Bohémienne escrita por Ananda Ayira


Capítulo 11
Deux squelettes enlacés


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi bebês! Demorei sim, me perdoem... A depressão me atacou com uma voadora de dois pés, daí eu fiquei no chão pra chorar um pouquinho heheheh... Mas já tô de volta e tô de férias, o que significa que terão mais caps (ou que, pelo menos, vou tentar!)
Tradução do título: "Dois esqueletos entrelaçados", trechinho de 'Danse Mon Esmeralda'. Link da música mais destruidora de forninho que você respeita: https://www.youtube.com/watch?v=wwQ0ubvVhSY (se quiserem ouvir)
E, dedico esse cap pra todo mundo que favoritou a história: Connor Hawke, Uma Garota Qualquer, Jubycake17, ThaIspetacular (amei seu nome! kkkkk), Louise Lamartine Beaumont, Jin, snowz, Emma Swan e Arrriba ♥ Amo muito todos vocês! Fazem-me sentir que estou fazendo o certo, embora alguns não sejam de comentar, saber que estão aí já dá um up na minha auto estima de escritora! Muito obrigada! (mas se quiserem comentar, viu? Eu não mordo, não!)
Sem mais delongas, boa leitura!!



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Seguir uma cigana pelas ruas de Paris não era nada fácil. Peter logo percebeu isso. Rosalie, apesar de adulta, era ágil e rápida como se ainda fosse uma menina. E a cidade tornava-se mais movimentada a cada esquina. A grande praça do Adro estava uma confusão, a orbitar ao redor dos párias.

Rosalie se apressou em cruzar a multidão, e chegar ao centro dos festejos. Desviando das danças e dos cantos ao centro da roda, Peter olhou-a do meio dos pagãos, ir inclinar-se ao ombro de Clopin para falar-lhe.

Instantaneamente, o riso do Rei dos Ciganos se esvaiu. Ele esticou-se para ver ao redor, à procura de alguém. À procura de Luce. Sua expressão tornou-se furiosa quando viu Peter em meio à multidão. Quando ele ia tomar um impulso, para ir até o rapaz, Rosalie pôs-se à frente. E, novamente, falou-lhe ao ouvido. Clopin não se acalmou, porém recuou. Ainda esbravejando e retrucando o que a mulher lhe falava.

Depois de muito discutirem, por fim. Clopin tomou o xale dos ombros de Rosalie e murmurou algo sobre ele com a mão estendida. Peter reconhecia aquilo. Magia.

Ele restituiu o xale à Rosalie, porém ela o segurou nas mãos e veio correndo na direção de Peter.

— Encontre Luce. Assim que o fizer, coloque isso sobre ela.  – Ela disse ainda há alguns passos de distância, tendo que erguer a voz para ser ouvida. Mas entregando o xale ao rapaz. – Ela vai dormir. Leve-a para o Pátio dos Milagres. E não tire isso de cima dela até voltarmos, ela vai continuar dormindo.

A cigana puxou de Peter as munhequeiras de couro que prendiam seus pulsos.

— Tem permissão para usar sua magia. Mas tenha cautela! Não pode ser visto. – Avisou ela. – Temos que fazer tudo para salvá-la. Agora, vá!

Peter foi empurrado na direção da multidão. Levar alguns tropeços fazia parte de lutar contra a maré de pessoas. Peter finalmente sentia novamente, sua magia correr por suas mãos, contida, após Clopin tomar conhecimento de sua trapaça, e coçando por desprender-se de seus dedos.

Rosalie não insistiu no porquê do interesse do rapaz em Luce. Talvez tivesse lido e já soubesse, mas era indiferente. O que importava era, se ele tinha um interesse sobre ela, que fosse o bastante para dá-la proteção do destino que desavisadamente infligira.

A multidão diminuía perto da catedral. Como se os parisienses tentassem esconder a festa pagã dos olhos dos santos incrustados nas paredes da igreja. Instintivamente, Peter se dirigiu a lateral da igreja.

O portal não era menos diferente dos demais, embora fosse o menor deles era tão decorado quanto. Parecia providência de algo maior que, naquele exato momento, Luce corria para fora do pórtico, com os olhos assustados e ainda vermelhos de lágrimas.

— Peter! – Ela exclamou, assim que o viu.

Enquanto ela corria até ele, Peter conseguiu ver seus olhos. A luz prateada. Brilhava tão fortemente que viu antes, mesmo, de ela pendurar-se em seu pescoço.

Luce não pensou no que fez, quando o abraçou, apenas ainda estava com medo. Medo da lembrança que quase lembrara ao olhar a imagem da Santa e da maneira com que o rapaz, recém padre, olhara para ela.

— Peter, você veio. – Disse aliviada.

— Luce, o que estava fazendo aí? – Interrogou ele.

Ela desvencilhou-se de seus braços, olhando para ele. Porém, ele fitou o chão ao invés de seus olhos.

— Você estava certa. Há coisas que Clopin e Rosalie escondem de você. – Disse.

— O que você descobriu? – Ela perguntou. – Não me esconda nada, você também.

— Eu vou te explicar tudo. Mas...

— Mas?! – Irrompeu Luce com desdém.

— Preciso de mais tempo. Jamais esconderei nada de você. – Olhou de relance para sua expressão firme, descontente.

— Eu prometo. 

Apressado em desviar dos olhos de Luce, selou a promessa com os lábios sobre os dela. Ela retribuiu, aceitando a promessa, com a mão sobre sua nuca.

Enquanto permaneciam unidos, Peter estendeu o xale, às costas de Luce. Quando a lã tocou seus ombros, seu corpo imediatamente cedeu.

Segurando-a, antes que se estatelasse no chão, prestou atenção para ver se ela respirava. Estava mesmo dormindo. Ainda bem que, com a Festa dos Loucos, as ruas em redor da catedral estavam desertas. Porque Peter, com Luce nos braços, fez-se desaparecer em meio a uma nuvem de fumaça.

 

Paris, 1495...

— Papai, está me puxando por essas vielas há horas. O que houve? – Indagou Hélène.

Ela completara quatorze primaveras naquele mês de agosto. Mas apegara-se aos traços meigos de seu rosto, não permitindo que os anos os levassem.

— Eu espero que ainda me lembre do caminho. Sabe, eu não vinha aqui, exatamente, por vontade própria. – Falou o homem, puxando a filha pela mão. – Parecia que tropeçar era o que me trazia aqui.

— Tropeçar numa barra de saia, o senhor quer dizer? – Riu ela. O pai lhe contara suas histórias de jovem e poeta pelas ruas de Paris. E ela não pôde deixar de rir delas.

— Ma demoiselle, me respeite que não tolero que zombe de minha juventude. – Falou-lhe.

Mas Hélène continuou a rir enquanto atravessavam mais algumas ruas. Parando somente aos pés das antigas muralhas de Paris. Onde encurralavam-se os vândalos.

Era a primeira vez que Gringoire trazia Hélène à boca do inferno parisiense. De onde saiam todos os demônios das ruas. Diabos, os quais não necessitavam temer.

— Gringoire! – Exclamou uma voz altiva dentre os desvalidos.

— Clopin, eu trouxe Hélène comigo! Espero que não se importe. – Respondeu o homem, quando um cigano aproximou-se deles.

— Jamais me incomodaria de tão brilhante beleza visitar o lado escuro de Paris. – Falou o boêmio. Beijando a mão da menina.

Hélène sorriu e corou. Pouquíssimas vezes seu pai apresentava-lhe à algum amigo. Ainda mais porque poucos amigos lhe restavam e iam diminuindo com o passar dos anos.

— Hélène, este é Clopin Trouillefou. Rei dos ciganos de Paris, um velho amigo – Riu Gringoire, antes de tomar rumos sérios. – e seu padrinho.

— É um prazer finalmente conhece-la, menina. Nunca deixei de ter notícias suas. – Falou Clopin.

— O prazer é meu. – Respondeu, um pouco desconcertada.

— Perdoe, minha filha, nunca tê-lo apresentado à você. Mas, eu queria esperar que crescesse um pouco, para compreender que o Pátio dos Milagres não é nenhum inferno. Ou que nem todos aqui são cães. – Disse Gringoire, pondo a mão sobre o ombro de Hélène.

— Está tudo bem, papa. – Falou ela, olhando nos olhos do pai.

Passar um dia no Pátio dos Milagres, como presente de seu padrinho, acabou sendo mais divertido do que Hélène pretendera naquele dia. Acabou conhecendo não apenas seu, recém descoberto, padrinho. Mas uma mulher, formosa bailarina, que insistiu que se juntasse à sua aprendiz, da mesma idade de Hélène, e aprendesse alguns trejeitos de dançarina.

A tarde terminou como o fim de uma música. Porém, o som de tambores ao longe iniciou. Não uma música, mas um sinal de alerta. Cavaleiros, armados com ferro até as botas, adentraram o refúgio dos párias. Alguns roubavam pertences, outros pessoas que relutavam em entregar suas posses.

Clopin correu junto de Hélène, a cigana e a outra menina. Um dos homens vinha exatamente em sua direção. E Gringoire, logo correu junto deles. Entrepondo-se entre o soldado e os seus.

— Não vai levar nenhum deles! – Bradou o poeta.

— Ah, mas eu só queria uma dessas meninas! – Riu o soldado. – A branquinha é de meu gosto.

Gringoire, gritou enraivecido pelo comentário dirigido à sua filha. Tirou uma faca, de algum lugar de seu casaco, e cravou no pescoço do homem. Hélène gritou ao ver o pai agir com tamanha brutalidade. Suas mãos sempre as vira sujas de tinta. Nunca de sangue.

E bastou o instante em que pai fitou a filha, sentindo-se triunfante por tê-la protegido com suas próprias mãos, para que um dos cavaleiros passasse rindo sadicamente da situação e arrebatasse Gringoire dali.

E, impensadamente, a menina precipitou-se a correr atrás do cavaleiro. E Clopin a correr atrás da menina. Gritando:

— Pai! Não! – Já chorando.

— Hélène! – Ele gritava de volta.

— Gringoire! – Gritava o cigano.

— Clopin! – Berrava o poeta. – Guarde Hélène!

A menina sentiu as pernas fraquejarem. E deixou-se cair nos ombros do cigano, ainda gritando o pai e soluçando de dor, por perder tanto, tão rápido.  

 

 Paris, 1499...

Ao cair da noite, a profana procissão de ciganos e vadios tomou novamente o rumo entre as casas dos burgueses de Paris. Andando ou nas caravanas, cansado do dia farto de trabalhos, mas não de dinheiro. Pois, embora a Festa dos Loucos fosse o dia que tinham mais sucesso nas praças, nem de longe diminuíam sua miséria.

— Clopin. - Rosalie chamou o cigano de volta de seus pensamentos. – Sabe, não podemos deixa-la dormindo para sempre.

— Eu sei, Rosa. – Resmungou ele. – Eu preciso achar uma saída ainda.

Por bem, o caminho até o Pátio dos Milagres era demorava até que passassem da Île de La Cité para a Ville. E, logo o cortejo pagão precisou parar para acender suas candeias e voltar a andar pelas vielas escuras.

— Não encontro uma luz do que podemos fazer, Rosa. – Disse ele. Enquanto ela o estudava acender o lampião.

— Como fez para proteger Esmeralda por todos aqueles anos?

— Já lhe disse para não falar dela. – Ele falou com frieza. Embora, em seu peito, mil desesperos corriam soltos.

Mas, de certo, o pensamento de Rosalie lhe acendeu uma luz. Desde que protegesse Luce de destruir-se, eram a melhor chance. Talvez a única chance da garota.

Clopin apanhou o lampião e virou, numa rua que caravana não passava.

— Aonde vai? – Bradou Rosalie. Antes que ele se distanciasse.

— Vou a Montfaucon. – Falou erguendo a luz e virando-se para a cigana. Enquanto seu povo continuava o caminho.

Ela titubeou, mas desistiu de desmotiva-lo. Apenas apanhou um lenço na sacola de couro que trazia seus bálsamos e perfumes para tentar vende-los e virou um dos frascos sobre o tecido.

— Leve isso, então. Já vai àquele lugar fétido. E leve contigo este amuleto. – Disse ela. Dando-o uma concha preta. – Espero que consiga desviar de Saint-Lazare*. A última coisa que precisamos é que nosso rei pegue lepra.

— Obrigado, Rosalie. – Agradeceu-a e pegou o tecido e a concha das mãos da boêmia e pôs-se no caminho.

A noite escura, favoreceu os caminhos do cigano que cada vez se distanciava mais da cidade. Escondendo-se nas vielas e nas esquinas dos soldados que rondavam à noite, não vigiando, claro, mas buscando bebida e prostitutas. Mas que não negariam a demonstrar suas espadas, para exibir-se para os companheiros e as meretrizes.

O ossuário de Montfaucon ficava no alto de uma colina nas beiradas da cidade. E entrar, era fácil. Sair é que eram elas. Para entrar, bastava um crime. Mas nem a vida eterna libertava os mortos de lá.

Entrar, sem ter cometido um crime, era apenas pagar um soldado. E foi assim que Clopin o fez.

— O que queres lá dentro? – Perguntou o homem do rei.

— Ouvi dizer que um desafeto meu morreu aqui. Preciso ver com meus próprios olhos o cadáver do infeliz que morreu e arrastou com ele a dívida que tinha comigo. – Falou quando entregou todo o rendimento que tivera com as apresentações da Festa dos Loucos ao soldado.

Entrou. O Cheiro fétido dos cadáveres logo invadiu seus pulmões. Clopin levou o lenço embalsamado de Rosalie ao nariz. Inalando o perfume de ervas doces e de Rosa, amenizando o cheiro da putrefação.

Andando entre os cadáveres, erguia o lampião para as pilhas de corpos. Olhava atentamente cada um. Buscava alguma característica que a morte não pudesse ter levado da menina cigana.

Tentando buscar a uma, achou outro corpo familiar.

Certa ossada muito carcomida, principalmente nas costas, de enorme que era. A coluna completamente torta e desviada, exposta ao vento pois a carne fora comida até o talo dos ossos pelos vermes. Todavia, nem aos vermes apetecera seu rosto. Disforme.

Deformado, pior do que Clopin lembrava-se em vida, pois morrera chorando. Suas mãos podres seguravam em outro defunto. Estava debruçado sobre ele.

Pôs o lampião sobre o chão e mordeu o pano para segurá-lo sobre sua face. Empurrou o corpo do Corcunda. Uma, duas vezes. Maldizendo sua força de tocador dos sinos da catedral, empurrou uma terceira vez.

E a carcaça se desfez em pedaços. Caindo o tronco para um lado e os braços que seguravam o outro cadáver para outro. Revelando quem apodrecia debaixo dele.

O cigano não conteve, nem um instante, as lágrimas que lhe vieram ao rosto quando avistou. Mordeu com mais força o pano, para impedir que sua voz gritasse de agonia. Ainda a via tão vivaz a correr pelo Pátio dos Milagres, agora via o rosto sutil que tanto amara, com larvas a comerem-lhe as bochechas.

Os cabelos negros e a tez morena imundos da morte. Os parasitas ocuparam-se de Quasímodo e pouparam as partes da menina que ficaram sob o cadáver do Corcunda. Mas a morte é invejosa. E levou-lhe justamente seus pés dançantes. Agora, um amontoado de pequenos ossos ao fim de suas pernas podres.

Entre lágrimas, Clopin hesitou em desfazer ainda mais seu corpo ao tocá-la. Mas estava certo de que ela as retivera até o último momento. Tocou-lhe, então no pescoço, e encontrou a cordinha. Puxou-a para fora do que um dia fora a túnica branca que vestiam as vítimas das execuções. E tomou os restos do amuleto. As pedras, que imitavam esmeraldas, serviram para mantê-la a salvo da magia. Mas não dos sentimentos que ela escolheu viver pelo capitão da guarda.

A única esperança do cigano era de que, essa em meio às poucas diferenças entre Luce e Esmeralda, fosse suficiente para apartá-las do mesmo destino. Correu para fora dali. Com o pedaço de pano, bordado de pedras verdes, nas mãos.


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Notas finais do capítulo

*Saint-Lazare: vila de leprosos que ficava nas redondezes de Montfaucon. Não era bem uma vila, era mais um depósito de gente doente... :/
Bom, vou deixar pra fazer meus comentários sobre as cenas com quem comentar elas! (Hoje eu tô do mal, hein! Hahahahah)
Um grande beijo e até breve, mes amours! ♥



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