Se sentou ali mesmo, no centro do quarto com o chão de madeira escura, e fechou os olhos, com as pernas cruzadas e as mãos no colo ela se sentia plenamente confortável e pronta, já tinha feito várias vezes e não daria errado, ela era brilhante, brilhante como cada estrela e tão poderosa quanto cada letra, era bobo mas sempre se lembrava das palavras do pai antes de qualquer feitiço.

Respirou fundo, esvaziou sua mente e começou aos poucos, começou por si mesma sentindo cada músculo o ar gélido que pairava em sua casa, o coração se acalmando no peito, os cabelos agora soltos batendo no meio de suas costas, conseguia sentir cada ponto que a ligava ali e cada ponto que ela gostaria de desligar, e então expandiu seu pensamento olhando sua casa do lado de fora, era pequena, um quadrado em cima do outro com um telhado em forma de campanula ao contrario, tinha uma cor rosada e ela conhecia o lugar há tempo suficiente para descrever as rachaduras na parede, e assim como sentia-se no mundo, sentia também sua casa, e como se a desligasse dali, entoou o feitiço.

“Assim como aparece, tende a desaparecer, assim como eu faço, posso desfazer, o que quero que você veja pode não ser real, que meu pedido seja concedido, pois a ti sou leal”.

E permaneceu assim, concentrada, enquanto via a imagem e a energia do lugar onde crescera desbotar e sumir no espaço vazio em sua mente, na realidade sabia que não havia necessidade nenhuma de entoar os feitiços, mas quando não se tem nada para pensar e com quem conversar, pensar que tinha alguém escutando seus feitiços todos os dias era um certo tipo de conforto, além do que sempre ajudava a se concentrar, e mal não faria.

Escutou, e viu, quando a patrulha passou, na verdade não via suas verdadeiras formas apenas o contorno de três Elementistas com o dobro do tamanho dela, mas os sentia, sentia seus poderes e sabia que na verdade eles não usavam os mais poderosos para patrulha, eram como os capangas deles e isso a enojava porque sabia que com certeza eles usavam a classe mais baixa para isso, e ela sabia que era a sua.

Assim que eles passaram e já estavam em uma distancia segura ela respirou fundo novamente, embora fosse um feitiço considerado simples, para ela que nunca praticava esse tipo de coisa e por ser o que era, se tornava uma categoria difícil, se sentia pesada e como se o ar em volta dela comprimisse seu peito.

“Que todo feitiço possa ser desfeito, de leais ou desleais, que eu não me cegue diante destes e possa quebrar o inquebrável.”

E do vazio que observava que antes estava sua casa começou a se concentrar, e se concentrou apenas em sentir, sentir o feitiço que a rodeava, o feitiço que ela colocara ali e espanta-lo aos poucos, como se uma névoa cobrisse algo que ela queria ver e ela estivesse lentamente como um vento brando dissipando-a enquanto a mente voltava a ser equilíbrio, e não um turbilhão de vibrações. Gostava da parte em que pequenos fragmentos de luz pareciam estar por toda parte e iam se afastando conforme ela ia voltando tudo ao normal, como se magia realmente existisse e estivesse sendo fragmentada e voltasse ao seu lugar de origem, sabe sê-la onde. Então abriu os olhos, afastando os pensamentos.