Yuri não tinha mais o luxo de acordar tarde, já fez a besteira ou maior erro de seu ano inteiro em Hogwarts no dia anterior. Conseguia sentir o peso de suas consequências o afetarem psicologicamente e o deixar mais lento e culpado, fazendo desaparecer qualquer sentimento de confiança e disposição que teve ao queimar o papel com seu nome.  

Com os outros do dormitório acordando e Takeshi pulando em cima de Yuri, ele não poderia estar mais arrependido, mesmo que soasse em sua cabeça que aquele papel não daria em nada, queria que desse e ao mesmo tempo que não. O que aconteceria? Lutaria contra um dragão? Caçar um demiguise? As possibilidades era incontáveis, mas não eram desafios na classificação de "perigosos" e Yuri preferia tentar achar um demiguise do que lutar com um dragão. 

Mas talvez não fosse assim, o ministério não permitiria nenhum erro enquanto reunia escolas de magia e bruxaria diferentes num lugar para um torneio importante, Yuri estava confiante que se outra pessoa de sua escola fosse escolhida, não iria querer nenhum mal a ela.  

Resmungando por ter dormido tão pouco, se arrumou como todos e logo desceu para o salão comunal da Grifinória, sorrindo para Yuuko que o abraçou carinhosamente e pediu a lista de aulas que Yuri teria aquele dia e puxa-lo para o treino como apanhador, sendo o melhor, não se abalariam com o torneio e pelas palavras dela, fingiram que aquilo nem estava acontecendo. 

Seria difícil, alguns alunos especulavam que o resultado seria a noite no próximo dia, não parecia que nenhum aluno abaixo dos quinze anos de Hogwarts tinha colocado seu nome no cálice por conta dos boatos dos antigos torneios, de alunos que ficaram muito feridos e até mesmo de mortes. A espinha de Yuri gelou com aquilo, morrer no meio de um desafio do torneio. 

— E você, Yuri? Vai colocar seu nome depois das aulas? — Yuuko perguntou, empolgada enquanto acompanhava Yuri pelos corredores em direção ao salão principal. 

— Sinceramente... P-pensei na possibilidade — Mentiu, o rosto corado tanto pela mentira como por alguém como sua amiga ter expectativas de que participasse ou tentasse, o que deixava contente — Mas gostaria de tentar, parece ser legal... — Sorriu, abraçando os livros e ajeitando os óculos. 

— Soube que Viktor colocou seu papel logo cedo, acompanhado pelas fãs — Yuuko contou, sorrindo maliciosa e conseguindo fazer o rosto de Yuri esquentar ainda mais — Não fique envergonhado, eu que deveria depois de ter colocado meu nome no cálice e ver o olhar do Yurio do Beauxbatons me encarando como se quisesse que eu pegasse fogo — Contava rindo e Yuri arregalou o olhar. 

Entrando no salão principal, já se tinham algumas coisas para o café da manhã e alunos de Hogwarts ali, os múrmuros empolgados de todos deixavam Yuri nervoso e nem tinham começado as aulas ainda. Deixando os livros de lado na mesa e provando um dos pães com um suco de abobora, não era a coisa mais saudável, mas era uma das melhores para se ter com a primeira aula. 

— Você não acha que eles deveriam ter colocado um limite de idade maior? — Indagou, recebendo a atenção de Yuuko que lia o Profeta Diário abandonado de alguém — Digo, não é arriscado? 

— Não seria mais arriscado se um aluno burlasse o circulo ao redor do cálice para colocar o nome lá? Olha, Yuri, talvez o ministério tenha considerado que a partir dos treze os alunos tenham um pouco de avanço — Falou, dobrando o jornal e pegando um pouco de suco de abobora e bebericando. 

— Ainda acho arriscado... — Resmungou baixinho, terminando de comer o pão. 

Se era arriscado, por que então colocar o papel com seu nome no cálice?, pensou. Balançou a cabeça negativamente, não deveria pensar assim, ainda era cedo para ser tão negativo consigo mesmo. Não se colocaria tão para baixo quando o primeiro sentimento foi arrependimento, não poderia se abalar tanto, era um grifinório ou não? 

Sua primeira aula seria herbologia com o professor Neville Longbottom, as aulas mesmo intensas quando requeriam a manipulação de alguns plantas mágicas, Yuri não demonstrava dificuldade, afinal, era uma de suas aulas favoritas e nem mesmo as alunas da Corvinal o olhando torto conseguiam lhe incomodar tanto. Com as duas próximas que seriam poções, Yuri se apressou com seus livros em andar até próxima aula, cansando rapidamente ao chegar e sentando-se. 

Mesmo com todo o espaço, a troca de sala o deixava nervoso de ansiedade, os olhares de algumas pessoas de casas diferentes voltado para si por conta de ter entrado no time de quadribol, por ser um dos que entrou no primeiro ano, o que não era permitido, mas não foi negado. Sentia a falta de fôlego e suar pelos poros, ajeitando o óculos e seguindo para aula de poções. 

Um frio em sua barriga o deixava nervoso enquanto mexia nos frascos de poções, colocando o conteúdo no pequeno caldeirão que fervia, pouco vezes seus pensamentos voavam para o que fez o tardar da noite, escapar e colocar um papel com seu nome no cálice para o torneio. Sentia que os vinte segundos de coragem fervilhavam em seu interior, não como culpa e arrependimento, e sim de receio e medo.  

Ora, como as pessoas reagiriam ao saber que o apanhador da Grifinória estava tentando entrar para participar? Um egoísta que não deixaria outros terem uma chance, indo na frente novamente de alunos de seu períodos e das outras casas, já não bastava os olhares e cochichos, mas já estava feito e mesmo que quisesse, poucas eram suas chances em participar, sua coragem de grifinório começava a murchar ao imaginar futuros possíveis e em todos eles todos lhe olhavam com sorrisos no rosto, maliciosos e maldosos que sempre viu. 

Exaustiva era a aula de poções, duas seguidas deixava tudo mais extenso, longa por conta das receitas que seguiam e naquela aula, Yuri preferia sempre preferia ficar sozinho, mas sempre deveria ficar com alguém para acompanha-lo da melhor forma, não que fosse necessário, estava no quarto ano.  

Ao ir em direção ao salão principal para o intervalo das aulas, notou o movimento de alunos que seguiam até a sala onde estava o cálice. Suas mãos apertaram ainda mais os livros contra si e engolindo em seco com alguns deles serem das outras escolas, mudando seu rumo para acompanha-los, ouvindo mais e mais vozes diferentes e com sotaques puxadas para o inglês, os alunos das outras escolas que as representavam estavam e pareciam ansiosos e conversavam amistosamente entre si.  

Pode notar o tal Yurio que Yuuko comentou, num canto mais afastado e de mãos dadas com um garoto de expressão séria. Não parecia ser da Beauxbatons e o rosto de Yurio ficava corado e o lábio apertava em vergonha com as palavras sussurradas a ele. Um relacionamento com um aluno de outra escola parecia ser algo complicado e como Yurio era um jogador de quadribol famoso, isso não parecia incomoda-lo. Só ao notar Yuri os observando, parecia lançar maldições com o olhar, Yuri sentiu um pouco de vergonha e desviou. 

Gritinhos foram ouvidos e Yuri virou seu olhar, fitando de longe Viktor cercado de fãs que o admiravam e tentavam conversar com ele, suspirando quando ele começava a falar. Yuri conseguia sentir seu coração bater um pouco mais rápido e se apertar com aquilo, queria ter a coragem de poder se juntar ou tentar de uma maneira, mesma que falha, conversar ou falar um "oi", mas como chegaria a falar com o melhor jogador de quadribol e prodígio do campeonato mundial? 

O rosto ardeu em vergonha com possibilidades de uma abordagem que nunca aconteceria e seus olhos se arregalaram quando notou Viktor lhe olhando na mesma intensidade, sorrindo e acenando. Yuri se virou para o lado contrário dali para se retirar e preparar para comer. 

Apertava mais do que antes os livros e quando os deixou jogados sob a cama, bateu na própria testa e resmungou consigo mesmo, o nervosismo rodando e lhe trazendo arrepios estranhos. O seu ídolo ali para competir contra sua escola se caso fosse escolhido e Yuri estava apenas decidido até a noite anterior que queria provar não ser o garotinho que chegou a hogwarts, que duvidavam dele por ser o mais fácil de derrubar nos jogos de quadribol.  

Queria não provar aos outros apenas, queria se superar e sentir-se completo como quando pegava o pomo de ouro e vencia, não ser subestimado e provar a si mesmo que poderia vencer seus medos e ignorar a todos. Yuri poderia considerar até que o chapéu seletor tinha errado em lhe colocar na grifinória, como poderia ser se estava se menosprezando tanto? Se importando em cochichos que zombavam dele e que deveria algo a alguém. 

Riu amargo e pegou o único livro que deveria para uma das aulas a tarde, parando para comer algo antes de voltar as aulas. Estranhou nenhum jogador do time ou a próprio Yuuko o chama-lo, sentindo um incomodo e que só pôde ser explicado ao fim da última aula de trato de criaturas mágicas, a qual foi ao ar livre.

Poderia sim no meio de uma aula se retirar para ir ao campo de quadribol, mas a vergonha ainda o incomodava até mesmo no momento de falar e sua mão formigava apenas por atrair a atenção de todos, como se estivesse preso a si mesmo e aos monstros imaginários que o cercava. 

— Yuri! — Yuuko surgiu nos corredores que levavam ao salão principal, o olhar brilhando em ansiedade — O cálice foi levado ao salão principal, vai ter o sorteio daqui a poucos minutos — Sorriu, puxando Yuri para o ponto da qual ele estava negando em ir. 

Era como se a cada passo fosse feito lentamente e na mesa das casas, os alunos representantes das outras escolas estavam sentados, os da Ilvermorny na Grifinória e como Viktor era da Durmstrang, estava com os outros na mesa da Sonserina. Yuri desviou o olhar dele quando encontrou com o seu, se indagando mentalmente o porque dele o estar observando naquele mar de alunos de Hogwarts, o que ele tinha afinal?  

— Você acha que vai ser alguém da Sonserina? — Yuuko indagou curiosa, sentada ao lado de Yuri. 

Ele apertava as mãos, nervoso. Poderia sim ser qualquer um de qualquer casa, não importava qual fosse, representaria toda a escola e a manteria no torneio como um campeão. Campeão. Esperava logo o banquete para se trocar e deitar na cama, aguardando como todos e assistir o torneio e ao campeão da escola competir com os outros, observando de longe a chance que não foi a ele colocada, nem ele colocava a esperança em si mesmo, quiçá nem outra pessoa faria. 

— Não importa, apenas poderemos torcer por quem for escolhido — Sorriu fracamente, a qual se desmanchou com a diretora Mcgonagall tomando a frente e ficando ao lado do cálice. 

A mão sobre o cálice, todos ficaram em silêncio e as chamas desse se contorceram para diminuírem e soltar algo que estava pouco queimado.  

— O campeão da Ilvermorny é  Jean Jacques Leroy! — Anunciou em um tom alto e gritos e palmas de comemoração foram ouvidos. 

Jean ou JJ levantou da mesa da Lufa-Lufa, indo até a diretora e agradecendo com um aceno com a cabeça, ficando mais atrás dela e sorrindo convencido, o que causou um pouco de inveja em Yuri. JJ era tão confiante que parecia explodir em felicidade, sorria como se não tivesse nada a perder, todos estavam torcendo por ele. 

Novamente o cálice soltou os outros dois papeis e da Durmstrang não foi surpresa, Viktor Nikiforov enquanto da Beauxbatons foi Yurio Plisetsky. Parecia que Yurio já tinha um rivalidade com JJ, trocando um olhar na mesma intensidade como fez com Yuri, ficando mais alterado com o sorriso zombeteiro e provocador. 

— E o campeão de Hogwarts é — Esperou o cálice soltar o papel chamuscado e gritar o nome — Yuri Katsuki!  

Um bolo formou em sua garganta e seu olhar arregalou, seu corpo tinha travado e nem mesmo Yuuko ao seu lado parecia acreditar. Yuri mesmo não estava acreditando, era surreal demais para ser verdade. 

— Yuri Katsuki! — Mcgonagall repetiu novamente seu nome. 

Levantando de seu lugar, Yuri engoliu em seco ao andar até onde os outros três campeões estavam, nervoso e recebendo um olhar curioso, outro de zombaria e um carinhoso, esse que vinha Viktor.  

O famoso jogar de quadribol e da escola mais durona o encarava com afeição e carinho, sem a aparência militar dos outros alunos da Durmstrang, com cabelo brancos e sem o olhar competitivo, mas seu olhar parecia lhe mostrar que conhecia Yuri, mas ele não o conhecia, se o conhecesse, lembraria com toda certeza. Não seria difícil esquecer um grande ídolo como Viktor, não?