I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridinhos!

Muito obrigada a todos que estão acompanhando e tenham uma boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717482/chapter/15

Emma passou algumas horas cuidando da parte burocrática da guerra que haviam acabado de enfrentar, pois, embora Regina não tivesse ordenado, seria uma cobrança por parte da rainha. Não era muita coisa, felizmente, e Emma pode fazer tudo com calma o suficiente para certificar-se de que nada estava lhe escapando, para, finalmente, procurar a morena. Após fazer uma busca pela mansão e pelo mausoléu, a encontrou sentada no único banco que havia no porto quando o sol já estava se pondo.

— Acho que isso é algo que está escrito para nós. – Emma chamou a atenção da rainha. - Sempre estamos aqui ao pôr do sol.

Regina, inicialmente, não respondeu. Permaneceu quieta encarando as calmas ondas do mar. No entanto, quando o silêncio se fez insuportável até mesmo para ela, o cortou.

—  Como estão todos?

— Tivemos duas mortes. Um Cavaleiro Negro e um civil. Alguns feridos, muitos, na verdade, mas poucos em estado grave. Mas Whale disse que todos ficarão bem. – Emma respondeu ainda sem encará-la, mantendo seu olhar nas botas surradas. – Você está bem?

— Não. – Regina respondeu simplesmente antes de levantar-se e caminhar até o fim da madeira do píer. – Eu nunca estou bem quando perco soldados.

Emma mordeu os lábios contendo a vontade de gritar que eram pessoas e que tinham famílias acima de tudo, mas, ao invés disso, ela apenas ocupou o lugar da rainha no assento.

— Os papéis da indenização de cada um já estão prontos para Snow assinar, como atual prefeita. – Emma pronunciou antes de cruzar uma perna contra a outra, imitando um movimento que Regina faria em seu lugar. – Aliás, já estavam prontos há dias, como você pediu, como se todos fossem morrer.

— Eu sempre garanti o seguro de vida dos meus soldados. – Regina sentou-se e retirou suas botas para, logo em seguida, descansar os pés no mar gélido.

— Fora isso, você está bem? – Emma descruzou as pernas e sentou-se em cima delas.

— Estou.

— Não é isso que essa ferida na sua perna diz. – Emma observou Regina conferir seu corte e ignorá-lo ao encarar o horizonte – Talvez também precise de uma consulta com o Dr. Whale.

— Não preciso de um médico.

Emma desprendeu os olhos de Regina para encarar o pôr do sol por um minuto antes de voltar a intrometer-se.

— Pelo que eu entendi sobre os outros feridos, um corte de espada pode resultar em...

— Swan, eu não estou interessada. – Regina a cortou impaciente e ergueu a cabeça. – Eu prefiro ficar sozinha, se não for muito difícil para você entender isso.

— Na verdade, é sim. – Emma levantou-se do banco para sentar-se ao lado de Regina. – Muita coisa aconteceu. Lutamos com espadas de verdade, e magia, em uma guerra real contra pessoas que nos queriam mortas. – Emma falava enquanto tirava as botas e colocava um pé após o outro dentro do mar. – Eu estou bem abalada, para falar a verdade.

Regina reconheceu o exagero nas palavras da loira, mas permaneceu quieta, apenas encarando o sol que se escondia completamente por trás do mar, e, por um momento, sentiu falta de quando ele apenas se movia para trás da montanha, que era a única vista que seu quarto de infância proporcionava.

— Eu realmente apreciaria se você fosse embora.

— Eu não vou, Regina. Não importa o quanto você diga. Você não está mais sozinha e estou aqui para provar isso, mesmo contra sua vontade. – Swan retirou um antisséptico do bolso da jaqueta, que levou em sua busca sabendo que se recusaria a ir até o hospital, e, sem que Regina percebesse, derramou sobre o corte.

— Ai! – A rainha gemeu ao sentir o líquido escorrer por sua ferida. – Eu não lembro de concordar com isso.

— Regina...

— Eu mereço.

Swan interrompeu o ato de despejar o remédio pela ferida assim que as duas palavras pularam para fora de Regina. Com um suspiro frustrado, ela enroscou a tampa sobre o frasco e o depositou ao lado de seus pernas, na madeira do píer. Depois de um dia como aquele, era inaceitável que Regina ainda sentia-se culpada pelo que fizera a todos ali em seus tempos de Evil Queen.

— Eu acho que, se já não tivesse feito antes, hoje você recompensou o mal que causou a todos...

— Eu não falo disso.

Regina elevou a perna quando trouxe o pé para o alto apoiando-o na madeira, exibindo as unhas perfeitamente pintadas de um branco quase transparente, e assoprou a ferida.

— Talvez você possa falar comigo. Eu acho que fui uma boa ouvinte todo esse tempo, apesar de tudo.

Regina abaixou a perna novamente e brincou com os pés dentro da água. Ela estava há horas observando o mar e as tonalidades do céu, tentando sentir-se mais confiante sobre quem ela é, sobre a necessidade de suas ações e as consequências delas, mas todos os seus pensamentos eram negativos. Ela observou suas roupas e a coroa que pendia em seus dedos e sentiu como se o mundo tivesse recuado várias voltas e ela estivesse novamente na Floresta Encantada perseguindo a ex-enteada.

— Eu matei um homem. – Uma risada triste escapou pelo nariz da morena antes que pudesse continuar. – Eu matei centenas de pessoas, mas hoje eu mantei um homem depois de muito tempo. Não foi estranho, não foi difícil. Foi como recuperar o fôlego depois de minutos embaixo d’água. A sensação familiar do oxigênio entrando em meus pulmões e me mantendo viva. – Regina esperou alguns segundos para que Emma dissesse algo, mas quando a loira manteve-se em silêncio, então, ela liberou um suspiro e bateu as mãos contra a madeira. – Eu tenho medo dessa sensação familiar, porque talvez isso signifique que é isso que eu sou, uma assassina, uma rainha má.

Emma, que até então mantinha os olhos fixos na rainha, encarou o horizonte onde o sol ainda se despedia e balançou os pés criando ondas. A sua vontade era trazer Regina para o seu colo, lhe afagar os cabelos e fazê-la enxergar a mulher incrível que é, mas essa era uma liberdade que ela não tinha e talvez nunca teria.

— Existia outra maneira de acabar com aquela luta e proteger Storybrooke?

— No nosso mundo a única forma de colocar fim definitivo em uma guerra entre reinos é com a morte de um dos governantes. – A voz de Regina não era mais que um sussurro.

— Então você fez o que era preciso.

— Comovente! – A voz de Sylvanus interrompeu o momento e Emma levantou-se instintivamente, ficando de frente para o homem. O feiticeiro encarou a postura defensiva de loira e girou os olhos. – Você precisa relaxar um pouco.

— Deixe ela em paz. – Regina suspirou de costas para a estranha interação dos dois e voltou a brincar com os pés na água. – Todos já se foram?

— Sim. – Sylvanus sentou-se sobre as próprias pernas cruzadas, do outro lado de Regina. – Como pode ver, eu cumpri minha parte no acordo, agora espero que cumpra a sua.

— Dois dos meus morreram. Temo que você não seja tão eficiente quanto eu me lembrava.

— Majestade... – Sylvanus passou o braço pelas costas de Regina até conseguir abraça-la. Emma enrijeceu o corpo e aproximou-se um passo, ganhando a atenção do homem, que apertou ainda mais o contato. – Duas perdas em uma batalha daquela dimensão é o mesmo que nada, sabe disso. Até eu estou surpreso com o resultado. – Ao segundo passo de Emma, o feiticeiro suspirou irritado e arrastou-se para o lado, afastando-se da morena. – Vamos, minha rainha, me dê.

— Espero que encontre o que procura. – A contragosto, Regina maneou a mão e a bússola surgiu envolta na fumaça púrpura. – Boa sorte.

Os olhos do feiticeiro brilharam quando tomou a bússola em suas mãos. Como se estivesse segurando o objeto mais precioso que poderia existir, ele a aproximou do rosto e passou os dedos pelos detalhes em dourado.

— Sempre bom fazer negócios com a realeza. – Sylvanus aproximou os lábios do rosto de Regina e depositou um beijo carinhoso em sua bochecha. Fazendo um gesto idêntico ao de Regina, invocou um chocalho de madeira com desenhos de folhas em tamanhos variados. O homem assoprou no chocalho e o estendeu para Regina. – Se precisar de mim, me chame. – O feiticeiro levantou-se e guardou a bússola no bolso de seu casaco. – Antes que eu me esqueça, majestade... a garota está certa. Você fez o que era preciso. Isso não define quem você é. – Sem mais palavras, Sylvanus sumiu em sua fumaça cinza, deixando apenas o cheiro de floresta para trás.

Emma voltou a sentar após longos segundos pensando sobre a estranha relação entre aquele homem e Regina. Eles pareciam amigos, mas ao mesmo tempo pareciam apenas dois negociantes. Sua língua coçava com a vontade de fazer as perguntas que lhe atormentavam, mas ela sabia que o passado de Regina podia ser sombrio e assustador, além de ser uma época da qual a morena preferia não comentar, não reviver. Então, contendo sua curiosidade, Emma pegou novamente o frasco de antisséptico e derramou o líquido na ferida de Regina. A rainha liberou um gemido de dor e segurou o braço de Emma, impedindo-a de continuar.

— Você sabia que usando magia isso dói menos e não deixa cicatriz?

Emma suspirou frustrada e abandonou o frasco ao seu lado, novamente.

— Por que você ainda não se curou?

— Eu pensei que merecia sentir um pouco de dor. – Regina tombou o corpo para trás, deitando-se e descansando sua coroa na barriga.

— Não, você não merece. – Emma desviou os olhos para o horizonte mais uma vez, impedindo que Regina pudesse ver as lágrimas que se formavam. Cada dor que a rainha sentia, doía em Emma também e, às vezes, ela pensava que, simplesmente, não poderia suportar. – Você é uma heroína e nós vamos cuidar dessa ferida agora. Apenas me diga como fazer.

— Você só precisa esvaziar sua mente e sentir o que deseja. – Regina esticou um braço e tocou as costas de Emma com as pontas dos dedos. – Está tudo bem?

Emma inspirou profundamente, recolhendo as lágrimas e forçou um sorriso antes de se virar para Regina.

— Eu acho que posso fazer isso.

Regina sentou-se para auxiliar Emma caso fosse preciso e notou a sombra das lágrimas que estiveram nos olhos da loira.

— Hey! – A rainha tocou a bochecha de Emma com as costas dos dedos. – O que te deixou assim? - O sorriso que Emma esforçava-se para manter, se desfez imediatamente e ela engoliu em seco pensando em tudo que sentia vontade de dizer. No entanto, nenhuma palavra foi dita. Regina deslizou os dedos até o ombro de Emma e o apertou levemente, em um carinho tímido. – Você está bem, sua mãe está bem, seu pai, eu. Estamos todos seguros agora.

— Eu gostaria que você se enxergasse da forma como eu enxergo, como uma mulher maravilhosa que não merece nada menos do que o melhor, sempre.

Regina enxergou toda a sinceridade nas írises verdes de Emma e conectaram-se imediatamente, como acontecia sempre que se perdiam olhando-se. Os olhos verdes de Emma eram demasiado parecidos com aquele mesmo mar que as rodeava, mas infinitamente mais profundo e tentador. Regina considerou que até mesmo o melhor nadador poderia se afogar caso soltasse a borda que o mantinha na superfície. Mas diferente do mar de Storybrooke ou de qualquer outro, o mar nos olhos de Emma não a assustavam, ao contrário, eram atrativos o suficiente para que ficasse tentada a mergulhar e isso o tornava muito mais perigoso.

Quando o silêncio se arrastou por muitos minutos, Emma interrompeu o momento ao descer os olhos para a perna de Regina, onde a ferida ficava cada vez mais vermelha. A salvadora uniu as mãos em cima do corte e concentrou-se naquilo que mais desejava: o bem de Regina. Imediatamente uma luz dourada irradiou de seus dedos em direção à ferida e quando ela se foi, o corte também não estava mais lá. Emma sorriu para seu feito e olhou para Regina, recebendo um sorriso, tão satisfeito quanto, em resposta.

— Parabéns, Swan. Você pode se tornar uma ótima curandeira um dia. – Regina cutucou as costelas de Emma antes de se levantar apanhando as botas com uma mão e a coroa em outra. – Obrigada pela ajuda. Até amanhã, Swan.

***

Pela primeira vez em cerca de dois meses, todos poderiam dormir a noite toda, tranquilos, sem receio de acordarem com tochas em suas casas e facas em seus pescoços. Quando o sol nasceu naquela manhã, a promessa de uma temporada de tranquilidade contagiou o humor de todos os habitantes. Leroy pediu um chocolate ao invés de vodka, Granny foi simpática com os clientes, Marco não se importou em pregar novamente a placa de uma das pequenas lojas da cidade e nem mesmo Emma reclamou quando a campainha tocou acordando-a. De bom humor, ela recebeu os pais que trouxeram os ingredientes necessários para prepararem o café da manhã e leu animada o jornal do dia, que relatava a vitória da cidade sobre os invasores.

Não demorou muito para que a campainha soasse novamente. Emma saltou do cadeira que ocupava na mesa, usando apenas um short curto de pijama e regata branca, mas não sem antes ouvir Snow recrimina-la por isso. Quando chegou até a porta e espiou pelo olho mágico, Emma sorriu ao ver a imagem contorcida de Regina em seu agasalho sofisticado.

— Regina. – Swan abriu a porta completamente, oferecendo passagem.

— Bom dia, Swan. – Regina entrou na casa com uma embalagem de donuts em mãos e seguiu Emma até a cozinha, quando viu os pais da loira ali, franziu a testa e virou-se para a sheriff. – Pensei que finalmente morasse sozinha.

Emma ergueu as sobrancelhas e escondeu um sorriso diante da expressão ofendida de Snow.

— Eu gosto de cozinhar para a minha filha, além disso, eu sei que quando não cozinho, ela come apenas bobagens. – A princesa virou-se de costas para as duas e concentrou-se na massa que preparava.

— Bobagens! – Regina balançou a caixa com os donuts e jogou-a na mesa para logo ser capturada por David.

— Bom dia, Regina. Como está sua perna?

— Em perfeito estado. – Regina lançou um sorriso de lábios apertados para Emma e sentou-se na mesa ao lado do príncipe. – Vocês estão todos bem?

David acenou com a cabeça enquanto mordia uma das rosquinhas açucaradas. Emma colocou uma xícara diante de Regina e encheu com café preto antes de sentar-se de frente para ela. Regina sorveu o líquido e alcançou uma rosquinha da caixa.

— Você está muito ocupada hoje, Swan?

— Uhum. Muitos criminosos em Storybrooke. – Emma arregalou os olhos em falso exagero e assoprou seu chocolate quente. – Você tem alguma diversão programada?

— Não. – Regina descansou a xícara já vazia na mesa e deu uma mordida em seu donut antes de continuar. – Eu vou para Boston. Estou louca de saudade das crianças. Se os criminosos te derem uma folga, você está convidada a ir comigo.

O sorriso que cresceu nos lábios de Emma poderia ser considerado um dos mais bonitos que Regina já vira, ele atingiu os olhos e um ar totalmente infantil apossou-se da loira. Para Regina, foi inevitável retribuir o sorriso e, quando se deu conta, elas já estavam naquela troca por tempo suficiente para chamar a atenção de David, que coçou a garganta tirando-as do transe.

— Você está falando sério?

— Estou. – Regina recuperou-se e se esforçou para manter-se indiferente diante do entusiasmo da loira. – Quero sair em, no máximo, duas horas.

Emma levantou-se imediatamente e correu para a escada, deixando os três confusos na cozinha. Em poucos minutos a loira reapareceu na cozinha trajando calça jeans e camisa de algodão cinza, carregando uma mala de porte médio.

— Eu estou pronta para quando quiser ir.

Não mais que uma hora e meia depois, Regina já dirigia sua Mercedes para fora da linha da cidade. Ela estava ansiosa para rever os filhos, os amigos e cuidar do seu novo apartamento. Em sua mente ela já havia programado sua rotina para os próximos dias. Iria às compras para montar um quarto para o Henry, compraria também objetos de decoração para a casa toda e, claro, roupas. Enquanto Emma tagarelava sobre amenidades da pequena cidade mágica, Regina pensava em cada cômodo do apartamento e em como ela desejava que ficasse. Nada parecido com o antigo lar nem com a mansão de Storybrooke, tampouco algo que lembrasse seu aposento na Floresta Encantada. Regina estava determinada a encerrar um ciclo de sua vida e começar uma nova fase, uma nova oportunidade ao lado dos seus filhos.

— Sabe, acho que nós temos que parar de deixar a outra falando sozinha. – Emma tocou a mão de Regina que descansava no câmbio.

— E eu acho que devemos ouvir algo. – Regina diminuiu a velocidade para se concentrar momentaneamente na escolha da música.

— Claro. Música. – Emma debochou e trouxe os seus pés para o painel.

— Se você tirar essas pés imundos daí, eu deixo você escolher.

A contragosto, Emma sentou-se corretamente e passou as músicas em busca de alguma conhecida. Quando determinada melodia começou e Emma imediatamente a reconheceu, ela aumentou o volume e escorou-se no banco. Esforçou-se para não encarar Regina durante toda a introdução, mas quando a voz do cantor se fez presente e misturou-se com a rouquidão de Regina, tornou-se apenas inevitável olhá-la.

Pulling me further, further that I’ve been before

(Me puxando para longe, mais longe do que já estive antes)

 

Making me stronger, shanking me right to the core

(Fazendo-me forte, mexendo comigo bem no interior)

 

Oh! I don’t know what’s in the stars

(Oh! Eu não sei o que há nas estrelas)

 

Never heard it from above, the world isn’t ours

(Nunca ouvi isso antes, o mundo não é nosso)

 

But I know what’s in the my heart

(Mas eu sei o que há em meu coração)

 

If you ain’t mine, I’ll be torn apart

(Se você não for minha, eu vou despedaçar)

 

Emma conhecia aquela letra, sabia exatamente o que cada verso diria, e não poderia ser uma canção mais adequada para aquela situação. Tornava-se a cada segundo mais difícil permanecer na companhia de Regina sem tocá-la, sem cair na tentação de afundar os dedos nos cabelos de sua nuca e beijá-la, sem repetir que a amava a cada novo minuto. Regina era a verdadeira maçã do paraíso e Emma era Eva, tentada a provar seu suco adocicado.

I don’t know who’s gonna kiss you when I’m gone

(Eu não sei quem vai te beijar quando eu me for)

 

So I’m gonna love you now, like it’s all I have

(Então eu vou te amar agora, como se fosse tudo que me resta)

 

I know it’ll kill me when it’s over

(Eu sei que vai me matar quando acabar)

 

I don’t wanna think about it

(Eu não quero pensar sobre isso)

 

I want you to love me now

(Eu quero que você me ame agora)

Em alguns momentos enquanto cantarolava a canção, Regina correu os olhos para Emma, disfarçadamente, algo que poderia ter passado despercebido pela loira, não fossem as írises verdes coladas na morena durante os minutos em que a música durou. Quando ela chegou ao final, Regina coçou a garganta e buscou por uma canção mais agitada, fugindo do teor romântico, atitude que também não escapou de Emma. A loira entristeceu-se pensando no quão absurda Regina imaginava que era a ideia de um romance entre elas, para rejeitar até mesmo canções que nem delas se tratavam, embora não pudessem ser mais apropriadas. Ledo engano, uma vez que Regina apenas não queria deixar a viagem desconfortável, já que os sentimentos da loira eram de seu conhecimento. Ela não era indiferente à Emma e ao seu amor, mas essa era uma palavra muito forte para ela naquele momento. Regina era uma recém viúva, ainda não recuperada de sua perda e muito apaixonada pela falecida esposa. Apesar de ter tido sentimentos por Emma quando se conheceram, não chegou a ser amor. Era atração, encantamento, paixão, talvez, mas para quem dizia amá-la, Regina sabia que isso não era suficiente e iludir Emma estava longe de ser uma opção. No entanto, a amizade da loira era uma das melhores coisas que lhe aconteceu nos últimos tempos e ela estava disposta a fazê-la funcionar.

A viagem correu tranquila, silenciosa na maior parte do tempo, mas um silêncio confortável e não demorou muito até estacionarem na frente do prédio. Regina desceu do carro apressada, deixando as malas para trás, sendo seguida por Emma, e ambas mal podiam aguentar esperar o elevador levá-las até o andar do apartamento. Quando chegaram, Regina apressou os passos e apertou incessantemente a campainha até que a porta foi aberta por um James preocupado segurando Júlia nos braços. A pequena levantou os bracinhos e gritou fino quando viu a mãe e logo foi tomada em seus braços. Regina a apertou e beijou toda a extensão de seu rosto, mordiscou suas bochechas e cheirou seus fios cacheados. Júlia gargalhou com as cócegas que os lábios da morena lhe faziam. Henry, ouvindo a agitação, surgiu na porta e, quando viu as duas mãos, abriu os braços recebendo um caloroso abraço coletivo.

— Você gostou da surpresa, garoto? – Emma bagunçou seu cabelo como de costume.

— A melhor que poderia ter. – Henry segurou as mãos da loira e a puxou para dentro do apartamento.

Quando restaram Regina, com Júlia no colo, e James, o homem a puxou para um abraço demorado, com beijos em seu rosto, pinicando-a com sua barba rala.

— Isso é saudade ou alívio por não precisar mais cuidar dessa pestinha aqui? – Regina cutucou a barriga da filha fazendo-a voltar a gargalhar.

— Não sou pestinha. – Júlia enrolou os dedinhos na mecha que caia no rosto da mãe e descansou o rosto na curva de seu pescoço.

— Um pouco de cada. – James abriu seu sorriso de dentes amendoados e ofereceu passagem para Regina.

Quando chegaram na sala, a atenção do homem pousou em Emma com seriedade e um suspiro escapou de seu nariz sob o olhar atento da morena. Regina sentou-se no sofá de frente para onde Henry estava com Emma e ajustou Júlia sobre suas pernas.

— James, essa é a senhorita Swan, a outra mãe de Henry. – Regina manteve a atenção no amigo todo o tempo em que os apresentava. – Swan, esse é um grande amigo, James.

— Pode me chamar de Emma. – Swan levantou-se e ofereceu a mão como cumprimento, o qual foi imediatamente aceito.

— É bom, finalmente, conhecê-la.

Emma capturou o desconforto do homem com sua presença, imediatamente. Com certo constrangimento, a loira voltou a sentar-se e a dar atenção ao filho, que, alheio àquilo, se pôs a contar o que havia feito durante aqueles dias na grande cidade.

James sentou-se ao lado de Regina e contornou o corpo moreno com seu braço trazendo-a para um novo abraço.

— Você poderia ter me dito que estava vindo, eu teria comprado os bolinhos que gosta e já teria um café pronto te esperando.

— Era para ser uma surpresa para você também. – A rainha tombou a cabeça no ombro do amigo e acariciou seu joelho.

— Pode apostar que foi.

Regina afastou-se imediatamente, desfazendo qualquer contado, e o encarou com uma sobrancelha arqueada, em um aviso claro para que ele guardasse para si qualquer comentário em relação à presença de Emma.

— Então, Henry, pelo visto você só estava com saudades da Swan. – Regina forçou-se a ignorar o desconforto do amigo e levantou-se com Júlia no colo para sentar-se do outro lado de Henry. – Eu não ganho essa atenção toda, hum?!

— Eu tenho muita coisa para contar para vocês. – Henry abraçou a morena e depositou um beijo no topo da cabeça da irmã. – Vou buscar o celular para mostrar as fotos que tirei com Júlia.

— Eu vou descer até a padaria porque vocês devem estar com fome. – James levantou-se e pegou as chaves na mesa de centro. – Você quer algo em especial, Rê?

— Os bolinhos, claro. – Regina jogou um beijo no ar para o amigo e desceu Júlia de seu colo, que correu na direção que Henry seguiu. – Traz uma sobremesa também, por favor. Não pretendo passar nem perto da cozinha hoje.

Quando ficaram sozinhas, Regina e Emma trocaram olhares constrangidos, onde Regina desculpava-se pelo comportamento de James, e Emma pela situação que, em parte, considerava sua culpa.

— Acho que seu amigo não gostou muito de mim.

— Ele só está com ciúmes. Mas é o meu melhor amigo e uma pessoa maravilhosa. Ele só precisa se acostumar com você.

— Ciúmes?

— Sim. – Regina disse como se fosse algo muito óbvio que a loira estivesse perdendo. – Luna! – Explicou quando percebeu o rosto confuso de Emma.

— Ah. Claro. – Emma soltou uma respiração pesada e descansou o corpo no encosto do sofá. - Luna.

Emma não tentou disfarçar a frustração na voz, nem Regina o descontentamento com isso. No entanto, sabiam as razões da outra e ambas eram válidas. Mas Emma não podia deixar de alegrar-se pelo tempo que passaria com Regina em Boston, longe de problemas, monstros, vilões, reis vingativos e qualquer outra coisa que pudesse tirar-lhes a paz. Ela enxergava isso como uma oportunidade de conhecer mais um pouco da morena e deixar que ela a conhecesse também e, talvez, só talvez, Regina pudesse enxerga-la como uma mulher a quem vale a pena dar uma chance.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Me contem nos comentários. Ideias, críticas e até mesmo um bate-papo é super aceito pela autora aqui. Beijooos ♥