Bohémienne escrita por Ananda Ayira


Capítulo 21
Lune, qui là-haut s'allume


Notas iniciais do capítulo

Tradução: "Lua, que no alto se ilumina"
Trecho da música que me fez escrever tudo isso: https://www.youtube.com/watch?v=sLN-BLgjKII

ÚLTIMO CAPÍTULO!!!! Gente, eu nem sei como agradecer todos que leram até aqui... Que não desistiram quando eu entrei em hiatus, eu amo todos vocês de verdade. É a primeira fic que eu concluo. E eu vou deixar todo meu coração aqui...

Boa leitura!



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Prison de La Santé, Île de La Cité, noite do dia 04 de agosto de 1499...

Trancafiada novamente, Hélène desesperara-se. Quando os padres a encontraram empunhando uma faca contra René que sangrava e cujo sangue estava espalhado sobre o altar com a cruz invertida e a Pietá ocultada. Não haviam dúvidas de que a feiticeira cigana voltara para vingar-se da Igreja, começando pelo padre que estava presente em sua condenação.

Os padres negaram a Lei do Asilo a alguém que profanara o santuário de tal maneira a ferir um membro do corpo eclesiástico. E eles mesmos a amarram ao altar, enquanto o vigário fora chamar os guardas do rei que faziam ronda pelas ruas em torno da catedral.

Ela gritou o tempo todo. Mas isso só os fez ficarem com mais medo, enquanto tratavam o ferimento de René. Eles rezavam por ela, pediam que seu Deus lhe desse a paz, que retirasse o demônio de dentro de sua alma. Mas ela gritava, com medo.

Medo do que realmente aconteceu depois. Os guardas chegaram e a arrastaram de volta até La Santé, distribuindo-lhe violência gratuita até atirarem-na na cela fria. Hélène escorou-se na parede, onde havia uma pequena janela e desabou a chorar. Com o rosto sobre os joelhos, só conseguia pensar que dessa vez Peter não a salvaria. Ele não sabia onde ela estava, ele ficara na Terra do Nunca. Os ciganos, achavam que era lá onde ela estava. Só ficariam sabendo quando vissem o cortejo e, então, já seria o fim.

Pensou, por fim, em seu pai. Lembrou-se de todas as vezes que ele a via triste. Ele sempre começava a falar da Lua. Que aquele corpo celeste e brilhante era, de alguma forma, sua madrinha. Peter afirmou que o poder da Luz da Lua estava sobre ela. Aquela fonte de luz que, de certa forma, parecia ter uma vida própria. Pois cada dia ela brilhava diferente, mas sempre sobre todos os seres. Sem distinção sobre eles.

Foi quando ela se lembrou de um poema, um verso que seu pai cantava frequentemente para niná-la. Tentando afastar de si os pensamentos de terminar na ponta da corda. Tentou lembrar-se do ritmo da canção.

Lune... — Era óbvio que começava invocando a Lua. Mas como era o resto, ela não se lembrava.

Lune, qui là-haut s’allume... — Foi falando, ainda sem lembrar o ritmo para cantar. – Sur les toits de Paris...

— Vois comme um homme peut souffrir d’amour... — Ela sorriu, entre as lágrimas. Imaginando o rosto de seu pai sobre ela, cantando perto de seu rosto enquanto ela adormecia. – Bel, astre solitaire qui meurt quand revient le jour...

Entends monter vers toi le chant de la terre... — Declamava ela. – Entends le cri...

Pensar em seu pai fez-lhe verter mais lágrimas. Será que o reencontraria no Além, se este existia?

D’um homme qui a mal pour qui um million d’étoiles ne valent pas les yéux de celle... — Nesta parte ele sempre lhe beijava os olhos antes de ela cair no sono. – Qu’il aime d’um amour mortel... Lune...

Ela sabia que aquele verso não era feito para ela, mas sabia que ela tomara o lugar da antiga dor, trazendo alegria aos dias de seu pai. Ele fazia questão de dizer-lhe todos os dias como ela era sua ”Lune”, que iluminava suas noites sombrias e que o inspirava.

Hélène se levantou e esticou-se até alcançar a janela, por onde entravam raios de luar. E olhou diretamente para a Lua.

— Lua, tu que do alto ilumina todos os seres, que reina soberana na noite e que, debaixo da Tua Luz me acolheu. – Suspirou. Não fazia ideia do que estava fazendo, se era real aquele poder dado ao astro. Todavia, ela estava desesperada. – Não desampare minha alma quando a hora chegar. Não permita que Peter, ou Clopin, ou qualquer sofra a perda da minha vida. Que eles possam sempre levar-me com eles...

Hélène, enxugou as próprias lágrimas. Mas logo voltou a derramá-las. Continuou chorando por toda a madrugada. Até o amanhecer, quando soldados vieram abrir-lhe cela.

Catedral de Notre-Dame de Paris, amanhecer do dia 05 de agosto de 1499...

René acordou em sua cela. Tinha relapsos de memórias do que acontecera na noite anterior. Sua cabeça rodou ao tentar levantá-la e foi impedido pela mão de Padre Sebastian que estava sentado ao seu lado.

— Fique deitado, meu amigo. – Disse ele. – Aquela bruxa o feriu, mas não conseguiu atingir seu propósito, seja ele qual fosse. Deus seja louvado!

— O que aconteceu? – Perguntou René.

— Você desmaiou pouco depois que pegamos a cigana e amarramos ao pé do altar enquanto a guarda chegava. Ela tinha lhe feito um corte no pulso, já foi estancado, mas é melhor não fazer nenhum esforço com as mãos nos próximos dias. – Contou Sebastian.

Seu pulso esquerdo ardeu debaixo da bandagem e tudo voltou a ele. A cigana aparecera quando ele clamou pelo demônio que Claude Frollo descrevera: a criatura negra como o céu e com olhos de estrelas. Aquele demônio realmente trouxera Hélène para ele. Se os padres não o tivessem impedido de terminar seu ritual, àquela hora já estaria longe com a cigana.

— Até que a pele feche novamente, virei aqui trocar a bandagem todos os dias. – Disse o homem, com semblante bondoso.

O pároco pegou sua mão e abriu a bandagem, as faixas estavam vermelhas onde estavam tocando a ferida coagulada. Sebastian colocou as folhas cânfora na ferida de René e as amarrou de volta.

— Eu, se fosse você, ficava na cama hoje. – Disse ele, levantando-se. – E rezaria. Pela alma daquela pobre cigana.

— Por que diz isso? – Indagou René.

— Por que ela será enforcada na Place de Gréve. Foi pega em flagrante ato de bruxaria. E ela já tinha a condenação anterior por assassinato. Inclusive... - Sebastian fez uma pausa, escutando atentamente.

Com o silêncio absoluto, ouviu-se os gritos da multidão que acompanhava o cortejo da bruxa. E os berros da acusada. René, prontamente levantou-se e foi até a janela, ao ouvi-los.

Da janela, viu. A menina dentro da carroça, em camisa, pés descalços e corda no pescoço. Ela chorava, muito. A ponto de seus olhos azuis estarem inchados e vermelhos. A multidão gritava: “À forca com a bruxa!”, “Morte à condenada!”, “Enforquem-na!”.

— Pobrezinha, sabe-se lá qual demônio estava em seu corpo para que ela fizesse coisas tão horríveis... – Concluiu o padre. - Eu vou voltar mais tarde para ver como você está. Fique em paz, meu irmão... – Disse o padre tocando o ombro de René antes de sair.

 Assim que a porta se fechou atrás de Sebastian, o rapaz pegou debaixo do colchão o lenço que ela deixou cair na catedral, no dia em que a viu pela primeira vez.

Fechou os olhos e imaginava-a em seus braços, sonhava com seus beijos e seus carinhos. Seu sorriso e seu cheiro, apenas para ele. Agora ela estava para ser morta, executada. E não havia o que ele pudesse fazer para salvá-la... Ou havia?

Inalou mais uma vez o cheiro do corpo dela, preso àquele pedaço de pano leve. Ele lembrou-se dela com ele sobre os cabelos, chorando diante da imagem de Nossa Senhora de Paris. Um anjo. Um verdadeiro anjo. Do inferno. Mas, indiferentemente, um anjo.

Lúcifer o ouvira quando pediu pela presença da cigana. Certamente, ele ouviria novamente se ele clamasse pela vida dela. Mesmo que isso custasse a sua própria, havia como dar certo. E seu amor viveria!

Ele despiu-se da batina, com dificuldade por causa do ferimento na mão. Atormentado com os gritos que vinham da praça. Não encontrou em sua cela nenhuma outra faca ou lâmina nas coisas de Frollo. Estilhaçou um frasco que continha ossos de um animal e tomou um dos cacos, cuja extremidade formara uma ponta afiada.

Ele retirou a bandagem com a cânfora que padre Sebastian tinha feito em seu pulso esquerdo. A ferida recém coagulada, ainda estava aberta e ainda havia sangue seco sobre ela. René raspou-o e reabriu a ferida com um movimento do fragmento de vidro.

O sangue escorreu e pingou ao chão. Mas René continuou e fez um corte na mesma direção, horizontal, em sua mão direita. O rapaz segurou a respiração para não demonstrar dor. E ele rezava ao demônio em seu íntimo.

Pedindo a Lúcifer que poupasse a cigana em troca de seu sangue.

— Lúcifer, aceita meu sangue em troca do daquela que lhe serve. Eu o servirei, por ela. – Clamava, sussurrando.

— Lúcifer, escuta minha prece. Escuta meu clamor. – Pedia ele.

René virou-se de volta para a ferida que estava aberta em seu pulso esquerdo e junto à ferida que cortava seu pulso na horizontal abriu outra. Na vertical, mais longa, formando uma cruz que ficaria invertida quando ele descesse os braços. E fez o mesmo no braço direito.

— Oh, Lúcifer, permite-me ao menos uma vez com todas as forças que carrego e que te entrego agora amar Hélène! – René caiu de joelhos enquanto implorava.

Sentiu seu coração acelerar-se e sorriu.

— Lúcifer! Entrega-me ao meu amor pela sua serva! – Orava ele.

O sangue que escorria de suas mãos foi caindo ao chão, manchando xale da menina em suas mãos. E René sentia suas extremidades esfriarem. Por fim, ele caiu na poça do próprio sangue que já manchava da janela até a escrivaninha. Sentindo seu corpo pesar contra o chão. O sangue não parava de escorrer das cruzes cortadas em seus pulsos. Respirando cada vez mais pesadamente e aceleradamente, ele ria e sorria de um jeito que não era mais humano. Rezando à Lúcifer que lhe entregasse Hélène e que ela fosse salva e que os dois se tornariam servos do demônio se fossem salvos por ele e pudessem viver juntos. Bem longe de Notre-Dame. Até que suas vistas escurecessem e seus olhos se fechassem. Por fim.

Pátio dos milagres, amanhecer do dia 05 de agosto de 1499...

Peter apareceu da névoa dentro da cabana de Clopin. Onde lhe esperavam, o rei dos ciganos, Rosalie, Aimée e Gahel. Que haviam passado toda a noite pelas ruas de Paris a procura de Hélène, assim como ele.

— Alguma sorte? – Perguntou ele, olhando-os. Embora, Hélène não estava com eles.

— A mesma que a sua. – Respondeu Gahel.

— Como você pode perde-la? – Questionou Clopin, ainda irado com o que acontecera. Aproximou-se, mais de Peter. – O que você fez para que ela fugisse de você?

— Nada. – Mentiu, Peter. – Estávamos bem na Terra do Nunca! A Sombra a trouxe para cá, sem me avisar. E agora sabe se lá onde ela está e onde ele a deixou.

— Você não sabe dizer onde está sua própria sombra? – Indagou Gahel, incrédulo e irritado com o gadjê.

— Não é minha sombra. É a Sombra. É uma criatura por si só, já existia antes de eu sequer sonhar. – Explicou Peter.

Trés bien. — Interrompeu Rosalie. – Isso não vai fazer diferença agora, já está amanhecendo e não fazemos ideia de onde Hélène está, a Maldição não está sob o controle de ninguém. Exceto ela mesma, que não faz ideia de como controlar o poder que tem. Ela pode estar correndo grande perigo...

— Nós já sabemos disso, Rosa. – Emendou Clopin. – Esta Sombra, esta criatura, seja lá qual foi a intenção dela ao afastar a Hélène do Peter a deixou em algum lugar. Nós só não sabemos onde...

Clopin desmoronou, sentando-se numa cadeira, passou as mãos ornadas de anéis de latão no rosto exausto, respirando profundamente. Ele já vivera aquela situação antes, já estava velho demais para passar por tudo aquilo de novo.

— Como você sabe que a Sombra a trouxe para cá, Peter? – Perguntou Aimée.

— É onde ela diria para a Sombra trazê-la. Hélène não conhece outros mundos. – Respondeu ele. – E duvido que ela pediria para que a deixasse num mundo desconhecido, sozinha. Ela iria querer voltar para vocês.

Aimée, pensou na amiga procurando-a por Paris. As duas se procurando. Por que não se encontraram? A cigana passara toda a noite pelas ruas e vielas mais escuras e perigosas, junto de Gahel. Procurando Hélène.

— Procuramos por toda a Île de La Cité, lá ela não estava. Nem em La Pomme D’Eve, nem na praça da catedral, corremos por todas as ruas. – Disse Aimée, com pesar.

— Eu e Clopin fomos por toda a Ville. Avisamos todos os irmãos do Pátio dos Milagres, todas as moças do Le Val D’Amour que conhecemos, todos que nos conhecem e que conhecem Hélène. Se alguém a ver, nos avisará. – Suspirou Rosalie.

A cigana que estava sentada ao lado de Clopin, levantou-se e pôs a mão sobre o ombro do cigano. Ela parecia ter aceitado o destino e o fim.

— Fizemos tudo que podíamos. – Declarou ela. – É melhor descansarmos. Se alguém tiver notícias, nós saberemos.

Rosalie ia saindo da cabana. Aimée e Gahel foram atrás dela. Deixando para trás Clopin esgotado e sentado com as mãos no rosto. O cigano orou a todos os seus deuses e cada elemento e ser da terra e do céu que chegasse logo uma notícia do paradeiro de Hélène.

Porém, quando a cigana empurrou o tecido para sair da tenda, uma das filles de joie com quem haviam falado na madrugada saltou para trás. E ao reencontrá-la, a abraçou.

— Rosalie! – Exclamou ela. Logo em seguida, desviou da cigana e foi diretamente falar com o homem que permanecia sentado com semblante abalado. – Clopin. Eu trago notícias é sobre a menina condenada por bruxaria que vocês estavam procurando...

— Diga logo, então, Angeline! – Apressou-se Clopin se levantando. – Que notícia é essa?!

Todos voltaram-se para a mulher. Ela tinha cabelos loiros mal presos e bagunçados, as roupas descompostas e cheirava a perfume forte e vinho. Mas não tinha um semblante otimista, de fato, ela parecia assustada e triste.

— Ela está sendo levada para a Place de Gréve, agora mesmo. Com a corda no pescoço... – Disse ela.

Clopin, sentiu um peso em seu peito. E seus olhos se encheram de medo e angústia. De novo, não!

Os outros se encheram de temor por Hélène. Aimée, não sabia o que pensar. Sua melhor amiga estava a cominho da execução. Gahel não sabia consolar Aimée que apertou sua mão com tanta força, por estar assustada que chegou a doer.

— Você tem certeza disso, Angeline? – Questioneu Rosalie, pegando no braço da mulher.

— Tenho. Eu vi o cortejo passar, devem estar perto da catedral agora! – Exclamou ela.

— Então, não temos tempo. – Afirmou Rosalie.

Todos se entreolharam e saíram em disparada pelo Pátio dos Milagres tomando o rumo das ruas até a catedral de Notre-Dame.

Place de Gréve, manhã do dia 05 de agosto de 1499...

Quando eles chegaram à praça, os soldados tocavam os tambores. Era difícil ver acima da multidão, mas o carrasco subia o cadafalso e atrás dele havia uma menina de camisa branca, descalça e corda no pescoço. Os inconfundíveis cabelos alaranjados de Hélène delataram-na.

Todos avançaram na direção da multidão que estava ao pé do palanque, onde se erguia a forca, onde estavam de pé o promotor, a acusada e o carrasco. Ela tentava não olhar para as pessoas, olhava para cima e para os lados. Tentando conter as lágrimas, não iria chorar diante daqueles que a condenavam.

Quando ela conseguiu distinguir entre os gritos de acusação e de ódio os gritos pelo seu nome e por sua vida, ela olhou para baixo. No fim da multidão, lutando para chegarem perto do cadafalso estavam seus amigos, seu padrinho, sua mentora e seu marido, por mais que ele não tivesse sido honesto para com ele, ele estava ali. Eram o suficiente para que ela derramasse lágrimas.

— Hoje, no dia de Nosso Senhor, o quinto do mês de agosto do ano de 1499. – Declarava o promotor à gritos para ser ouvido pela multidão que se regozijava com a execução. – esta mulher é acusada de viver ilegalmente nessa cidade. Além dos crimes de assassinato, fuga da prisão e de bruxaria, no qual foi pega em flagrante na noite passada empunhando uma lâmina contra um padre dentro da própria catedral de Notre-Dame...

A multidão gritava, pedindo pela morte dela.

— Por estes crimes, a réu foi julgada... 

Os tambores rufaram.

— Culpada. Portanto, a sentença é a morte!

A multidão exclamou e vibrou em uníssono, vendo o carrasco cobrir o rosto de Hélène que chorava silenciosamente com um pano preto e ajeitar a corda no pescoço da menina. Enquanto Rosalie, verteu lágrimas e caiu de joelhos no chão com as mãos nos lábios. Aimée, levou as mãos aos olhos e virou o rosto encostando-se em Gahel enquanto soluçava como uma criança.

No meio da multidão, Clopin gritava a plenos pulmões pela amada afilhada e protegida. Ele que arriscara tanto pela segurança dela, que jurara não falhar novamente na mesma missão de proteger a quem ele amava. Via tudo se desfazer diante de seus olhos. Pela segunda vez.

Ele puxou Peter e ordenou:

— Congele todos! Exceto nós. – Gritou ele.

No momento em que o carrasco empurrou a alavanca e o chão cedeu sob os pés de Hélène tudo parou.

Os dois abriram caminho no meio da multidão até estarem ao pé do cadafalso. Porém, estavam um segundo atrasados. A menina já estava na ponta da corda. O pano preto caíra de seu rosto e pairava no ar. Seu pescoço, claramente quebrado estava pendido para baixo e seus olhos fechados. Para sempre

— Não! – Gritou Clopin. – Não. De novo, não.

O homem caiu de joelhos. Chorando. Ele olhou e viu Esmeralda, viu Gringoire. Todos os que ele perdera para a corda da forca. Seu coração se partiu e o rei dos ciganos soltou um grito que ecoou em toda a Paris.

Peter olhou bem para Hélène. A camisa branca suja, os olhos fechados, os cabelos sobre a face. Ele tentou alcança-la, mas a corda a suspendia acima. Ela não respirava. Estava, de fato, morta.

Fez um gesto com a mão para que a corda se rompesse o que a fez cair, ela não ficaria mais morta se caísse no chão. Mas Peter amparou o corpo da esposa, segurando-o nos braços. Deitou-a em seu colo, em seus braços.

Clopin veio perto e acariciou o rosto da afilhada, ele ainda chorava muito. Mal conseguia vê-la entre suas lágrimas.

Peter debruçou-se sobre ela. Sentiria falta de sua companheira, teria sido bom tê-la a seu lado pela eternidade. Ele conseguiu chorar por ela, embora não a amasse. Talvez poderia tê-la amado um dia, com mais tempo, em outro lugar.

Agora ela estava morta em seus braços e nem mesmo seu poder, sua maldição ou bênção dada pela Lua, fora salvo.

No momento em que Peter pensou isso, percebeu que a pele de Hélène formigava sob a sua. E luz emanava dela.

— Clopin! – Chamou o rapaz. – Olhe...

A luz brilhou cada vez mais forte até que em um clarão branco dissipasse toda a matéria do corpo de Hélène sobre os braços de Peter. A luz se diminuiu, até ficar do tamanho de um objeto. E conforme o clarão se esvanecia formava um contorno familiar.

Quando o objeto caiu sobre o colo de Peter, era uma flauta de caniços. O rapaz não compreendeu de imediato, até tocar no instrumento e sentir algo muito forte nele. Dentro dele. Havia uma alma. Magia muito forte.

Clopin, riu. E Peter fitou-o.

— A Lua não morre. Muda de forma e mantém o poder de enfeitiçar os corações de quem a escuta durante a noite.


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Notas finais do capítulo

Vocês realmente acham que acabou??? É CLARO QUE VAI TER EPÍLOGO, SEUS DOIDO!!
Eu já volto pra vocês ♥ :*
Muito obrigada de todo o meu coração trevoso e esquisito por você existirem (vocês existem, né? Deixem comentários se vocês existem! o/)

Beijos de nutella ♥ Até breve, mes amours :*



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