“Nem tudo que vemos é exatamente o que parece ser.
Basta darmos um pouquinho de corda para percebermos como tão grande é a falta de respeito e limite. Basta fecharmos os olhos para sentirmos o real sentimento existente em cada ser.”
Ana Figueiredo

Richard acordou às seis da manhã como de costume, lamentou a enorme dor de cabeça que sentia e ainda de olhos fechados fazia um enorme esforço para se lembrar da noite passada. Tudo era uma grande mancha em seu cérebro.

Virou-se para o lado e ao sentir uma presença em sua cama imediatamente abriu os olhos. ‘Kate!’ Ela estava deitada com um dos braços por baixo do travesseiro e seus cachos cor de mel esparramados sobre seu travesseiro. Ela dormia tranquilamente e ele a olhou por algum tempo, até que não resistiu e delicadamente tirou alguns fios de cabelo que estavam sobre o rosto dela. Passou a mão sobre sua bochecha e colocando a mecha de cabelo atrás da orelha dela fez um carinho com o polegar. Foi então que quase entrou em choque. Retirou a mão dos cabelos dela e levantando suavemente da cama para não acorda-lá foi até o banheiro.

“Droga! Não acredito que dormi com ela e não me lembro.” Ele resmungava baixinho. “Não pode ser. Desde Hamptons penso nisso e agora simplesmente não lembro.” Ele disse olhando para o espelho. Espantou-se com um curativo sobre a testa. Encarou seu próprio semblante que não era nada bom e decidiu tirar o adesivo. Ao puxa-lo viu um pequeno corte e em volta um tom arroxeado. Inclinou sobre a pia, pegando o sabonete lavou o rosto. Fez de tudo para se lembrar, mas não conseguia. Após escovar os dentes decidiu fazer café. Se algo poderia ajudar seria um bom e forte café. Passou pelo quarto sem fazer barulho, parando apenas para olhar para ela mais uma vez deitada sobre sua cama e seguiu para cozinha.

Viu uma garrafa de whisky vazia sobre a pia . “Agora tá explicado. Sou um idiota!” Ele disse jogando-a no lixo. Estava distraído fazendo uma omelete quando a ouviu.
“Richard Castle, cozinhando?!” Ela disse puxando os cabelos para cima fazendo um coque.
“Kate. Bom Dia! Achei que fosse gostar de um café.“
“Se me lembro, é uma especialidade sua.” Ela encostou sobre a bancada observando ele.
“Ah Sim! Uma ‘das’ eu diria.” Ele falou entregando a ela uma caneca.
“Nossa, esse café está ótimo!” 
“Kate?”
“Sim?”
Foram interrompidos ao toque do celular dele. “Sinto muito! É do exército preciso atender.” Ela apenas sorriu enquanto ele atendia a ligação.

“O que? Como assim não sabem?” Seu tom era áspero e parecia nervoso ao telefone. Kate terminou o café e como não queria ficar ouvindo a conversa foi até o andar de cima pegar suas coisas, precisava começar o dia também.
Depois de alguns minutos ela descia as escadas quando ouviu Castle do escritório praticamente gritando na ligação.
“Ninguém some assim tenente. O que você quer dizer com isso? Que seja quem for está aqui me procurando é isso? Que venha! Estou cansado de ver pessoas morrerem.”

Se aproximando da porta do escritório, podia ver ele com uma das mãos na cabeça, provavelmente com dor e pelo o tom da ligação as notícias não eram das melhores. Ele encerrando a ligação, praticamente jogou o celular na mesa. Kate precisava ir, mas não tinha ideia de como se despedir.
“Castle! Está tudo bem?” Ela disse encostada na porta.
“Kate! Me desculpe. Eu.. Estou bem!” Ele disse sem olhar para ela. E se tinha uma coisa que a detetive conseguia perceber era quando mentiam para ela.
“Eu posso designar proteção para você.”
“Não! Não preciso de proteção. Preciso encontrar o desgraçado e acabar com o circo que ele está formando.”
“Tudo bem, você quem sabe. Se continuar a omitir as coisas não poderei ajudar, você sabe disso né? De qualquer forma preciso ir. Sabe o número do distrito se precisar.” Beckett odiava o fato dele estar escondendo as coisas. Ela passara á noite cuidando dele e ainda assim ele não confiava nela. Já estava na porta quando o ouviu dizer.
“Kate! Espera. Obrigado!”
Ela apenas sorriu e saiu do loft. Já no carro indo para seu apartamento não entendia o por que de estar tão zangada. Claro ele estava omitindo fatos dela mas na verdade o que a estava deixando nervosa era ter ouvido que seja quem fosse realmente estava atrás dele. E Castle parecia ser assim como ela ou talvez mais teimoso.

Sua ida ao apartamento foi bem rápida. Tomou um banho, trocou de roupa, fez um lanche rápido  e correu para o 12°.
Ao chegar encontrou seus amigos e parceiros com semblante preocupados e olhando em direção à sala do capitão. Kate logo entendeu que algo estava acontecendo pois estava com as persianas abaixadas e isso era raro de acontecer.

Montgomery geralmente não escondia nada deles. E apesar de capitão a relação entre eles era boa, muitas vezes era o próprio capitão que a ajudava a passar pelas circunstâncias ruins da vida.
“Ei, o que acontecendo?” Ela perguntou a eles enquanto guardava a bolsa e coloca algumas pastas sobre sua mesa.
“Não sei. Mas deve ser sério. Estão ai desde que chegamos.” Ryan foi quem respondeu.
“Bom, temos um caso para solucionar. Alguma novidade? Lanie falou mais alguma coisa?” Kate nunca gostou muito de especulações. Então decidiu levar o foco de volta para o caso.
“Não. Disse que tinha achado algo estranho ao coletar uma amostra do sangue. Mas está esperando os resultados do laboratório.”
“Esposito você e o Ryan podem voltar ao prédio da cena do crime?”
“Claro Beckett! Só não entendo o porque. Os peritos passaram o pente fino lá. Tem algo de específico?”
“Eu não sei bem. Tenho a sensação de que algo está passando. Gostaria de ir mas, recebi uma ligação do programa de testemunha e precisarei me encontrar com um agente. Acho que é algo sobre a Rose.”
“Ok. Sem problemas. Ligamos se achar algo.” Ambos acenaram e mesmo que não entendessem, já tinham passado bastante tempo com a detetive e sempre que era dito ‘ tenho a sensação ‘ geralmente ela estava certa.

Enquanto observava os rapazes entrando no elevador, ouviu a porta da sala do capitão abrir. Saíram três homens fardados e com tantas medalhas em suas fardas que de longe notaria que eles são de alto patente. Estavam sérios e ela estava a bastante tempo no distrito para saber que uma visita dessas trazia grandes problemas geralmente burocráticos. 

“Beckett?” Montgomery disse da porta.
“Senhor?!”
“Pode vim até a minha sala por favor?”
Se levantou imediatamente. Observou o capitão entrar novamente em sua sala e se sentar. Entrou logo atrás dele.
“Feche a porta!” E ela o fez.
“Senhor, algo errado?”
“Kate. Viu os homens que saíram daqui? Trabalham diretamente para o Conselho Americano.”
“Senhor. Não entendo.”
“O caso Kate. Esse caso está além do que pensamos.”
“Sei.. Isso significa que o FBI ou a CIA vão  assumir?”
“Não. Geralmente é deixado com os ‘assuntos internos’ mas, a pedido de Castle ficará aqui conosco.
“Castle?”
“Sim. Parece que você o encantou.” Ele deu um sorriso malicioso.
“Senhor! Eu.. Eu não fiz nada. O senhor Castle é apenas um amigo.”
“Não importa Kate. Ele corre sérios perigos. E adivinha quem vai protege-lo?”
“Com todo respeito capitão. Não sou guarda costas.”
“Beckett.. o 12° está em baixa em relação às pesquisas. Um caso como esse pode nos trazer respeito e elevar nossa média. E além do mais, já dei minha palavra que você ficaria com ele.”
“Capitão!!! O que quer que eu faça? Me mude para sua casa e faça o jantar?”
“Kate. Me escute, sei que não gosta, mas ele confia em você. E você tanto como eu sabe que tem algo a mais nessa história. Só preciso que passe um tempo com ele.”
“Ok! Parece que não tenho muita escolha. Mas e as investigações? Trago ele para cá?”
“Não. Prefiro que ele fique em casa. Você pode investigar de lá. Já mandei uma viatura e eles ficaram de guarda do lado de fora.”
“Por que tenho a impressão de que não está me contando tudo? Isso é mesmo necessário?”
Ele não respondeu. Apenas lhe entregou uma pasta. Estava lacrada e escrito ‘ segurança interna dos EUA’
“Analise detetive. Mas seja discreta. Apenas você saberá dessas informações por enquanto. Não que não confie nos rapazes, mas, assim como você também cumpro ordens.”

Beckett se sentou e abriu a pasta. Nela continha imagens de cenas de crimes. Oficiais mortos e anotações sobre possíveis emboscadas e sequestros. Havia fotos de Castle mas não eram fotos comuns. Eram fotos de vigilância. Tinha fotos dele em campo, em Hamptons e uma dele com Alexis e Martha em Nova York.
“Senhor! Elas? Elas correm perigo?”
“Esperamos que não. Fui informado que seja quem for que esta por traz de tudo isso está atrás dele. Parece que Richard tem informações sobre a organização e querem o calar. O problema é que ele não fala para ninguém. Olhe pessoas de mais já foram mortas e não vou perder mais nenhuma. Não na minha cidade. Sei que ele é perfeitamente capaz de tomar conta de si mesmo. O problema é que não sei até onde ele iria, e sua função é essa. Sabemos como podemos ser quando estamos em situações de risco e não queremos que ele seja pego. Não é?”
“Não Senhor! Vou me encontrar com o agente do pograma de proteção e vou para a casa do Sr. Castle.”
“Deixa que eu cuido do agente vai para lá.”
“Senhor eu..”
“Kate!!”
“Ok.”
Ela disse pouco confortável devolvendo a pasta a ele. Quando estava saindo já na porta ouviu seu capitão chamar.
“Beckett?”
“Sim?”
“Não precisa cozinhar.” Ele disse sorrindo enquanto guardava os documentos.” Agora vai e me ligue caso precise de algo. Manterei informada sobre Rose, sei que é importante para você.”

Ela deu um sorriso balançando a cabeça e se retirou. Era bom em meio ao caso e os problemas poder contar com o bom humor do capitão. Passou em casa, pegou umas roupas e foi para o loft. Não gostava nenhum pouco da ideia, passar o dia e talvez dias com Castle. Primeiro que não gostava de ficar presa ao invés de investigar. E estar perto dele também não seria fácil, sentia-se atraída por ele desde as férias na praia. Chegando no endereco do capitão  não encontrou dificuldades para entrar no prédio, sua única dificuldade foi bater na porta.

Ficou parada encarando a sólida forma preta de madeira a sua frente. Levantou a mão uma, duas, três vezes e a mão sempre acabava nos cabelos colocando uma mecha atrás da orelha. Foi surpreendida quando sem avisar Castle abriu a porta.
“Kate!!”
“É.. oi. Parece que tenho que ficar por aqui.” Ela disse levantando a pequena mala que trouxe com ela.
“Ah é. Eu sinto muito! Disse que não era necessário mas, parece que não confiam em mim. “
“Burocracia Castle! Burocracia. Não gosto dessa ideia, mas se é necessário vamos fazer. Será que eu poderia entrar?”
“Nossa, me desculpe. Claro!” Ele deu uns passos para trás e abriu um pouco mais a porta para que ela pudesse passar. O cabelo dela ainda estava úmido e quando passou por ele foi inevitável sentir o aroma, cheiro que o deixou intrigado. ‘Circunstâncias erradas, droga!’ Era seus pensamentos desde as seis da manhã ao acordar. Fora o fato de não se lembrar da noite passada, ele não sabia bem como reagir. Não sabia se tinham estado juntos ou se tinham... O fato é que tinham acordado juntos e isso martelava sua cabeça.

“Então.. alguma novidade?” Kate perguntou um pouco sem graça no meio da sala.
“Não. Na verdade não. Quer dizer, falei com minha mãe e ela e Alexis estão bem. E passei a parte da manhã atendendo ligações chatas.”
“Ossos do ofício. Quem bom que Alexis está bem.”
“Pensei em pedir para elas voltarem. Só não sei se seria o melhor. Realmente não entendo como tudo isso chegou até aqui.” Ele disse caminhando em direção da cozinha. “Café?”
“Sim! Obrigada.”
“Vou fazer um pouco, nada como um café. Fique a vontade, se quiser colocar as coisas no quarto de hóspedes. Sinta se em casa.”

O clima era diferente. Ele estava diferente, parecia sério e claro tinha motivos, mas estava agindo estranho perto dela. Enquanto ela colocava as coisas no quarto decidiu sair dos saltos. Não havia motivos já que passaria o dia no loft. Trocou os belos saltos por uma confortável sapatilha e prendeu os cabelos. Descendo encontrou ele com duas canecas nas mãos.
“Estava indo levar o café para você.” Ele entregou a ela ainda enquanto descia os últimos degraus da escada.
“Obrigada!”
“Alguma novidade no distrito?”
“Não. Lanie está aguardando chegarem alguns resultados e pedi que os rapazes forem novamente ao prédio onde encontraram a vítima.”
“Odeio o fato de estar parado enquanto pessoas se machucam.”

Ele disse voltando e sentando no sofá. Colocou a caneca sobre a mesa de vidro que ficava na frente do sofá. E encostando sobre o encosto, tampou os olhos com as mãos. Kate observava quieta.

Também odiava se sentir presa mas, ele tinha perdido amigos, sua filha estava em fotos ameaçadoras e sua vida estava com um belo alvo pintado. Seguiu seus passos, colocou a caneca sobre a mesa, sentou se ao seu lado e segurando seu braço falou.
“Castle. Vamos pega-los. Vai ficar tudo bem!”

Ele endireitou-se, colocou a mão sobre a perna esquerda dela e olhando profundamente em seus olhos “Kate. Queria tanto estar em circunstâncias diferentes.”
Ela não se moveu. Não respondeu nada, apenas sorriu envergonhada abaixando a cabeça. Com a outra mão ele segurou seu rosto, alisando com o polegar sua bochecha. Havia uma troca de olhares intensa, como se pudessem se comunicar apenas assim, de olho para olho. Sentiram os corpos se aproximando, ambos podiam sentir próximo as respirações e os batimentos cardíacos acelerados.

Castle trocou para as costas dela a mão que estava antes sobre sua perna e aproximando os corpos ainda mais sentiu o doce e macio toque dos lábios de Kate nos seus. O beijo era suave, porém assim que ela passou os braços pelo pescoço dele fechando qualquer distância entre eles o beijo ganhou proporções maiores. Sabiam que não era o momento. Mas a tensão entre eles era inevitável. Ambos desejavam aquilo, poderia não ser a melhor das ideias, mas talvez fosse impossível parar agora.
Continua...