguém mais importante para mim)

 

So darlin', won't you please see through me?

(Então, querida, você não pode, por favor, ler através de mim?)

 

Cause we're alone now and I'm singing this song for you

(Porque nós estamos sozinhos agora e eu estou cantando essa canção para você)

Regina passou a escovar os dentes, tentando manter-se cantando e deixando o creme dental escorrer pelo rosto.

You taught me precious secrets of the truth withholding nothing

(Você me ensinou segredos preciosos sobre a verdade sem esconder nada)

 

You came out in front, well baby I was hiding

(Você se expôs enquanto eu me escondia, amor)

 

But now I'm so much better with my words coming together

(Mas agora eu estou muito melhor colocando essas palavras juntas)

 

Listen to the melody cause my love is in there... hiding

(Ouça a melodia porque meu amor está lá... se escondendo)

Regina enxaguou a boca, apanhou no closet um moletom preto confortável e abandonou o quarto pausando a música. Passou primeiro pelo antigo quarto de Henry, onde Júlia ainda dormia até que o seu estivesse pronto, mas a menina não estava lá. Foi até o quarto de hóspedes onde Henry dormira e também o encontrou vazio. Correu para as escadas, mas ao enxergar o que havia pouco à frente do último degrau, suspirou aliviada. Júlia estava agachada, com os olhos perdidos no chão, dentro de seu pijama de unicórnio. Quando chegou próxima o bastante, Regina pigarreou chamando atenção da filha.

Júlia ergueu os olhos e eles, rapidamente, se arregalaram. Levantou-se abruptamente libertando um grito assustado e girou em suas perninhas, correndo na direção oposta.

— Mamãe! Mamãe!

Quando Júlia entrou pela porta da sala de jantar, Henry saiu de lá, também de pijama. O garoto abriu um sorriso amarelo e parou diante da porta, fechando-a atrás de si. Regina estreitou os olhos e curvou a boca involuntariamente.

— O que vocês estão aprontando?

Antes que o garoto pudesse responder, outro grito vindo de Júlia foi ouvido e o sorriso de Henry tornou-se sincero, abrindo a porta e oferecendo passagem para Regina.

— Apenas o café da manhã.

Quando Regina entrou, deparou-se com a mesa, exageradamente, cheia de rosquinhas, bolo, panquecas, torradas, café e leite. Pode ver, também, Júlia estampando um de seus lindos sorrisos onde todos os dentinhos de leite ficavam à mostra e, para a surpresa de Regina, a pequena estava no colo de Emma. Regina sentiu o estômago se agitar com a visão da salvadora em um casaco de lã marrom e jeans justos, sustentando a menina. Regina voltou os seus olhos para Henry, que estendia sua mão para que a morena tomasse um lugar na mesa. Inevitavelmente, um sorriso cortou o rosto da rainha, que apressou os passos até a ponta da mesa e sentou-se.

— Nós ligamos e convidamos Emma para o café. – Henry explicou enquanto colocava uma panqueca em um prato e estendia para a mãe.

— Convidamos. – Júlia o apoiou fazendo Regina sorrir, ciente de que não havia como aquela ideia ter partido da filha.

— Espero que não se importe. – Emma se pronunciou pela primeira vez, sentando-se ao lado de Regina, após ajustar Júlia na cadeirinha.

— Você é muito bem-vinda. – A morena arrastou a mão por baixo da mesa até encontrar a da loira e entrelaçar seus dedos por um momento. – Vocês fizeram tudo isso?

— Granny fez. – Henry abaixou os ombros, desajeitado. – Nós a tiramos da cama.

Regina buscou por um relógio, mas não havia um no cômodo. Porém, a iluminação natural do dia, naquele momento, acusava que para que, naquele horário, tudo já estivesse pronto, precisaram ter sido iniciados demasiadamente cedo.

— Eu aposto que sim. – Regina soltou a mão de Emma e partiu a panqueca, derramando calda sobre as partes. – O que você vai querer, querida?

— Leite. – Júlia apontou para a jarra com leite e tentou alcançar uma rosquinha. Swan, estando mais próxima, colocou o donuts açucarado no prato da pequena e lhe serviu um copo com leite e chocolate. – Isso. – Júlia aprovou com o semblante sério que Regina usava para tratar de negócios. Emma sorriu e encheu o próprio copo com a bebida.

— Eu estava pensado em ir aos estábulos. Tem algo que eu preciso estrear. – Regina piscou para Emma.

— Eu disse que ela amaria. – Henry apontou o garfo para a mãe loira antes de espetar um pedaço de bolo. – Você pode me ensinar a cavalgar na sua antiga sela enquanto estreia a outra.  

— É uma ótima ideia. Talvez a Swan também queria uma aula...

— Não. Não! – Emma a cortou com olhos assustados. – Alguém precisa ficar com a Júlia.

 - Ela pode cavalgar comigo perfeitamente. Nós fazemos isso sempre, não é, querida?

— Uhum. – Júlia balbuciou sem tirar os olhos dos açucares grudados em seus dedos.

A boca de Emma caiu em frustração olhando de um para o outro. Com um suspiro vencido, ela ocupou a boca com um grande pedaço de torrada com geleia. Quando o sabor de maçã adocicou sua língua, Swan encarou Regina, que comia distraída, e balançou a cabeça com humor.

— É claro que a geleia é de maçã.

Mais tarde, ainda naquela manhã, os quatro dirigiram-se até os estábulos. Regina escolheu um cavalo manso para Henry e pegou o mesmo negro que havia usado quando esteve ali com Emma. A loira correu os olhos pelo local buscando o que já havia sido seu parceiro e o tirou de lá seguindo Regina até o campo onde a morena selava os animais.

Regina entregou Júlia para Emma e, pacientemente, ensinou Henry a subir no cavalo, mas antes que ele tentasse, ela o levou para ficar de frente para o animal, que era um corcel de pelugem morram clara. A rainha levou uma mão até o focinho, fazendo um carinho calmo e cumprimentou-o com voz infantil, uma que não usava nem mesmo com a filha pequena. Incentivando Henry a fazer o mesmo, Regina afastou-se para que os dois pudessem criar um laço. Quando o animal mostrou-se confortável com o garoto, a rainha autorizou Henry a montar e permaneceu ao seu lado até que conseguisse seu intento. Quando o garoto sentiu-se seguro, Regina montou no companheiro negro e estendeu os braços para que Emma lhe entregasse Júlia.

— Agora só falta você, Swan.

Emma coçou a nuca encarando o animal ao seu lado. Escaneou o corpo musculoso e sentiu os joelhos fraquejarem. Ouviu a risada abafada de Regina e olhou para a mulher debochada, mas as palavras que pretendia dizer perderam-se na visão que teve. Lá de cima, com o sol iluminando a pele morena, Regina parecia uma divindade. Uma criatura mágica vinda de outro mundo. Mas, então, era exatamente isso que Regina era: uma criatura mágica vinda de outro mundo. A sheriff voltou sua atenção para o animal e repassou as instruções que Regina havia dado ao Henry. Com calma, segurou na sela e suspendeu o corpo. No entanto, o animal deu um passo para o lado e Emma voltou ao chão, frustrada. Respirou fundo e agarrou a sela com mais força, novamente o animal afastou-se.

— Você precisa mostrar a ele que são amigos. – Regina incitou com um sorriso pequeno, de lábios apertados.

Emma passou os dedos pela crina do parceiro e o cumprimentou, contando sobre a primeira vez que se encontraram. Quando recebeu um maneio de cabeça que interpretou como autorização, voltou a agarrar a sela e conseguiu se erguer, finalmente, montando.

Sob a orientação de Regina, deram algumas voltas, trotando em linha reta, em ziguezague e fazendo círculos fechados. Arriscaram alguns pequenos saltos onde, impressionantemente, Emma saiu-se melhor do que Henry, apesar de ambos quase caírem em todas as vezes que tentaram, fazendo Regina finalizar a aula desculpando-se, divertida, alegando que estava exigindo demais. Quando Henry e Emma desceram dos animais, Regina partiu galopando ainda com Júlia. A menina sorria entusiasmada mantendo os braços abertos sentindo o vento trombar contra seu corpo.

— Ela é linda! – Emma declarou em voz alta, chamando a atenção do filho, que a encarou imediatamente. – Júlia. – Disfarçou. – Ela é linda!

— Ela é a cara da mamãe. – Henry sorriu com o canto dos lábios e Emma sentiu o rosto corar. – Tudo bem você achar a mamãe linda. Todos acham.

— Como assim “todos acham”?

— A mais bela do reino, esqueceu? – Henry deu de ombros e puxou seu cavalo de volta ao estábulo.

Emma observou, com admiração, Regina saltar usando um braço para segurar Júlia e, após, trotar em sua direção. A rainha entregou a menina para Emma e desceu do animal. Henry foi até ela e pegou os outros dois cavalos, voltando para dentro do estábulo. Swan colocou Júlia no chão quando a menina agitou as perninhas. Regina acompanhou o caminhar desengonçado da filha até sumir pela porta do estábulo e voltou a atenção para a loira.

— Então agora, além do seu pai, Henry também sabe sobre seus sentimentos?

Emma arregalou os olhos pelo que ouviu e girou a cabeça algumas vezes, olhando na direção em que o filho estava. Sua bochecha esquentou ficando cada vez mais vermelha, à medida que Regina se aproximava.

— Eu não disse nada. – Emma defendeu-se com a voz tremida. Sabia que Regina, provavelmente, gostaria de ir com calma, de manter o que acontecia entre elas em privado, especialmente dos filhos. Seu olhar culpado, no entanto, denunciou seu deslize. – Me desculpe. – Os olhos verdes caíram para o gramado.

— Tudo bem. Ele é um garoto esperto. Eu apenas conheço aquele olhar, então... – A morena buscou pelas mãos de Emma e as apertou entre as suas. – Eu não estou com raiva. Não pretendo te esconder. Você não é o meu segredo sujo. Quando soubermos exatamente aonde estamos indo, iremos conversar com eles.

Involuntariamente, os lábios da salvadora esticaram-se em um sorriso. Naquela noite tudo que pensou, além de repassar todos os beijos que trocaram, foi em como Regina levaria o relacionamento delas. A loira temia pela resistência da morena em falar sobre ou em assumi-la. Regina ainda não estava fazendo isso, mas apenas a presunção de que esse dia chegaria, não importando, naquele momento, quanto tempo ainda poderia levar, a deixava com o coração acelerado.

Regina olhou por sobre os ombros de Emma certificando-se de que ainda estavam sozinhas e fechou a distância entre elas depositando um selinho molhado nos lábios da sheriff. Emma levou as mãos às costas de Regina e pressionou a língua sobre os lábios sempre vermelhos. Quando a morena ofereceu passagem, ouviram a voz de Henry e se afastaram imediatamente.

— Almoço? – O garoto sugeriu ignorante ao clima em que as mulheres se encontravam.

Júlia passou a mão pela barriga assim que a palavra alcançou seus ouvidos e olhou ansiosa para a mãe.

— Nos acompanha? – Regina afastou-se mais de Emma, olhando para os lados, ainda sentindo os lábios formigarem pelo recente toque.

— Infelizmente eu tenho que ir para a delegacia. Peguei o turno da tarde. – Emma girou o corpo, caminhando até o filho, e o abraçando de lado. – Mas uma carona seria bem-vinda.

Regina dirigiu em direção à cidade, com a loira no banco do passageiro e os filhos atrás, entretidos em uma conversa paralela. Quando puderam avistar as primeiras casas de Storybrooke, Emma esticou-se até o aparelho de som e o ligou. Quando reconheceu a melodia da primeira música, Emma soltou uma risada pelo nariz e deitou a cabeça na direção da morena.

— Eu sabia que existia uma viciada dentro de você.

Regina sorriu brevemente, prestando atenção na direção, e dançou a cabeça no ritmo da música.

I wanna love you and treat you right

(Eu quero amar você e te tratar bem)

 

I wanna love you every day and every night

(Eu quero amar você todos os dias e todas as noites)

 

We'll be together with a roof right over our heads

(Nós estaremos juntos com um telhado acima das nossas cabeças)

 

We'll share the shelter of my single bed

(Nós dividiremos o aconchego da minha cama de solteiro)

 

We'll share the same room, yeah, but Jah, provides the bread

(Nós dividiremos o mesmo quarto, sim, pois Jah, providencia o pão)

 

Emma observou, pelo retrovisor interno, a interação entre o filho e Júlia, o cuidado que ele tinha com ela e como fazia com que cada frase da menina parecesse ser de extrema importância. Sem controle, seus olhos vagaram até Regina, que mantinha a atenção na estrada, batucando os dedos no volante ao ritmo da música. Seu peito se encheu de uma felicidade tão rara, que era dolorosa. Depois de todos aqueles anos com o filho e os pais, aquela era a primeira vez em que ela sentia que tinha uma família. Mais do que Snow e David, sua família era Regina, Henry e Júlia. A mulher que ama, o filho que recuperou e aquela que estava disposta a criar como se fosse sua, assim como, um dia, Regina tomou o dela para si.

Is this love, is this love, is this love

(Isto é amor, isto é amor, isto é amor)

 

Is this love that I'm feeling?

(Isto é amor que eu estou sentindo?)

 

Is this love, is this love, is this love

(Isto é amor, isto é amor, isto é amor)

 

Is this love that I'm feeling?

(Isto é amor que eu estou sentindo?)

 

Era! Definitivamente era. Emma já havia dito que amava Regina, mas nunca sentira isso tão forte quanto naquele momento. Tanto amor que a sufocava, tanto amor que seus olhos se enchiam de lágrimas que se esforçava para conter, mas, era fato, ela precisava trasbordar. Sem vergonha, decidiu deixá-las escorrerem, sem interrupções, sem secá-las até que findassem. Regina percebeu os pingos no jeans de Emma quando trocou a marcha. Elevou os olhos até o rosto da loira, que descansava virado para a janela, com os olhos fechados. A rainha deslizou a mão até a perna da loira até alcançar os dedos magros e os apertou carinhosamente. Swan abriu os olhos e encarou Regina, que a olhava de soslaio, dividindo a atenção com o transito da rua principal. A rainha sorriu para a sheriff entendendo que aquelas lágrimas não eram tristes e lhe enviou um beijo no ar.

***

— O nome desse sorriso que grudou em seu rosto há dois dias é “Regina”? – David entrou no escritório de Emma jogando algumas pastas sobre a mesa, ganhando a atenção da loira, que encarava a parede branca sorrindo bobamente.

— Uhum. – A sheriff deitou a cabeça sobre o ombro esquerdo e fitou o pai, tentando diminuir o sorriso que rasgava seu rosto. – Ela me beijou no Natal.

— Hummmmm.

— Uhummmm.

Ambos sorriram e o príncipe sentou-se na cadeira de frente para a filha.

— E? – Ele incentivou.

— E agora nós estamos juntas. – O sorriso de Emma voltou a crescer enquanto seus olhos diminuíam e suas bochechas esquentavam, mas não era timidez, definitivamente não era, e sim a felicidade que queimava dentro dela. – Você sabe o que é ser beijado por uma rainha? Você já foi beijado por uma rainha? Eu me sinto plena!

— Na verdade, sim, já beijei a sua mãe, claro.

— Snow nunca foi rainha, a rainha sempre foi a Regina. – Swan descansou os pés sobre a mesa escorregando na cadeira até apoiar o pescoço no topo do encosto. – Ela disse que vai me assumir quando for o momento. Que eu não sou o seu “segredo sujo”. A palavra “sujo” é tão sexy saindo da boca dela.

— Okay! – David estende os braços em rendição. – Eu entendi que você é apaixonada por ela.

— Nós vamos sair hoje. Um encontro, sabe?

— Sei. – David coçou o queixo pensando sobre isso. – Eu não me lembro de ter tido um encontro uma vez na vida. Pelo menos não com a sua mãe. Não havia tempo com a Regina nos perseguindo.

— É. – Emma riu divertida. – Ela é maravilhosa. – A salvadora sentiu os olhos do pai pesarem sobre si. – Digo, que pena.

— Aonde você vai levá-la? – David cruzou as pernas descansando um calcanhar sobre o joelho direito.

— Um jantar romântico no nosso lugar.

— Vocês têm um lugar?

— Claro que sim. – Emma desceu os pés da mesa e esticou o corpo na cadeira. – Todo casal que se preze tem um lugar.

— Que lugar é esse?

— Não vou contar. É particular e Regina não gosta que saiam por aí contando coisas sobre ela. Henry contou que eu tinha um presente para ela e sabe o que ela disse quando eu o chamei de fofoqueiro?

— O quê?

— Que ele tem sangue Blanchard. Eu também tenho, mas provarei a ela que esse mal pulou uma geração. – Swan trouxe as pernas para cima da cadeira, as cruzou embaixo do corpo e repensou a ideia que tinha de um jantar romântico. – Eu vou espalhar velas para iluminar, já que não tem luz no píer e...

Emma parou ao perceber o que fez. Seu rosto corou e os olhos arregalaram-se à medida em que o príncipe abria o sorriso até, finalmente, gargalhar. A salvadora levou as mãos até o rosto e o cobriu, proferindo xingamentos para si mesma.

— O que você estava dizendo mesmo? – Charming levantou-se e caminhou até parar atrás da cadeira da filha apertando seus ombros em uma massagem relaxante.

***

— Júlia, eu disse “não”. – Regina tirou o pacote com esferas de chocolate da mão da filha e guardou na porta mais alta do armário.

— Mas eu quelo. — A menina bateu as mãos contra a perna de Regina enquanto lágrimas brotavam em seus olhos.

— Mas você não pode ter tudo que quer na hora que quer. Sabe que existe horário para comer, especialmente doces. – A rainha ajoelhou-se diante da filha e tentou limpar as lágrimas, mas a menina estapeou sua mão.

— Mas a mamãe deixava.

Regina suspirou frustrada quando a filha jogou-se no chão. A menção de Luna era a maior covardia que Júlia podia fazer com ela. Regina sentou sobre as pernas observando as lágrimas banharem o rosto de Júlia enquanto as próprias lágrimas brotavam em seus castanhos escuros. A menina bateu uma perna contra a outra crescendo o som de seu choro.

— Querida, você poderá comer um pouco após o jantar, mas não agora.

— Eu quelo a minha mãe. – Júlia gritou enquanto agitava as pernas e fincava as unhas na coxa coberta pelo moletom lilás.

Regina levou os dedos aos olhos, esfregando-os, afastando as lágrimas e apenas observou a pirraça da filha. Ela estava acostumada com as crises, afinal, tinha tido Henry e agora Júlia, era uma mãe experiente, mas nunca teve alguém chorando por uma pessoa que perdeu, aquela, na verdade, sempre foi ela. Sua vontade era pegar a filha no colo e acarinhar seus cabelos, lhe entregar todo o chocolate que tinha em casa e comprar mais se fosse da vontade dela, mas, tanto quanto tinha consciência deste desejo, sabia que educar estava muito além de simplesmente agradar e mimar uma criança. Júlia tinha recém completado três anos de idade, Regina era sua mãe, fazia o melhor para ela e a menina deveria obedecê-la. A rainha sabia, melhor do que gostaria, que o mundo não oferece aquilo que se deseja, e ela estava cumprindo bem o seu papel de preparar a filha para encarar a vida.

— Júlia, eu sei que você quer, mas...

A morena foi interrompida pelo toque do celular, ela tentou ignorar voltando sua atenção para a filha, mas a melodia invadiu o seu cérebro junto ao choro escandaloso de Júlia e ela correu até a bancada da cozinha, apanhando-o e o atendendo.

— Alô?

— Regina, sou eu, Emma. Tudo bem?

— Oi, Swan. – Regina afastou-se para conseguir ouvir o que a loira dizia por cima do choro da filha.

— Está tudo bem aí? Estou ouvindo um barulho. Aconteceu alguma coisa?

— Não. Apenas Júlia sendo uma criança pirracenta. Você está precisando de mim?

— Não. Estou ligando para confirmar o nosso encontro.

— Swan, eu... – Regina passou os olhos pelo cômodo. A louça estava suja, havia farinha espalhada pela bancada, farelos de comida pelo chão e uma criança enlouquecida dobrando seu pequeno corpo pelo assoalho. – Eu sinto muito, nós podemos remarcar?

— Você quer cancelar?

— Não. – A morena sentiu a tristeza com que a pergunta saltou da boca da loira, afundando seu coração. – Eu quero remarcar. – Regina afastou o celular para conferir as horas no visor e o colocou de volta na orelha. – Não há como eu conseguir acalmar Júlia em uma hora e ainda me arrumar, deixando-a minimamente controlada para que Belle não surte com sua teimosia.

— Tudo bem. Eu entendo. Sua filha em primeiro lugar.

Aquele era um tópico indiscutível. Júlia seria sempre prioridade na vida de Regina, assim como Henry, mas o tom de Emma a desarmava de qualquer argumento. A rainha, que outrora dizimava vilas sem conhecer o remorso, simplesmente não sabia lidar com o fato de ferir os sentimentos da loira, mesmo em circunstâncias justificáveis.

— Talvez você queira vir até aqui mais tarde. Nós podemos assistir filmes como em Boston, mas sem o sorvete, porque eu não vejo como Júlia poderia tê-lo hoje. – Regina tentou brincar, mas a linha manteve-se silenciosa. – Quem sabe um vinho.

— Não. Tudo bem. Nós podemos remarcar. — Regina ouviu um suspiro longo do outro lado da linha. – Eu te ligo amanhã e falamos sobre isso. Espero que consiga se entender com Júlia. Tenham uma boa noite!

Havia se passado cerca de três horas desde a ligação de Emma e Regina se encontrava equilibrando Júlia em um braço e uma caixa de pizza no outro enquanto subia os poucos degraus para chegar à porta da loira. Tocou a campainha e jogou a cabeça para os lados, ajustando os fios de cabelo que caiam sobre seu rosto. Quando a porta se abriu, a morena viu as sobrancelhas da loira se elevarem em surpresa.

— Oi. – Regina cumprimentou um pouco tímida, impedindo-se de olhar para a blusa levemente transparente que a sheriff usava, sem o auxílio de um sutiã.

— Hey! O que você está fazendo aqui? – Emma abriu mais a porta, oferecendo passagem para a rainha, que, por sua vez, lhe estendeu a caixa com pizza, e passou por ela com Júlia agarrada ao seu pescoço.

— Se nós estamos mesmo fazendo isso. – Regina apontou para si e, posteriormente, para Emma. – Nós precisamos esclarecer algumas coisas.

Swan conectou seus olhos aos de Regina como tantas vezes fizeram, buscando indícios de raiva, decepção, medo ou arrependimento, mas tudo que encontrou foi carinho e compreensão. A loira caminhou até a cozinha deixando a pizza sobre a mesa, repetindo para si, mentalmente, que Regina não estava ali com qualquer pensamento negativo sobre o que elas haviam, apenas, começado.

— Certo! – Emma assistiu Regina deixar Júlia no sofá, com o cisne nas mãos, e ir até ela. – Nós podemos conversar.

— Eu sinto muito por pedir para remarcar o nosso encontro. Acontece que Júlia estava impossível e eu não podia, simplesmente, deixá-la com outra pessoa e sair para me divertir. – Regina aproximou-se de Swan, deixando apenas um palmo de distância entre elas, e capturou as mãos da loira. – Eu tenho uma filha pequena e ela me demanda muito tempo e atenção, e isso pode, às vezes, atrapalhar os nossos planos. Isso não significa que você não é importante para mim e nem que eu não queira passar mais tempo com você.

— Eu entendo. – Emma deslizou as mãos para a cintura de Regina colando seus corpos. – Me desculpe por agir daquela forma. Eu estava muito ansiosa para passar um tempo a sós com você e fiquei frustrada quando percebi que não iria acontecer. Não ficamos sozinhas desde a noite de Natal lá no Granny’s.

— E isso faz apenas dois dias. – Regina sorriu para o bico que se formou no rosto da salvadora. Lentamente, subiu os braços pela lateral do corpo de Emma e enlaçou seu pescoço. – Eu sei que não é fácil se envolver com uma mulher que tem uma filha tão pequena quanto Júlia, mas essa é a minha realidade. Se você me quiser, tem que aceitar aquele pacotinho ali como brinde.

Emma correu os olhos até o sofá, onde Júlia balbuciava palavras incompreensíveis para o seu brinquedo, com um grande bico emburrado enfeitando seu rosto.

— Quanto a isso, não há com o que se preocupar, majestade. Júlia tem o seu próprio castelo dentro do meu coração e não há a menor possibilidade dela sair de lá. – Swan arrastou Regina pela cozinha, até que não pudessem ser vistas pela menina, pressionando-a contra a parede. – Assim como não permitirei que você saia daqui.

— Eu não duvido disso.

Regina acarinhou a nuca da loira, fazendo um arrepio subir pela espinha da sheriff, eriçando seus pelos claros. Emma apertou pontos das costas de Regina em suas mãos e colou seus lábios em um beijo saudoso. As línguas se reconheceram e facilmente encontraram o ritmo perfeito que fazia com que as mulheres arfassem baixo contra a boca uma da outra. Regina sentia-se satisfeita com as respostas de Emma e a fácil compreensão sobre a situação de Júlia. Cada momento com a loira fazia com que ela tivesse mais certeza de que estava fazendo a coisa certa, de que se entregar ao sentimento, que crescia como erva em seu peito, lhe mostraria a face da felicidade e que elas encontrariam a paz e o equilíbrio de uma vida conjunta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Me deixem saber nos comentários.

Eu posso demorar um pouco para atualizar (poucos dias), porque durante esse fds eu não vou conseguir escrever nada. As férias da faculdade acabaram e eu preciso voltar para casa... Então, terei faculdade, estágio, casa (já que eu moro sozinha), minha namorada, enfim, muita coisa demandando meu tempinho. Então, eu posso demorar um pouco mais para atualizar, mas eu irei avisar vocês.
Também não vou conseguir responder aos comentários do capítulo anterior agora, porque tenho que estar na estrada daqui quatro horinhas e eu ainda nem organizei minha mala. Mas eu vou responder todo mundo assim que eu tiver um tempinho.

As músicas do capítulo são essas:

A Song For You - Amy Winehouse

Is This Love - Bob Marley

Lembrando que eu me refiro à versão que ouço e não ao autor da canção.

Até qualquer hora. Beijos ♥



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