Jamie:

'Eu a matei tenho certeza!' penso enquanto tento fazê-la acordar, não a vi, ‘Deus como posso ter me desligado enquanto pilotava, ainda mais com uma tempestade assim?” foi involuntariamente, como sempre acontece quando a chuva cai, me perco em memórias um tanto dolorosas.

Não gosto de sair quando o tempo está assim, no entanto, tinha que voltar para casa, ficar entre pessoas que nada sabem do que passei, vendo-me encolher por dentro e ser assolado por ondas e mais ondas de dor, não era uma opção viável, a única que poderia me ajudar era Elo, que por acaso não veio para faculdade hoje, deixando-me apenas com a primeira opção, voltar para casa em meio a um tempo péssimo do fim da tarde do dia 04 de janeiro, sem saber que tudo poderia mudar...

Andar de moto já é um processo que exige atenção de quem a conduz, em uma chuva então, você precisa mais do que nunca estar alerta, mas quando cada gota que cai sobre você o leva de volta ao momento em que perdeu tudo que sempre quis, sem ter nem a chance de opinar sobre isso, é praticamente impossível não se afogar com as lembranças.

Em um momento eu estava longe, logo em seguida a vi, rindo como uma criança no meio da rua, tentei desviar, pelo menos é o que acho, mas seu sorriso me distraiu, até que a vi ser lançada ao ar, e por minha culpa, suas compras espalhadas por toda parte, e ela, caída no solo enlameado, ainda sim um visão dos céus, largo minha Haley de qualquer jeito e corro para seu lado, chego a tempo de ver seus olhos azuis me olharem com uma mistura de confusão e prazer ao mesmo tempo, perco-me nas profundezas do seu olhar, como se estivesse achado aquilo que venho procurando a tempos e nem tinha me dado conta da procura. Então ela sorrir levemente e seus olhos se fecham tirando-me do transe que me encontro.

"Ei, moça? Por favor acorde, abra os olhos, oh Deus, não posso ter acabado com uma vida, de novo não!" sacudo seu ombro de leve, enquanto faço uma prece, não quero passar por mais uma desgraça assim, tirar do universo algo tão... -Olho para a garota desfalecida nos meus braços, pela primeira vez me permitindo uma avaliação do seu estado, parece que não quebrou nada, talvez ela só tenha se assustado, por isso o desmaio. -Ela é linda! -Seus cabelos mesmo molhados parecem ser castanho, pele clara, traços angelicais, não deve ter mais que dezesseis anos, suas roupas são simples, mas não a deixam simplória, pois ela não precisaria de nada para se destacar, mesmo assim, mole e de olhos fechados, é a visão de um anjo.

"Moça, por favor? " tento novamente, ela se contorce nos meus braços, até abrir os olhos desorientada.

"O q-que aconteceu? " pergunta enquanto tenta levantar, mas pelo visto sua cabeça está um pouco dolorida, assim que toco na lateral da mesma ela emite um gemido.

"Aí! Não me toque! Seu maluco irresponsável, não olha por onde anda?" Ela sai dos meus braços virando de frente para poder encarar-me enquanto fala, sua cara de raiva e algum outro sentimento é um espetáculo à parte.

"Ei, calma aí, não tenho culpa se você estava no meio da rua, aliás o que fazia no meio da rua em uma tempestade como essa?"

"Não é da sua conta! " Ahhh anjo, sua pose de superior está acabando com meu auto controle, não seria nada conveniente tomá-la aqui no meio da rua,-apenas o pensamento de ter essa garota em meus braços faz com que meu corpo reaja, criando em mim uma excitação que a muito não sinto, ainda mais assim, tão rápido, e em meio a algo tão confuso e um pouco trágico.

" Vamos pare de besteira, deixe-me ver esse machucado!" tento me aproximar.

" Você é médico por acaso?" fala recuando um pouco mais.

"Não, mas estou no quarto ano do curso de Medicina, então já posso diagnosticar uma possível concussão!"

Ela desiste de bater boca comigo deixando que eu possa analisar seus machucados, tirando alguns arranhões nos cotovelos e um leve corte na lateral da cabeça, não teve nenhum machucado que requeira uma inspeção mais elaborada.

" Você vão ficar bem ...é  desculpe-me pôr a ter atropelado!"

" Agora que vem me pedir desculpa? Mas tudo bem, eu também estava distraída, então me desculpe!" 

"Certo! Agora deixe-me ajudá-la a juntar suas compras, faço questão de dar-lhe uma carona depois...

Dakota

Olhar nos olhos do meu vizinho deus grego e não suspirar com o tamanho da sua beleza é quase impossível, depois de fazer um exame rápido nos meus machados, estou livre para seguir, quero sair daqui o mais rápido possível, meu sistema nervoso não tem tanto autocontrole assim, toda vez que ele me olha, sinto meu núcleo se contrair de mil e umas formas diferentes, todas desconhecidas até agora para mim.

Ele me olha e diz que não abre mão de dar-me uma carona, olho dele para a Haley jogada no meio fio, e penso que não vou sobreviver a sensação de tê-lo tão perto.

'Vamos Dak, seja corajosa ao menos dessa vez! ' aquela vozinha chata invade meus pensamentos, quando dou por mim, estou na garupa da sua moto, colada ao seu corpo, minhas compras estão embrulhadas em sua jaqueta de couro, o que me permitiu ter uma visão de como deve ser seu corpo, com a camiseta azul escura colada a pele devido à chuva.

Não sei o que fazer com meus braços, penso em cruza-los no peito ou segurar na lateral da moto, mas antes mesmo de decidir elas são puxadas por ele, fazendo com que eu abrace seu tronco, permitindo-me ter consciência dos seus músculos bem definidos, toca-lo assim, fez meu desejo em ter um momento mais íntimo com ele chegar à um nível insuportável, inconscientemente aperto minhas pernas nas suas, ele dá a partida e sai, fazendo com que eu cole ainda mais ao seu corpo, sei que ele pode sentir minha respiração acelerada, com meus seios tão junto da suas costas, seria impossível não perceber, tenho a impressão que ele está sorrindo, porém não tenho como comprovar nessa posição.

Por sorte só faltava apenas três quadras para chegarmos ao Blue Light, estaciona assim que aviso mesmo com o vento e a chuva que chegamos, ele me olha e depois seu olhar vai em direção ao imponente casarão do século XVIIII que foi transformado em internato às algumas décadas.

"Você mora aqui?" pergunta um tanto confuso.

"Sim! " Não entendo seu espanto com isso, no mínimo achava que andávamos todas uniformizadas, -bem as outras ainda andam assim, não sou mais obrigada, o que traz de volta a lembrança de que estou com meus dias contados nesse lugar.

"Como? Quero dizer, nunca a vi, não que conheça muitas garotas daí nem nada do tipo, porém, sempre as vejo andando por aí já você... "

"Não sou de ficar muito no Jardim! " a não ser no fim da tarde para vê-lo chegar, mas esse é um fato que não preciso revelar.

" Gosta de que então?" seus olhos brilham como se realmente quisessem me conhecer melhor.

"Geralmente ajudar, quando tenho mais um pouco de tempo ler!” Falo já descendo da moto, por mim, ficaria muito mais tempo, porém preciso entrar, não posso deixar que me vejam, mesmo estando parcialmente escondidos pelas árvores do Jardim. "Tenho que ir! Obrigada pela carona! " viro para ir, mas sua mão no meu braço me faz virar em sua direção.

"Nem nos apresentamos, sou Jamie seu vizinho da frente! " ele estende a mão que aperto de forma tímida, e tenho uma pequena batalha interna se devo também revelar meu nome, sei que se por um acaso ele vir a perguntar a algumas das internas que passem no jardim estarei encrencada. É quando vem a ideia, lembro da trilogia que estou lendo no momento, Descobrindo os Prazeres de M.G Nunes, uma autora muito promissora, resolvo então que por um tempo posso ser Lina a protagonista.

" Prazer Jamie, sou Angelina, mas pode me chamar de Lina! " ele me sorrir, fazendo perder um pouco a linha de raciocínio.

"Bem Lina, é um prazer conhecê-la, anjo."

Saio dali antes que eu não tenha mais nenhum controle sobre mim, onde sua mão tocou minha pele ainda está formigando devido a corrente elétrica que, se passou entre nós nesse pequeno contato, imagino o que aconteceria se algo mais íntimo chegasse a acontecer, com certeza eu entraria em curto-circuito na mesma hora.